Al Unser Sr, um dos quatro pilotos com quatro vitórias nas 500 Milhas de Indianápolis, e um dos membros de uma grande família do automobilismo americano, morreu ontem na sua casa aos 82 anos. Lutava contra um cancro havia 17 anos. O desaparecimento de "Big Al" acontece sete meses depois da morte de Bobby Unser, um os seus irmãos mais velhos, e como ele, vencedor das 500 Milhas de Indianápolis.
Para além disso, era pai de Al Unser Jr, duas vezes vencedor das 500 Milhas e campeão da CART. Ao todo, a familia Unser venceu por nove vezes no "Brickyard".
"Um dos cinco melhores pilotos que já existiram - e o cara mais gentil, calmo, inteligente, durão, divertido e querido de todos os tempos. Nossa maior diversão estava nos dirt tracks: aqui [foto em cima] ele e eu lutamos [por posição] e divertimo-nos em DuQuoin, Illinois - e depois fomos tomar uma cerveja.", recordou Mário Andretti na sua conta no Twitter.
Nascido Alfred Unser a 29 de maio de 1939 em Albuquerque, no Novo México, era o mais novo de quatro irmãos, que todos seguiram as lides automobilísticas. Seu pai era Jerry Unser, que em 1926, em conjunto com os seus tios, Louis e Joe Unser, começaram a competir no Pikes Peak, no Colorado. Quando ele nasceu, já a tragédia tinha abatido a família, quando Joe morreu num acidente, em 1929, dez anos antes de ele nascer.
O seu irmão mais velho, Jerry Unser, foi o primeiro da família a correr na oval de Indianápolis, em 1958, um ano antes de morrer num acidente durante uma sessão de treinos para a edição de 1959. Por essa altura, Alfred já se tinha casado com Wanda Jesperson, a sua primeira mulher, e quando correu pela primeira vez em Indianapolis, em 1965, ao lado do seu irmão Bobby Unser, já tinha nascido Alfred Junior, que iria ser Al Unser Jr. Nesse ano, terminaria a corrida na nona posição. Algum tempo depois, vencia pela primeira vez o Pikes Peak Internacional, a "coutada" da família.
A partir de 1966, passou para a Mecom Racing Enterprises, onde conseguiu os seus primeiros resultados de relevo, em 1969, passou para a Parnelli, onde foi vice-campeão em 1969 e teve uma grande temporada no ano seguinte, vencendo as 500 Milhas de Indianápolis pela primeira vez, dois anos depois de Bobby, mas acabando por ser o campeão na USAC. Repetiu o feito em 1971, tornando-se no quarto piloto a renovar a vitória na competição, depois de Wilbur Shaw, em 1939-40, Mauri Rose, em 1947-48 e de Billy Vukovich, em 1953-54.
Em 1972, Unser era o favorito à vitória, tendo conseguido fazer uma corrida consistente, mas apenas chegou ao segundo posto, batido pelo Penske de Mark Donohue.
Depois de mais alguns maus anos e um pódio em 1977, acabando vice-campeão na USAC, em 1978 foi quinto na qualificação para as 500 Milhas daquele ano. O grande favorito para a vitória, andou durante muito tempo em duelo pela liderança com Danny Ongais. O duelo durou entre a volta 75 e a 150, e acabou quando o motor do carro do piloto havaiano explodiu, deixando Unser sozinho na frente até à meta. O terceiro triunfo no "Brickyard", oito anos depois do primeiro, o colocou entre os maiores do automobilismo da segunda metade do século XX. Foi vice-campeão no final desse ano, e venceu no IROC, o International Race of Champions, uma competição que juntava IndyCar, NASCAR e Formula 1.
Contudo, nesse ano, houve a cisão entre a USAC e as equipas, resultando na CART. Nesse ano, Unser foi para a Chaparral, e em 1980, para a Longhorn, antes de em 1983, se transferir para a Penske.
Nesse ano, uma temporada consistente - apesar de só ter ganho uma vez, subiu ao pódio por seis vezes - acabou como campeão pela primeira vez na nova competição. Repetiu o feito em 1985, também levando a consistência como referência - venceu apenas uma vez, mas conseguiu seis pódios. Por essa altura, tinha 46 anos e tornou-se a sua última temporada a tempo inteiro na CART.
Em 1987, Unser Sr. era para ter participado na edição desse ano das 500 Milhas de Indianápolis, mas numa equipa que tinha Rick Mears, Danny Sullivan e o veterano Ongais, ele ficou de fora. Querendo participar, apesar de estar a caminho dos 48 anos, procurou por um carro competitivo na primeira semana de participação da prova, e enquanto não aparecia, ajudava o seu filho Al Jr. a melhorar o seu carro - ele participava pela Sherison Racing.
Contudo, no primeiro fim de semana, Ongais bateu forte no muro e sofreu uma contusão cerebral. Os médicos não o deixaram correr e a Penske teve de recorrer a Unser Sr para tentar colocar o carro no melhor lugar possível da grelha. Teria todo o apoio de Roger Penske, e teria todos os recursos possiveis, financeiros, de peças e motores. Apesar de largar de um modesto 20º lugar - os chassis não eram competitivos naquele ano - Unser Sr aproveitou uma corrida cheia de acidentes para contornar os obstáculos e na volta 183, ficou com a liderança, aproveitando os problemas que o lier anterior, o colombiano Roberto Guerrero, teve na saída das boxes na sua última paragem para reabastecimento.
Apesar do ataque final, tentando recuperar a liderança, Unser Sr. aguentou e tornou-se no segundo piloto a conseguir quatro vitórias no "Brickyard" a cinco dias dos seus 48 anos e dez depois de A.J. Foyt ter conseguido o mesmo. E era o vencedor mais idoso de sempre, batendo um recorde que pertencia... ao seu irmão Bobby, alcançado em 1981.
Subiu ao pódio no ano seguinte, no terceiro posto, e repetiu a graça em 1992, aos 53 anos, pela Team Menard. A sua última participação foi em 1994, perto dos 55 anos, onde não conseguiu a qualificação para a prova. Mas teve uma prenda no dia desses seus 55 anos: o seu filho Al Jr. acabou por subir ao pódio como vencedor.
Por essa altura, já lhe chamavam de "Big Al", para contrastar com "Little Al", seu filho, e tinha sido consagrado pelos seus pares. Membro do Indianápolis Hall of Fame desde 1986, pertencia ao Motorsport Hall of Fame of America desde 1991, e em 1998, entrou no International Motosports Hall of Fame. E para além da IndyCar, ainda participou em provas como as 24 horas de Daytona, onde foi o vencedor em 1985, a bordo de um Porsche 962 e ao lado de Foyt, o francês Bob Wollek e o belga Thierry Boutsen.
Acarinhado por todos, e considerado como um "elder statesman" do automobilismo da segunda metade do século XX, era presença constante nos finais de semana das 500 Milhas, e aplaudiu intensamente quando neste ano viu chegar o quarto membro ao clube dos quatro vencedores, o brasileiro Hélio Castro Neves. Agora foi-se o ser humano, mas a sua lenda, bem como o da sua familia, já está implementada há muito. Ars longa, vita brevis, Al.