quarta-feira, 9 de maio de 2012

GP Memória - Belgica 1982


Quinze dias passaram-se desde os eventos em Imola, e o paddock da Formula 1 andava agitado devido aos eventos desse dia no circuito italiano, com as equipas FOCA e as equipas FISA em guerra devido aos regulamentos e devidas interpretações, e a ameaça de cisão voltava a pairar no ar. Contudo, Enzo Ferrari decidira chamar os seus representantes a Maranello e costurou-se um acordo, que depois veio a ser conhecido como o Pacto de Concórdia, onde os crescentes lucros das televisões e dos circuitos foram distribuídos pelas equipas, e por ambas as formações. Todos ficavam satisfeitos e enterrava-se o machado de guerra.

Na Ferrari, o ambiente era de cortar à faca. Gilles Villeneuve ainda estava enraivecido pela atitude do seu companheiro de equipa, Didier Pironi, de não ter obedecido à hierarquia e ter vencido a corrida sem autorização. O canadiano disse dias depois ao jornalista Nigel Roebuck que a partir dali, a guerra estava declarada: “Não volto mais a dirigir a palavra”, afirmou, quando foi questionado sobre Didier Pironi. Palavras proféticas…

E durante esses dias, sentindo que a equipa apoiava o francês – apesar da equipa de Maranello ter emitido um comunicado a criticar a atitude do francês - Villeneuve começou a conversar, de forma visível e ativa, com outras equipas como a Williams e a McLaren.

Em Zolder, as equipas que boicotaram a corrida de Imola estavam de volta, e a grelha voltava a ter 32 carros inscritos, com a novidade de Emilio de Villota, que iria correr com um terceiro chassis March, enquanto que na Arrows, Brian Henton, que tinha ido correr para a Tyrrell em substituição de Slim Borgudd, foi substituído pelo suíço Marc Surer. Por causa disso, teve-se de fazer uma pré-qualificação, onde o Osella de Riccardo Paletti e o March de Villota não conseguiram fazer tempo para passar à fase seguinte.

A Brabham tinha de volta os seus motores BMW Turbo nos seus carros, depois de algumas corridas com os Cosworth, dando tempo a que os engenheiros alemães aperfeiçoassem os seus motores.

Depois de uma sexta-feira sem incidentes de maior, no dia seguinte, havia a segunda sessão de testes de qualificação. Num dia nublado, mas a não ameaçar chuva, os Renault lideravam a tabela de tempos, com o melhor Ferrari a estar na sexta posição, que era o de Gilles Villeneuve. 

Contudo, a oito minutos do final dessa segunda sessão, Didier Pironi tinha feito um tempo melhor do que ele em 0,1 segundos, e segundo se falou, Villeneuve queria melhorar o tempo com o seu último “set” de pneus de qualificação. Não o conseguiu e estava a caminho das boxes – mas sem abrandar o ritmo – quando chegou à Trelembocht, com o March de Jochen Mass à sua frente. Contudo, ambos se desentenderam e o Ferrari é catapultado para o ar, esmagando a sua frente no chão e o seu piloto cuspido para as redes de proteção.

Socorrido de imediato, primeiro por John Watson e Derek Warwick, e depois pelo pessoal médico do circuito, viu-se que o canadiano tinha o pescoço quebrado e em paragem respiratória. Levado de imediato para o hospital, acabou por morrer naquela noite, vítima dos seus ferimentos. Tinha 32 anos. A Scuderia decidiu logo a seguir retirar os seus carros em sinal de luto.

Com o que tinha acontecido, o final de semana belga tinha definitivamente ficado em segundo plano, e as pessoas pouco se importavam se os Renault tinham monopolizado a primeira fila da grelha, com Alain Prost na frente de René Arnoux. Na segunda fila estavam o Williams-Cosworth de Keke Rosberg e o McLaren de Niki Lauda, enquanto que na terceira estavam o Tyrrell de Michele Alboreto e o Alfa Romeo de Andrea de Cesaris. Nigel Mansell era sétimo, no seu Lotus, seguido pelo Brabham-BMW de Nelson Piquet. A fechar o “top ten” estavam o segundo carro da Brabham, o de Riccardo Patrese, e o segundo McLaren de John Watson.

No dia da corrida, o ambiente estava tão pesado como o céu, mas não havia ameaça de chuva. Na partida, Arnoux saiu melhor do que Prost, que por sua vez, tinha sido passado pelo Williams de Rosberg. O finlandês passou logo a atacar a liderança, que a teve na volta cinco, quando Arnoux foi à boxe com problemas no seu Turbo.

Prost ficou com o segundo lugar, mas por pouco tempo, porque começou a desenvolver problemas com o seu carro e foi superado por Lauda e o Alfa Romeo de De Cesaris. A partir daqui, as atenções viraram-se para a luta pelo segundo posto, com o italiano a conseguir passar o veterano piloto austríaco na volta 29, quando Lauda perdeu tempo com um piloto retardatário. Talvez tivesse sido uma forma de pagamento por aquilo que fizera em Long Beach.

Mas o segundo posto de De Cesaris foi sol de pouca dura, pois o carro teve um problema de transmissão e desistiu. Lauda herda o segundo posto, mas tinha agora o seu companheiro Watson, que com um “set” de pneus mais duro, consaeguia manter um ritmo elevado o suficiente para o passar. E assim fez, na 46ªa volta.

A partir dali, Watson partiu ao ataque de Keke Rosberg, que começava a sentir a pressão, devido ao desgaste dos pneus. O finlandês, que procurava a sua primeira vitória, tentou aguentar a pressão, mas na penúltima volta, perdeu o contole do seu carro e o piloto da McLaren aproveitou, para chegar ao primeiro posto e a segunda vitória do ano para a equipa.

Com Watson em primeiro e Rosberg em segundo, Niki Lauda completou o pódio. Contudo, mais tarde, os comissários viram que o carro do austríaco passava em um quilo o valor mínimo, e foi desclassificado. Assim, o americano Eddie Cheever herdava o terceiro posto, conseguindo assim o seu primeiro pódio da sua carreira. Nos restantes lugares pontuáveis ficavam o Lotus de Elio de Angelis, o Brabham de Nelson Piquet – que conquistava os seus primeiros pontos no ano – e o Fittipaldi de Chico Serra, que conquistava o seu único ponto da carreira, e o último da história da equipa.

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