Andei a ler hoje
um artigo do Luis Vasconcelos, na Autosport portuguesa, sobre a situação da Marussia. E pelo que leio, as coisas não são boas... e falamos de uma equipa que vai receber dinheiro porque pontuou pela primeira vez na sua carreira. Não falo sobre a difícil situação por causa do acidente do
Jules Bianchi, em Suzuka, mas em algo que já vêm de trás.
Se forem ler o artigo, podem ver que a equipa é bancada por um oligarca, Andrey Cheglakov. E que este é praticamente um dos poucos a pagar as contas por lá, a par de Max Chilton e os seus milhões vindos do seu pai, o dono da AON. E aparentemente, Cheglakov está numa situação em que se fartou de injetar dinheiro na equipa, com poucos resultados, e considera abandonar tudo no final da época, apesar de no ano que vêm, receber uma injeção de 35 milhões de euros, fruto do nono lugar de Bianchi no Mónaco. Claro que Alexander Rossi deverá trazer algum dinheiro para os cofres nas três corridas que faltam até ao final da temporada, mas ver-se-á se será suficiente para continuar em 2015.
Estas noticias aparecem numa altura em que muitos falam no futuro nebuloso da Caterham, vendida em julho a um misterioso "consórcio suiço-árabe" aconselhado por
Colin Kolles. Quem acompanha tudo isto nas últimas semanas, sabe da história dos bens apreendidos pelo oficial de justiça britânico na sua sede de Leafield, e agora, a noticia de que os carros - e pelos vistos, os projetos para 2015 e mais alguns ativos - estão na garagem de Kolles na Alemanha, provavelmente podendo ser aproveitado para o projeto da "Forza Rossa". E mesmo quando
Mandredi Ravetto anuncia aos quatro cantos do mundo que tudo está bem, há quem diga que isso é só para consumo interno.
Já agora, uma pesquisa relativamente aprofundada no Google pode dizer que Ravetto, um italiano da zona do Veneto, no nordeste, antes de ser diretor da Caterham, tinha sido politico num partido do centro em Itália. Portanto, podem ter uma ideia do seu discurso otimista.
Contudo, o que mais me preocupa e a Sauber. Estava a ler esta semana o Facebook de um amigo meu, o Sal Chiaparetta, onde explicava a difícil situação da equipa de
Peter Sauber. E quem lesse, iria ver a difícil situação: menos engenheiros do que o normal nas viagens da equipa para fora da Europa, e o conselho dado aos funcionários para procurarem outras paragens. Sei que desde há ano e meio, as coisas andavam más e viam nos russos - através de
Serguei Sirotkin - uma salvação, mas a situação politica naquele país, e as sanções internacionais ao país dirigido a
Vladimir Putin fizeram com que as negociações tenham colapsado. E a Sauber, como sabem, é uma das duas equipas que ainda não pontuou nesta temporada...
A equipa de Hinwill têm duas hipóteses: ou pede mais dinheiro aos mexicanos, através de Esteban Gutierrez (ou outro piloto), ou então fecha as portas de vez. E isso seria horrivel para Peter Sauber, que fundou a equipa há quase 45 anos e sempre a geriu com sageza nos 21 anos que já leva de Formula 1, sendo um dos últimos moicanos, a par de Frank Williams. Nem mesmo quando a BMW saiu da marca, em 2008, as coisas foram tão complicadas como agora.
Caso o pior aconteça, as contas são certas: ficaremos com um pelotão reduzido a 16 carros. É abaixo do mínimo que as televisões e os circuitos exigem à FOM para pagar os valores que
Bernie Ecclestone exige, que são de vinte carros. E grelhas vazias é algo que ele não quer, pois caso contrário, todos ficam libertos dos contratos assinados pelo anãozinho, incluindo aquele dos cem anos. E claro, ele quer ser indispensável até ao dia da sua morte...
E é por causa disso que se entende o famoso tweet do Adam Parr, depois de Monza: os três carros por equipa. Como sabem, existe há muito um "Grupo de Estratégia", que alberga sete das dez equipas que estão neste momento na Formula 1: Mercedes, Red Bull, Lotus, Ferrari, Williams e McLaren. A Toro Rosso pode ser incluída nesse grupo, por ser a equipa B da Red Bull. São 14 carros. E dos que ficam por fora, estão para além das três citadas, está a Force India. Apesar de ser sustentada por um dos homens mais ricos da India, Vijay Mallya, e ser uma boa equipa do meio do pelotão, graças ao motor Mercedes, os sarilhos que ele teve no seu país nos últimos tempos - a falência da Kingfisher Airlines é a maior de todas - fazem com que esteja vulnerável, e esses sarilhos se contaminem à sua equipa. Mas por agora, parece manter-se saudável.
Mas meter mais um carro em cada uma dessas oito equipas - agora incluo a Force India faz com que passemos de 16 para 24 carros. Justamente o ideal para que tudo se mantenha. Mas há um contra, e não falo nos monopólios dos pódios que poderão acontecer. É a menor quantidade de equipas a pontuar. Se calcularmos bem, o minimo de equipas a pontuar por corrida é de cinco, neste momento. Caso as equipas de três carros avancem, isso será reduzido a quatro, e uma equipa do meio do pelotão - vamos colocar de novo a Force India - que pontua frequentemente, acabará por ver as suas hipóteses drasticamente reduzidas. E ainda há a hipótese perversa de termos seis carros da mesma marca nos dez primeiros. Basta ter três carros da Red Bull e outros três da Toro Rosso...
Mas o que parece ser um disparate, agora parece ser uma hipótese sedutora. Isto, se o Grupo de Estratégia continuar a fazer "ouvidos moucos" à ideia da FIA e de Jean Todt de cortar nos custos, para fazer da Formula 1 algo mais viável. A ideia da FIA de limitar os gastos a cem milhões de euros parece ser mais viável do que a manter "budgets" de 300 milhões de euros por parte de Mercedes, Ferrari ou de Red Bull para serem campeões do mundo. É que graças aos incentivos de Bernie Ecclestone, há uma "guerra surda" entre FIA e as equipas para o controlo da Formula 1. São duas maneiras de ver isto, e neste complexo xadrez de como andam as coisas, têm o potencial de destruir uma industria que rende 1500 milhões de euros por cada ano, e do qual todos querem esse bolo. Quanto menos partilharem, melhor.