Apesar de muitos começarem a dizer que Mónaco já é anacrónico, andarem por ali ainda continua a ser fascinante. Ver toda uma cidade-estado e fechar o trânsito todos os anos para ver carros velozes a passar, a quantidade de pessoas vindas dos quatro cantos do mundo que vão ali só para se mostrarem, os barcos enormes, o glamour... de uma certa forma, a Formula 1 é que tem de ceder a Mónaco, porque precisa dele. Pode passar bem com todos os outros - e o melhor exemplo é os Estados Unidos, que não teve Formula 1 por alguns anos, antes de ter três em 2023 - mas Formula 1 sem Mónaco? Só se for algum "force majeure", como guerras ou pandemias. E mesmo assim, foi duro não os termos por ali.
Mas naquele domingo, havia mais um fator: a chuva, Era prevista precipitação para aquele dia, e eles estava preocupados, porque naquelas condições, uma pista que já é difícil torna-se ainda mais por causa do asfalto molhado e claro, estando numa cidade, as coisas tendem a piorar. Todos de olho nos radares para saber que tipo de pneus e estratégias que iriam usar naquele dia.
De inicio, parecia que iriam correr de slicks, mas a poucos minutos da largada original, começou a chover aguaceiro, precisamente no momento em que todos já começavam a irar os aquecedores dos pneus, o procedimento de largada foi suspenso, para que pudessem colocar intermédios, e também porque tinham recebido indicações de que iria chover ainda mais pesado.
E foi assim na hora seguinte: chuva a cair mais forte nas ruas do principado, pilotos esperando para que isso passasse, e ainda por cima, os espectadores começavam a reclamar sobre o tipo da Formula 1, excessivamente segura, que parece ter medo da chuva. São os tempos que correm, por muito que os mais antigos reclamem - e estou entre eles, pois vi coisas como 1996 e 1997, por exemplo. Parece haver agora uma regra não-escrita onde diz que e Formula 1 fica condicionada pela chuva, e tenta escapar o mais possível entre os seus pingos. Longe vão os tempos de que todos ansiavam por isto porque era a maneira de separar os meninos dos homens. Agora, a Formula 1 têm medo, quer proteger os seus bens. Daí termos tido aquilo que vimos no ano passado, na Bélgica.
E por fim, uma hora depois do horário esperado, os carros largaram atrás do Safety Car. E mesmo ali, com velocidade condicionada... começaram a bater. Nicholas Latifi foi o primeiro, no gancho do hotel Loews, e a seguir, veio Lance Stroll a fazer a msma coisa. Será que o novo polo Norte magnético estará em Berthierville, Quebec? Claro, eles voltaram à pista, mas a partir dali, foram bem discretos.
Mas depois de duas voltas com o Mercedes vermelho na pista, a corrida começou com uma largada em movimento, e Charles Leclerc na frente de um pelotão sem canadianos... a Ferrari avisa que não haverá chuva pelo menos por mais meia hora, e andam de "full wets" enquanto podem, esperando que aguentem até que caia nova bátega de água. Quem andava bem era gente como Gasly, que tinha intermédios e fazia constantemente a volta mais rápida. Por causa disso, gente como Sebastian Vettel e Yuki Tsunoda foram os primeiros a trocar para intermédios. Os da frente, esses, ainda decidem ficar com os "full wets".
Ao fim de quase 10 voltas, começava a aparecer uma linha seca no asfalto monegasco, e parecia que os estavam atrás começavam a recuperar o tempo perdido. Gasly começou a passar alguns dos pilotos com os pneus azuis, que poderiam estar a fazer uma estratégia de "aguentar" até o asfalto estar seco o suficiente para poderem colocar "slicks". Mas quando na volta 16, Hamilton foi para as boxes, foi para colocar pneus intermédios e não arriscar para slicks. Na volta seguinte, foi a vez de Perez, para intermédios.
Os da frente queriam os slicks. E ainda por cima, o sol começava a rasgar as nuvens... Por fim, na volta 19, Max e Charles meteram intermédios. Sainz e Perez estavam na frente da prova. No meio disto tudo, Hamilton tocava em Ocon em Ste. Devote, mas ambos continuaram.
E os primeiros pilotos a meterem slicks foram Alex Albon e Mick Schumacher. E colocaram... duros. Na volta 20, numa altura em que Kevin Magnussen teve de se retirar da prova. Por fim, Sainz meteu slicks, deixando os Red Bull na frente e Leclerc... em quinto. Claro, estava furioso com os engenheiros.
No meio da confusão das trocas de pneus, houve sarilho para Max, porque pisou a linha de saída das boxes. Punição pela certa, logo, Leclerc iria ter companhia na desgraça.
Mas na volta 24, Mick Schumacher batia forte no S da Piscina e o seu Haas partia-se em dois. Foi o suficiente para uma bandeira vermelha, porque ali, os comissários de pista são muito eficientes em retirar os carros do local do acidente. Mas sim, foi um susto para Schumacher júnior. Mas com os guard-rails danificados, não havia garantias de segurança e tinham de esperar mais algum tempo até estar tudo reparado. E o tempo continuava nublado...
Quando os carros voltaram a rolar, atrás do Safety Car, tinham apenas cumprido 30 voltas, e faltavam 47 voltas para a meta. Mas agora havia menos de uma hora para chegar ao limite, caso contrário, os pilotos ficaram com metade dos pontos. Parecia que a Formula 1 não sabia - ou tinha esquecido - de andar à chuva. No regresso, os nove primeiros meteram compostos médios, esperando que fossem beneficiados em... sabe-se lá o quê.
No recomeço, Perez ficou na frente, até queimou os pneus na travagem para Mirabeau - estava a desviar-se de um pássaro, aparentemente - mas depois, começou a abrir. O mexicano tinha médios, o espanhol, duros. A partir dali, nos gráficos, as voltas saíram e entraram o cronómetro, porque eles já tinham chegado à conclusão que não iriam completar a corrida em "full". A pista estava tão seca que autorizaram o uso do DRS. Mas não foi com isso que os carros começaram a passar, e o melhor exemplo era ver aqueles que tentavam passar Fernando Alonso e não conseguiam.
Perez mantinha a liderança, mas com o passar do tempo, os pneus do mexicano começavam a desgastar-se. A 13 minutos do final, a diferença entre ambos era de menos de um segundo, e o piloto da Red Bull sentia a pressão para ficar na frente da corrida, contra um Sainz que queria ganhar, nem que fosse pelo seu prestigio pessoal. Mas por causa disso, Max e Leclerc se encostaram a eles, e menos de cinco segundos separavam o primeiro... do quarto.
Mas Perez aguentou e no final, deu ao México algo inédito até hoje: uma vitória no GP do Mónaco, na frente de Sainz Jr, Max e Leclerc. Pela primeira vez, o monegasco acabou a sua corrida, mas foi fora do pódio, e pior... os seus rivais ficaram na sua frente. Bem podia ter berrado nos ouvidos dos engenheiros, mas é assim que o campeonato está cada vez mais excitante. E ainda estamos a chegar ao primeiro terço do campeonato.
Mas houve um "prolongamento". A Ferrari protestou o resultado, alegando que os pilotos da Red Bull tinham violado a linha de saída das boxes, logo, tinham de ser penalizados. No final, depois de três horas de análise, os comissários decidiram que... tudo fica como dantes. Perez é o vencedor e a Ferrari, da próxima, terá de fazer melhor a sua estratégia, se quiser bater a Red Bull.