terça-feira, 14 de outubro de 2014

Coluche e a cólera do Alain Prost

A coisa apareceu ontem na Autosport britânica. Alain Prost, o tetracampeão do mundo, exprimiu a sua indignação pelo facto do que aconteceu a Jules Bianchi há pouco mais de uma semana se ter devido ao trator que estava a manobrar no momento em que retirava o carro de Adrian Sutil para um sitio seguro. "Os carros e os circuitos melhoraram [em termos de segurança]. Só falhou uma coisa, a porra daquele camião na pista", declarou.

Ainda que tenha considerado que a FIA merece respeito "pelo que fez nos últimos 20 anos em matéria de segurança", Prost afirmou que lhe parece incrível que a organização tenha permitido a presença do trator dentro dos limites do circuito com os bólides a circularem a grande velocidade, mesmo debaixo de bandeiras amarelas. 

"Fiquei indignado, realmente furioso com o acidente. Há um procedimento estabelecido, mas as condições meteorológicas estavam a piorar e a visibilidade estava muito má. Não podes proceder da mesma forma se as condições são assim tão más. Deveriam ter optado pelo risco zero", salientou.

A "porra do camião" pode ser traduzido para o francês como "putain de camion". E isso fez-me recuar 28 anos no tempo, e recordar um famoso comediante francês, Coluche de seu nome. Amante de carros, e sobretudo de motos (bateu um recorde de velocidade em Nardo, em setembro de 1985, quando conseguiu 252 km/hora com uma moto de 750cc), Coluche morreu aos 41 anos de idade, a 19 de junho de 1986, quando um camião fez uma manobra proibida bem na frente dele, em circunstâncias semelhantes ao que aconteceu com o motociclista japonês Norifume Abe, em 2007.

Coluche era popularissimo em França, não só pela comédia, como também pelas suas provocações e pelo seu trabalho caritativo. Chegou a ser candidato presidencial (e houve alturas em que teve 16 por cento das intenções de voto!) especialmente pela ideia do "Restos au coeur", onde se coletavam dinheiro, comida e roupas, para serem entregues aos necessitados e sem-abrigo. A ideia ainda vive até hoje, com mais de 40 mil voluntários, em 2500 restaurantes por toda a França.

A morte de Coluche foi tão sentida que um dos seus amigos, Renaud, fez um álbum chamado "Putain de Camion", que foi um sucesso em França. 

De uma certa maneira, percebo a cólera de Prost. Foi uma "putain de camion" que provavelmente acabou a carreira de Jules Bianchi. E vamos a ver se sobreviverá a isto. 

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