Hoje é 12 de maio, e faz hoje precisamente dez anos sobre a famosa chegada do GP da Austria de 2002, no circuito de Zeltweg, onde Rubens Barrichello cedeu - ou foi obrigado a ceder - a sua vitória a Michael Schumacher, numa manobra vista à frente de tudo e todos, causando repulsa aos adeptos de Formula 1 e da Ferrari, ao mostrar à frente de tudo e de todos, as manobras de equipa. Para muitos foi uma página negra do automobilismo, e uma maneira da Ferrari mostrar, de forma muito arrogante, o dominio que tinham então na categoria máxima do automobilismo. Na semana que passou, surgiu uma entrevista de Rubens Barrichello à edição brasileira da revista Playboy. E claro, na altura em que se completa dez anos sobre o infame GP da Austria, o assunto veio naturalmente à baila.
Nessa entrevista, Barrichello revelou que as últimas oito voltas, ele andou a discutir com Ross Brawn e Jean Todt sobre as ordens que tinha recebido, de ceder a vitória a favor do piloto alemão. “Foram oito voltas de guerra. É muito raro eu perder a calma, mas, naquele rádio, saiu gritaria. Fui até o final, até a última curva, falando que não ia deixar ele passar. Até que eles falaram algo relacionado a alguma coisa mais ampla. Não era contrato. Era uma situação que deixou no ar. Eu não posso contar o que eles falaram, mas foi uma forma de ameaça que me fez refletir se eu teria de repensar a minha vida, porque o grande barato para mim era guiar.”
É interessante ler o que ele diz, mas o pior é ler o que ele não disse. Ainda fazer segredo sobre os eventos de Zeltweg, passado este tempo todo, começa a não fazer sentido. E claro, o assunto, que se pensava que estava - relativamente - enterrado, voltou à baila, qual "zombie".
Honestamente, este é um assunto do qual já estou de saco cheio. Na Ferrari e com Michael Schumacher, é um assunto do qual já deram bola para a frente e seguiram a sua vida, mas para Rubens Barrichello é que não. Em vez de estar a gozar a sua nova vida na IndyCar Racing, a ideia que fica desta entrevista é que ainda sonha com o regresso na Formula 1, em busca de um sonho que a cada ano que passa - está a menos de um mês do seu 40º aniversário - mais parece uma irreal caça aos gambuzinos.
Sempre fiquei com a impressão que Barrichello, psicologicamente, é fraco. Nunca lidou muito bem com a responsabilidade que tinha de ser de levar com o Brasil aos ombros - e uma media como a Rede Globo não ajudou - e quando chegou a um sítio onde podia brilhar, levou-se pelo encanto de poder bater Michael Schumacher, deixou-se levar na hipótese de poder ser campeão do mundo, contra o piloto alemão. O problema é que nunca lhe explicaram - ou nunca contou ou nunca quis contar a um Brasil que pedia, de forma quase irreal, que fosse campeão - que na Ferrari, iria ser o piloto numero dois, o "Robin", de um "Batman" Schumacher que era o centro das atenções de uma Ferrari que praticamente vendeu a sua alma para voltar a ser campeã, após 30 anos (1979-2000) de seca. Não interiorizou ou não quis interiorizar. E mesmo que lhe dissessem que tinha material igual ao piloto alemão, este o bateria toda a gente, porque o alemão, há dez anos, era o melhor piloto do mundo.
Quando dez anos depois, ainda ele discute o que se passou em Zeltweg, é mais do que sinal de que ainda não enterrou, ou não quer enterrar, esse fantasma. Fiquei - ou fico - com a impressão que ele nunca se divertiu realmente na Formula 1. Tinha aquela obsessão em vencer o campeonato do mundo, que piorou com o passar dos anos, daí ele ter ficado em equipas como a BAR, Honda, Brawn GP e Williams. Se ele fosse capaz, é uma coisa, mas o tempo revelou que não era genial. Um bom piloto, sim, mas não tinha a matéria dos campeões. Mas ele poderia se ter divertido, e fico com a impressão que não o conseguiu.
Ao longo dos anos, vi que ele tem a paixão de correr, mas se calhar não deve ter gozado verdadeiramente o automobilismo. De estar numa elite como a Formula 1 e a divertir-se a guiar estes bólidos. É certo que teve uma longa carreira automobilística, e foi uma mais-valia nas equipas onde passou, acarinhado por todos. Mas na realidade, era o equivalente a um Riccardo Patrese ou um Thierry Boutsen. E vocês sabem o que esses dois ex-pilotos fazem agora? O italiano goza a vida na sua Itália natal, o belga tem uma empresa de aviação com sede no Mónaco. Seguiram a sua vida. Será que algum dia, no momento em que pendurar o capacete de vez, seguirá a sua ou vai moer para toda a eternidade os eventos de Zeltweg?