Se falei
na primeira parte acerca do futuro da Renault e da Mercedes, duas das três equipas de fábrica da Formula 1, que poderá estar em dúvida a partir de 2020, referir acerca das regras que poderão entrar em 2021 ou mais tarde, do qual pretendem cortar nos custos - ou colocar um teto orçamental, como preferirem - nesta segunda parte, falo sobre o que esse teto salarial poderia trazer: mais equipas, todas elas ditas "garagistas", que estariam a favor de um corte nos custos e limitação de peças, entre outras coisas.
Para isso, decido recuar dez anos no tempo. Em 2009, Max Mosley, então presidente da FIA, decide colocar um teto salarial nas equipas de Formula 1, com limitação de custos na ordem dos 50 a 75 milhões de euros e a obrigatoriedade de as novas equipas usarem motores Ford Cosworth V8 de 2,4 litros, a potência da altura. Contudo, essas medidas forma impostas às equipas, que reagiram criando a FOTA, a Formula One Teams Association, um reavivar da FOCA, quase trinta anos antes. E ambas as partes decidiram andar à guerra sobre essas regras até ao fim de semana do GP britânico, onde afirmaram se separar a FIA e criar o seu próprio campeonato. Mosley cedeu e foi-se embora da FIA, sendo substituído pelo atual presidente, Jean Todt.
As equipas que entraram no campeonato de 2010 - Campos, Lotus, USF1 e Virgin - não tiveram vida longa. Uma delas não chegou a entrar, a USF1, e no final de 2016, com a Manor a fechar as portas, depois de um ameaço em 2014, todos se tinham ido embora. E essas quatro conseguiram no máximo... três pontos. Todas da Virgin, que depois virou Marussia, e a seguir Manor, andando sempre na corda bamba e sem patrocinadores.
A Formula 1 sempre foi um "Club Piraña", onde todos se "comem uns aos outros", gastando o mais que podem não só para se baterem uns aos outros, mas também para eliminar os seus rivais pela carteira. O bolo das receitas, cultivado durante mais de trinta anos por Bernie Ecclestone, através da FOM, Formula One Manegement, corta as fatias por dez, porque ele acha que dez deveriam ser as equipas que a Formula 1 deve ter. Nem mais, nem menos. Se o bolo for de mil milhões de euros, segundo valores aproximados, cem milhões dados a cada uma das equipas é mais do que suficiente para pagar as despesas de um calendário de 22 corridas, e ainda sobra algum para investir no futuro. Só que não é um bolo igualitário. Há verbas extra para equipas como Ferrari, McLaren e Williams, por estarem na Formula 1 há mais tempo, e eles não abdicarão dessa fatia tão facilmente. Daí esta história do teto salarial é algo do qual está a ser feito com pinças, para não ferir susceptibilidades.
Mas caso haja, e for um valor razoável - vamos supor, cem milhões de euros - isso poderá fazer surgir novas equipas no horizonte. E é o que está a ouvir desde há algumas semanas para cá, com as intenções provenientes de uma equipa russa, da asiática Panthera, e da Campos, que quer tentar algo do qual não conseguiu na década passada.
A SMP Racing tem pergaminhos na Endurance, sendo das poucas que construiu chassis na classe LMP1 e claro, competindo no Mundial WEC e nas 24 hoas de Le Mans. Boris Rothenberg, o homem por trás da equipa, pretender ir mais longe, e a Formula 1 poderia ser uma excelente alternativa, pois dinheiro - Rothenberg é um dos homens mais ricos da Rússia - não falta.
E até teria apoio da Formula 1. No fim de semana do GP da Rússia, em Sochi, Ross Brawn estava a favor de uma possivel entrada. "A Rússia está fortemente representada na Fórmula 1 com pilotos e empresários. É claro que também há o Grande Prêmio na Rússia, então todas as condições para entrar na F1 com sua própria equipe estão presentes", afirmou, em declarações à agência Tass. Os pilotos seriam todos russos - Serguei Sirotkin e Dimitri Mazepin seriam chances, mas existem outros - mas não se conhece muito mais sobre isso.
Outro que já disse
que pretende entrar em 2021 é
Adrian Campos. Antigo piloto da Minardi entre 1987 e 88, montou há mais de vinte anos uma equipa de automobilismo com sucesso nas categorias de acesso, mas sempre quis a Formula 1. Tentou em 2009, mas a falta de dinheiro o obrigou a vender a sua parte para
José Ramon Carabante, o homem que acabou por a converter em Hispania. Contudo, esse também ficou por pouco tempo, pois caiu nas mãos de
Colin Kolles, que lá ficou até ao final de 2012, altura em que fechou as portas.
Desta vez, Campos tem a ajuda de Salvatore Gandolfo. Ambos pretendem usar o apoio financeiro da Monaco Increase Management, uma empresa fundada por Gandolfo que tem Daniele Audetto, ex-membro de Ferrari, Arrows e Super Aguri, como consultor. Embora Gandolfo tenha dito que o "projeto de longo prazo" abrange "os grandes desafios que temos pela frente", a ideia é mesmo entrar em 2021, e já tiveram reuniões com Chase Carey e Ross Brawn nesse sentido.
"Com o novo limite de orçamento, a nova distribuição de renda e os novos regulamentos, há uma grande oportunidade para equipes menores competirem e, finalmente, tornar o Campeonato Mundial de Fórmula 1 da FIA mais interessante e equilibrado novamente", disse Gandolfo ao motorsport.com.
O mesmo site afirmou que o aerodinamista Ben Wood e Peter McCool, antigo designer-chefe da Super Aguri, já foram recrutados para o projeto da Campos, e já apontaram um possível piloto: o alemão Pascal Wehrlein, que está na Formula E, pela Mahindra. Quanto a motores, caso entrem em 2021, a chance de um acordo com a Renault, como cliente, está em cima da mesa.
Quanto à Panthera Asia, essa é mais misteriosa, mas desde há algum tempo se fala sobre a possibilidade de uma equipa chinesa na Formula 1. Não há dúvida que os chineses estão a investir no automobilismo - mas todos apontados para a Formula E, através de marcas como a NIO. A noticia da sua formação data de 23 de agosto,
quando o RaceFans.net noticiou a sua chegada. Ali, diz-se que estão a trabalhar numa sede provisória em Northamptonshire, e teria
Benjamin Durand como seu dirigente e co-fundador. Ele tinha trabalhado na Endurance, ao serviço quer da BR Engeneering e da SMP Racing.
Outros lugares estão ocupados, mas os seus nomes não foram divulgados, excepto do seu aerodinamista, que é
Tim Milne, tendo trabalhado, entre outros, no chassis que a Manor estava a construir quando a equipa colapsou, no final de 2016, e andam a assinar acordos com diversos fornecedores, tentando usar o modelo da Haas. Contudo, os novos regulamentos poderão ter de limitar nesse campo e alguns desses acordos entretanto assinados poderão ser esvaziados de conteúdo.
Mas com todas essas intenções de equipas para entrar na Formula 1 - e provavelmente conheceremos mais algumas com o tempo - há diversos obstáculos. Não sabemos sobre os novos regulamentos, embora se prometa que serão divulgados no final deste mês. E
Jean Todt, presidente da FIA, já disse que apesar de ter sido contactado por algumas equipas, não lhes deu grande credibilidade, e por agora, qualquer inscrição só será recebida quando o concurso abrir. E isso acontecerá quando os regulamentos de 2021 forem oficialmente divulgados.
E isto mostra uma coisa interessante: se as equipas de fábrica estão cada vez mais desinteressadas na Formula 1, as "garagistas" pretendem entrar numa competição que ainda os fascina, e ainda poderá servir para recuperar os investimentos que irão fazer... se forem limitados a um determinado valor, e se as suas viagens forem ajudadas. Mas isso para acontecer, teriam de entrar nos dez primeiros, caso contrário, só mesmo um controle nos custos para manter o barco a flutuar. Pois foi o fracasso dessa parte que ditou vida curta aos projetos de 2010.