Parecendo que não, 2021 é já ali ao lado. A razão é simples: a discussão do novo Acordo da Concórdia tem de de começar já em 2018, para que tudo esteja pronto no ano seguinte, já que o atual termina em 2020. E claro, a Liberty Media começa a dar algumas ideias ao público para serem discutidas. Uma delas é o teto orçamental, algo do qual a FIA já tentou, mas do qual o Grupo de Estratégia sempre disse não.
Segundo conta o Sport Bild, A liberty Media quer um teto orçamental de 150 milhões de euros por temporada, com mais um extra de 50 milhões a serem gastos em marketing, hospitalidade e pilotos. A proposta parece ser razoável para equipas como a Sauber ou a Force India, mas para equipas que gastam o dobro, como McLaren, Ferrari. Mercedes e Red Bull, se calhar não seria uma boa ideia.
Sobre isso, lembrei-me da ideia de Max Mosley em 2009, onde ele queria fazer baixar o valor para um número bem baixo: 55 milhões de euros por equipa, com a obrigatoriedade das novas equipas usarem o Ford V8 que tinham. Como sabem, a coisa quase descambou numa cisão, quando as equipas, que se reuniram na FOTA (Formula One Teams Association), decidiram fazer frente a Mosley, num bloco unido contra as suas ideias. E as equipas que entraram em 2010 com esse orçamento em mente, como a Hispania, Manor/Virgin e Caterham, todas acabaram em pouco tempo.
O Grupo de Estratégia sempre quis ter rédea livre para gastar o que puder para poder bater a concorrência, numa lógica de "Club Piraña", onde com o tempo, poderiam eliminar os mais fracos. Claro, isso faria com que a Formula 1 se tornasse num desporto carissimo, e ao ver os orçamentos atuais dessas equipas, podemos ver que todas elas estão dependentes da FOM para equilibrar os seus orçamentos. Se a Ferrari, que tem 25 por cento do seu orçamento dependente de uma verba que é dada ainda antes de fabricaram o seu primeiro parafuso, por razões de... antiguidade, fora o que recebe devido à sua posição no Mundial de Construtores, não quer dizer que esteja cheia de dinheiro, apenas que está mais dependente da Formula 1 para ficar por ali, e que não precisa de ser sempre o vencedor: ganha sempre dinheiro, mesmo quando tem uma má temporada.
Agora com a Liberty Media em ação (Chase Carey na foto), parece que eles tiveram todo este ano para fazer o diagnóstico da Formula 1 atual e tentar uma abordagem mais pedagógica sobre o futuro da modalidade. Não são agressivos ou impositivos, como Mosley, nem compram o silêncio com malas cheias de dinheiro, como Bernie Ecclestone, mas querem chegar a um acordo com ideias para ver onde é que podem cortar, modificar para fazer deste desporto mais atraente e mais popular (popular no sentido de não ser elitista). Ainda não temos respostas a essa - e outras propostas - mas parece que no campo dos motores, se certos critérios se cumprirem, poderemos ter mais atores a rondar o paddock atual.
Sobre a proposta atual, a Force India gostou, e a razão é simples: porque é precisamente isso que gastam por temporada, com os resultados que conhecemos. E que, de uma certa maneira, é uma lição a uma McLaren que gasta três vezes mais e tem uma fração dos resultados da equipa de Silverstone. E quem diz Force India, diz também a Sauber. E de uma certa maneira, não só garante-se a sobrevivência das mais pequenas, como também das maiores de um mau ano... ou de um mau período. E sobre isso,
lembrei-me de um artigo que o blog Bandeira Verde escreveu em fevereiro deste ano, sobre as equipas e respectivos orçamentos. É um artigo que vale a pena ler, e especialmente, lembrei-me por causa destes excertos:
"Sem a Manor em 2015, vocês sabem quem teria sido a última colocada no campeonato daquele ano? Ela mesma, a gloriosa e histórica parceria McLaren-Honda. O duo que engoliu a Fórmula 1 entre os anos de 1988 e 1992 reestrearia o casamento com uma lisonjeira nona posição entre nove construtores.
Aí retornamos a 2013. Naquele ano, havia duas equipes nanicas, a Marussia e a Caterham. Se levássemos em consideração os clamores mais elitistas, eliminaríamos as duas e deixaríamos a Fórmula 1 com apenas nove equipes. Pois sabe quem teria sido a pior delas? Outra parceria para lá de memorável, a Williams-Renault. Com cinco pontos, a esquadra de Frank Williams teria ficado a 28 pontos da hipotética penúltima colocada.
McLaren-Honda e Williams-Renault fechando pelotão? Só a Fórmula 1 sem equipes pequenas para proporcionar isso a você.
Mas vamos supor que um raio não caia no mesmo lugar duas vezes e essas equipes mais tradicionais estejam salvas do descalabro. Vamos supor que, sem Manor ou Sauber, quem assuma o papel de pior escuderia do grid seja uma das que eu citei lá em cima, a Haas. Vamos supor que essa pobre, amadora e desesperançosa esquadra ianque, comandada por um arrivista irresponsável e sem nenhuma referência comercial como Gene Haas, comece a fechar o grid por algumas temporadas, tipo umas quatro.
É improvável que a outrora promissora Haas fique tanto tempo na rabeira sem ser punida de alguma forma por isso. Os patrocinadores passarão longe daqueles carros americanos que insistem em andar lá atrás, sem nenhuma perspectiva de melhora. Com o passar do tempo, o próprio Gene Haas vai perceber que jogou no lixo uma montanha de dinheiro e concluir que a única forma de acabar com essa palhaçada será fechar as portas de sua gloriosa equipe.
Sem a Haas, quem assumiria o papel de pior equipe? Force India? Toro Rosso? Williams? Uma montadora como a Renault? Vocês podem especular à vontade. Em comum, nenhuma dessas está ali para ficar na lanterna. Caso isso se torne recorrente a alguma delas, pode ter certeza: o dono pula fora no minuto seguinte. Duvido que um Frank Williams, por exemplo, se sujeitaria a se transformar em um Giancarlo Minardi do novo milênio."
Como diz o Verde (e bem), não deveremos ter novas equipas no horizonte, até ao final da década (apesar dos rumores de uma equipa chinesa em 2019 ou 2020). Estas não querem não só concorrência (porque assim, o bolo seria dividido por mais gente) como também a FOM e a FIA não querem aventureiros, como existiram tantos no final da década de 80 e inicio de 90, com as Onyx's, as Life's ou as Andreas Modas da vida. Ou como tivemos em 2010, com a Hispania e o Colin Kolles, um nome que muitos nem sequer podem ouvir.
Mas a Liberty Media quer mais algumas coisas, para além do teto orçamental. Quer também eliminar os "extras" dados à Ferrari, Mercedes e Red Bull, que são uma boa parte das receitas. Provavelmente, compensaria com mais dinheiros transferidos para eles no bolo do "prize-money" ganho por cada temporada, mas ter um teto fixado serviria bem para equilibrar orçamentos e provavelmente alargar o número de equipas que o receberiam, dos atuais dez para doze, treze ou mais. As equipas só ganhariam com isso, porque esta corrida "darwiniana" para saber quem é o mais forte poderá acabar com uma competição autofágica. E ninguém quer ver uma Formula 1 com poucos carros, não é?
Bom saber que há discussão. Agora é fazer com que eles sejam convencidos de que isto é o caminho, e como é que isto é controlado.