sábado, 12 de maio de 2012

Zeltweg, dez anos depois. E como estou de saco cheio com o Barrichello

Hoje é 12 de maio, e faz hoje precisamente dez anos sobre a famosa chegada do GP da Austria de 2002, no circuito de Zeltweg, onde Rubens Barrichello cedeu - ou foi obrigado a ceder - a sua vitória a Michael Schumacher, numa manobra vista à frente de tudo e todos, causando repulsa aos adeptos de Formula 1 e da Ferrari, ao mostrar à frente de tudo e de todos, as manobras de equipa. Para muitos foi uma página negra do automobilismo, e uma maneira da Ferrari mostrar, de forma muito arrogante, o dominio que tinham então na categoria máxima do automobilismo. Na semana que passou, surgiu uma entrevista de Rubens Barrichello à edição brasileira da revista Playboy. E claro, na altura em que se completa dez anos sobre o infame GP da Austria, o assunto veio naturalmente à baila.

Nessa entrevista, Barrichello revelou que as últimas oito voltas, ele andou a discutir com Ross Brawn e Jean Todt sobre as ordens que tinha recebido, de ceder a vitória a favor do piloto alemão. “Foram oito voltas de guerra. É muito raro eu perder a calma, mas, naquele rádio, saiu gritaria. Fui até o final, até a última curva, falando que não ia deixar ele passar. Até que eles falaram algo relacionado a alguma coisa mais ampla. Não era contrato. Era uma situação que deixou no ar. Eu não posso contar o que eles falaram, mas foi uma forma de ameaça que me fez refletir se eu teria de repensar a minha vida, porque o grande barato para mim era guiar.

É interessante ler o que ele diz, mas o pior é ler o que ele não disse. Ainda fazer segredo sobre os eventos de Zeltweg, passado este tempo todo, começa a não fazer sentido. E claro, o assunto, que se pensava que estava - relativamente - enterrado, voltou à baila, qual "zombie".

Honestamente, este é um assunto do qual já estou de saco cheio. Na Ferrari e com Michael Schumacher, é um assunto do qual já deram bola para a frente e seguiram a sua vida, mas para Rubens Barrichello é que não. Em vez de estar a gozar a sua nova vida na IndyCar Racing, a ideia que fica desta entrevista é que ainda sonha com o regresso na Formula 1, em busca de um sonho que a cada ano que passa - está a menos de um mês do seu 40º aniversário - mais parece uma irreal caça aos gambuzinos.

Sempre fiquei com a impressão que Barrichello, psicologicamente, é fraco. Nunca lidou muito bem com a responsabilidade que tinha de ser de levar com o Brasil aos ombros - e uma media como a Rede Globo não ajudou - e quando chegou a um sítio onde podia brilhar, levou-se pelo encanto de poder bater Michael Schumacher, deixou-se levar na hipótese de poder ser campeão do mundo, contra o piloto alemão. O problema é que nunca lhe explicaram - ou nunca contou ou nunca quis contar a um Brasil que pedia, de forma quase irreal, que fosse campeão - que na Ferrari, iria ser o piloto numero dois, o "Robin", de um "Batman" Schumacher que era o centro das atenções de uma Ferrari que praticamente vendeu a sua alma para voltar a ser campeã, após 30 anos (1979-2000) de seca. Não interiorizou ou não quis interiorizar. E mesmo que lhe dissessem que tinha material igual ao piloto alemão, este o bateria toda a gente, porque o alemão, há dez anos, era o melhor piloto do mundo.

Quando dez anos depois, ainda ele discute o que se passou em Zeltweg, é mais do que sinal de que ainda não enterrou, ou não quer enterrar, esse fantasma. Fiquei - ou fico - com a impressão que ele nunca se divertiu realmente na Formula 1. Tinha aquela obsessão em vencer o campeonato do mundo, que piorou com o passar dos anos, daí ele ter ficado em equipas como a BAR, Honda, Brawn GP e Williams. Se ele fosse capaz, é uma coisa, mas o tempo revelou que não era genial. Um bom piloto, sim, mas não tinha a matéria dos campeões. Mas ele poderia se ter divertido, e fico com a impressão que não o conseguiu.

Ao longo dos anos, vi que ele tem a paixão de correr, mas se calhar não deve ter gozado verdadeiramente  o automobilismo. De estar numa elite como a Formula 1 e a divertir-se a guiar estes bólidos. É certo que teve uma longa carreira automobilística, e foi uma mais-valia nas equipas onde passou, acarinhado por todos. Mas na realidade, era o equivalente a um Riccardo Patrese ou um Thierry Boutsen. E vocês sabem o que esses dois ex-pilotos fazem agora? O italiano goza a vida na sua Itália natal, o belga tem uma empresa de aviação com sede no Mónaco. Seguiram a sua vida. Será que algum dia, no momento em que pendurar o capacete de vez, seguirá a sua ou vai moer para toda a eternidade os eventos de Zeltweg?

2 comentários:

Rui Amaral Lemos Junior disse...

Sabe Paulo, concordo com tudo que vc escreveu. Ele nunca teve coragem de dizer que era segundo, e muito menos de encarar a equipe e vencer no minimo em Zeltweg...a grana que recebia era maior que a vontade de vencer!
Não lei essa revista e agora que fiquei sabendo, não me interessa. RB sempre pecou pela boca...como dizemos aqui "boca rota".

Julio Cezar Kronbauer disse...

A impressão que eu tenho é que Rubens Barrichello é um bom piloto, um excelente kartista, mas acho que ele é fraco psicologicamente.

Parece que ele tem a necessidade de remoer fatos do passado, já que fez poucas coisas boas na Fórmula 1.

E em 2009, quando tinha um carro vencedor, foi Jenson Button que estava numa fase excelente e levou o caneco com um pé nas costas.

Já Rubens, como um compadre do meu pai disse, "ele não um ultrapassou ninguém naquele ano, como ele queria ser campeão?".

Jenson, por sua vez, foi aguerrido até o final, inclusive no GP do Brasil, quando o título ainda estava em aberto e teve disputas em pista com Kamui Kobayashi, não quis adiar para a última etapa.

Ele nunca teve a chamada "sorte de campeão", e acho que isso é sua maior decepção. Mas ele fala muito também porque dão a oportunidade para ele, fazendo sempre as mesmas perguntas.