Daqui, não podiam passar. Hoje, decidia-se tudo - tem de ser, dentro de três semanas estamos em 2022... - e hoje saberemos que tipo de história será escrita. O de um piloto que alcançará oito títulos, algo inédito na Formula 1, ou alguém que, depois de oito anos de domínio Mercedes, bateu um piloto dessa equipa, com as mesmas armas do adversário. Foram 22 corridas, na temporada mais longa da história da Formula 1, e onde de março a dezembro, ficamos amarrados nos ecrãs neste duelo ao segundo entre dois excelentes pilotos, muito velozes e consistentes. Um duelo para entrar na história.
Mas em dia de despedidas - de Kimi Raikkonen, da Honda, de Antonio Giovinazzi - a primeira novidade do dia foi saber que Mikita Mazepin acusou positivo à CoVid-19 e apenas 21 pilotos iriam alinhar na corrida de hoje.
E falavam-se de estratégias, especialmente para Verstappen, que largava com moles: trocar para duros entre a volta 18 e a 22, e voltar para médios vinte voltas dpeois, na 42, ou então, um plano B, onde pararia para duro entre a volta 13 e 20, e continuaria com eles até à meta. Quanto a Hamilton, que partida de médios, provavelmente ficaria mais tempo, trocando de pneu médio para duro entre as voltas 19 e 26, e um plano B, com duas paragens: troca de pneu médio para duro entre as voltas 17 e 23 e troca de duro para médio entre as voltas 36 e 43.
Com o sol a pôr-se, o autódromo ficou ao rubro com os carros a rolarem para a volta de aquecimento. E na partida, Hamilton largou muito bem e ficou na frente, até que a meio da primeira volta, Verstappen tentou de novo passá-lo. Ficaram lado a lado, tocam-se e o britanico teve de ir para a escapatória. Contudo, manteve-se na frente, e apesar disso, foi uma manobra... legal. Com isso, Hamilton estava na frente, com uma vantagem de 1,4 segundos.
Lentamente, com o passar das voltas, o britânico foi para a frente, ganhando mais um segundo, enquanto Verstappen começava a queixar-se da degradação dos pneus traseiros. Cerca da volta dez, 4,3 segundos separavam Lewis de Max. Pouco depois, Max trocou para duros, mesma coisa que Max, e as posições se mantiveram. Na frente estava Sergio Perez, determinado a ficar por lá o mais tempo possivel.
Na volta 19, Hamilton já estava na traseira de Perez, com o mexicano a fazer o impossível para se defender. Durou volta e meia, mas serviu perfeitamente para que Verstappen apanhar o britânico, fazendo baixar a vantagem de Hamilton para cerca de dois segundos. O seu companheiro disse que ele "era uma lenda!"
As coisas agora estão na parte da gestão. Apesar de Hamilton ser o mais veloz, ele não fugia de Verstappen, que apesar de ser mais lento, as diferenças eram mínimas. E pela volta 27, Kimi Raikkonen teve problemas de travões e bateu no muro. Um final melancólico para o longevo finlandês. Quase ao mesmo tempo, George Russell também saída da Williams... pela porta pequena.
As coisas estavam numa espécie de impasse, mas Hamilton parecia ter a situação controlada. A vantagem tinha aumentado para cinco segundos, e todos sabiam como será a segunda paragem. Mas isso na volta 34 parecia que iria mudar um pouco com o Virtual Safety Car por causa da paragem de Antonio Giovinazzi em zona proibida. Verstappen foi para as boxes, meter duros, enquanto Hamilton... não, ficou na pista. Tática que será decisiva?
Quando regressou, Hamilton começou a ganhar segundos, esperando que a sua frescura seja suficiente para apanhar o britânico. Quase um segundo por volta, o neerlandês da Red Bull chegava-se à sua traseira, e a emoção subia. Mas a dez voltas do final, a diferença era de 11.5 segundos. Já não havia tempo. Como diziam os brasileiros, "esta festa virou um enterro".
Mas... a cinco voltas do fim, Nicholas Lattifi bateu forte e o Safty Car foi obrigado a entrar para tirar o piloto da Williams. E do enterro... o mundo inteiro ficou com os olhos postos no ecrã. A corrida, que tinha tudo para cair nas mãos de Hamilton, voltava a estaca zero. Verstappen meteu moles, para apanhar Hamilton num recomeço que esperavam que aconteceria nas duas voltas finais, e Hamilton manteve-se na pista, confiando que aqueles pneus aguentariam até ao ataque final de Max... se acontecesse.
Carro retirado, a Mercedes queria que Max não passasse os carros dobrados, para ter o maior espaço possível. Mas Michael Masi disse que ele poderia ficar atrás de Hamilton, e assim o fez.
E a uma volta do fim, a corrida recomeçou. Todo o campeonato estaria concentrado naquele momento. Todas aquelas 22 corridas. Todos os erros, ultrapassagens, decisões estratégicas, corridas que não aconteceram. Shakir, Baku, Silverstone, Spa-Francochamps, todos aqueles momentos... tudo estava concentrado naquela última volta.
Max ao ataque, e na primeira oportunidade, ele passou. Intimidante, mas limpo. Hamilton atacou, usando a asa móvel, andando no limite, mas o neerlandês defende-se bem, usando a melhor linha. Atacou uma segunda vez, mas Max aguentou esses ataques. Depois, Hamilton abdicou, o piloto da Red Bull avançou e na meta, cruzou em primeiro lugar. Campeão do mundo. E porque liderou na volta decisiva. Como... Hamilton, em 2008, que (não) liderou, mas conseguiu o ponto que precisava para ser campeão do mundo na última curva da última volta.
E acabou. Em festa. Hamilton e Max cumprimentaram-se, como bons desportistas que são. O neerlandês entrava na história, não só o campeão que merecia ser, mas como ele conseguiu bater Lewis Hamilton, sendo ele o piloto com a melhor máquina. E a Red Bull conseguiu ainda melhor: foi a equipa que interrompeu o domínio dos Mercedes, que perdurava desde 2014. E na última corrida da Honda da Formula 1 - nos próximos tempos.
Foi duro, longo e exaustivo. Qualquer um deles ficaria bem com o ceptro, e no final, foi decidido da maneira que todos queriam. A começar pela Netflix... mas lá está: é um campeonato para a História.