Fiquei um pouco surpreso esta tarde quando recebi pelo correio a minha atualização do excelente blog do Gary Hartstein, o Formula 1 Doc. Hartstein, um americano a viver na Bélgica - e a trabalhar no Hospital Universitário de Liége - conta hoje uma história em que aparentemente, o Dr. Gerard Saillant foi a Liége falar com o diretor do hospital no sentido de o despedir.
"Caro Gerard:
Imagine a minha surpresa ao saber que você esteve no meu hospital na semana passada. Você realmente apanhou o comboio de Paris até Liège! É uma pena que você não me tenha ligado antes da visita, que poderia ter tido uma chavena de café. Ou você poderia ter me buzinado para dizer um "olá", uma vez que você tivesses chegado aqui. Mas eu acho que na verdade, isto é algo do qual não é o seu estilo. Pensando bem, você nunca foi, não é? Afinal de contas, vocês me demitiram por e-mail!
Imagine minha surpresa ao saber que, apesar de não ter ouvido nada de você, ou seu chefe desde que foi demitido, VOCÊ REALMENTE VEIO AO MEU HOSPITAL POR CAUSA DE MIM! Você falou com o Reitor da minha faculdade de medicina, para conversarem sobre mim. Em seguida, viajou durante duas horas e meia... por minha causa. Eu ficaria lisonjeado se eu não estivesse assim... chocado. Mas não vamos debruçar sobre a diversão que poderiamos ter tido juntos em Liège, e olhar em vez de o que exatamente você veio aqui para isso. Eu acho que é importante que as pessoas entendam o quanto você e seu chefe trabalham.
Você veio aqui para tentar que me despedissem.
Não a partir do trabalho que você já me tinha despedido. Isso era basicamente um "hobby". Um "hobby" muito sério, muito custoso. Não, agora você veio com um objetivo maior. Você e seu chefe queriam que fosse despedido do emprego que paga as minhas contas. Aquele que tenho há 25 anos. Uau. Você estava usando um casaco preto e fedora? Talvez teria ficado feliz se eu não estava lá. Diabos, talvez também tivesse instruções para partir os meus joelhos!
Você veio aqui com um processo que consistia em cópias impressas de meus posts. E uma cópia de um e-mail pessoal para mim (!) vindo de Corinna Schumacher. Um e-mail que eu realmente... nunca recebi. Provavelmente porque foi dirigido ao "garry.hartstein@...". Sério? Eu recebo dezenas de e-mails todos os dias de pessoas vindas um pouco por todo o mundo, que gastam 30 segundos do seu tempo encontrar meu endereço de e-mail. Mas a esposa de um dos desportistas mais famosos e ricos do mundo não é capaz de realizar essa tarefa? Você tem que estar brincando comigo. Diabos, mesmo VOCÊ (confiável conselheiro para a "famíglia") tinha o meu e-mail (obviamente, foi assim que você me despediu!) (...)
No final, Hartstein ameaçou processar ambos os intervenientes:
(...) Então você vê, meu caro Gerard, se você teria posto sua cabeça a funcionar antes de ter vindo para "a Paris do norte", você teria percebido o quão absurdo era o seu projeto. O meu blog não tem nada a ver com o meu trabalho. Na verdade, coisas como "privacidade", e "livre expressão" vêm à mente - não como princípios estéreis, mas como LEIS QUE VOCÊ esteve à beira de os violar. Você e seu chefe.
Você agiu como um bandido. O que você fez não foi inesperado, mas foi repugnante. Você pode usar fatos caros e um Patek Philippe, mas suas táticas são da sarjeta.
Esteja ciente de que eu já remeti o "dossier" que você entregou ao Reitor para o meu advogado. Você está a passear por um gelo legal muito, muito fino.
Palavras sábias?
Cale-se, recue, e fique atento".
É verdade que Bernie Ecclestone não é "flor que se cheire", mas ele lida mais com finanças e com a maneira de levar as suas adiante, a bem ou a mal. Mas ele é corrupto, e não tenta despedir ninguém. Jean Todt é o contrário: não é corrupto, mas faz de tudo para dificultar as coisas aos seus opositores, ou criticos. E Hartstein é um critico. Como sabem, foi o sucessor do mítico Dr. Syd Watkins, e no final de 2012, foi dispensado do seus serviços, como ele diz, través de um e-mail.
A razão para tudo isto? Aparentemente, as suas criticas em relação ao relatório oficial sobre o acidente de
Jules Bianchi.
Podem ver as suas opiniões sobre ele por aqui, mas na verdade, culpar o "morto" pelo acidente parece mais um "lavar as mãos" ao melhor estio Pôncio Pilatos, dizendo que "foi um infeliz acidente" e que "tudo foi feito de acordo com as normas". A verdade é que Hartstein falava há muito tempo - ele refere que desde 2010 - que as medidas de segurança por parte da FIA estão a ser desleixadas. E de uma certa forma, a história de Bianchi poderia ter sido evitada.
Mas ele também fala que os seus comentários sobre Michael Schumacher poderiam ser uma razão para tal. É verdade que Todt é o antigo patrão de Schumacher na Ferrari, e que a família está fortemente a guardar e filtrar todas as noticias sobre o seu estado de saúde desde o seu acidente de ski, há quase um ano, nos Alpes franceses.
Não sei o que alega para que a FIA force a despedir alguém que seja critico dos seus métodos. O que posso dizer e saber é que, de uma certa maneira, falamos de pessoas que não têm cultura democrática. As federações desportivas, de uma certa maneira, escapam um pouco às leis dos países onde se situam. Eles falam que é para evitar interferências politicas, mas por outro lado, são uma espécie de "último reduto" para que as pessoas ajam como se fosse um estado dentro de um estado". O caso da FIFA, no futebol, é um pouco isso, e falamos de coisas bem caras, como corrupção, manipulação de resultados nas candidaturas para os mundiais de futebol, numa lógica de "o melhor que o dinheiro poder comprar".
Mas a FIA odeia a critica e os críticos. Não têm uma cultura democrática, e se forem ver como são as coisas nos últimos tempos, a cultura democrática é pouco existente. Há mais do que um candidato, é certo, mas as eleições são tão democráticas como na Coreia do Norte ou Cuba, porque a corrida é "viciada" à partida, não há observadores e há sempre pessoas que "encorajam" os opositores a abandonar, "a bem do espectáculo". Resultado: os candidatos da oposição desistem pelo caminho, porque os resultados são "combinados", no sentido em que o candidato que queira a reeleição procura a lealdade unânime das federações. E em 90 por cento das vezes, consegue. Daí que em 35 anos, só tivemos três presidentes da FIA: Jean-Marie Balestre, Max Mosley e agora, Jean Todt, que provavelmente ficar´por mais vinte anos. Parece mais uma monarquia do que outra coisa.
Em suma, só falta a sede da FIA se mudar para Pyongyang para que o circulo foque completo. Mas para isso, o Bernie Ecclestone têm de colocar uma corrida no calendário...