Hoje em dia, a Formula 1 está cheia de dinheiro. Muito dele vindo do petróleo, que sempre andou no paddock, mais antigo que o tabaco. Aliás, até 1968, as gasolineiras e os pneus eram as únicas firmas que podiam estar nos flancos dos carros e nos fatos dos pilotos. Claro, depois, mudou tudo, quando Colin Chapman conseguiu um patrocínio de cem mil libras anuais da Imperial Tobacco para as suas equipas de Formula 1, Formula 2 e Formula 3 da Lotus.
A equipa colocou ali as suas marcas. A primeira, até 1971, foi a Gold Leaf. E a partir do ano seguinte, a John Player Special. Os seus carros eram pintados a negro com letras douradas, e claro, carro bonito é carro que vence. Mas o patrocínio acabou no final de 1978, depois de mais um título mundial com Mário Andretti e Ronnie Peterson como pilotos do fantástico Lotus 79.
Em 1979, ficaram com a Martini, e voltaram ao British Racing Green, mas desde há algum tempo que Colin Chapman tinha a atenção de um expatriado americano que tinha ganho muito, mas muito dinheiro no petróleo. E em 1979, o mundo passava por mais um choque petrolífero, graças à queda do Xá do Irão, Reza Palhavi, e a sua substituição pelo regime teocrático dos Ayatollahs.
A partir do meio do ano, Chapman começou a ser visto ao lado de um homem com um chapéu que cobria a sua careca, de óculos escuros e associado a uma palavra que começava a ser vista em todo o lado: Essex.
O homem em questão era David Thieme. E a sua queda será tão abrupta quanto a sua ascensão.
Nascido em 1942 em Minneapolis, era filho de Anthony Thieme, um pintor e designer de origem neerlandesa, que foi para os Estados Unidos aos 22 anos. Na Segunda Guerra Mundial, desenhou um planador para o Exército, e esse conhecimento influenciou o seu filho, que quando chegou à idade de ir para a Universidade, escolheu o Pratt Institute, em Nova Iorque.
Quando saiu, montou uma firma de design industrial do qual fez uma pequena fortuna, do qual investiu em petróleo. Em 1973, com o primeiro choque petrolífero, ele ganhou tanto dinheiro que fechou a sua empresa de design e fundou a Essex Overseas Petroleum Corporation, que basicamente comprava futuros do petróleo quando os preços estavam baixos e vendia quando o preço da commodity subia.
Em 1977, fez um acordo de cooperação com a Credit Suisse, que lhe deu uma cobertura financeira para poder comprar mais no Médio Oriente, sempre instável. E no ano seguinte, com as turbulências no Irão, chegou a ganhar... 70 milhões de dólares. Uma verdadeira fortuna, na altura.
E claro, tinha de dar nas vistas, especialmente a sua paixão automobilística. Apareceu na Lotus e patrocinou os seus carros, mas também em Le Mans, onde colocou a sua firma nos Porsche 936 de Bob Wollek, Jacky Ickx e Brian Redman, entre outros. Aliás, Ickx tinha a Essex no seu macacão, quando correu pela Ligier na segunda metade dessa temporada, substituindo Patrick Depailler.
Mas a sua aposta era realmente a Lotus. A marca fez cem exemplares do modelo Esprit com as cores da Essex, a apresentação do modelo 81 foi no Royal Albert Hall, em Londres, custou um milhão de dólares, todos pagos por Thieme, e a meio de 1980, os jornalistas eram recebidos por ele nos escritórios do Hotel de Paris, no Mónaco, para saber das mais recentes novidades. Um verdadeiro "one-man show", de acordo com aqueles que tiveram contacto com ele.
Claro, o que sobe tem de descer. As coisas no Médio Oriente estavam, de facto, explosivas - Irão e Iraque entraram em guerra em setembro desse ano - e nos bastidores, as relações com a Credit Suisse azedaram. E um dia, em abril de 1981, quando Thieme chegou a Genebra, tinha à sua espera a policia fiscal suíça, e tinha acusações de fraude e corrupção, na ordem dos 7,6 milhões de dólares.
Detido por cerca de duas semanas, com uma fiança alta de 150 mil dólares - quem a pagou foi Akram Ojjeh, pai de Mansour Ojjeh, um dos acionistas da McLaren e o homem por trás da TAG, Techniques D'Avant Garde - Thieme acabou por sair inocente das acusações, mas a partir dali, desapareceu de cena, passando a viver discretamente nos arredores de Paris. E a Essex também desapareceu de cena, substituído na Lotus pela... Imperial Tobacco. Os carros voltaram a ser negros e dourados até 1986, mesmo depois da morte de Colin Chapman, em dezembro de 1982, e da era Renault Turbo.
Thieme, discreto, quase como um fantasma, morava em Saint Gobins e morreu no passado sábado, dia 9 de agosto, aos 83 anos, no hospital de Chauny, nos arredores de Paris. Metade da sua vida recluso, discreto, depois de um pequeno tempo nas luzes da ribalta.




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