Leio a Motorsport britânica, que
comprei no mês passado a pretexto dos 30 anos do acidente mortal de Gilles
Villeneuve, e leio algo interessante: parece que a industria cinematográfica
descobriu o filão do automobilismo. Sabemos de “Rush” - e sigo atentamente as
filmagens feitas por Ron Howard – e sei de pelo menos mais dois ou três
projetos em fase inicial – um sobre a relação Stewart/Cevért e outra, feita por
Manish Pandey, um dos realizadores de “Senna”, sobre a relação entre Mike
Hawthorn e Peter Collins, mas deste último projeto não sabia nada: um filme
sobre Richard Seaman, o primeiro grande piloto britânico, cujo centenário do
seu nascimento se comemorará em 2013.
O filme será produzido pela Cross
Creek Pictures, e terá Brian Cross como produtor, ele que está também a ser um
dos produtores de “Rush”. Quer ele, quer a produtora tem créditos sólidos, pois
produziram o “Cisne Negro”, que deu um Óscar a Nathalie Portman. Ainda não há
atores escolhidos para o papel de “Dick” Seaman, nem se sabe quem escreverá o
argumento.
“Foi uma era interessante porque
as marcas alemãs eram tão superiores que qualquer piloto que competia na
Grã-Bretanha, simplesmente não iria correr no Continente”, começou por dizer o
produtor na revista. “Para Seaman, era a sua oportunidade para correr, mas
também foi parar ao ambiente hostil onde Hitler e o nazismo estava no seu auge
e estávamos à beira da II Guerra Mundial”, continuou.
Seaman, nascido a 4 de fevereiro de 1913, é um dos pilotos
esquecidos da geração dos “Grand Prix”, das Flechas de Prata, isto porque foi
um piloto que, na sua busca por glória, decidiu pilotar um Mercedes alemão,
símbolo do regime nazi, e do qual não hesitou em fazer a saudação quando venceu
o GP da Alemanha de 1938, provavelmente a sua maior vitória da sua carreira.
“Eles forçaram-no a fazer a
saudação nazi, e ele o fez, contrariado. De tudo o que li sobre esse episódio
diz-se que ele não o queria fazer, e que foi avisado que caso não o fizesse,
teria problemas. Acima de tudo, ele tinha a ambição de correr, e queria fazê-lo
ao mais alto nível, e quando lá chegou, teve a consciência do custo que isso
teve”, declarou.
Richard Seaman causou muita
sensação no seu tempo, especialmente quando se casou com uma das herdeiras da
companhia BMW, ainda em 1938, numa altura em que o mundo já sabia, inevitavelmente,
que iria cair em nova guerra mundial. Contudo, Seaman não viveu para assistir a
ela: morreu a 25 de junho de 1939 no GP da Belgica, em Spa-Francochamps, quando
perdeu o controle do seu Mercedes e ficou severamente queimado devido à
gasolina vertida para o seu corpo. Tinha 26 anos.
“Ver um piloto britânico num
ambiente daqueles faz-me lembrar ‘Lawrence da Arábia’ porque é um peixe fora de
água. No final, tudo termina de uma forma trágica, e nós pensamos que se
fizermos isto bem, poderá ser um grande filme”, concluiu.
A Mercedes fez-lhe um funeral digno
desse nome, e desde então tem vindo sempre a cuidar da sua campa, no cemitério londrino de Putney Vale.