As aparências iludem. E quem ganha nem sempre é o melhor, pode ser o mais sortudo. Sobretudo se estiver no lugar certo, à hora certa. Foi assim com o
Lewis Hamilton. Teve uma corrida cinzenta, mas foi daí que viu os Red Bull se auto-eliminarem, viu o erro de
Sebastian Vettel e o furo de
Valtteri Bottas. Não arriscou, esperou e ganhou. E tudo isto nas últimas 15 voltas da corrida, numa corrida que parecia ser nos moldes de Xangai: uma primeira parte tática, uma segunda parte emocionante.
Mas para chegarmos aqui, temos de contar a história de uma prova disputada num sitio improvável para correr, que é o centro de uma cidade que vive do petróleo e não se situa no Golfo Pérsico. Como tinha acontecido no sábado, as baixas temperaturas do ar e do asfalto, aliado ao vento frio, não ajudaram muito no aquecimento dos pneus, e os pilotos acharam por bem começar com pneus entre os supersoft, para ter mais ritmo na corrida e aquecer mais facilmente.
As coisas não começaram bem na partida. Se Vettel e Hamilton não tiveram problemas, atrás, foi a confusão. Kimi Raikkonen começou a corrida a tentar ganhar posições, mas na Curva 3, bateu em Esteban Ocon. O finlandês continuou, mudando pneus e nariz, mas Ocon não. Atrás, Fernando Alonso e Serguei Sirotkin também se tocaram, com o russo a ficar por ali, e o espanhol a arrastar-se para as boxes com dois pneus furados. E claro, com isso, o Safety Car, ficando por lá até à quinta volta, altura em que tudo recomeçou.
Quando aconteceu, Vettel defendeu-se dos ataques de Hamilton, enquanto atrás, os Renault ameaçavam os Red Bull. Carlos Sainz passou Max Verstappen e Nico Hulkenberg parecia que iria fazer o mesmo som Daniel Ricciardo, mas na décima volta, o alemão da Renault exagerou e acabou no muro, terminando ali a sua corrida.
A partir daqui, as coisas estavam estáveis entre os quatro primeiros. Vettel vigiava Bottas e Hamilton, Raikkonen estava adiante dos Red Bull... que começavam a sua própria batalha. Uma vez era Max na frente, mas Ricciardo sabia responder, e isso colocava os espectadores atentos ao que faziam. E claro, era um espectáculo dentro de outro espectáculo.
E outros surgiam por aí. Sergio Perez - apesar de uma penalização de cinco segundos - Charles Leclerc, com o seu Sauber, a dar nas vistas, e Lance Stroll, andando bem num ambiente urbano, com o seu Williams. E como o asfalto não aquecia, estes pneus ultramacios aguentavam-se bem. Tão bem que foi apenas entre a volta 28 e a 33 é que se fizeram as paragens de corrida. Quando Vettel foi para as boxes, Bottas ficou na frente, e parecia que a estratégia seria de ficar o mais tempos possível e quem sabe... rezar por um Safety Car?
Bom, foi o que aconteceu. As lutas entre os Red Bull estavam a correr bem, e ambos estavam velozes, com boas trocas de pneus entre eles - Ricciardo foi o primeiro, na volta 34, seguido de Max - mas na volta 39, quando Ricciardo queria passar Max, este fechou-lhe a porta e o embate foi inevitável. Os carros acabaram na berma, mas foi o suficiente para chamar o Safety Car pela segunda vez.
Com isso a acontecer, os pneus arrefeciam, e o asfalto não ajudava. Tanto que na volta 43, Romain Grosjean fez um exagero e embateu no muro, dando mais voltas extra ao Safety Car, questionando se existiria tempo suficiente para ver o recomeço, antes da bandeira de xadrez.
Acabou por haver. E foram das voltas finais mais alucinantes da temporada, até agora. Na relargada, Sebastien Vettel arriscou e atacou Valtteri Bottas, mas este travou tarde demais e caiu de segundo para quarto, perdendo mais um lugar para Sergio Perez, que livre das penalizações, poderia atacar e tentar a sua sorte. E na volta seguinte, no final da reta, o pneu traseiro-direito de Bottas explodia e entregava o comando a Lewis Hamilton, que nada fez para lá chegar. Apenas estava na hora certa, no lugar certo. E a Formula 1 também é feitas de sortudos, quer queiramos, quer não.
No final, Hamilton cruzou a meta como vencedor. Não foi preciso ser audaz para ser sortudo, pois muitos dos audazes acabaram mal nesta prova, mas ter calma foi o motivo para no final ficar com o lugar mais alto do pódio. Kimi Raikkonen foi o segundo e outro dos sortudos da tarde, Sérgio Perez, deu o terceiro lugar à Force India, mostrando que até gosta de fazer bons resultados em circuitos urbanos.
E atrás, um pouco de "bodo aos pobres": Charles Leclerc dava à Sauber um sexto posto merecido, os seus primeiros pontos na Formula 1. Lance Stroll era oitavo e dava à Williams os seus primeiros pontos na temporada. E Brendon Hartley conseguia o seu primeiro ponto na Formula 1 e dava à Nova Zelândia a sua primeira pontuação em Formula 1... em 42 anos, desde Chris Amon, no GP de Espanha de 1976.
E víamos aqui uma coisa que é agora a tendência: todas as equipas presentes vão pontuar, como foi em 2016 e 2017.
E com quatro provas, temos três vencedores diferentes. A Mercedes ganhou pela primeira vez, e parece que teremos um duelo a três num campeonato que promete ser emocionante. Veremos dentro de duas semanas, quando a Formula 1 chegar verdadeiramente à Europa,