A Formula 1 vivia novos tempos. A
exposição deste desporto a coisa como a televisão, logo, com maior atração em
termos comerciais, bem como a uma era de expansão tal, em termos de calendário,
com corridas na América do Sul, e de equipas – bem como pilotos, que começava a
parecer que o seu controlo era algo a ser considerado. Uma organização para
defender os interesses dos construtores, a FOCA, tinha aparecido durante o
inverno europeu, comandado por pessoas como
Colin Chapman, o dono da Lotus,
Ken
Tyrrell, o dono da equipa com o mesmo nome e o novo proprietário da Brabham, um
jovem britânico de 42 anos chamado…
Bernie Ecclestone.
A grande novidade no inverno
europeu tinha sido a transferência do sueco Ronnie Peterson da March para a
Lotus, para secundar Emerson Fittipaldi. Apesar do brasileiro ser campeão do
mundo, Chapman achava que ele precisava de concorrência interna para melhorar
as perspectivas de vencer os dois campeonatos, o de Construtores e o de
Pilotos, e ter também uma dupla tão boa como a da Tyrrell, que mantinha o
escocês Jackie Stewart e o francês Francois Cevért.
A McLaren também mantinha a mesma
dupla, constituída pelo americano
Peter Revson e pelo neozelandês
Dennis Hulme,
mas iria ter um terceiro carro para eventos seleccionados e seria entregue a um
jovem promissor vindo da África do Sul:
Jody Scheckter. Na Ferrari,
Clay
Regazzoni tinha partido para a BRM – a troco de um contrato milionário,
dizia-se – mas mantinha o belga
Jacky Ickx e tentava prolongar a carreira do
“velho” 312 B2, enquanto se esperava pelo novo chassis, quando a Formula 1 chegasse à temporada europeia, lá para abril. No lugar de Regazzoni, Enzo
Ferrari tinha dado uma chance para o jovem italiano
Arturo Merzário.
A BRM tinha aprendido algumas
lições dos eventos do ano passado e passou a ser mais selectiva. Contratou
Regazzoni e manteve o francês Jean-Pierre Beltoise, dando um terceiro carro a
um jovem austríaco de seu nome Niki Lauda, que apesar de ter pago para correr –
falava-se de um empréstimo… - mostrava algum talento para afinar carros, algo
que tinha demonstrado no seu tempo na March.
A Brabham tinha dispensado o
veterano
Graham Hill (
com este a decidir criar a sua própria equipa) mas
manteve os outros dois pilotos, o argentino
Carlos Reutemann e o brasileiro
Wilson Fittipaldi, irmão de Emerson Fittipaldi, enquanto que a March tinha reduzido as suas operações a um carro, preferindo construir
chassis para quem quisesse comprar um. O piloto que tinham escolhido tinha sido
o jovem, mas veloz, francês
Jean-Pierre Jarier. Quanto a clientes, um deles
iria ser o britânico
Mike Beuttler, que iria correr na maior parte da
temporada, incluindo na Argentina, assim como um jovem britânico chamado
James
Hunt, com um chassis comprado por
Alexander Hesketh, um jovem – e excêntrico –
aristocrata britânico.
John Surtees, agora a trabalhar a
tempo inteiro como chefe de equipa, decidira inscrever na nova temporada dois
carros a tempo inteiro para a temporada, entregando-os ao brasileiro José
Carlos Pace e ao britânico Mike Hailwood, com a possibilidade de um terceiro
carro em algumas provas.
O pelotão da Formula 1 já sabia
da retirada da Matra, que largava a Formula 1 para se concentrar na Endurance,
onde estavam a ter sucesso, principalmente em Le Mans. Mas por essa altura que
haveria uma nova equipa, de origem americana e que se chamaria de Shadow.
Criada por Don Nichols - do qual se suspirava que tivesse pertencido… à CIA - tinha
construído chassis na Can-Am com sucesso e decidira expandir para a Formula 1,
com o apoio da petrolífera UOP. Quanto a pilotos, iria trazer a habitual dupla
da Cam-Am, o britânico Jackie Oliver e o veterano americano George Follmer. Mas
não iriam aparecer nas corridas sul-americanas, decidindo que iriam estrear-se
em março, em Kyalami. Outra equipa que iria aparecer durante a temporada, mas
não na Argentina, seria a Tecno, que contratara os serviços do veterano
neozelandês Chris Amon, sem volante após a retirada da Matra da Formula 1.
Para finalizar, havia a
Iso-Marlboro. Basicamente era a segunda tentativa de
Frank Williams de
construir o seu próprio chassis, com a ajuda da construtora italiana
Iso-Rivolta e do patrocínio da tabaqueira Marlboro. Williams trazia para Buenos
Aires dois carros, um para o italiano
Nanni Galli e outro para o neozelandês
Hownden Ganley.
As coisas na Argentina andavam
complicadas em termos políticos, e chegou-se a avançar com o cancelamento da
corrida, mais tarde reinstaurada. Mas as indecisões foram mais do que
suficientes para afastar algumas equipas da corrida inicial da temporada. No
final compareceram apenas 19 carros em Buenos Aires.
Na qualificação, o melhor foi de
modo surpreendente, o BRM de Clay Regazzoni, que foi melhor do que o Lotus de
Emerson Fittipaldi. Jacky Ickx era o terceiro no seu Ferrari, seguido pelo
Tyrrell e Jackie Stewart e o segundo Lotus de Ronnie Peterson. Francois Cevért
era o sexto no segundo Tyrrell, seguido pelo segundo BRM de Jean-Pierre
Beltoise, o McLaren-Ford de Dennis Hulme, o Brabham de Carlos Reutemann e o Surtees
de Mike Hailwood.
A corrida começa com Cevért a
fazer uma partida-canhão e a chegar ao primeiro posto, conseguindo ser melhor
do que Fittipaldi e Regazzoni. Este reagiu e atacou o francês e conseguiu
ultrapassar na curva seguinte. As coisas manter-se-iam assim nas voltas
seguintes, enquanto que Galli era a primeira retirada do ano quando o seu motor
explodiu, ainda ele nem tinha dado uma volta.
Regazzoni e Cevért continuaram a
duelar pela liderança nas voltas seguintes, observados por Stewart, Fittipaldi
e depois Peterson. O francês esperou pela oportunidade certa para apanhar o
piloto da BRM e este aconteceu à 29ª volta, quando Regazzoni já tinha os seus
pneus totalmente desgastados. E assim, facilmente, foi ultrapassado pelos seus
concorrentes: na volta 32, Stewart ficou com o segundo lugar, e os dois Lotus
passaram-no nas voltas 33 e 34, respectivamente, e o suíço continuou a
arrastar-se até ao fim da corrida. Iria acabar com três voltas de atraso, fora
dos pontos.
Os quatro primeiros mantiveram-se
assim até à 66ª volta, sem alterações no comando. Nessa altura, Peterson
começou a ter problemas de motor e acabou por encostar à boxe, abandonando a
corrida. Pouco depois, Stewart teve problemas com um pneu e na volta 76, Emerson Fittipaldi conseguiu ultrapassar Stewart, ficando com o segundo lugar.
E nas voltas finais, Fittipaldi
partiu para a liderança. Pressionou o Tyrrell de Cevért o maius que pode,
procurando por uma ultrapassagem e na volta 86, foi capaz de passar o piloto
francês, rumo à vitória. O piloto da Lotus foi o melhor, conseguindo bater os
Tyrrell, com Cevért em segundo e Stewart em terceiro. Nos restantes lugares
pontuáveis ficaram o Ferrari de Jacky Ickx, o McLaren de Dennis Hulme e o
Brabham de Wilson Fittipaldi.