Primeiro de Abril é sempre um dia onde toda a gente inventa noticias para ver se alguém cai na esparrela. Como há sempre meio mundo a tentar enganar outro meio mundo, muitos caem nas patranhas, ainda antes que se diga "Feliz Dia das Mentiras"
(Contudo, em Espanha, o dia das mentiras é a 28 de dezembro, e eles o batizam de 'Dia de los Santos Inocentes', e aí, muitos que não sabem disso caem na esparrela!)
Contudo, ao longo da história do automobilismo, houve histórias tiradas do Dia das Mentiras que acabaram por ser bem verdadeiras. As mais famosas, se quiserem, foram coisas como a orgia sado-maso-nazi do Max Mosley ou o bizarro despedimento de Alain Prost da Ferrari, mas há outras mais interessantes que, parecendo mentira, acabaram por ser verdadeiras. E aqui conto cinco histórias bem bizarras da Formula 1, uma delas envolvendo um piloto português.
1 - Uma conversa longe demais (Gachot, Onyx, 1989)
A Onyx era mais uma das equipas estreantes na Formula 1, uma aventura feita por Mike Earle e Paul Shakespeare, com a ajuda financeira de um excêntrico belga, Jean-Pierre Van Rossem, que alegava ter um esquema de multiplicação de dinheiro que era chamado de "Moneytrom". Van Rossem tinha comprado a equipa por nove milhões de dólares, e tinham sido contratados dois pilotos: o sueco Stefan Johansson e o belga Bertrand Gachot.
A aventura, de inicio difícil (39 carros para 26 lugares, daí a FIA recorreu às pré-qualificações), correu melhor a partir da segunda metade do ano, quando a Onyx conseguiu dois pontos em França, fugindo desse "inferno". Contudo, quando as coisas começam a correr bem, começaram a ver-se as excentricidades de Van Rossem: jatos Gulstream e ultimatos para ter os motores Porsche V12, caso contrário, retiraria os carros de imediato.
Para piorar as coisas, Bertrand Gachot começa a queixar-se de que o pessoal da equipa estava a faltar ao combinado, especialmente em termos de dias de testes. Foi um desabafo, mas alguém contou a conversa a Van Rossem, que não hesitou em despedi-lo, sendo substituído por J.J. Letho a partir do GP de Portugal. Gachot arranjou um lugar na Rial (propriedade de outro... excêntrico, Gunther Schmid) até ao final da temporada, sem resultado de relevo.
2 - Com gás pimenta, muda tudo (Gachot, Jordan, 1991)
Pobre Gachot, deve ser dos pilotos mais azarados da Formula 1. Depois de uma temporada sofrivel na Coloni (sem se qualificar para qualquer corrida), em 1991 parecia ter acertado com Eddie Jordan para ser piloto da marca, ao lado do italiano Andrea de Cesaris. Contudo, em dezembro de 1990, em Londres, Gachot e Eddie Jordan iam a caminho de uma reunião com um potencial patrocinador, quando sofreram um acidente de trânsito com um taxista. Sentindo-se ameaçado, o belga puxou de um frasco contendo gás pimenta e borrifou-o.
Contudo, nessa altura, ter uma coisa dessas era ilegal e Gachot foi processado pela justiça britânica, e o caso chegou a tribunal e foi condenado a quatro anos de prisão efectiva, causando espanto na comunidade da Formula 1 e no fim de semana belga, foram imprimidos t-shirts a pedir pela sua libertação, e na pista de Spa-Francochamps, frases como "Gachot, la Belgique est avec toi" (Gachot, a Bélgica está contigo) foram pintados no asfalto.
Ele acabaria por ser liberto ao fim de dois meses, mas não voltaria mais à Jordan. Correria na Larrousse na corrida final do ano, na Austrália.
3 - Demasiado louco para correr (Moreno, Benetton, 1991)
Michael Schumacher entrou na Formula 1 com estrondo, no GP da Bélgica de 1991. Ao serviço da Jordan (e sem ter andado de carro na pista), conseguiu o oitavo tempo na grelha de partida, estando à frente do veterano De Cesaris. Contudo, a sua corrida foi bem curta: uma embraiagem partida nos primeiros duzentos metros ditou o seu abandono prematuro.
Contudo, isso foi mais do que suficiente para que a Formula 1 ficasse de olho nele. Na Benetton, Flávio Briatore estava impressionado com o alemão e queria contratá-lo o quanto antes. Mas tinha um problema: os seus pilotos, os brasileiros Roberto Moreno e Nelson Piquet. Para piorar as coisas, Moreno, amigo de infância de Piquet, tinha acabado a corrida belga no quarto lugar e feito... a volta mais rápida. Portanto, tinha tudo para ficar, certo?
Errado. Ao descobrir que o contato de Schumacher na Jordan não era suficientemente forte, falou com Willi Webber, seu "manager" e arranjou-lhe um lugar com efeito imediato, ou seja, correria para eles em Monza. E quando aos presentes, o elo mais fraco era Moreno, que foi despedido alegando... insanidade mental. Ninguém ficou contente e todos processaram Briatore. No final, alcançou-se um compromisso: Moreno correria por duas provas na Jordan e pagava uma indemnização a Eddie, enquanto que Schumacher ficava na Benetton, e começando ali a sua carreira...
4 - Demasiado gordo para entrar (Mansell, McLaren, 1995)
Nigel Mansell tinha 41 anos e tinha-se mostrado que estava em forma quando venceu o GP da Austrália de 1994, sendo o mais velho vencedor num Grande Prémio desde Jack Brabham, no GP da África do Sul de 1970, no seu próprio carro. Contudo, Frank Williams decidiu apostar na juventude e ficou com David Coulthard, ao lado de Damon Hill.
Parecia que Mansell iria para a reforma (não tinha intenções de regressar à CART) quando a McLaren lhe bateu à porta para dar um lugar. Mentira, não foi a McLaren... foi a Mercedes, que exigiu a Ron Dennis que queria um campeão do mundo a seu lado para os seus motores (era o primeiro ano da longa parceria com os alemães, terminada em 2014), e assim, ele foi apresentado ao lado de Mika Hakkinen quando o MP4-10 foi mostrado ao mundo (e também considerado como um dos piores chassis da marca, com a famosa asa média...)
Quando Mansell tentou entrar dentro do carro, havia um problema: ele não cabia! Tinha engordado no inverno e o chassis era muito pequeno para caber no seu fisico, e assim sendo, a McLaen decidiu construir um MP4-10 para ele, e isso durou... duas corridas, no Brasil e na Argentina. Ali, foi substituido pelo piloto de testes, o britânico Mark Blundell.
Quando Mansell voltou a correr, em Imola, as suas performances não foram grande coisa. Décimo nessa corrida, não terminou em Barcelona, e para piorar as coisas, as relações com Ron Dennis degradaram-se (ele nunca gostou muito do "Brutânico"...) e abandonou de vez a Formula 1, por uma porta (muito) pequena.
5 - Dar o dito por não dito (Parente, Virgin, 2010)
O português Álvaro Parente tinha um excelente palmarés nas categorias de acesso. Campeão da Formula 3 britânica em 2005 e da World Series by Renault dois anos depois, com uma vitória no Mónaco (e à frente de um tal de Sebastian Vettel...), Parente nunca teve grandes chances na Formula 1 por causa do dinheiro necessário para correr. Contudo, no inicio de 2010, Parente poderia ter tido a chance de se envolver no meio, com um contrato para ser piloto de reserva na Virgin, que iria estrear naquele ano, com Timo Glock e Lucas di Grassi como pilotos.
Parente tinha um apoio do Turismo de Portugal, mas a poucos dias da apresentação, a entidade do estado deu o dito por não dito... e decidiu não apoiar, deixando-o em terra, e frustrando a chance de correr (ou de andar) num carro de Formula 1. Parente ficou furioso e expôs o caso à imprensa (até teve a solidariedade de... Cristiano Ronaldo), mas no final, não houve volta atrás e o piloto do Porto deixou os monolugares para trás, rumo a uma carreira bem sucedida nos GT'sm correndo em McLarens.