sexta-feira, 22 de março de 2024

A imagem do dia




A história da Williams nesta sexta-feira em Melbourne, com Logan Sargent a ter de ceder o carro a Alex Albon, depois deste se acidentar, era algo que... não diremos que fosse esperado, agora que as equipas não tem mais os carros de reserva. Mas também o facto de, porque, com ele, a equipa tem melhores garantias de pontuar, é também demonstrativo das hierarquias. 

Contudo, se falar que isto não é inédito? Que há quase 42 anos, um exemplo desse também aconteceu? E nessa altura... existiam chassis de reserva! 

Falemos, então, de Detroit. Em 1982, a FISA decidiu meter no calendário uma corrida na cidade americana, a capital do automóvel. Uma das três que a Formula 1 iria estar na América, ao lado de Long Beach e Las Vegas. 

Foi uma qualificação anormal. Na quinta-feira, foi a sessão de adaptação ao circuito e na sexta, a primeira sessão de qualificação, com o primeiro escândalo, quando Nelson Piquet, o campeão do mundo, conseguiu marcar o penúltimo tempo por causa de problemas com o seu motor BMW Turbo. E para piorar as coisas, choveu no sábado, causando o primeiro escândalo do fim de semana, pois era o primeiro campeão do mundo a não participar numa corrida na temporada seguinte! Em contraste, o ATS de Manfred Winkelhock conseguiu o quinto melhor tempo.

Entre os qualificados, ficaram os Osella de Jean-Pierre Jarier e Riccardo Paletti. Na 22ª e 23ª posições, respetivamente, era a primeira vez na temporada que entravam ambos os carros, tirando o boicotado GP de San Marino, onde só entraram 14 bólidos. 

Para o italiano, as coisas corriam bem, até ao domingo, no warm-up. Numa das voltas rápidas, um dos braços da suspensão quebrou a alta velocidade, fazendo-o perder uma roda e bater no muro de proteção. Paletti saiu do carro sem arranhão, mas o chassis estava danificado e tinha pouco tempo para o reparar, por causa da corrida. Ali, começou uma corrida contra o tempo, e os mecânicos correram para tê-lo pronto, para poder correr. 

No outro lado, Jarier tinha azar. Primeiro, o seu carro habitual não podia ser usado porque o extintor disparara acidentalmente, indo para o carro de reserva, pois tinha prioridade. Logo, Paletti tinha de usar esse carro para correr. E por um milagre - ou o bom trabalho dos mecânicos, se quiserem... - o carro ficou pronto a tempo, precisamente no momento em que os carros alinharam na grelha. 

Parecia que Paletti iria correr, mas... um azar nunca vem só. Jarier, no seu carro de reserva, ia a caminho da grelha, quando bateu na parede, causando danos. O francês estava de regresso às boxes e viu o carro de Paletti, e ficou com ele, obrigando o italiano a assistir a corrida como espectador. 

Uma semana depois, no Canadá, Paletti voltaria a qualificar-se por mérito próprio para uma corrida. Infelizmente, iria ser a sua última ocasião, porque na partida, colidiu contra o Ferrari de Didier Pironi, parado na grelha, causando ferimentos mortais no piloto italiano. Tinha 23 anos.   

Formula 1: Williams tira carro a Sargent


A Williams tirou esta manhã o chassis a Logan Sargent no GP da Austrália depois do seu outro piloto, Alex Albon, embateu o seu chassis FW46 contra a parede nos primeiros treinos livres do GP da Austrália. 

Depois do chassis ter sido recolhido às boxes, a Williams chegou à conclusão mais radical, que é o de retirar o chassis a Sargent. A Williams tinha dois chassis disponíveis na Austrália e, devido às distâncias para o Reino Unido, não era possível enviar um da fábrica a tempo para a qualificação.    

James Vowles, chefe de equipa da Williams, explicou a decisão: "Estamos muito dececionados com os danos sofridos no chassis e temos que retirar o carro. É inaceitável numa Formula 1 moderna não termos um chassis de substituição, mas é um reflexo de como tem sido o nosso inverno e demonstra por que razão temos que enfrentar muitas mudanças para melhorar no futuro. Tivemos que tomar decisões difíceis esta tarde, o Logan não deveria sofrer por um erro que não cometeu, mas cada corrida conta, então decidimos com base no nosso melhor potencial para somar pontos este fim de semana".

Para Sargent, que tinha o 14º tempo na segunda sessão de treinos livres do GP australiano, não deixou de demonstrar a sua desilusão: "É o momento mais difícil que me recordo na minha carreira, nada fácil".

Também Alex Albon, o piloto que sofreu o acidente que levou à cedência do chassis, admitiu o embaraço da situação. "Nenhum piloto quer ceder o seu lugar, nunca quereria que isto acontecesse. Só posso fazer o meu trabalho, que é trabalhar da melhor forma possível".

A qualificação do GP australiano acontecerá na madrugada de amanhã.

quarta-feira, 20 de março de 2024

O projeto do regresso da Lancia aos ralis


A Lancia está a fazer o seu regresso ao mundo, depois de alguns anos remetido a Itália e ao seu modelo Ypsilon. Agora com um novo carro, o Grupo Stellantis está a montar o projeto para o regresso ao WRC, que em principio, será em 2026.

Contudo, por agora, o projeto está temporariamente suspenso à espera da publicação dos regulamentos detalhados dos novos carros para 2026 nas classes Rally 1 e Rally 2, dos quais a FIA já anunciou que serão divulgados no próximo mês de junho.

Quase ao mesmo tempo, a marca trabalha o projeto Ypsilon Rally 4, um troféu monomarca que pretendem começar a funcionar em 2025, numa espécie de preparação para o regresso aos ralis. Além disso, o "badge" HF, que será usado nas versões de alta performance da Lancia, já foi revelado ao mundo. 

Tudo isto vem na sequência das declarações do CEO da Lancia, Luca Napolitano, que afirmou recentemente em Milão que o projeto desportivo está a avançar. "Se voltaremos aos Ralis? Estamos a trabalhar nisso", afirmou.

terça-feira, 19 de março de 2024

Youtube Automotive Video: Gandini e a noção da beleza

Nos dias que passam desde a morte de Marcello Gandini, coloco aqui uma entrevista que o Davide Cironi fez ao desenhista em 2018, onde fala sobre a sua vida e os carros que desenhou. E aqui, fala sobre alguns critérios de beleza. E se houve algum automóvel que gostaria de ter desenhado. 

segunda-feira, 18 de março de 2024

The End: Joaquim Santos (1952-2024)


Joaquim Santos, quatro vezes campeão nacional de ralis, e o piloto da mítica equipa Diabolique, que correu com um Ford Escort de Grupo 4, e depois, num RS 200, morreu nesta segunda-feira, aos 71 anos. Estava doente há algum tempo, e o anuncio foi feito na página do Facebook da Diabolque.

Nascido a 9 de junho de 1952, em Penafiel, a sua carreira passou essencialmente pela equipa mais carismática dos ralis em Portugal, a Diabolique, construída no Porto graças à paixão de Miguel Oliveira, seu navegador e a pessoa que montou a equipa mais organizada dos ralis portugueses nos anos 80, que durou até 1990, andando sempre com máquinas Ford. Primeiro com o 1800 de Grupo 4, depois com o RS200 de Grupo B, e no final, com o Sierra Cosworth de Grupo A.

A sua carreira de piloto de ralis iniciou-se em 1974, num Datsun 1200, no rali do Sport Clube do Porto. Dois anos depois, começou a participar no primeiro rali de Portugal, num Datsun 1200, acabando na 11ª posição. Em 1979, trocou por um Opel Kadett GTE, onde conseguiu um oitavo lugar no rali de Portugal, no mesmo ano em que conseguiu a sua primeira vitória, no rali James/Póvoa de Varzim. Dois anos depois, em 1981, começou a participar na Diabolique, ganhando no Rali Internacional Douro Sul, a bordo do Ford EScort 1800 de Grupo 4. 


Em 1982, ganhou o primeiro dos seus quatro títulos nacionais de ralis, com nove vitórias, incluindo triunfos no Algarve, Rota do Sol, Açores, Camélias, Volta a Portugal, entre outros. Repetiu o título em 1983 e 84, contra uma concorrência que tinha Joaquim Moutinho, num Renault 5 Turbo, e António Rodrigues, num Lancia 037. Foi nono no rali de Portugal de 1983, o seu melhor resultado de sempre. 

Quando perdeu o campeonato nacional, em 1985, a favor do Renault de Moutinho, a Diabolique decidiu ir buscar um carro de Grupo B, o RS200. Chegado a tempo do Rali Sopete, em Espinho, onde desistiu por causa de uma quebra na caixa de velocidades, o rali seguinte foi o de Portugal, onde na classificativa da Lagoa Azul, despistou-se, causando três mortos e mais de meia centena de feridos. Os pilotos de marca acabaram por se retirar, alegando falta de segurança, e dois meses depois, com o acidente fatal de Henri Toivonen, na Córsega, os Grupo B foram banidos. Apesar de tudo, ganhou quatro ralis, um deles o Rota do Sul, e o outro o Algarve. 


Em 1987, ficou com o Sierra Cosworth de Grupo A, onde foi nono no rali de Portugal e vitórias no Rota do Sol e Alto Tâmega. Vice-campeão em 1988 e 1990, a partir de 1991, com o final da Diabolique, passou para a Toyota, onde a bordo de um Celica, acabou por ganhar o campeonato nacional de ralis em 1992, onde foi oitavo classificado no rali de Portugal. No final dessa temporada, decidiu pendurar o capacete, em termos competitivos.

Em 2007, regressou às provas, neste caso dos Clássicos, no mesmo Ford Escort 1800 que competiu 25 anos antes, mostrando novamente o seu estilo de pilotagem espetacular.      

Um excelente piloto nas classificativas, fora delas era uma pessoa calma, introvertida, e simpática. Contudo, o seu estilo arrojado fazia com que tivesse uma enorme legião de fãs, que acompanhavam-no com fervor e admiração, bem como à Diabolique Motorsport, que marcou uma era. 

Foi-se o humano, a lenda fica para a eternidade. Ars longa, vita brevis. 

Youtube Automotive Vídeo: Cirone entrevista Gandini

Na semana que se soube da morte de Marcelo Gandini, aos 85 anos, os tributos a um dos desenhistas mais geniais da segunda metade do século XX aconteceram um pouco de todo o lado. E quase ao acaso, acabei por descobrir, num dos mais canais de Youtube favoritos, o do italiano Davide Cironi, que para além de recuperar carros de um passado recente, também fala com gente importante do mundo do automóvel.

Esta entrevista a Gandini é de 2018, e aqui, fala essencialmente como nasceram carros icónicos que vão desde o Miura até ao Stratos, passando pelo Counthach e o X1/9, boa parte deles projetos que foram para a Lamborghini, mas também acabaram nas mãos e outras marcas, como a Lancia e a Fiat, porque todos eles partiram da casa Bertone, onde trabalhou entre 1965 e 1980. 

Nos próximos dias colocarei outro vídeo sobre Gandini, e o assunto será outro. 

The End: Kenjiro Shinozuka (1948-2024)


O japonês Kenjiro Shinozuka, antigo piloto de ralis e vencedor do Dakar pela Mitsubishi, morreu esta segunda-feira aos 75 anos, em Suwa, na província de Nagano. Ele sofria de em cancro do pânceras há algum tempo. As suas últimas aparições públicas aconteceram no ano passado, com a sua introdução do Hall of Fame do automobilismo japonês em 2022 e em 2023, fez parte da equipa de segurança do WRC no Rally do Japão.

Essencialmente piloto da Mitsubishi - mas depois também correu pela Nissan, na parte mais tardia da sua carreira - ele ganhou dois ralis no WRC, ambos na Costa do Marfim, em 1991 e 92 - antes de ganhar o Rally Dakar em 1997, sendo o primeiro japonês a realizá-lo.

Nascido a 20 de novembro de 1948 em Ota, na província de Tóquio, começou a correr aos 19 anos, em 1967, nos ralis, especialmente nos africanos. A sua estreia foi no Rali Safari de 1976, mas foi em 1989 que conseguiu os seus primeiros grandes triunfos, quando ganhou o primeiro Campeonato Ásia-Pacifico, essencialmente acabando na primeira posição no Himalayan Rally, ao volante de um Mitsubishi Galant VR-4.

Participando essencialmente nos ralis africanos - Quénia e Costa do Marfim - foi neste último país onde alcançou os seus melhores resultados, ao triunfar em 1991 e 92, mas também foi segundo classificado no Rali do Quénia de 1994, antes de se concentrar nas areias do deserto do Dakar, onde já participava desde 1986.


Ali, os primeiros resultados de relevo foram dois pódios, um terceiro lugar em 1987 e um segundo em 88, logo atrás do vencedor, Juha Kankkunen, no seu Peugeot. Regressaria aos pódios ao ser terceiro em 1992 e 95, antes do seu grande feito, em 1997. Guiando um Mitsubishi Pajero, conseguiu aguentar as areias do deserto e evitar as suas armadilhas, antes de chegar a Dakar como o vencedor, a prikeira grande vitória alcançada por um piloto japonês.

A associação com a Mitsubishi acabou em 2002, não sem antes ter sido segundo em 1998 e terceiro em 2002. Passou para a Nissan, mas logo em 2003 sofreu um acidente sério, capotando a alta welocidade numa duna e sofrendo fraturas faciais. Colocado em coma induzido, acabou por recuperar dos ferimentos e regressou em 2004. O seu último rali foi em 2006, onde terminou num modesto 59º lugar na geral.