Aproveitando a onda causada pelo regresso da Formula 1 de
Michael Schumacher, que irá acontecer no próximo dia 23 de Agosto, em Valência, decidi que seria oportuno lembrar os vários regressos de campeões do mundo no passado. O primeiro desses regressos é provavelmente o mais famoso deles todos: o austriaco
Niki Lauda, que depois de abandonar as pistas no final de 1979 e fundar a sua companhia aérea, ficou tentado num novo regresso à competição.
Em meados de 1981, Lauda precisava de dinheiro para manter a sua companhia aérea. Ao mesmo tempo, o novo dono da McLaren, Ron Dennis, convidara o austriaco para um teste com o novo carro, o MP4/1 com chassis de fibra de carbono no circuito de Donington Park. O teste tinha sido bem sucedido quer para ele, quer para a equipa. Pouco depois, sabendo da sua situação, Ron Dennis o tentou com um contrato bem gordo para regressar à competição, ao lado de John Watson: um milhão de dólares por temporada.
Sem muito por onde escolher, e vendo que a sua vontade de correr tinha regressado, e vendo que a sua companhia aérea precisava de dinheiro, aceitou. Mas quis esse mesmo dinheiro... por quatro corridas. E havia outro bom motivo para regressar: o carro que testara era competitivo.
O regresso aconteceu no GP da Africa do Sul de 1982. Jornalistas e fotógrafos estavam em Kyalami para assistir ao regresso do austriaco, na quinta equipa da sua carreira depois de March, BRM, Ferrari e Brabham. Mas essa corrida foi referida por outras razões. E Lauda... estava bem no centro dela! Ao descobrir que os pilotos que tinham assinado os contratos para obterem as Super-Licenças, não poderiam trocar de equipa antes do contrato terminar, estando sujeitas às determinações das equipas, Lauda alertou o então presidente da GPDA, o francês Didier Pironi, e este decidiu que os pilotos deveriam fazer greve.
Enquanto Lauda reunia os pilotos no hotel e os juntava num só sitio para passarem a noite juntos (e evitar deserções), Pironi negociava com Jean-Marie Balestre, presidente da FISA, e Bernie Ecclestone, o presidente da FOCA a abolição dessa clausula. Ao final da noite de sexta-feira, os intentos foram conseguidos. Na corrida de regresso, Lauda não fez feio e foi quarto classificado.
A assinatura do contrato tinha causado dúvidas por parte do principal patrocinador da McLaren, a Marlboro, pois desconhecia se Lauda ainda era capaz de ganhar, após tanto tempo fora das pistas. O austriaco calou os criticos ao vencer com autoridade em Long Beach, depois de se ter qualificado na segunda posição, à frente de um jovem Andrea de Cesaris. Quaisquer dúvidas que pudessem existir, estas foram esclarecidas na pista citadina dos arredores de Los Angeles.
Lauda venceria mais uma vez, em Brands Hatch, e alcançaria mais um pódio, em Dijon, para terminar a temporada de 1982 na quinta posição, com 30 pontos. No ano seguinte, de novo com John Watson a seu lado, sofria pel facto do carro ainda ser um dos que tinha motores Cosworth, perante um pelotão cada vez crescente de motores Turbo. Mesmo assim, conseguiu dois pódios, em Jacarepaguá e em Long Beach. Mas ao todo conseguiu apenas 12 pontos e classificou-se na décima posição.
Em Zandvoort, Lauda e Watson tinham finalmente o prometido motor Turbo, com base Porsche, mas financiado pela TAG, do árabe Mansour Ojjeh. O desenvolvimento do carro durante o Inverno de 1983-84, bem como a chegada de Alain Prost à equipa, fez com que a McLaren se tornasse num competidor sério para o título. E a temporada de 1984 foi, de uma certa maneira, uma luta a dois entre ele e o jovem francês.
Nesse ano, Lauda voltou às vitórias em Kyalami, e repete o feito em Dijon, Brands Hatch, Zeltweg (nunca tinha ganho na sua Austria natal até então) e Monza. A disputa pelo título foi resolvida no Autódromo do Estoril, palco do GP de Portugal, regressado após 24 anos de ausência. Lauda fez uma corrida de trás para a frente, e quando Mansell teve problemas de travões e despistou-se, Lauda instaliu-se na segunda posição e não mais saiu dali. Isso daria um avanço de 0.5 pontos sobre o seu companheiro Prost, e aos 35 anos, conquistava o seu terceiro título mundial.
Com o numero 1 na carenagem, Lauda partiu para a quarta temporada atrás do volante. Mas nesse ano, o seu companheiro finalmente tinha as condições para alcançar o título mundial, enquanto que o austriaco coleccionava desistências. Somente ponutou por três vezes e venceu em Zandvoort, na última vez que foi organizado o GP da Holanda. No final do ano, anunciou a sua retirada. Mais rico em termos de palmarés (e de conta bancária), este seu segundo regresso tinha sido bastante lucrativo, e servira de exemplo para o futuro:
O palmarés nesse regresso: 62 Grandes Prémios, em quatro temporadas (1982-85), oito vitórias, 15 pódios, oito voltas mais rápidas, 128 pontos. Campeão do Mundo de Formula 1 em 1984.