sábado, 16 de agosto de 2025

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Quando a Formula 1 chegou â Áustria a 16 de agosto de 1970, tinham passado seis anos desde a última vez, num autódromo em Zeltweg, e chegavam a uma pista totalmente nova para eles. E muito veloz. 

A pista permanente foi construída em respostas às queixas da superfície que os pilotos passaram na base aérea, quando correram em 1964. Completada em 1969 para os 1000 km, uma prova de Endurance ganha pelo suíço Jo Siffert - que ganharia a corrida de Formula 1 dois anos depois, em 1971 - em 1970, máquias e piltoos chegavam a uma pista e a um país no meio do verão... e no meio de uma febre. 

Jochen Rindt ganhava todas as corridas desde que o verão tinha começado e todos sabiam que o título de "Weltmeister" era uma questão de semanas. Ou corridas. E se ganhasse "em casa", quando faltariam quatro corridas do final, seria fantástico. Ele dominava, mas não esmagava. E isso, se calhar, poderia acontecer numa das corridas seguintes. Mas não tinham dúvidas: aquele título iria ser dele. Os austríacos tinham essa certeza. 

Mas o que não tinham reparado era que a concorrência já tinha lançado as suas armas. Especialmente a Ferrari. O seu chassis e o seu motor tinha melhorado o suficiente para poder responder, e desde Brands Hatch que tentavam mostrar a ele que poderiam combatê-lo e que o título ainda não tinha dono. Contudo, as tentativas de Jacky Ickx de o superar não tinham sido bem sucedidas. Desistira em Brands e fora segundo em Hockenheim. Seis pontos contra 18: parecia ser tarde demais. 

Mas na qualificação, Rindt tinha sido o melhor, mas os Ferrari vinham logo a seguir, com Ickx em segundo, seguido do seu companheiro de equipa, o suíço Clay Regazzoni. E o terceiro carro da Scuderia, com Ignazio Giunti ao volante tinha conseguido o quinto melhor tempo, batido apenas pelo March de Jackie Stewart.

Rindt foi batido pelos Ferrari na partida, mas andou atrás deles porque não tinha muita pressa em apanhá-los. Contudo, os fãs poderiam querer vê-lo na frente na sua corrida caseira, mas não aconteceu: na volta 16, o seu motor entregou a sua alma ao Criador, e ele foi calmamente, a pé, rumo às boxes. Explicou o que se tinha passado e sentou-se, tornando-se espectador, como os outros.

No final, os Ferrari ganharam em dupla, com Ickx na frente de Regazzoni. Ambos cortaram a meta com menos de um segundo de diferença, como se fosse um cortejo. O terceiro Ferrari, o de Giunti, foi sétimo.  

Seis anos antes, a sua estreia na Áustria, a bordo do seu Cooper, também acabou desta maneira. Ele ali sabia que, apesar do mau resultado, tinha tudo sob controle. O que não sabia, é que tinha acabado de correr o seu último Grande Prémio. A seguir será Monza. 

A tecnologia revolucionária das baterias de sódio


As baterias elétricas, como conhecemos, são maioritariamente de ion-lítio, uma tecnologia que foi descoberta em meados dos anos 80 do século XX pelo cientista americano John B. Goodenough - que, em conjunto com M. Stanley Whittingham e Akira Yoshino, conseguiu em 2019 o Nobel da Química - que são mais eficazes que os usados anteriormente, de chumbo-cádmio, que até então davam um alcance bem limitado em termos de autonomia. Ou seja, passamos de 80 a 100 quilómetros, para autonomias superiores a 600 quilómetros. 

Contudo, o preço das baterias é alto, apesar de ter baixado bastante, ao longo dos anos. Em 2010, por exemplo, valiam cerca de 1400 dólares por kW/hora. hoje em dia, baixou em 90 por cento, para cerca de 110 dólares por kW/hora. Mas por estes dias, surgiu um estudo onde falam de baterias de sódio, que são bem mais eficazes, ao ponto de prometerem baterias que custam... 10 dólares por kW/hora. Ou seja, algo que é 90 por cento mais barato que as atuais baterias, que por sua vez eram mais baratas que aquelas usadas há década e meia. Impressionante!

Caso tudo isto seja confirmado, este preço representaria uma quebra histórica na barreira económica da mobilidade elétrica - e noutros dominios - além de abrir espaço para armazenamento residencial e em grande escala. Imaginem, por exemplo, painéis solares custarem um décimo do que custam agora.


A chinesa CATL, maior fabricante mundial de baterias para veículos elétricos, afirma que a Naxtra, o modelo de bateria já pronta para produção, funcionará tanto em veículos industriais quanto em carros elétricos, mantendo até noventa por cento da capacidade entre -40 °C e 70 °C. Para além disso, a fabricante afirma que estas baterias Naxtra podem superar 10.000 ciclos de carga, teoricamente equivalentes a mais de 3,6 milhões de quilômetros antes de atingir 85 por cento da capacidade. Em comparação, as atuais baterias LFP duram entre três mil e quatro mil ciclos.

A densidade energética da Naxtra é de 175 Wh/quilo, próxima das LFP (185 Wh/quilo), garantindo autonomia estimada em 500 quilómetros por carga. E tem outra vantagem: estas baterias de ião-sódio conseguem resistir a testes implicando penetrações e compressões, ou seja, os riscos de explosão e incêndio serão bem menores. 

Robin Zeng, presidente da empresa, acredita que o sódio pode ocupar até metade do mercado global de baterias nos próximos anos. Mesmo que o preço real fique entre os 40 e 50 dólares por kW/hora, o impacto na redução do custo de carros elétricos e do armazenamento de energia seria significativo.

Parece ser tudo muito bonito, mas há problemas. Sim, é verdade que o sódio é muito mais denso que o lítio - é o sal - e apesar de alguns dos números aqui apresentados serem relativamente dramáticos, em termos de eficiência, é equivalente. E para além disso, a CATL não divulgou documentação técnica detalhada nem preços de produtos comerciais, mantendo o custo de dez dólares por kW/hora... mais como uma promessa de marketing do que algo substanciado. Mas eles afirmam que mais de 30 modelos de marcas como Geely, Chery, GAC e Voyah irão receber baterias de sódio em 2025, não como protótipos, mas como produtos acabados.

É que na China, eles não esperaram por estudos para saber da possível viabilização deste tipo de bateria: A BYD já começou a construir uma fábrica para este tipo de bateria, e a JAC, outra fabricante de automóveis, iniciou em 2024 a produção em série do seu primeiro carro com baterias de sódio.

Sim, o potencial está aí, mas ainda demorará mais algum tempo até saber se esta tecnologia será o suficiente para superar a atual. 

Noticias: Presidente da FPAK entusiasmado com a possibilidade de regresso da Formula 1 a Portugal


O presidente da FPAK (Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting), Ni Amorim, está entusiasmado com a possibilidade de regresso da Formula 1 a Portugal, mais concretamente, ao Autódromo de Portimão, a partir de 2027. Numa entrevista dada esta sexta-feira à agência de notícias Lusa, Amorim afirma estar satisfeito com a vontade do XXIII Governo da República Portuguesa em voltar a receber o Campeonato do Mundo de Fórmula 1 em Portugal.

"[Está] tudo pronto para se formalizar o regresso da Formula 1 ao Algarve, em 2027. Resta-me ficar satisfeito com a vontade do Governo em voltar a ter a Fórmula 1 em Portugal, que já não vem ao nosso país desde 2021", começou por afirmar. "É um canal que está aberto. Portugal é sempre um país candidato. Haverá Grande Prémio desde que o Governo assim o entenda, pois não pode ser a FPAK a decidi-lo", frisou o ex-piloto de velocidade e ralis. 

Ni Amorim admitiu ter sido contactado pelos responsáveis do Autódromo Internacional do Algarve para uma reunião "a acontecer nos próximos dias. Vamos aguardar serenamente. É um projeto para 2027. A Fórmula 1 tem vários países em lista de espera, mas poderá haver uma janela de oportunidade", disse. "Há uma quota de grandes prémios que têm de ser realizados na Europa. É esse o acordo com as equipas. É aí que está a oportunidade para Portugal entrar", sublinhou.

O presidente da FPAK recorda, no entanto, que "há muitos países em fila de espera" para acolher uma prova de Fórmula 1, pelo que esta candidatura "depende única e exclusivamente do Governo. Cá estaremos para assegurar, agentes do desporto, todas as partes operacionais, como já ficou provado em 2020 e 2021", quando Portugal acolheu duas provas do Mundial em plena pandemia de covid-19, na pista do Algarve. "Estaremos à altura das responsabilidades!", concluiu.

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

O recorde de autonomia elétrica (II)


Depois de ontem ter falado sobre o Polestar 3 e o seu recorde de autonomia com quase mil quilómetros, conseguido há umas semanas no Reino Unido, a Chevrolet também andou a fazer a sua tentativa de recorde com um pickup, o Silverado. É uma das lendas da marca, e claro, tem a sua verão elétrica. Mas para alcançar o seu recorde, tiveram de ser extremos. 

Primeiro de tudo, o que alcançaram: 1704 quilómetros com uma só carga (1059 milhas), num carro que é mais pesado que o Polestar 3. Superou plenamente, por exemplo, o "record" anterior de 1205 quilómetros (749 milhas), que havia sido estabelecido recentemente pelo sedan elétrico Lucid Air. Contudo, o teste não foi convencional. Em quase todos os aspectos.

Primeiro, foi realizado durante sete dias, por 40 engenheiros da General Motors (GM) em vias públicas próximas ao campo de provas de Milford, em Michigan, e também na região de Belle Isle, o percurso foi feito com velocidade constante de apenas 20 a 25 km/hora, sob clima ameno, e com diversos ajustes pensados para reduzir ao máximo o consumo energético. Ou seja, um verdadeiro teste num carro pesadamente modificado para otimizar o objetivo. 


Ainda por cima, a versão utilizada neste teste foi a EV Work Truck 2025, que é a mais basica da linha. Voltada ao trabalho pesado, ela entrega autonomia estimada de 792 km segundo a EPA, sem recorrer a truques tecnológicos. O segredo está na bateria colossal de 205 kWh, a mesma usada em modelos bem mais caros e sofisticados da GM, como o Hummer EV e o Cadillac Escalade IQ. Ainda por cima, ela dispensa telas enormes, acabamento refinado e rodas chamativas. E é essa simplicidade que ajuda a reduzir o peso e aumentar a eficiência, permitindo que ela vá ainda mais longe.

E neste teste, com a condução extrema, eles conseguiram fazer com que rodasse um percurso que foi mais do dobro da autonomia homologada, atingindo 214 por cento além do esperado. 

O que a GM quis provar? Com o avanço da tecnologia, rodar mais de mil quilómetros com um elétrico pode, em breve, deixar de ser apenas um feito de laboratório para passar a ser algo do dia-a-dia.

WRC: Mikkelsen quer convencer a Skoda a regressar


Andreas Mikkelsen quer convencer a Skoda a regressar ao WRC em 2027. O piloto norueguês de 36 anos, que participou em cinco ralis em 2024, pela Hyundai, está "em casa" em 2025, mas gostaria de regressar a tempo inteiro. E com as regras para 2027 semelhantes aos Rally2, ele, que pilotou os Fabias de Rally2 entre 2020 e 23, acha que as condições poderão ser as ideais para um regresso.   

Em entrevista ao Stage Mode podcast, Mikkelsen começou por afirmar:

Claro que quero voltar [ao WRC]. Ser pai a tempo inteiro é muito bom, mas sinto falta da competição. Sou competitivo desde os cinco, seis anos de idade, por isso já faz algum tempo que estou afastado, mas quero mesmo regressar. Ainda estou muito motivado e tenho muita experiência agora para construir ou fazer parte do desenvolvimento de carros novos. Então, sim, é claro que estou a tentar convencê-los [Škoda] e vamos ver.

O norueguês explicou ainda que está a avaliar outras categorias, como rally raid e Extreme E, destacando que a experiência no WRC é facilmente transferível.

Acho que, se olharmos para o WRC, realisticamente, com o meu historial com a Škoda, se eles decidissem dar esse passo, seria muito natural tentar fazer parte disso, já que a nossa relação é tão boa. Mas também estou a trabalhar para ver que outros campeonatos ou disciplinas poderia apostar… Tudo o que aprendi no WRC é tão transferível para, por exemplo, rally raid ou Extreme E. A velocidade no WRC… nenhuma outra categoria chega perto. Desde que venha do WRC, só é preciso ajustar-se e aprender uma disciplina diferente. Acho que rapidamente se terá bastante sucesso.

Relativamente às oportunidades atuais, Mikkelsen referiu:

Tenho de procurar todas as possibilidades que existem. Claro que o meu coração ainda está no WRC e é lá que quero estar. Mas com apenas dois fabricantes no momento, é muito difícil. Só tenho de ver como as coisas se desenvolvem.

Sobre os regulamentos de 2027, o piloto comentou:

Acho que os novos regulamentos para 2027 são interessantes. Estamos todos à espera do conjunto final de regras para ver se será realmente atrativo para novos fabricantes, preparadores ou alguém novo entrar no mercado. Depois teremos de ver o caminho certo a seguir.”, concluiu.

Com três vitórias, 25 pódios e 117 vitórias em especiais, Mikkelsen conseguiu como melhor resultado geral três terceiros lugares entre 2014 e 16, quando guiava pela Volkswagen. Para além disso, ganhou o WRC2 em 2021 e 2023, ambos num Skoda e o Europeu de Ralis (ERC) em 2023.  

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

A imagem do dia





A temporada de 1960 pode ter acontecido há 65 anos, mas foi neste dia que a Formula 1 correu pela última vez no circuito da Boavista, em Portugal. E foi nesse dia que Jack Brabham se tornou campeão do mundo pela segunda vez, no seu Cooper dominador. 

E por pouco, essa vitória não acontecia. Primeiro, na qualificação, onde John Surtees, então no seu terceiro Grande Prémio da sua carreira, conseguia uma inesperada pole-position a bordo do seu Lotus-Climax, onde Brabham era apenas terceiro, com o BRM de Dan Gurney no meio, na sua melhor qualificação do ano. Jim Clark, que tivera um acidente na qualificação, foi apenas oitavo no seu Lotus, enquanto Nicha Cabral, no seu Cooper da Scuderia Centro-Sud, era 15º... e último, a oito segundos do "poleman".

Na partida, Gurney deu-se melhor com a superfície do circuito, que era de... paralelepípedos, para ficar com a liderança, enquanto Brabham ficou um pouco mais atrás. Pior: um despiste o tinha atirado para o sexto lugar. Mas o que interessava era que o carro estava inteiro e arrancou, rumo a uma corrida que teria de ser de recuperação. 

Primeiro, a sorte: Gurney teve uma fuga de óleo na décima volta, para o comando ficar nas mãos de Surtees, enquanto Brabham recuperava tempo e lugares. Quem também tinha azar era Stirling Moss, que primeiro, teve de trocar velas, e depois, quando fez um pião na pista, retomou a corrida em sentido inverso por alguns metros. E por causa disso, os comissários de pista decidiram desclassificá-lo quando chegou ao fim na quarta posição.

Por esta altura, Brabham tinha apanhado o Ferrari de Phil Hill e lutava por posição com o americano. A luta durou até à 30ª volta, quando Hill despistou-se e ficou de fora, felizmente sem ferimentos. Por esta altura, Surtees tinha problemas com o seu carro porque óleo tinha ido para os seus sapatos e isso atrapalhava a sua aceleração e travagem. Quando se despistou, na volta 36, já era acossado por Brabham, e ali, perdia a sua primeira chance de vitória, quer para ele, quer para a Lotus.

Com isso, o australiano ficou com o comando da corrida e tinha já algum avanço sobre Bruce McLaren. Mas quem estava à porta dos pontos era Nicha, que era sexto quando a sua caixa de velocidades cedeu e ficou de fora. Jim Clark foi o terceiro, ficando com o seu primeiro de 32 pódios na sua carreira. E o sexto classificado, Innes Ireland, conseguiu o seu ponto... com sete voltas de atraso.

No final, Brabham estava duplamente contente. Não só era o vencedor do GP de Portugal, como tinha renovado o título, a duas corridas do final do campeonato. E melhor: tinha levado tudo, também o título de Construtores e o segundo lugar do campeonato, que pertencia a Bruce McLaren. Ele tinha 33 pontos, menos sete que Brabham, enquanto o terceiro na classificação, Innes Ireland, tinha... 13.

A partir daqui, a Formula 1 só regressaria a paragens portuguesas dali a 24 anos. E também iria decidir um campeonato.   

Noticias: Formula 1 pode regressar a Portugal em 2027


O primeiro ministro de Portugal, Luis Montenegro, anunciou esta quinta-feira à noite que o seu governo está em conversações avançadas com a Liberty Media para receber o GP de Portugal a partir de 2027, no Autódromo de Portimão. 

No evento da Festa do Pontal, do seu partido, o Social-Democrata, que aconteceu na Quarteira, na região do Algarve, afirmou que a chegada da Formula 1, bem como a manutenção da MotoGP nas temporadas de 2025 e 2026, fazem parte de um plano para estimular a atividade económica no Algarve, mesmo no domínio turístico, o principal setor desta região de Portugal.

Há muitas coisas que dependem da ação dos operadores privados, mas nós também temos de fazer a nossa parte, para promover este território, para promover aquilo que temos para oferecer a quem nos visita. Uma das circunstâncias que mais contribui para a promoção do país e também desta região são os grandes eventos.", começou por falar.

"Asseguramos a realização do MotoGP, a prova mãe do motociclismo a nível mundial para 2025 e 2026. Estou em condições de vos dizer que temos tudo pronto para formalizar o regresso da Fórmula 1 ao Algarve no próximo ano de 2027.", continuou. "Estes eventos implicam alguns esforços financeiro por parte do governo, mas tem um retorno quer financeiro direto, quer indireto de promoção que valem sinceramente a pena”, concluiu.


Do lado do Autódromo do Algarve, Miguel Praia, o atual diretor do Autódromo de Portimão, comentando para a Autosport portuguesa, preferiu não comentar sobre o assunto, mas afirmou que a porta está sempre aberta para a Formula 1. 

Desde o tempo do nosso querido Paulo [Pinheiro, o construtor do autódromo, falecido em 2024] que mantemos a porta da Formula 1 aberta. De momento, não podemos acrescentar mais.”, declarou.


Caso aconteça o regresso do GP de Portugal a Portimão - que acolheu a Formula 1 em 2020 e 2021 -  poderá acontecer em substituição de duas corridas: o de Barcelona, que perdeu o estatuto de GP de Espanha para Madrid, a partir de 2026, e tem a sua continuidade em dúvida, e o GP dos Países Baixos, cujo contrato com o circuito de Zandvoort termina em 2026 e do qual a organização já disse que não pretende renovar com a Liberty Media.  

O recorde de autonomia elétrica (I)


Os carros elétricos adam por aí, não se pode evitar. E não só vieram para ficar, ainda por cima, se as noticias sobre a eficácia das baterias de sódio forem confirmadas, os carros correm o risco de ficarem mais baratos, ou se forem daqueles mais cínicos, os lucros da industria automóvel aumentarem bastante.

Mas sobre as baterias de sódio, isso fica para outro dia. O que pretendo falar hoje é algo que gosto: recordes do mundo. Neste caso, de autonomia. Por estes dias houve dois recordes, feitos de forma muito radical em termos de milhagem, de distribuição de peso e de condições atmosféricas e de ambiente. Hoje falo do da Polestar3, amanhã será do Chevrolet Silverado.


O da Polestar3 aconteceu em junho, em Norfolk, no leste do Reino Unido, quando um exemplar da marca sueca, uma associada da Volvo, percorreu 925,4 quilómetros com uma única carga de bateria, estabelecendo o novo recorde mundial de maior distância percorrida por um SUV elétrico sem recarregar. 

O trajeto foi realizado em vias públicas, com três motoristas ao volante a trocarem de lugar ao longo de 22 horas e 57 minutos de condução. A velocidade média foi de 40,7 km/hora, escolhida para otimizar o consumo de energia em estradas planas e com pouco tráfego. No final da jornada, a média de eficiência registrada foi de 12,1 kWh por cada cem quilómetros, um consumo comparado com elétricos compactos como o BYD Dolphin Mini. 


O feito foi oficialmente validado por um juiz do Guinness World Records, com verificação independente de dados como o GPS e estado de carga da bateria.

Segundo o CEO da Polestar, Michael Lohscheller, o recorde reforça a capacidade tecnológica da marca: “Estamos muito orgulhosos de ter um recordista mundial na família Polestar. É mais uma prova de que o Polestar 3 está definindo novos padrões para os SUVs elétricos.

Isto só mostra que, mesmo isto tenha sido um teste e as condições tenham sido excepcionais, os carros elétricos estão a ganhar uma autonomia cada vez maior, e isso, claro, terá consequências nos modelos que serão comercializados. Mas isto foi apenas um teste relativamente... normal. Se forem puxados ainda mais no limite, este recorde iria certamente ser mais longo. 

WRC: Asia-Pacifico quer mais ralis no calendário


O calendário do WRC está a ser alargado e terão novos ralis - Paraguai e Arábia Saudita entram este ano, os Estados Unidos provavelmente no próximo ano - mas há regiões que querem mais novos ralis ou o regresso de alguns que fizeram parte no passado. 

Agora, a região da Ásia-Pacifico quer ter mais um rali no calendário, para além do rali do Japão, e candidatos não faltam: Nova Zelândia e Indonésia. No caso indonésio, Simon Larkin, diretor de eventos do WRC Promoter, revelou que está a falar com as autoridades locais, nomeadamente o Ministério do Desporto, no sentido de receber de volta a competição. A última vez que o WRC recebeu o rali foi em 1997, e tem imensa tradição no campeonato regional.

Outro rali que está na mente em termos de regresso é o rali da Nova Zelândia, que esteve no calendário pela última vez em 2022. Normalmente acontecia "en tandem" com o rali da Austrália, Larkin também confirmou que estão a falar com o governo local sobre a chance de receber de volta ao calendário. e a ideia será a que foi aplicada para o rali da Arábia Saudita: utilizar provas do WRC para impulsionar campeonatos regionais, tal como acontece na América do Sul. Esta integração fortalece o ecossistema de ralis e aumenta a exposição mediática das regiões-alvo.

Caso aconteça, um ou ambos entrariam no calendário de 2027, porque o de 2026 já foi divulgado, e o único rali na região será o do Japão, em maio. 

Youtube Automotive Video: O novo recorde da Koenigssegg

Parece que anda por aí uma rivalidade entre a Bugatti, a Rimac e a Koenigssegg sobre o mais recente de velocidade: dos zero aos 400 e de volta ao zero em menos distância possível. 

Hoje, a marca sueca meteu este video onde afirmou que bateu o recorde da menor distância. Agora, dos 0 aos 400 e parar demorou 25,21 segundos, em 2509 metros, graças a um sistema que batizou de "Absolut Overdrive", do qual o sistema eletrónico de controlo consegue mexer no torque de igual forma aos carros elétricos.

Este teste demonstrou o poder do trabalho numa equipa multifuncional e da comunicação excecional entre os nossos sistemas de transmissão desenvolvidos internamente”, começou por afirmar Christian von Koenigsegg, fundador e CEO da marca. “É uma prova das sinergias entre as nossas equipas de engenharia e desenvolvimento, a nossa arquitetura de software de ponta e as soluções mecânicas de vanguarda.

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

A imagem do dia



Há 30 anos, acontecia algo bizarro. E a culpa nem foi do piloto. 

Na volta 13 de uma corrida que ficou assinalado pelo regresso de Pedro Lamy à Formula 1, depois de 15 meses de ausência, pilotando o Minardi M195, no lugar de Pierluigi Martini, e pelo motor Peugeot de Rubens Barrichello a rebentar na reta da meta nos metros finais, perdendo um pódio certo, o Footwork de Taki Inoue parava por causa de um problema de motor. Com este a pegar fogo, o piloto japonês saiu do carro a correr, sem saber que, na sua direção vinha um Tatra a servir de carro de comissários, pronto para ajudar a apagar as chamas do seu carro.

E... foi atropelado. Francamente, não recordo de nenhum piloto ser atropelado por um carro, nem antes, nem depois. Outras coisas semelhantes, sim. Mas isto era inédito. Agora imaginem ver isto num domingo à tarde, um adolescente a aproveitar as suas férias de verão, a assistir a isto. Não me lembro de ter ficado de boca aberta, mas... não ficaria admirado.  

As pessoas podem pensar que o trapalhão foi ele, mas bem vistas as coisas, foi mais uma confusão do qual ele foi mais vitima que réu. 

E o mais estranho é que isto não era a primeiras vez. Em maio, no Mónaco, tinha sido vitima de mais um acidente causado pelos comissários de pista, nomeadamente pelo Renault Clio guiado por Jean Ragnotti, que servia da Safety Car nessa corrida. O carro ficou destruído e o piloto acabou no fundo da grelha, acabando por largar das boxes. 

Felizmente, na Hungria, como no Mónaco, Inoue saiu ileso. Podia ter sido pior, mas ele era suficientemente rijo para que estas fotos passassem mais por um momento insólito que algo mais sério. E foi há 30 anos, num domingo de calor na Europa central. 

Endurance: Genesis-Magma (Hyundai) completou o seu shakedown


A Genesis-Magma, o nome por atrás do projeto da Hyundai na classe Hypercar no WEC, completou por estes dias os seus primeiros quilômetros do novo chassis. Apresentando-se em fibra de carbono, o protótipo foi guiado pelo brasileiro Pipo Derani e o alemão Andre Lotterer, o GMR-001 é o primeiro de três chassis de desenvolvimento que serão construídos nos próximos meses para apoiar o desenvolvimento e a homologação do carro antes da sua estreia no Campeonato do Mundo de Resistência da FIA de 2026.

Cyril Abiteboul, o diretor desportivo da Hyundai, afirmou que este momento é a materialização de meses de planeamento, marcando o início da integração entre design de chassis, desenvolvimento de motor e instalação da nova base, que será na pista de Le Castellet, no sul de França, em colaboração com a ORECA.

Estamos numa fase em que parece que passamos marcos todos os dias, mas é exatamente isso que temos de fazer”, começou por afirmar Abiteboul. “Depois de planear e falar sobre estes momentos nos últimos oito meses, poder finalmente ver um carro concluído a rodar exatamente como planeámos é incrivelmente entusiasmante.”, continuou.

Estamos também a iniciar o processo de mudança para as novas instalações da Genesis Magma Racing em Le Castellet. O início dos testes é o começo de unir os diferentes fluxos de trabalho – o design e desenvolvimento do chassis, o design e desenvolvimento do motor, o equipamento da oficina e a construção da equipa.

Após esta fase inicial, a equipa seguirá para um extenso programa de testes em circuitos por toda a Europa, com as conclusões de cada sessão a serem analisadas e aplicadas pelos engenheiros e mecânicos nas instalações da Genesis Magma Racing, sendo depois confirmadas através do trabalho contínuo dos pilotos no simulador.

O Diretor Técnico da Genesis Magma Racing, FX Demaison, afirmou: “Cada quilómetro que percorremos com o Hypercar GMR-001 em 2025 é extremamente valioso. O trabalho de preparação que o André e o Pipo fizeram no simulador e durante o shakedown dá-nos um bom ponto de partida para os primeiros testes. Trabalhando com os nossos parceiros de chassis na ORECA durante todo o processo de testes e desenvolvimento, podemos rapidamente analisar os dados de cada sessão, encontrar uma solução e validá-la para tirar o máximo proveito de cada momento.”, concluiu.

terça-feira, 12 de agosto de 2025

A imagem do dia (II)








Os anos 80 do século passado foram tempos interessantes. A Formula 1, a Endurance, os ralis, a IndyCar... não querendo ser nostálgico, quando se tem nove anos de idade, é tudo novo e interessante, e ficas curioso em saber as máquinas, os pilotos, como funciona isto e aquilo, e porque as marcas estão aqui e não ali. e como estás em plena era Turbo, melhor ainda.

Mas havia um lado negro. Os motores turbo eram uma bela ajuda para a velocidade, mas se perdesses o controlo, não iria acabar bem. E neste dia 12 de agosto, mas de 1985, o automobilismo perderia o alemão Manfred Winkelhock, um piloto que, apesar de resultados modestos, era versátil nos carros em que corria, fosse Formula 1, Sport-Protótipos ou Turismo.

Nascido a 6 de outubro de 1951 em Waibingen, no Baden-Wuttenberg alemão, o pai de Manfred tinha uma firma de... reboques (guinchos, no Brasil). Começou a sua carreira em 1976, na VW Junior Cup, onde... ganhou a sua primeira corrida. Depois de uma boa temporada nessa competição em 1976 e 77, no final desse ano foi contratado pela BMW para correr na sua Junior Team, ao lado de gente como Eddie Cheever e Marc Surer. Correndo na Formula 3 e na DRM, o antecessor da DTM, conseguiu bons resultados.

Em 1979 foi para a Formula 2, correndo pela March, começando ali uma prolongada passagem pela categoria. Em 1980, na ronda de Nurburgring - que acontecia no Nordschleife, com 23 quilómetros, Winkelhock passava pela curva Flugplatz quando... o seu carro voou. Acabou na berma, com o carro destruído, mas saiu dele sem ferimentos. Um milagre automobilístico! Na realidade, o acidente aconteceu porque a sua asa dianteira estava danificada por causa de um toque no inicio da corrida, e apesar de guiar cuidadosamente, tinha cedido na pior altura possível, na quarta volta dessa corrida.

No meio disto tudo, Winkelhock também esteve na ribalta por motivos melhores. Meses antes, nas 24 horas de Le Mans de 1979, guiara o BMW M1 "Art Car" que tinha sido pintado por Andy Warhol, ao lado dos franceses Hervé Poulain e Marcel Mignot. Chegaram em sexto na geral.

Em agosto de 1980, Winkelhock teve o seu primeiro gosto da Formula 1, quando substituiu Jochen Mass na Arrows, depois deste ter tido um acidente no GP da Austria. Correndo em Imola, não conseguiu a qualificação por pouco.

Mas a sua vez chegaria em 1982, pela ATS. Numa equipa com dois carros, com o outro piloto a ser o chileno Eliseo Salazar, teve sorte na segunda corrida do ano, quando acabou à porta dos pontos, no sétimo lugar. Mas com as desclassificações de Nelson Piquet e Keke Rosberg, Winkelhock ficaria em quinto, e conseguiria os seus primeiros dois pontos da sua carreira. Ainda pontuaria em Imola, no sexto posto, mas foi desclassificado.

No final do ano, a ATS conseguiria os motores BMW Turbo e Winkelhock ficou para ser o seu piloto. Com o D6 desenhado por Gustav Brunner, parecia que poderia ser um carro para os pontos. Mas a pouca fiabilidade do carro fez com que tivessem apenas um oitavo lugar em Brands Hatch como melhor resultado. Sem pontos, portanto. Continuava em 1984, mas o sempre volátil Gunther Schmid, patrão da ATS, estava crescentemente frustrado com o carro e o motor. Apesar de dois oitavos lugares durante a temporada, antes do GP de Itália, estava fora da equipa, substituído por Gerhard Berger. E no final do ano, correu o GP de Portugal no lugar de Teo Fabi, num Brabham. Acabou em décimo.

Em 1985, arranjou um lugar na RAM, ao lado de Philippe Alliot. Ao mesmo tempo, corria pela Kremer, no Mundial de Endurance. E se com a Kremer, conseguia grandes resultados - três pódios e uma vitória nos 1000 km de Monza, ao lado do suíço Marc Surer, numa corrida interrompida por causa de uma árvore caída - na Formula 1, era frustração atrás de frustração. O seu melhor resultado acabou por ser um 12º posto no GP de França, que o fazia ficar cada vez mais frustrado com a Formula 1. Afinal de contas, havia um lugar onde era mais feliz.

Uma semana depois do GP da Alemanha, onde a sua corrida acabou na quinta volta, estava nos 1000 km de Mosport, no Canadá, ao lado de Surer. Ambos iriam guiar o novo Porsche 962.

O suíço fora mais rápido que o alemão e a primeira parte foi dele. A troca de pilotos aconteceu na volta 69, e pouco depois, a corrida era interrompida por causa de um acidente. Na curva 2 do circuito, uma rápida descida para a esquerda, um 956 tinha batido forte no muro. Era o de Winkelhock, que fora parar lá por causa de um furo. Os socorros demoraram 25 minutos para o retirar dali, porque estava preso nos destroços do carro. Quando foi socorrido e levado para o hospital, tinha uma fratura craniana e fora operado de emergência. Os ferimentos eram muito graves, e as chances de sobrevivência, diminutas.

No dia seguinte, porém, foi declarado o óbito. Tinha 33 anos de idade, era casado e tinha um filho de cinco anos, Markus.

Hoje em dia, Manfred está enterrado no Waiblinger Friedhof, mas o seu legado continuou: os seus dois irmãos mais novos, Joachim e Tomas, também foram corredores. Quatro anos depois, em 1989, Joachim chegou à Formula 1, para ser piloto da AGS, sem se qualificar. No ano anterior, tinha sido campeão alemão de Formula 3, e depois disso, teve uma carreira vitoriosa no DTM e triunfou no BTCC em 1993. Sempre pela BMW.

Para além disso, Joachim Winkelhock ganhou as 24 Horas de Le Mans, em 1999, ao lado de outros dois ex-pilotos de Formula 1: o italiano Pierluigi Martini e o francês Yannick Dalmas. O carro? Um BMW V12 LMR.

Tomas, o mais novo da família, ganhou a Formula Konig em 1988 e a ADAC Procar Series em 1998.

O filho de Manfred, Markus Winkelhock, também foi bem sucedido nos Turismos, nomeadamente no DTM, e nos GT's, sendo em 2012 campeão na classe GT1, e para além disso, ganhou por quatro vezes as 24 Horas de Nurburgring. Mas antes, em 2007, experimentou a Formula 1 no GP da Alemanha, ao serviço da Spyker, onde aproveitou bem as condições daquele dia para ficar na pista... e liderar o Grande Prémio por cinco voltas!

A imagem do dia





Hoje em dia, a Formula 1 está cheia de dinheiro. Muito dele vindo do petróleo, que sempre andou no paddock, mais antigo que o tabaco. Aliás, até 1968, as gasolineiras e os pneus eram as únicas firmas que podiam estar nos flancos dos carros e nos fatos dos pilotos. Claro, depois, mudou tudo, quando Colin Chapman conseguiu um patrocínio de cem mil libras anuais da Imperial Tobacco para as suas equipas de Formula 1, Formula 2 e Formula 3 da Lotus. 

A equipa colocou ali as suas marcas. A primeira, até 1971, foi a Gold Leaf. E a partir do ano seguinte, a John Player Special. Os seus carros eram pintados a negro com letras douradas, e claro, carro bonito é carro que vence. Mas o patrocínio acabou no final de 1978, depois de mais um título mundial com Mário Andretti e Ronnie Peterson como pilotos do fantástico Lotus 79.

Em 1979, ficaram com a Martini, e voltaram ao British Racing Green, mas desde há algum tempo que Colin Chapman tinha a atenção de um expatriado americano que tinha ganho muito, mas muito dinheiro no petróleo. E em 1979, o mundo passava por mais um choque petrolífero, graças à queda do Xá do Irão, Reza Palhavi, e a sua substituição pelo regime teocrático dos Ayatollahs. 

A partir do meio do ano, Chapman começou a ser visto ao lado de um homem com um chapéu que cobria a sua careca, de óculos escuros e associado a uma palavra que começava a ser vista em todo o lado: Essex. 

O homem em questão era David Thieme. E a sua queda será tão abrupta quanto a sua ascensão. 

Nascido em 1942 em Minneapolis, era filho de Anthony Thieme, um pintor e designer de origem neerlandesa, que foi para os Estados Unidos aos 22 anos. Na Segunda Guerra Mundial, desenhou um planador para o Exército, e esse conhecimento influenciou o seu filho, que quando chegou à idade de ir para a Universidade, escolheu o Pratt Institute, em Nova Iorque. 

Quando saiu, montou uma firma de design industrial do qual fez uma pequena fortuna, do qual investiu em petróleo. Em 1973, com o primeiro choque petrolífero, ele ganhou tanto dinheiro que fechou a sua empresa de design e fundou a Essex Overseas Petroleum Corporation, que basicamente comprava futuros do petróleo quando os preços estavam baixos e vendia quando o preço da commodity subia. 

Em 1977, fez um acordo de cooperação com a Credit Suisse, que lhe deu uma cobertura financeira para poder comprar mais no Médio Oriente, sempre instável. E no ano seguinte, com as turbulências no Irão, chegou a ganhar... 70 milhões de dólares. Uma verdadeira fortuna, na altura. 

E claro, tinha de dar nas vistas, especialmente a sua paixão automobilística. Apareceu na Lotus e patrocinou os seus carros, mas também em Le Mans, onde colocou a sua firma nos Porsche 936 de Bob Wollek, Jacky Ickx e Brian Redman, entre outros. Aliás, Ickx tinha a Essex no seu macacão, quando correu pela Ligier na segunda metade dessa temporada, substituindo Patrick Depailler.

Mas a sua aposta era realmente a Lotus. A marca fez cem exemplares do modelo Esprit com as cores da Essex, a apresentação do modelo 81 foi no Royal Albert Hall, em Londres, custou um milhão de dólares, todos pagos por Thieme, e a meio de 1980, os jornalistas eram recebidos por ele nos escritórios do Hotel de Paris, no Mónaco, para saber das mais recentes novidades. Um verdadeiro "one-man show", de acordo com aqueles que tiveram contacto com ele. 

Claro, o que sobe tem de descer. As coisas no Médio Oriente estavam, de facto, explosivas - Irão e Iraque entraram em guerra em setembro desse ano - e nos bastidores, as relações com a Credit Suisse azedaram. E um dia, em abril de 1981, quando Thieme chegou a Genebra, tinha à sua espera a policia fiscal suíça, e tinha acusações de fraude e corrupção, na ordem dos 7,6 milhões de dólares. 

Detido por cerca de duas semanas, com uma fiança alta de 150 mil dólares - quem a pagou foi Akram Ojjeh, pai de Mansour Ojjeh, um dos acionistas da McLaren e o homem por trás da TAG, Techniques D'Avant Garde - Thieme acabou por sair inocente das acusações, mas a partir dali, desapareceu de cena, passando a viver discretamente nos arredores de Paris. E a Essex também desapareceu de cena, substituído na Lotus pela... Imperial Tobacco. Os carros voltaram a ser negros e dourados até 1986, mesmo depois da morte de Colin Chapman, em dezembro de 1982, e da era Renault Turbo. 

Thieme, discreto, quase como um fantasma, morava em Saint Gobins e morreu no passado sábado, dia 9 de agosto, aos 83 anos, no hospital de Chauny, nos arredores de Paris. Metade da sua vida recluso, discreto, depois de um pequeno tempo nas luzes da ribalta.

WRC: Neuville abdica do título, mas está focado em ganhar


O belga Thierry Neuville já acredita que a revalidação do título já não está ao seu alcance. Depois de um sexto posto no rali da Finlândia, e a cinco provas do final da temporada, o piloto da Hyundai acredita que os 51 pontos de desvantagem face ao líder Elfyn Evans começam a ser inalcançáveis. Assim sendo, o objetivo agora é de conseguir vitórias nas provas que faltam nesta temporada, poera poder afirmar que conseguiu alguns objetivos.

Já não estamos a lutar pelo primeiro lugar, mas podemos mirar o terceiro, quarto ou quinto. Podemos tentar vitórias, mas as condições têm de estar alinhadas”, explicou Neuville, citado pelo site Dirtfish.com.

Neuville, que não vence desde o rali da Grécia, em setembro do ano passado, aponta os próximos Ralis da Europa Central e do Japão como boas oportunidades para voltar ao topo do pódio. Com menos pressão, sente que pode assumir mais riscos para alcançar vitórias e pódios.

Tenho menos a perder, por isso posso arriscar mais. Esse será o meu objetivo daqui para a frente,” afirmou o belga.

Com o próximo rali apenas no final do mês, no Paraguai, Neuville irá também tentar entrar entre a maré de Toyotas que dominam os ralis e claro, o campeonato.

Formula E: Felix da Costa gosta do novo chassis


Com o campeonato para trás, as férias do verão a serem aproveitadas e a pré-temporada só a começar em outubro, antes de mais um novo campeonato, já se discute o Gen4, e o que poderá mudar o panorama da Formula E, mais de uma década depois do seu começo. E para António Félix da Costa, o novo Gen4 poderá ser algo que fará atrair os fãs do automobilismo para a competição, no bom sentido. 

Numa participação ao portal e-Formula.news, o piloto de Cascais não esconde que não é fã do Gen3, e acha que o Gen4, que se fala estar pronto na temporada 2026-27, poderá recuperar aquilo que refere como "fator wow". 

Não é segredo que ninguém é grande fã do aspeto do carro – mesmo que já nos tenhamos habituado”, começa por afirmar o piloto luso. “Temos carros rápidos neste momento, mas infelizmente é difícil transmiti-los como rápidos na televisão porque competimos em pistas demasiado pequenas.

Precisamos do fator ‘wow’, que está em falta agora”, prossegue. “Quando olhas para a Fórmula 1, pensas logo: ‘Uau, estes carros parecem rápidos! Estes carros são bonitos!’ O Gen4 vai trazer de volta esse fator. Os carros serão mais rápidos e terão melhor aparência. É exatamente isso que a Fórmula E precisa agora”, acredita o piloto português, e afirma que este chassis se aproximará dos tempos por volta da Fórmula 1 e, tecnicamente, poderá até superá-la.

Questionado sobre a passagem para circuitos permanentes, ele afirma que a competição deveria manter presença nas cidades, mas evitando circuitos demasiado curtos, como o de Londres, que considera pequeno para o Gen4. Ele sugere até que o novo chassis tenha potência ajustável conforme às pistas, como 850 cavalos num convencional, e 500 num urbano.

Por outro lado, não devemos ter receio de ir a Silverstone quando o campeonato se tornar maior e mais popular”, acrescentou ele, que foi campeão em 2020. “Claro que não é positivo ter apenas 20 mil ou 30 mil pessoas num espaço com capacidade para 200 mil. Temos de ver como a série evolui. Mas o compromisso entre a potência adequada e a dimensão da pista é, sem dúvida, uma questão importante.”, concluiu.

A última temporada com os Gen3 arranca a 5 de dezembro em São Paulo, no Sambódromo do Anhembi, e termina a 16 de agosto de 2026, em Londres.

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

A imagem do dia



Em 1985, Manfred Winkelhock pensava seriamente em deixar a Formula 1 para trás e se dedicar exclusivamente na Endurance. 

Se na Formula 1, o seu melhor resultado não passou de um 12º lugar no GP de França, numa RAM que era dos piores carros do pelotão, com motores Hart turbo cliente, que não funcionavam bem... quando funcionavam, em termos de Endurance, as coisas correram melhor. Como viram anteriormente, tinha vencido os 1000 km de Monza, conseguindo bater os Porsche oficiais de Hans-Joachim Stuck e de Derek Bell, mas uma semana antes, em Mugello, ele e o suíço Marc Surer tiveram um segundo lugar, batido apenas pelo Porsche oficial de Jochen Mass e Jacky Ickx. Para além disso, conseguiram um quarto lugar nos 1000 km de Silverstone, apenas atrás dos carros oficiais da Porsche e da Lancia, este guiado por Alessandro Nannini e Riccardo Patrese.

Depois de ter estado ausente das 24 Horas de Le Mans, porque a data colidia com o GP do Canadá, ambos regressaram para os 1000 km de Hockenheim, onde não terminaram a corrida. Era assim que Winkelhock corria no verão de 1985. Mas se na Formula 1, era desistências ou chegadas no final do pelotão, em Nurburgring, para o GP da Alemanha, não passou da oitava volta, com problemas de motor. No primeiro jornalista que encontrou, disse: "vou embora, isto é frustrante para mim".

Pudera: se numa competição, não consegues nada, e na outra sobes ao pódio como vencedor, qual escolherias?

Uma semana depois, Winkelhock e Surer estavam em Mosport para mais uma corrida de Endurance. A primeira parte da corrida foi feito com Surer ao volante, para depois haver uma troca de pilotos para o alemão. Mas ele não rodou muito: na 69ª volta, quando fazia a Curva 2, uma vertiginosa descida para a esquerda, o carro seguiu em frente - aparentemente, devido a um furo ou um defeito técnico - e embateu no muro de concreto, a mais de 230 km/hora. Os socorros chegaram rapidamente ao local, mas estava preso no meio dos destroços. Estiveram mais de 25 minutos para tirar o piloto dos restos do 956, ainda vivo, mas com fortes lesões cranianas.

Transportado de helicóptero para o Sunnybrook Medial Center, em Toronto, para ser operado, o seu estado era critico. Não tinha nenhum familiar - apenas o seu companheiro e amigo Surer - porque a sua família, nomeadamente a sua mulher, estava a caminho do Canadá para o poder ver. Infelizmente, chegou tarde: já tinha morrido devido às extensas lesões na cabeça, aos 33 anos. 

Ver que os seus últimos tempos de carreira era um contraste: infeliz na Formula 1, a mostrar o seu melhor na Endurance, mesmo num carro de uma das melhores equipas privadas do automobilismo, tem-se a certeza que, mais cedo ou mais tarde, escolheria o seu caminho e se calhar, teria uma carreira mais cheia em termos automobilísticos, passando pelo DTM e outras competições de Turismo. 

Manfred Winkelhock morreu há 40 anos, neste mês de agosto. 

Noticias: Mekies surpreendido com Verstappen


Mais de um mês depois da sua chegada à Red Bull como diretor desportivo, no lugar de Christian Horner, Laurent Mekies afirma que ficou “surpreendido” com o nível de compromisso e capacidade geral de Max Verstappen, o piloto titular da equipa. 

Numa entrevista ao podcast Inside Track da BBC, Mekies, depois de duas corridas no comando da Red Bull, afirmou que a experiência de trabalhar diretamente com Verstappen o deixou uma forte impressão.

De repente, você passa a conhecê-lo um pouco melhor… e descobre tudo o que está por trás do que se vê na pista”, começou por afirmar. “O nível de compromisso é fora do comum. Percebes que é assim que se chega a um nível tão incrível.", continuou. 

"Descobrimos o Max fora da pista e um nível completamente fora do comum de compromisso, amor pelo desporto, simplicidade e uma abordagem direta aos bons e maus momentos. Fica muito claro que essa combinação o torna intocável e único. É uma combinação incrível ter esse talento bruto combinado com o amor e o compromisso absolutos pelo desporto, com toda a compreensão que ele desenvolveu.”, concluiu.

Do lado do piloto neerlandês, Verstappen também tem impressões positivas de Mekies, reconheceu que, embora qualquer impacto significativo da liderança ainda leve algum tempo.

É claro que ainda é muito cedo, mas gosto da forma como Laurent está a trabalhar”, disse Verstappen. no fim de semana do GP da Hungria. “Muito motivado, sempre a fazer as perguntas certas, tanto a mim como à equipa – é bom ver isso. Este ano é muito difícil ver qualquer tipo de benefício disso”, acrescentou. “Mas espero que no próximo ano, ou nos próximos dois anos, é claro, possamos realmente ver esse toque na equipa, e estou muito animado com isso.”, concluiu.

A Formula 1 regressa no final do mês de agosto em Zandvoort. 

domingo, 10 de agosto de 2025

A imagem do dia (II)




Todos os pilotos tem alguém que sempre gostaram de ser amigos, sentiam bem quando competiam juntos. A ideia de que no automobilismo não havia amigos é, de certa maneira, um mito. É verdade que são competitivos, muito egoístas e só viam a pista pela frente e "estavam desenhados para vencer, não chegar em segundo" (Senna dixit), mas havia sempre aqueles que deixam uma marca nas mentes das pessoas. E mesmo em competições onde partilham a condução com outros, como na Endurance, há algo que fica nessas partilhas. Bom ou mau, fica. 

Para o suíço Marc Surer, Manfred Winkelhock foi o seu piloto favorito. Num artigo de abril de 2024 da Autosport britânica, numa entrevista ao piloto, que correu na Formula 1 entre 1979 e 1986, com passagens por Ensign, ATS, Theodore, Arrows e Brabham, conseguindo 17 pontos e uma volta mais rápida, o alemão, que morreu em agosto de 1985, numa corrida de Endurance, os 1000 km de Mosport, no Canadá, era alguém que valia a pena conversar dentro e fora da pista. Especialmente na Endurance, já que na Formula 1, nunca foram companheiros de equipa.

"Começamos a ser amigos muito depressa", começou por falar. E de facto, havia coisas em comum: tinham nascido com três semanas de diferença, no mesmo ano: 1951. Surer é de 18 de setembro, Winkelhock é de 6 de outubro. E cedo, começaram a socializar. “Saíamos juntos à noite, por isso passávamos algum tempo sozinhos e também jantávamos na pista, quando não tínhamos qualquer compromisso com os patrocinadores”, continuou. Surer reconhece que Winkelhock “era mais um homem de família” após o nascimento do filho Markus em 1980. “Mas, de qualquer forma”, acrescenta, “tínhamos muito em comum. Divertíamo-nos muito”.

Encontraram-se pela primeira vez em 1978, quando eram pilotos da BMW na Formula 2. Sureer vinha da Formula 3, enquanto Winkelhock tinha mais experiência nos carros de Turismo. E ainda ficou mais tempo nos monolugares - quatro temporadas, entre 1979 e 1982, quando foi para a ATS de Formula 1, com passagem pela Arrows no verão de 1980, como substituto de Jochen Mass, que sofrera um acidente na Áustria. 

E mesmo com esses estilos diferentes, davam-se bem na mesma.

"Ele não tinha experiência em carros de fórmula e estava sempre a forçar o carro", diz Surer nessa entrevista. Mas nos carros de turismo, complementavam-se bem. Winkelhock era "menos sensível à configuração do carro, conseguia pilotar com o carro que não era perfeito", de uma forma que Surer diz ter dificuldade em fazer.

"Mesmo que eu dissesse 'vamos lá, estamos com muita sobreviragem, não consigo conduzir o carro assim', ele entrava e já fazia um bom tempo de qualquer maneira", observa Surer com admiração. "Ele estava apenas a forçar o carro a passar por problemas que eu por vezes não conseguia. Ele simplesmente forçava o carro nas curvas. Conseguíamos estar sempre com a mesma configuração, nunca tivemos problemas em dizer 'não consigo pilotar da forma que ele quer'. Éramos muito parecidos."

Em 1982, com ambos na Formula 1 - Winkelhock na ATS, Surer na Arrows - foram para a Ford para ajudar no projeto C100 de Le Mans. Os carros eram preparados pela Zakspeed, de Frank Zakowski, alemão de origem polaca, e com o dinheiro da marca americana, esperavam-se grandes coisas. Mas os motores não eram fiáveis - nas 24 Horas de Le Mans, a sua corrida acabou... após quatro voltas - e poucos eram os motivos para festejos. Até à corrida dos 1000 km de Brands Hatch, onde os carros monopolizavam na primeira fila, com Surer em primeiro (emparelhado com Klaus Ludwig) e Winkelhock em segundo (com Klaus Niedewicz como companheiro de equipa).

A Ford queria aproveitar a ocasião e Winkelhock teve a ideia. 

“[Na endurance] o piloto que fizesse o melhor tempo nos treinos tinha sempre permissão para arrancar. O Peter Ashcroft veio da Ford e disse: ‘A BBC está a transmitir a corrida em direto na TV, podem tentar passar como primeiro e segundo na primeira volta? Podem combinar como ajudar-se uns aos outros?’ E nós dissemos: ‘OK, com o Manfred sei que não haverá problema nenhum’. Começou a chover antes da corrida e eu disse: ‘O que vamos fazer? À chuva é imprevisível’. E então o Manfred teve a ideia e disse: ‘Se andarmos lado a lado, ninguém nos pode ultrapassar’, e assim fizemos!", começou por dizer.

"Havia sempre um do lado de fora da curva que tinha o melhor traçado, porque a parte de dentro era mais escorregadia e apertada, então o do lado de fora teve de se levantar um pouco para ficar lado a lado, e conseguimos os dois. Resultou tão bem, continuámos a liderar, depois demos mais uma volta e mais uma volta e a chuva foi ficando cada vez mais forte..."

A ideia não durou muito: na quinta volta, Hans-Joachim Stuck, que era um excelente piloto à chuva, aproximou-se, com o seu Porsche 956, ficou atrás dos Ford, e queria ultrapassá-los. Não acabou bem.

Quentin Spurring escreveu, na sua crónica de corrida da Autosport: "O progresso de Stuck continuou e, na quinta volta, estava à frente dos Ford, que saíram da [curva] Surtees lado a lado novamente e partiram em direção a Pilgrims Drop. Na curva, logo abaixo da reta, Surer perdeu o controlo do seu C100, o seu carro roçou no de Winkelhock e Manfred viu-se subitamente na relva, a dirigir-se para a barreira".

No final, o acidente causou a interrupção da corrida - a barreira tinha de ser reparada - Winkelhock foi para o carro de Surer e Ludwig, mas problemas com o motor fizeram com que perdessem três minutos nas boxes, acabando em quinto. 

Só voltariam a ser companheiros de equipa em 1985, com o Porsche 956 da Kremer. Ganharam os 1000 km de Monza, uma corrida interrompida devido a uma queda de árvores, e estavam a fazer parelha no fatídico dia 11 de agosto, em Mosport, nos 1000 km canadianos. Ele tinha o primeiro a guiar, por 69 voltas, antes de passar a mão a ele, onde acabou por ter o seu despiste mortal, aparentemente, por um furo a alta velocidade. Gravemente ferido na cabeça, sucumbiu aos ferimentos no dia seguinte, e foi ele que deu a triste noticia à família, que vinha a caminho do Canadá, depois de saberem do acidente.

Surer também teria, meses depois, o azar de ficar às portas da morte, mas num evento de ralis, com um carro de Grupo B. O seu navegador morreu e ele, que então guiava na Arrows, não regressou mais ao automobilismo. Hoje em dia, aos 73 anos, é comentador de Formula 1 na RTL alemã. 

Surer guarda boas recordações de Winkelhock, descrevendo a sua amizade como "única". "Talvez houvesse outros pilotos a passar por isso", acrescenta, "mas era muito invulgar. Mesmo lutando entre si, foi sempre sem problemas, porque pode confiar no outro."  

A imagem do dia



Se quiser ir atrás e encontrar um período semelhante ao que se vive na Endurance, tenho de recuar mais de três décadas, até aos tempos do Mundial de Sportscars, aos carros do Grupo C, os Sport-Protótipos. Graças â hegemonia dos Porsche 956, toda e qualquer equipa importante poderia ter duas unidades, contratar quatro ou seis pilotos - dependendo da competição - e correr no Mundial. E até poderia ser piloto de Formula 1, para prestigiar a equipa. Brun e Kremer, importantes equipas, tinham os seus pilotos que corriam quando o calendário não coincidia com o da Formula 1.

Na Brun, tinham Stefan Bellof e Thierry Boutsen, na Kremer, Manfred Wikelhock e Marc Surer. São dois exemplos que existia nessa altura, havia mais. 

Em abril de 1985, acontecia o Trofeo Filippo Caracciolo, na pista de Monza. Era a segunda corrida de um campeonato com dez provas, e a primeira tinha acontecido uma semana antes, em Mugello. 27 carros foram inscritos, dos quais 25 alinharam à partida. 

A corrida começou debaixo de um belo clime de primavera. Mas com o passar as horas, o tempo piorava, Não em termos de nuvens, mas em termos de vento. A corrida de mil quilómetros teria 173 voltas, mas a partir da centésima volta, o vento começou a soprar em rajadas, e as árvores à volta do circuito começaram a balançar violentamente. E com o passar das voltas, ramos começavam a cair na pista, muitas vezes com os pilotos a não conseguirem evitar a colisão com elas, danificando os seus carros. 

Primeiro, foi Mike Wilds, que ia às boxes com danos na frente do seu carro, o Ecosse C285, da classe C2. Não foi muito adiante, por causa desses danos, que primeiro o deixaram nas boxes por muito tempo, e depois, obrigaram a abandonar a prova. Algum tempo depois, Paolo Barilla parava o seu carro, o Porsche 956 da Joest Racing, também com danos por causa dos ramos que tinham caído na pista.

Os pilotos começavam a falar disso, mas a organização foi lenta a reagir, porque não queriam acreditar que ramos de árvores poderiam prejudicar carros. Aliás, os pilotos e equipas tinham razões de queixa da organização naquele final de semana: no dia anterior, nos treinos, o Porsche 962 - que se estreava ali - de Hans-Joachim Stuck, pegara fogo na Curva Grande por causa de uma fuga de óleo e acabou or se incendiar completamente. Stuck saiu logo do carro, mas os organizadores demoraram três minutos para chegarem lá, tirarem as mangueiras dos carros de bombeiros e apagarem o fogo. O carro ficou irrecuperável, a FIA fez um inquérito à organização, mas no final, não encontraram culpados.

Dito isto, não se pode surpreender quando os pilotos começaram a parar a corrida na volta 138, para relatarem uma árvore que barrava parcialmente a pista. Tinha caído e por fortuna, não toinha atingido qualquer piloto. A organização decidiu que não existiam condições para continuar e deu a corrida por terminada. 

Os vencedores, Manfred Winkelhock e Marc Surer, num Porsche 956 da Kremer, tinham mais de um minuto de vantagem sobre o Porsche 962 oficial de Hans-Joachim Stuck e Derek Bell, que tinham largado com o carro de reserva. no lugar mais baixo do pódio estavam os Lancias oficiais de outros dois pilotos de Formula 1: Riccardo Patrese e Alessandro Nannini. E com essa vitória da dupla germano-suíça, tinham conseguido algo que não acontecia desde 1983: um Porsche oficial tinha ganho sempre uma corrida do Mundial de Endurance. 

Winkelhock e Surer tinham algo em comum: eram também pilotos de Formula 1. O alemão na RAM, depois de três temporadas na ATS, e Surer, depois de duas temporadas na Arrows, ia a caminho da Brabham. O facto de ter dois pilotos do meio do pelotão (ou da cauda) a fazer corridas na Endurance demonstra o espirito de um piloto de automóveis na metade dos anos 80 do século XX...

E para Winkelhock, iria ser a sua última coroa de glória. A 11 de agosto de 1985, alguns meses depois daquele triunfo em Monza, em Mosport, bateria forte contra o muro na ronda canadiana do Mundial de Endurance. Iria morrer no dia seguinte, aos 33 anos.