terça-feira, 8 de maio de 2012

Sempre te recordaremos, Gilles

Quando comecei a gostar de Formula 1 "a sério", no alto dos meus nove, dez anos, para além de Ayrton Senna, tive uma fixação por Gilles Villeneuve. Não sei porquê, mas era instintivo. Algum tempo depois, descobri o porquê: tinha sido por causa do seu acidente em Zolder. Era algo que estava guardado no subconsciente, à espera do dia em que iria aparecer, inesperadamente ou não. Quando isso aconteceu, lembrei-me de quase tudo, até de quem era o "Pato" que a minha mãe falava, quando via acidentes destes. Ela queria dizer "José Carlos Pace", mas não conseguia pronunciar claramente.

Confesso sentir alguma zanga por não ter visto Gilles Villeneuve correr. Nos últimos dias, li exaustivamente o Nigel Roebuck, através do Motorsport - do qual tenho colocado a matéria, hoje coloco a última parte - mas também li uma matéria feita pelo Peter Windsor na GP Week, sobre o pequeno canadiano. Ambos viram tudo: a sua estreia na McLaren, a passagem pela Ferrari, os feitos em Montreal, em Dijon, em Zandvoort,  em Jarama e o infame GP de San Marino de 1982, onde Didier Pironi lhe esfaqueou pelas costas. Essa geração, que tem agora mais de sessenta anos, viu tudo, conviveu com ele e só diz maravilhas, porque era assim: verdadeiro, feliz, um pouco infantil.

Detestava politica e era absolutamente leal, desde que o outro lado também fosse assim. Descobri algumas coisas engraçadas quando lia as impressões de Roebuck sobre a guerra FISA-FOCA, onde mandava Ecclestone a aquela parte. Detestava o lado negocial da coisa, e acima de tudo, queria correr, divertir-se. Porque assim ele se sentia em casa. Era por isso que, por exemplo, trazia a sua motorhome para o "paddock" nas corridas europeias, com a mulher Joanne e os filhos Jacques e Melanie atrás.

Alguns pensam como seria ver Villeneuve e Senna juntos. A minha tese não é bonita: teria admirado a sua rapidez e detestado a sua postura na pista. Imagino como seria se, por exemplo, ainda estivesse na Ferrari em 1985, no GP do Mónaco. Senna teria feito a pole na sua Lotus, e andaria no meio da pista, a prejudicar as voltas dos outros, e apanhasse a Ferrari de Villeneuve pelo caminho. Imaginaria-o a chegar à boxe da Ferrari, saísse do carro, rumado ao da Lotus e ter-lhe ia puxado as orelhas do jovem impertinente. 

Acham irreal? Senna fez isso a um jovem Michael Schumacher a meio de 1992, nos GP's de França e da Alemanha... e muitos acham que o alemão apenas copiou e levou os truques do brasileiro a um novo nível.

O que quero dizer é que Senna não era Villeneuve. O brasileiro queria vencer, acima de tudo, não interessava muito o "como". Villeneuve queria correr acima de tudo, não interessava o "como". São dois seres totalmente diferentes, embora, claro, tivessem coisas em comum: eram tremendamente rápidos e temerários e não gostavam nada da politica.

Aliás, foi a politica que causou o fim de Villeneuve, quando Pironi lhe "esfaqueou" nas costas, em Imola. Toda a gente sabia que em Zolder, Villeneuve queria dar-lhe o troco, queria provavelmente humilhá-lo, impor o respeito no seio da Scuderia, e claro, com o consentimento do Commendatore, que sempre gostou de pilotos combativos, que puxavam pelo seu limite, muitas vezes ao custo das suas próprias vidas. E foi pena essa politica, porque por fim, parecia que a Ferrari, com o 126 C2, tinha acertado com o chassis naquele ano, depois de alguns desastres. Parecia que o Commendatore lhe ia dar aquilo que tinha prometido em 1979, quando lhe pediu para que deixasse Jody Scheckter ganhar aquele título.

Passaram-se 30 anos. Todos nós fazemos hoje em dia o nosso melhor para o recordar. O automobilismo sabe reconhecer os seus heróis e faz de tudo para não os esquecer. Gilles é um deles, da mesma forma que Juan Manuel Fangio, Stirling Moss, Jim Clark, Jochen Rindt e claro, Ayrton Senna. Numa altura em que se falam de tantos filmes e documentários sobre automobilismo, seria fantástico se alguém fizesse um filme ou documentário sobre este pequeno canadiano. Porque ele merece. Salut, Gilles!

1 comentário:

Paulo Moises disse...

Falar de Gilles Villeneuve para mim é difícil.Até hoje me emociono quando recordo pela internet alguma de suas memoráveis provas.
O Gilles Villeneuve era um piloto superior, que tornava as provas emocionantes.
Me tornei fã de Gilles em 1977 quando ele foi pilotar uma Ferrari. Seu estilo arrojado, agressivo e leal tornava-o admirável. Na época eu contava nove anos e ficava nervoso quando Gilles alinhava para as provas, parecia que eu estava dentro do carro também.
Em 08/05/82, quando Gilles morreu, eu chorei como se tivesse perdido um de meus pais, quase não assisti a prova da Bélgica por ver a vaga de Gilles no alinhamento da prova.
Nunca senti nada semelhante por piloto algum, nem mesmo por Airton Senna, ele não tinha o carisma de Gilles. Vale lembrar que naquela época o Nelson Piquet e o Emerson pilotavam, eu nunca torci por eles.
Até hoje sou um semi-tifosi, pois torço pela Ferrari, não pela equipe em si, mas porque vi o Gilles pilotar e morrer numa Ferrari.
Eu só lamento sua tenra idade, por não ter visto ou assistido o Gilles pilotar na F1, não teve o prazer ou a emoção verdadeira do que é corrida de automóvel.