sábado, 14 de janeiro de 2017

Dakar 2017 - Etapa final, Rio Cuarto - Buenos Aires

E por fim, acabou o Dakar. Uma etapa pequena, entre Rio Cuarto e Buenos Aires, no total de 786 quilómetros, 64 dos quais em troços cronometrados. Nesta etapa final, Sebastien Loeb foi o melhor, seguido por Stephane Peterhansel, mas no final deste rali, ambos ficaram separados por meros cinco minutos e 31 segundos. Cyril Després foi o terceiro na etapa - e na geral - e no final ficou a 33 minutos e 28 segundos do primeiro posto. O melhor não Peugeot acabou por ser Nani Roma, que colocou a sua Toyota Hilux no quarto lugar, mas já a uma hora, 16 minutos e 43 segundos de Stéphane Peterhansel.

Aos 51 anos de idade, Peterhansel explicou o segredo do sucesso neste Dakar: “Esta foi uma competição onde existiam sete ou oito pilotos com capacidade para ganhar. No final da primeira semana apenas quatro pilotos podiam alcançar esse objetivo e no final tudo foi resolvido entre mim e o Sébastien. Foi um duelo intenso, que foi travado ao volante de um carro excepcional”, explicou após o final do último troço cronometrado da prova.

O Sébastien é um piloto muito rápido que sabe como gerir uma corrida por isso a minha táctica passou por obrigar Loeb a ir aos limites. A partir desse momento ficou exposto aos erros e foi isso que ontem aconteceu ao ter um furo. Por isso esta vitória não foi uma questão de sorte”.

Já Loeb, que venceu seis das etapas deste Dakar, conseguiu o seu melhor resultado de sempre neste "rally-raid", ele afirma que espera vencer esta competição num futuro próximo:

Esta participação correu melhor do que a primeira, pois não tivemos nenhum incidente. Cometemos alguns erros de navegação, mas tudo correu bem. Não ficámos muito longe da vitória. Fomos rápidos e conseguimos ganhar muito tempo”, começou por afirmar o piloto da Peugeot.

“[O] objetivo é vencer no futuro o Dakar. Tenho tudo o que é preciso para conquistar esta corrida pelo que só me resta continuar a tentar. No entanto penso que não irei participar em tantas edições do Dakar como o Stéphane Peterhansel”, concluiu.

No lado das motos, o grande vencedor foi o britânico Sam Sunderland, o primeiro dos três KTM, que dominaram este Dakar. Sunderland deu 32 minutos ao austríaco Matthias Walkner, e 35 minutos e 40 segundos ao espanhol Farres Guell. Paulo Gonçalves foi o sexto, o segundo melhor dos Honda, enquanto que Hélder Rodrigues foi o nono da geral, a mais de duas horas do vencedor. Joaquim Rodrigues Junior foi logo atrás na décima posição, fazendo com que Portugal seja o único país a colocar três motards no "top ten".

É de bastante bom depois do que aconteceu no ano passado, em que me lesionei com gravidade. Levei toda a temporada a trabalhar para regressar à moto e acreditar nas minhas possibilidades de alcançar um pódio e consegui”, disse Walkner.

Demos o máximo. Fizemos um bom trabalho durante o ano inteiro e podemos revelar que o fizemos bem. Fizemos algumas alterações para programar da melhor forma este Dakar e chegar a esta altura mais fortes do que nunca e conseguimos. Eu tive uma moto excelente, alias todas as motos da Honda estiveram perfeitas, toda a equipa esteve muito forte”, disse Barreda Bort, o quinto da geral.

Claro que doí não subir ao pódio, mas o desporto e as corridas são assim. Vencer o Dakar não é fácil, temos de estar muito bem, mais fortes do que nunca. Temos que continuar a trabalhar. Sou determinado e não vou desistir até que consiga vencer o Dakar”, concluiu.

Já Paulo Gonçalves afirmou que conseguiu mostrar andamento para a vitória neste Dakar, se não fosse a penalização de uma hora dos Honda, no final da semana passada: “Estamos muito satisfeitos com os resultados que alcançamos ao longo do ano e com o trabalho realizado. A única coisa que não está certa é o resultado final deste Dakar que não é o que merecíamos. Teremos de olhar para o que aconteceu, mas já sabemos como ganhá-lo agora”, começou por dizer.

Teríamos terminado em primeiro e segundo lugar e agora vamos ter que esperar mais um ano. Quero agradecer ainda a toda equipa pois não fosse aquela situação a Honda tinha alcançado os dois primeiros lugares do pódio”, concluiu.

Acabou o Dakar 2017, ano que vem haverá mais.

A velhice de Stirling Moss

Stirling Moss está desde o dia 22 de dezembro internado num hospital em Singapura, depois de ter sofrido uma infeção pulmonar enquanto fazia um cruzeiro na região. Aos 87 anos de idade, está a recuperar do seu problema de saúde de forma lenta, mas só agora é que foi divulgada a noticia.

"Devido à gravidade da infecção, existiram algumas complicações e sua recuperação não foi tão rápida como era esperada ou desejada", lê-se na declaração colocada no sitio oficial do antigo piloto, vice-campeão por quatro vezes entre 1955 e 1959.

"Contudo, sua condição continua a melhorar e seus médicos agora consideram-no como "estável". Sir Stirling está de bom humor e apenas chateado por ter perdido o seu cruzeiro de Natal com os seus amigos."

"[Os funcionários do] hospital em Singapura são inigualáveis e os médicos, enfermeiros, terapeutas e demais funcionários que estão a cuidar dele não poderiam ser mais maravilhosos, gentis e atenciosos quanto profissionais", continua o comunicado.

"Lady Moss diz que não poderia desejar uma facilidade melhor ou uma equipa mais qualificada. Ela está muito grata a todos eles", concluiu.

Numa carreira que se estendeu por onze temporadas (1951-61), Moss correu 67 Grandes Prémios correndo oficialmente pela Mercedes, Maserati, Vanwall, Cooper e Lotus, estes últimos inscritos pela Rob Walker Racing. Venceu 16 corridas e foi vice-campeão do mundo por quatro temporadas consecutivas, entre 1955 e 59, sendo terceiro em 1960 e 61.

Para além das vitórias na Formula 1, também venceu as Mille Miglia em 1955 ao lado do jornalista Dennis Jenkinson, usando notas sobre as condições da estrada que mais tarde vieram a ser usadas pelos navegadores de ralis.

No The Grand Tour desta semana...


TheGrandTour S01E10 Nashville por carabinieri8
Esta semana, os Três Estarolas estão em Nashville, no Tenessee americano, para mostrar o programa que eles têm, e desta vez eles vão - para além de mandar bocas ao antigo programa, ao novo presidente e ao futebol americano - testar "saloon cars" dopados (Jeremy Clarkson testou o novo Alfa Romeo Giulia Quatrofoglio, contra a vontade de James May e Richard Hammond).

Para além disso, vão também para os Barbados para fazer algo ecológico: afundar carros para servirem de recifes. Mas vocês já sabem como como são as intenções deles no papel...

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

A(s) image(ns) do dia




A Europa passa por estes dias por uma vaga de frio polar que vem atingindo o centro e leste do continente. Já se viu queda de neve na Sicília, por exemplo, e hoje até caiu neve a soalheira Dubrovnik, na Croácia. 

Assim sendo, se ali cai neve, noutros lados onde isso é mais frequente, o manto branco fez a sua aparição. Como o circuito de Spa-Francochamps, no leste da Bélgica. Confesso que tive dificuldade de reconhecer lugares como o Radillon, o La Source ou até a Staevlot, mas vê-los em pleno inverno dá-nos outra visão das coisas.

Dakar 2017: Etapa 11, San Juan - Rio Cuarto

O Dakar está a chegar ao fim, e hoje decorreu a penúltima etapa, entre San Juan e Rio Cuarto, que tem a distância de 754 quilómetros, 288 dos quais em troços cronometrados. Entre ontem e hoje, houve uma alteração na classificação geral, por causa da assistência de Stephane Peterhansel teve de fazer ao motard esloveno Simon Marcic, que foi atropelado pelo piloto francês e do qual acabou com uma perna fraturada. A organização acabou por descontar 14 minutos e 13 segundos, fazendo com que acabasse o dia a liderara geral com cinco minutos e 50 segundos sobre Sebastien Loeb.

Estávamos os dois perdidos, rodava no leito do rio, não ia muito depressa, para aí a 60 Km/h mas como havia alguma vegetação não o vi. Ambos travámos quando percebemos que íamos colidir, mas não foi possível evitar o embate. não foi forte, mas ele ficou debaixo do carro. O meu co-piloto, (Jean-Paul Cottret) saiu do carro, viu como e onde ele estava, e andei para trás. Foi forte o impacto na perna, mas tirando isso ele estava bem. Ele disse logo que tinha a perna partida e ficamos para aí 15 minutos com ele até chegar o médico de helicóptero.” disse depois Peterhansel.

Na etapa de hoje, Loeb partiu ao ataque, conseguindo recuperar parte da desvantagem na primeira parte da especial, mas na segunda parte, Peterhansel contra-atacou, acabando a etapa com cerca de minuto e meio de vantagem sobre o seu compatriota, garantindo praticamente a sua vitória no Dakar deste ano.

No final, ambos ficaram separados por meros 18 segundos, a favor do nove vezes campeão do mundo de ralis, mas foi manifestamente insuficiente para o desalojar da liderança. O argentino Orlando Terranova foi o terceiro.

Na geral, ambos - Peterhansel e Loeb - estão agora separados por cinco minutos e 32 segundos, enquanto que Cyril Després é o terceiro, a 32 minutos de Peterhansel. E tudo indica que os Peugeot irão monopolizar o pódio neste Dakar.

Nas motos, Paulo Gonçalves foi o grande vencedor da etapa, conseguindo o primeiro lugar com uma vantagem de um minuto e nove segundos sobre Joan Barreda Bort.

Hoje fiz uma boa etapa, tivemos uma tirada partida em duas partes, uma primeira parte com muita areia e consegui ganhar esse parcial. Da parte da tarde deu para garantir a vitória na etapa e por isso estou obviamente satisfeito com a minha prestação individual e da equipa que fez um trabalho extraordinário nas nossas motos, temos todas as motas em prova à excepção do Ricky que teve um acidente”, disse o piloto da Honda, à chegada a Rio Cuarto.

O início da especial foi bastante complicado, alguns rios e muitas pedras e os caminhos provocavam alguma confusão de navegação. Apesar disso não estava a ir mal, mas acabei por encontrar o Michael Metge e acabamos por ver que estávamos fora de pista. A partir desse momento as coisas correram bem e o resto da etapa foi ao estilo da Baja da Califórnia. Foi, finalmente, uma boa etapa", respondeu Barreda.

Adrian Van Beveren foi o terceiro na etapa, a dois minutos e 38 segundos do piloto português, seguido pelo KTM de Gerard de Ferres, a seis minutos e quatro segundos, e por Sam Sunderland, a sete minutos e 25 segundos. Hélder Rodrigues foi o 13º classificado, um lugar à frente de Joaquim Rodrigues Jr.

Na geral, Sunderland praticamente garantiu a vitória na geral, a mais de meia hora de Matthias Walkner, e 37 minutos e 10 segundos sobre Adrien Van Beveren. Gonçalves é o sexto, a 52 minutos e 46 segundos, enquanto que Helder Rodrigues e Joaquim Rodrigues Jr. são respectivamente, nono e décimo na geral, colocando assim três portugueses no "top ten".

Amanhã, o Dakar acaba com uma etapa entre Rio Cuarto e Buenos Aires, num total de 786 quilómetros, 64 dos quais em especial cronometrada.

O susto de Martin Brundle

Martin Brundle pode ter sido modesto na Formula 1, mas tem vitórias em Le Mans e uma carreira bem eclética noutras categorias do automobilismo, especialmente na Endurance. Depois de pendurar o capacete, decidiu ser comentador de Formula 1 na Sky Sports, acabando por ser um excelente comentador, do nível a que James Hunt foi nos anos 80 e 90 na BBC, ao lado de Murray Walker, tirando a parte do "politicamente incorreto"...

Pois bem, Brundle revelou por estes dias que teve um ataque cardíaco de menor grau durante o GP do Mónaco de 2016, quando ele correu para o pódio, onde iria ser o "speaker". "Tive um pequeno ataque cardíaco enquanto estava no pódio", revelou à Motorsport, enquanto estava no Autosport Imternational Show, em Birmingham. "Acabei depois por ser operado, colocando-me um "stent" de 23 milimetros no meu ventrículo esquerdo". 

Brundle, atualmente com 57 anos, ficou a recuperar o tempo suficiente parar correr numa das corridas de suporte das 24 Horas de Le Mans, onde acabou por fazer... a pole-position, a bordo de um carro de LMP3, terminando a corrida na segunda posição. Nada mau, quando ele correu contra pilotos com idade para serem seus filhos. Mas tudo isto aconteceu depois dos médicos o autorizarem a correr.

"Eu pensava que não poderia fazer a corrida [Road to Le Mans]. Mas o responsável da cardiologia disse para mim: 'Pode fazer a corrida. Apenas não esqueça dos seus anticoagulantes'.

"Então eu chamei Zak [Brown] e o Richard [Dean, chefe de equipa da United Autosports] - então fiz 75 voltas no carro da Palmer Sports. Tinha hematomas no meu peito, mas eu amo Le Mans e pensava: 'Eu não vou perder isso".

"Acabamos a corrida no segundo lugar, o que foi pena, mas dirigir um protótipo fora do pitlane em Le Mans é extraordinário. Você fica um pouco suado, fica um pouco assustado. Sinto falta desse sentimento. Vou fazê-lo novamente este ano, se eu conseguir uma nova chance.

"Eu converso com outros pilotos sobre isso, como DC [David Coulthard] e ele me diz 'Martin, cresça, você não é mais um piloto de corrida'. E Damon, e outros. Eu sou um pouco como Rubens Barrichello, eu mal posso esperar para voltar em um carro. Eu sou duro em relação a isso.

Os extraordinários Saward

Quem anda por aqui de forma regular, sabe que sou assíduo leitor do blog do jornalista britânico Joe Saward. Nascido a 14 de julho de 1961, Joe é jornalista desde 1984, quando se juntou à Autosport, e quatro anos mais tarde, começou a cobrir a Formula 1 até aos dias de hoje. Por estes dias, tem uma revista online, a GP+, em conjunto com outro jornalista britânico, David Tremayne

Mas Joe escreveu dois livros interessantes, um deles sobre automobilismo: "Grand Prix Saboteurs", que fala sobre Robert Benoist e William Grover "Williams", dois distintos pilotos dos anos 20 e 30 - Williams foi o primeiro vencedor do GP do Mónaco, em 1929 - que foram espiões ao serviço do MI5 na II Guerra Mundial, na França ocupada pelos nazis. Ambos foram capturados e mais tarde executados. Contudo, pouca gente fora da Grã-Bretanha sabe que Joe é a terceira geração de um conjunto de pessoas extraordinárias, que passam por um comandante de navio, um clérigo anglicano e uma vitima de violação que passou o resto dos seus dias a ser uma ativista pelo direito das mulheres.

Por estes dias, Joe e a familia estão de luto: a sua irmã Jill morreu no passado dia 5, vitima de uma hemorragia cerebral acontecida dois dias antes. Ela tinha 51 anos, e o irmão faz-lhe uma sentida homenagem no seu sitio

A história de Jill conta-se em duas penadas: a 5 de março de 1986, Jill, o seu pai e o namorado de então, David Kerr, foram agredidos na sua casa por dois ladrões. Eles ficaram gravemente feridos, mas recuperaram, enquanto que ela foi repetidamente violada. Tinha 21 anos na altura. O julgamento aconteceu no ano seguinte, e eles foram condenados a uma longa pena de prisão... mas foi apenas pelo roubo, e não pelas agressões ou a violação dela. Para piorar as coisas, o juíz, Joe Leonard, disse que "o trauma da violação não era suficientemente forte para ter uma pena particularmente pesada". Para terem uma ideia, o máximo que os violadores tiveram foi de cinco anos de prisão, só pelo crime em si.

O caso fez manchetes na altura. Até Margaret Thatcher, a então primeira-ministra, e Neil Kinnock, o então líder da oposição, criticaram duramente a pena dada e a maneira como o julgamento foi feito e as declarações do juiz. Anos depois, em 1993, quando se retirou, ele pediu desculpas públicas sobre o seu comportamento.

Por essa altura, na lei britânica, a vitima de violação poderia se proteger no anonimato. Ela decidiu não fazer. Abdicando desse direito, escreveu um livro sobre a sua experiência e ajudou a fazer um documentário sobre isso na BBC. Fez um grupo de paoio às vitimas de violação e outros abusos sexuais. E em 1988, foi aprovada uma nova lei que faz com que, caso haja sentenças leves em casos de violação, podem ser sujeitos a apelo a tribunais superiores. E as penas são mais pesadas. 

Contudo, Joe e Jill não são os únicos famosos na familia Saward. Ambos são filhos de Michael Saward, um padre anglicano que nos anos 60 e 70, ajudou a reavivar a Igreja Anglicana para os tempos modernos, sendo autor de hinos religiosos, escrevendo sobre o assunto em temáticas controversas. Em 1975, escreveu "And So To Bed?" que causou furor na altura, pois falava sobre a visão cristã de algo tabu como o sexo, por exemplo. 

Depois tornou-se tesoureiro da Catedral de St. Paul, cargo que ocupou até ao ano 2000, quando se retirou, mas antes disso, serviu no conselho geral da Igreja Anglicana durante vinte anos. Depois de se retirar, ganhou o direito de presidir a missas um pouco por todo o mundo, até à sua morte, a 31 de janeiro de 2015, num hotel na Suíça, vitima de enfarte. Tinha 82 anos e já era viúvo desde 2009.

Mas este não é o último membro famoso da familia. Duas gerações antes, um capitão da Royal Navy sobreviveu o tempo suficiente para assistir a três naufrágios, um deles o mais famoso do qual nunca ouviu falar: o "Empress of Ireland". E algum tempo antes, capturou um criminoso usando um meio de comunicação totalmente novo na altura: a rádio.

Comecemos a falar destas histórias identificando a pessoa e os seus feitos: Henry George Kendall. Nascido a 30 de janeiro de 1874, entrou na Marinha aos 14 anos de idade. Em 1900 tinha sobrevivido ao seu primeiro naufrágio, ocorrido ao largo da Terra Nova, com o navio SS Lusitania (não, não e o barco da Cunard que será afundado por um U-Boot quinze anos depois), e dez anos depois, era o capitão do SS Montrose, da Canadian Pacific Line, que fazia a ligação transatlântica entre a Grã-Bretanha e o Canadá.

A 31 de janeiro de 1910, Cora Turner Crippen desaparece da sua casa em Londres, depois de uma festa. Cora era uma artista de "music hall" - seu nome de palco era Belle Elmore - e ambos de origem americana, e era casada com Hawley Harvey Crippen. Contudo, tinham uma relação turbulenta. Apesar de casados desde 1904, traiam abertamente um com o outro. Crippen disse que ele tinha fugido para os Estados unidos com outro homem, mas a Scotland Yard nunca acreditou totalmente nessa história. Quando o cerco apertou, em pânico, ele fugiu para Bruxelas com a sua amante, Ethel Neave, que já usava abertamente as suas jóias.

Esse não foi a sua paragem final. A ideia era chegar aos Estados Unidos, de onde Crippen era natural, passando pelo Canadá. Embarcaram no SS Montrose e assentaram-se na primeira classe, com ele a crescer uma barba e Neave disfarçada como um rapaz. Só que por essa altura, a Scotland Yard descobre um torso ensanguentado, sem cabeça, braços e pernas: era o de Cora, identificada por uma cicatriz no abdomen.

No navio, Kendall reconhece-os e avisa, através do telégrafo sem fios, que estão a bordo do barco, mas tinham de se despachar. A Scotland Yard colocou Walter Dew, o detetive encarregado do caso, num navio da White Star Lane, o SS Laurentic, bem mais veloz do que o SS Montrose, e chegou primeiro ao Canadá, onde contactou as autoridades. Depois, disfarçou-se de oficial para subir a bordo do navio, quando este estava já no rio St.Lawrence e deu ordem de prisão a Crippen e a Neave.

O sucesso do caso fez manchetes no mundo inteiro. Fizeram-se canções e Crippen foi julgado e condenado à morte, sendo enforcado a 23 de novembro de 1910, aos 48 anos.

Quatro anos depois, Kendall volta a ser noticia, e é pelos piores motivos. A 29 de maio de 1914, Kendall era o comandante do "RMS Empress of Ireland", navio da Canadian Pacific Line construido oito anos antes, e era peça de cartaz da companhia, a par do "Empress of Britain". Nessa noite, fazia a ligação entre a cidade do Quebec a Liverpool, transportando 1477 pessoas. Ele tinha sido nomeado comandante do navio no inicio daquele mês, e aquele era a sua primeira viagem. Quando o barco chegou a Rimouski, ele ficou envolto em denso nevoeiro, reduzindo bastante a sua visibilidade, e pouco depois, sofreu uma colisão com o navio mercante norueguês "Storstad", afundando-se em poucos minutos. Desses 1477 pessoas, 1010 morreram.

O acidente aconteceu pouco mais de dois anos depois do Titanic, e com mais mortes do que este último, causou um impacto bem maior. O Storstad pode continuar, pois colidira de frente com o barco, e foi a colisão que causou o buraco que fez entrar a água e afundar de modo veloz. Kendall salvou-se porque foi atirado à água quando o barco começou a inclinar. No inquérito que se sucedeu, a tripulação do barco, incluindo Kendall, foi ilibada de quaisquer responsabilidades.

Hoje em dia, os restos naufragados do "Empress of Ireland" são um monumento histórico do Canadá e os mergulhos no local são fortemente condicionados devido às correntes e a profundidade onde está o barco, a cerca de 40 metros.

Contudo, poucos meses depois, Kendall estava de novo nas bocas do mundo. A I Guerra Mundial tinha começado e ele fora para Antuérpia, para coordenar a evacuação dos cidadãos ingleses da cidade, usando o SS Montrose, o navio que tinha comandado antes. Tudo isto antes dos alemães entrarem na cidade, a 4 de outubro. Depois, manteve-se na tripulação do HMS Calgarian, onde em março de 1918... sofreu o terceiro naufrágio da sua carreira, quando o seu barco foi torpedeado ao largo da Irlanda do Norte por um U-Boot alemão. Como das outras duas vezes, Kendall sobreviveu.

Depois da guerra, teve uma vida bem mais tranquila na Marinha Mercante, e viveu até à provecta idade de 91 anos, morrendo a 28 de novembro de 1965, num lar em Londres, já o seu neto estava a fazer o seu trabalho como vigário, e já os seus bisnetos eram nascidos. E Joe escreveu um livro sobre o seu distinto bisavô, dando como título "O Homem que Apanhou Crippen".

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Formula 1 em Cartoons - A luta de galos na Renault

Frederic Vasseur, um dirigentes da Renault, saiu da equipa no inicio do ano devido a divergências na condução da equipa nos últimos tempos. E o "Cire Box" decidiu mostrar o tipo de divergências que teve com outro dos diretores, Cyril Abiteboul...

Dakar 2017: Etapa 10, Chilecito - San Juan

A etapa de hoje, que ligou as localidades de Chilecito e San Juan, no total de 751 quilómetros, 449 dos quais cronometrados e divididos por dois troços, aconteceu sem grandes problemas, depois da etapa do dia anterior ter sido cancelada devido ao mau tempo que se tem feito na região de Salta, causando deslizes de terras e diversas inundações.

Nos automóveis, Sebastien Loeb foi o grande vencedor, conseguindo superar o seu companheiro de equipa Cyril Després em dois minutos e 33 segundos. Stephane Peterhansel foi o terceiro melhor na etapa, mas viu Loeb a afastar-se cada vez mais no primeiro lugar, perdendo seis minutos e 45 segundos no troço, muitos deles devido à colisão com o motard esloveno Simon Maric, que teve de abandonar no local, devido aos estragos na sua mota.

Quem perdeu muito tempo foi Mikko Hirvonen, que se atrasou em cerca de uma hora e provavelmente, comprometeu as suas aspirações a um bom lugar final. 

Na geral, Loeb lidera com oito minutos e 23 segundos de vantagem sobre Peterhansel, enquanto que Després é terceiro, a 19 minutos e 50 segundos.

Nas motos, o grande vencedor foi Michael Metge, que relegou para a segunda posição o seu companheiro de equipa Joan Barreda Bort. Ambos ficaram separados por meros 55 segundos. O eslovaco Stevan Svitko foi o terceiro, a um minuto e 19 segundos. Contudo, ele chegou tão exausto à meta que acabou por ser evacuado para o hospital.

Pior ficou o chileno Pablo Quintanilla, que acabou por abandonar, vitima de uma queda que resultou num traumatismo craniano, logo, foi evacuado para o hospital, para ver a gravidade dos seus ferimentos, pois perdeu a consciência.

Esta foi a etapa mais difícil fisicamente  deste Dakar. Foi um dia muito longo e foi preciso manter-me focado quando me perdi na fase inicial da etapa. Eu estava com o Michael Metge e ele acabou por me ajudar”, começou a dizer o piloto espanhol.

A segunda parte da especial foi rápida mas bastante complicada fisicamente, parecia a Baja da Califórnia, com muitos saltos. Foi realmente uma das etapas mais difíceis. Tivemos que manter a calma e atacar até ao fim. Agora não tenho nada a perder, lamentável é a penalização que surgiu numa altura em que estava a andar bem e a fazer bons resultados nas etapas, mas até ao final vou dar o meu melhor”, concluiu.

O português Helder Rodrigues foi o sexto, na frente de Paulo Gonçalves, sétimo, a nove minutos e 38 segundos de Metge. Sam Sunderland, o líder da geral, perdeu 18 minutos nesta etapa,

Eu estou feliz por ter chegado ao fim de um dia bastante complicado em matéria de navegação. Quando estamos na frente é difícil manter o foco. Eu não cometi erros antes do primeiro reabastecimento. Havia dois pilotos quando cheguei e percebi que não tinha perdido muito tempo e nessa altura fiquei mais calmo”, sublinhou Sunderland, o líder da categoria.

Amanhã, o Dakar prossegue em terras argentinas, entre San Juan e Rio Cuarto, a penúltima etapa da competição, que vai ter 754 quilómetros, 288 dos quais em troços cronometrados.

A Manor luta contra o tempo

As coisas estão más na Manor, como toda a gente sabe. O carro está pronto, mas poderá nem ser construído por causa dos prazos que eles têm para encontrar um novo investidor, já que as conversações para que a equipa caísse nas mãos de um grupo de americanos, com Tavo Helmund como "testa de ferro", chegaram ao fim sem acordo à vista.

Assim sendo, a Just Racing Services Ltd, a empresa que tem tomado conta dos destinos da Manor desde que esta entrou na passada semana com o processo de falência, disse que se até ao dia 20 de janeiro não será encontrada uma solução, é provável que entrará em liquidação. Contudo, neste momento, a Just Racing Services Ltd quer entrar em acordo com a FRP Advisory, especialista em gestão de empresas em processo de proteção de falência, e que já tinha gerido um processo semelhante na Manor, quando esta estava sob controlo da Marussia, no final de 2014. A FRP não pretende despedir nenhum dos 212 funcionários, mas necessita urgentemente de encontrar um novo parceiro para garantir a presença no GP da Austrália.

O tempo conta depressa, e apesar de rumores indicarem que, por um lado, poderá haver um proprietário de origem canadiana interessada na equipa, e por outro, que Ron Dennis não desistiu de adquirir a equipa, não se vêm grandes perspectivas para que apareça alguém para ser o novo proprietário da equipa de Banburry. Tanto que o mexicano Esteban Gutierrez, uma das chances de ser o piloto da marca, decidiu que iria correr na Formula E em 2017, e Rio Haryanto não tem dinheiro para tentar nova chance na Formula 1, bem como o brasileiro Felipe Nasr.

A ideia de termos apenas dez equipas em Melbourne parece ser cada vez mais real.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

O que Felipe Massa teria feito em 2017...

... se Nico Rosberg não tivesse ido embora da Formula 1? Provavelmente, estaria a gozar uma parte da temporada na reforma, com a familia, mas a partir da segunda metade do ano, estaria na Formula E, a ajudar a desenvolver a Jaguar. É isto que se pode dizer, juntando noticias e comentários que ouvi esta segunda-feira sobre este assunto.

Vamos por partes: esta segunda-feira, o site brasileiro UOL Esporte publicou uma noticia dizendo que Felipe Massa tinha assinado um contrato com uma equipa de Formula E, para a temporada de 2017-18. Não só para ganhar experiência na categoria, como também para ajudar a desenvolver essa equipa. Contudo, quando Nico Rosberg, em Abu Dhabi, disse que ia embora após alcançar o seu título mundial... tudo mudou. A Mercedes queria Valtteri Bottas, e vai tê-lo (o anuncio oficial vai acontecer a 23 de janeiro, em principio) e Massa foi atraído de volta para a Williams com um contrato milionário, por mais uma temporada. A razão? o seu companheiro de equipa é demasiado novo - e "fresco" - para andar numa equipa como a sediada em Grove.

Já agora, o novo piloto da Williams será o canadiano Lance Stroll, que tem 18 anos e que está a ser treinado desde os dez para ser piloto de Formula 1. O dinheiro e a paixão do seu pai, Lawrence, ajudou muito, e também é ele a causa porque Massa poderá voltar para correr mais uma temporada: um companheiro de equipa experiente ao lado dele poderá dar a adaptação necessária para que Stroll tenha um inicio sem problemas de maior. 

E mais: a Martini, "master sponsor" da equipa, gostaria de ter um piloto maduro ao seu lado para poder vender o seu produto, porque passar a ideia de Stroll como "poster boy" quando ainda deverá beber leite não é muito correto...

E para voltar à Williams, ele teve de terminar o contrato com a tal equipa de Formula E. O cancelamento do acordo foi de forma amigável, e foi com a Jaguar. Esse detalhe foi divulgado pelo Rodrigo Mattar, numa conversa informal que tive no Facebook. A marca do gato entrou nesta temporada na Formula E, sendo mais uma marca a entrar nesta categoria que está a crescer a olhos vistos, apesar de estarem apenas na sua terceira temporada. Ter um veterano como Massa, juntando-se a Lucas di Grassi e Nelson Piquet Jr. (Nelsinho), daria mais credibilidade à competição, e ajudaria ao desenvolvimento da tecnologia com baterias.

Portanto, em resumo, por causa de uma decisão de determinado piloto, desencadeou-se um dominó de consequências imprevisiveis. E por causa desse dominó, pode ser que Felipe Massa faça uma despedida mais digna no final do ano, em Interlagos. 

Última Hora: Nona etapa cancelada no Dakar

Pela segunda vez neste Dakar, uma etapa é anulada. A ASO decidiu que a etapa entre Salta e Chilecito, que iria ser disputada esta quarta-feira. A etapa - que seria a Super Belén - teria um total de 977 quilómetros, dos quais 406 seriam em especial cronometrada.

A razão pelo qual a etapa acabou por ser anulada foi por causa de aluimento de pedras que bloqueou a Ruta 9, que seria usada no deslocamento da caravana do qual as autoridades disseram que iriam demorar cerca de 40 horas para a desbloquear. 

Assim sendo, a organização não teve alternativa senão cancelá-lo e deslocaram-se em caravana até Chilecito, onde se disputará a décima etapa, entre Chilecito e San Juan, no total de 751 quilómetros, 449 dos quais em troços cronometrados.

O incidente da Ruta 9 é apenas um dos muitos que tem acontecido naquela zona da Argentina. Segundo as últimas noticias, poderão estar desaparecidas cerca de 200 pessoas devido às pesadas chuvas e aluimentos de terras na zona de Salta. 

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Dakar 2017: Etapa 8, Uyuni - Salta

A oitava etapa que hoje ligava Uyuni, na Bolivia, a Salta, na Argentina, num total de 892 quilómetros, 492 dos quais em troço cronometrado, foi complicada. Neste inicio da segunda parte do Dakar, que sai agora da Bolivia e regressa à Argentina, tudo indica que a Peugeot irá dominar esta competição, sabendo apenas se Stephane Peterhansel ou Sebastien Loeb, o piloto nove vezes campeão do WRC, irá vencer a competição.

Aliás, antes do inicio da etapa, o experiente piloto francês considera que o seu compatriota está pronto para conquistar a vitória na prova. “Já o tinha dita antes do início da corrida, o Sébastien está pronto a vencer o Dakar. É um piloto muito rápido e com muita vontade de aprender”, afirmou ainda em paragens bolivianas.

Contudo, esta não foi uma etapa fácil. As chuvas na zona de Salta fizeram com que o "bivouac" fosse mudado de local, pois o local está inundado. Assim, este ficou na cidade de Tilcara, perto de Salta.

Na especial, Loeb foi o grande vencedor, vencendo o duelo entre os Peugeot com Stephane Peterhansel. Ele acabou o dia com três minutos e 35 segundos de vantagem, e ficou com o comando, estando agora a um minuto e 38 segundos do seu companheiro de equipa. Na terceira posição da etapa ficou Cyril Despres, completando o pódio para a marca francesa. Ele conseguiu recuperar o terceiro posto, perdido ontem para Nani Roma. Este cedeu catorze minutos e é provável que tenha perdido a chance de incomodar os Peugeot.

Mikko Hirvonen, quarto na etapa, manteve o quinto posto na geral, na frente do melhor Toyota, do sul-africano Giniel de Villiers.

Nas motos, o grande vencedor foi Joan Barreda Bort, que conseguiu bater toda a concorrência tornando-se no primeiro piloto neste Dakar a vencer duas etapas. Liderando a corrida do princípio ao fim, o catalão não deu hipóteses à concorrência e no final, subiu ao nono lugar da geral, embora estando a mais de uma hora do vencedor. 

"No inicio apanhamos muito nevoeiro o que tornou difícil andarmos depressa devido à falta de visibilidade, para além disso apanhamos muita lama o que no deixava presos, mas consegui manter-me focado. Na segunda parte da etapa foi mais rápida, mas no final tinha já os pneus muito degradados e a moto patinava muito”, falou o catalão no final da etapa.

O seu companheiro na KTM, Matthias Walkner, foi o segundo, a três minutos e 51 segundos, e outro piloto das motos austríacas, Sam Sunderland, ficou a meros três segundos, num dia em que Adrien Van Beveren perdeu mais de dez minutos para a liderança.

Paulo Gonçalves foi o sexto na etapa, perdendo sete minutos e seis segundos para o primeiro classificado.

Na geral, Sunderland mantêm-se na frente, com uma vantagem de vinte minutos e 58 segundos sobre Pablo Quintanilla. Van Beveren está no terceiro posto, a quase 29 minutos. Há um duelo pelo quarto posto, entre Walkner e Farres Guell, que estão separados por... dez segundos. Paulo Gonçalves é o oitavo, a uma hora, oito minutos e 34 segundos, e tem Barreda Bort a meros dois minutos e meio, no nono lugar. Joaquim Rodrigues é o décimo e o melhor estreante deste Dakar, a uma hora e 38 minutos.

Amanhã decorre a nona etapa, entre Salta e Chilecito, num total de 977 quilómetros, 406 dos quais em especial cronometrada.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

A imagem do dia

Jody Scheckter celebra a sua primeira vitória do ano e a primeira fora da Tyrrell, na nova temporada de 1977. Mas o grande espanto desse dia é que ele corria numa nova equipa, e oficialmente, aquela era a sua... primeira corrida! O sul-africano estava a comemorar algo que a Formula 1 só viu por quatro vezes na sua história: a primeira, logo em 1950, em Silverstone, por Nino Farina, no seu Alfa Romeo, e o segundo por Juan Manuel Fangio, em Rouen, a bordo do seu Mercedes. Depois de Scheckter, somente se voltaria a ver isso 32 anos depois, quando Jenson Button venceu o GP da Austrália a bordo do seu Brawn GP.

Corrida no verão austral, debaixo de imenso calor (53ºC no asfalto), era uma corrida onde quem chegasse ao fim era um herói. E apenas seis carros conseguiram fazer... embora oito fossem classificados. A corrida foi, para Scheckter, uma de paciência, e de atacar quando fosse preciso. Primeiro, esperar que os carros quebrassem. E depois, atacar quando fosse necessário, para lá chegar. E foi o que aconteceu, quando passou um cansado José Carlos Pace para ficar com a liderança, e chegar a uma inédita vitória para um canadiano que tinha feito fortuna vendendo brocas para a industria petrolífera, e que adorava automobilismo.

E entre os sobreviventes, pode-se dizer que Emerson Fittipaldi esteve entre os sortudos, pois conseguiu a sua melhor classificação até então com o Copersucar, ao ser quarto classificado. Só com esses pontos, tinha igualado o feito da temporada anterior, e ele não sabia que mais corridas iriam seguir para ele e o FD04... com esperança no rosto dos brasileiros.

E outro que estaria feliz só por correr em 1977 era Clay Regazzoni, que depois de ter saído da Ferrari, recusou a Brabham e foi para a Ensign, só para ser recompensado com um sexto posto na corrida argentina. Um "último dos duros" cujo resultado só provou que a sua escolha pessoal tinha sido sensata. Só iria pontuar mais duas vezes...

Dakar 2017: Etapa 7, La Paz - Uyuni

Deveria ter sido uma etapa-maratona, mas a sétima etapa do Dakar, que liga hoje as cidades de La Paz e Uyuni, no total de 622 quilómetros, 322 dos quais estavam inicialmente previstos para serem em troços cronometrados, antes de ontem ter sido reduzido para 161 quilómetros em troço contabilizado devido ao mau estado do piso, rendeu algumas coisas interessantes na classificação do Dakar, depois dos dois dias de descanso que tiveram em terras bolivianas - recorde-se que a sexta etapa, entre Oruro e La Paz, foi cancelada devido ao mau tempo.

Nos automóveis, os Peugeot foram os melhores. Stéphane Peterhansel superiorizou-se ao seu colega de equipa, Sébastien Loeb, por apenas 48 segundos e dilatou a vantagem no topo da classificação geral. Agora, ambos estão separados por um minuto e cinco segundos e parece que eles serão os favoritos à vitória final. Giniel de Villiers, o sul-africano da Toyota, foi o terceiro na etapa, a três minutos e 33 de Peterhansel, enquanto que Mikko Hirvonen foi o quarto e o melhor dos Mini nesta etapa.

Na geral, depois de Peterhansel e Loeb, está Nani Roma, que foi apenas sexto nesta etapa e está agora a 11 minutos e sete segundos da liderança, mais do que suficiente para manter a pressão sobre os Peugeot.

Nas motos, o americano Ricky Brabec levou a melhor sobre Paulo Gonçalves por meros um minuto e 44 segundos, e alcançou a sua primeira vitória em etapas no Dakar. Sam Sunderland foi o terceiro, terminando a quatro minutos e 43 segundos do vencedor, na frente de Joan Barreda Bort, quarto, a seis minutos e 51 segundos.

Estou orgulhoso com o trabalho que tenho vindo a realizar, estou nesta altura muito perto de entrar no top 10, embora o meu objetivo inicial fosse terminar entre os cinco primeiros. Vamos ver o que vai dar esta semana”, explicou Brabec, no final desta etapa.

Não foi uma jornada longa, mas foi muito difícil. Teve muita navegação sobre tudo a partir do quilómetro 90. Consegui alcançar durante a etapa o Sam Sunderland e ao mesmo tempo preservar a moto, pois estamos numa etapa maratona. Nesse sentido estou contente porque a moto está impecável”, comentou Paulo Gonçalves, ao chegar a Uyuni.

Na geral, Sunderland continua a liderar, com 17 minutos de vantagem sobre o chileno Pablo Quintanilla, e 22 minutos e 16 segundos sobre Adrien van Beveren. Paulo Gonçalves é o oitavo, a uma hora e cinco minutos da liderança, enquanto que Joaquim Rodrigues e Hélder Rodrigues (sem qualquer tipo de parentesco) estão às portas do "top ten" sendo 11º e 13º classificados, respectivamente.

Amanhã, a oitava etapa ligará Uyuni, na Bolivia, a Salta, na Argentina, num total de 892 quilómetros, 492 dos quais em troço cronometrado.

Formula E: Gutierrez vai correr na competição

Esteban Gutierrez irá correr na Formula E... pelo menos, na prova mexicana. O anuncio foi feito hoje na Cidade do México, numa cerimónia usada para promover a corrida local, que acontecerá no próximo dia 1 de abril, no Autódromo Hermanos Rodriguez.

"Vou fazer a prova do México, e provavelmente outras [corridas] como preparação para a temporada de 2018", começou por dizer Gutierrez, que esteve presente na cerimónia, ao lado de Alejandro Agag.

"É um futuro emocionante para a minha carreira, sinto-me muito orgulhoso por ser parte desta nova tendência dos carros eléctricos", concluiu.

Nada se sabe ainda sobre em que equipa ele irá correr, mas tudo indica que poderá ser na Dragon Racing, onde poderá substituir Loic Duval, que poderá fazer uma temporada no DTM este ano.

Recorde-se que Gutierrez correu pela Haas em 2016, onde não conseguiu qualquer ponto, e pode ser considerado como piloto da Manor em 2017, caso a equipa consiga correr nesta temporada.

domingo, 8 de janeiro de 2017

A imagem do dia

Gilles Lalay, algures no deserto do Sahara, em descanso, no Dakar em que viria a encontrar a sua morte. O motard francês foi um dos melhores do seu tempo, principalmente no Enduro. Dez vezes campeão francês, ganhou por três vezes o Rali do Atlas e em 1989 foi o campeão das motos no Dakar. Era um "motard" empenhado e algo proteccionista, mas do qual tinha imensos admiradores.

Há um episódio dele que mostra a sua paixão pelo Enduro. Em 1985, no Mundial ISDE (Seis Dias de Enduro) a França não apresenta uma equipa. Sendo uma potência, essa foi uma decisão chocante, mas isso não impediu que Lalay, então com 23 anos, fosse lá como individual, e saísse de lá... como vencedor.

Ele gostava de desafios, e o Dakar era o maior deles todos. Em 1992, estava na equipa oficial da Yamaha, pronto para enfrentar as motos de equipas como a Honda, por exemplo. O Rali corria relativamente bem a ele, mas a 7 de janeiro (fez ontem 25 anos), Lalay estava na região do Lubombo, no Congo-Brazaville viu um carro da organização e não teve tempo de se escapar. Teve morte imediata. Tinha 29 anos.

O legado de Lalay é enorme, e o maior de todos é quando é feito o "Lalay Classic", que é uma das mais populares e duras provas de Enduro existentes. Enquanto esteve vivo, Gilles considerava que as provas de Enduro estavam a ficar crescentemente "fáceis", e planeou fazer uma competição onde chegar ao fim era o grande prémio, depois de passar pelo "pior" que os elementos lhe poderiam dar, em meros 200 quilómetros, de Limoges a Peyrat-Le-Chateau, na provincia de Haute-Vienne. E tinha um tempo para chegar: meia-noite. O "Gilles Lalay Classic" arrancou já depois da morte do piloto, mas até hoje, todos consideram como o mais duro do mundo. Esse é o seu maior legado.

As ambições de Ettiene Lavigne

No dia de descanso do Dakar, em terras bolivianas, a organização aproveitou o tempo para fazer o balanço de um rali que até tem sido bem duro, mas que no final, apenas 20 por cento dos veículos ali presentes já abandonaram a prova... e ainda houve uma etapa cancelada, a de ontem, entre Oruro e La Paz.

Ettiene Lavigne, o diretor do Dakar,  falou também sobre um desejo que anda a tentar concretizar desde o ano passado, que é de organizar uma edição onde máquinas e pilotos andassem ao longo do Oceano Pacifico, de sul para norte, como tem feito ao longo destes anos, um pouco também para variar do mesmo tipo de percurso que tem feito desde a sua chegada a aquelas paragens, em 2009. 

O meu sonho é organizar, um dia, uma prova que atravesse o continente de Norte a Sul. Temo-lo pronto no papel, mas a ideia passa por sair do Chile ou de Buenos Aires e subir até Cartagena, na Colômbia. Seria algo único, pois o Dakar não é somente um evento desportivo, mas sim também um evento social e cultural em cada país por onde passa. Não se trata duma questão de ter muitos países, mas sim poder fazer uma história diferente a cada ano, com coisas novas para descobrir, e com novos países” começou por dizer Lavigne em La Paz, na Bolivia, onde hoje o Dakar faz o seu dia de descanso... alargado. 

Lavigne, apesar de dizer onde pretende que o rali se desenrole, afirmou depois que existe toda uma logística e questões financeiras dos quais é necessário resolver: “Estamos abertos a todas as propostas de países que queiram receber a corrida. Há futuro para o Dakar neste continente, tanto no Perú como no Chile, mas também noutros países”, assegurou.

Ter um "Dakar Pacifico" seria interessante e viável. Mesmo que nos últimos tempos, o Peru e o Chile se terem abdicado de acolher o Rali Dakar por motivos financeiros, eles pretendem receber de novo num futuro próximo, e provavelmente até poderiam viabilizar a ideia de um "Dakar Pacifico". Mas falta saber se outros países, como Equador e Colômbia, estariam dispostos a acolher a caravana nos seus países, apesar do impacto que isto teria nas suas economias.

Veremos como será nos próximos anos, se a ideia será acolhida de forma positiva... ou não.