sábado, 1 de abril de 2023

Noticias: Bridgestone pode concorrer à Formula 1


A Bridgestone anunciou que estará interessada em regressar à Formula 1, quase 15 anos depois da última ocasião em que estiveram presentes. Depois da abertura do concurso para o fornecimento de pneus entre as temporadas de 2025 a 2027, e da Pirelli ter dito que pretendia continuar, a Auto Motor und sport alemã disse nesta sexta-feira que a marca japonesa tenciona elaborar uma proposta de fornecimento, o que significaria o regresso à categoria máxima do automobilismo. 

"Diz-se que a Bridgestone está muito interessada num regresso ao auge das corridas de automóveis", revelou o correspondente alemão da revista, Andreas Haupt. "O hype que rodeia a Fórmula 1 não passou despercebido ao fabricante japonês. Na Liberty Media, estão a esfregar as mãos, já que dois candidatos colocam automaticamente os detentores dos direitos numa melhor posição negocial".

Apesar de ter perdido muito do protagonismo internacional quando saiu da Formula 1, a Bridgestone continua ativa no automobilismo, fornecendo pneus para o ultra-competitivo Super GT, o campeonato japonês de Turismos.

As marcas terão até meados de Maio para apresentar as suas propostas à FIA. E fala-se que Goodyear poderá estar interessada em apresentar a sua proposta.  

Formula 1 2023 - Ronda 3, Austrália (Qualificação)


Depois do seu começo em paragens da península arábica, a Formula 1 segue caminho para a Austrália, mais concretamente, Melbourne. E nesta terceira paragem de um longo calendário, já ficamos com a sensação de que já existe um vencedor, pois o pódio das duas primeiras corridas foi o mesmo: uma dobradinha Red Bull, com a Aston Martin a ser "o melhor do resto". Claro que não será assim para o resto da temporada, mas daquilo que sabemos dos treinos livres, os energéticos não são sinais de que os seus primeiros lugares estejam em perigo.  

Ainda por cima, o tempo de final do verão austral mostrava que nada iria aparentemente ser alterado. Aparentemente, porque existia as ameaças de chuva.  

Antes da sessão começar, descobre-se que Sérgio Pérez enfrentava grandes problemas no seu carro derradeira sessão de preparação, e isso poderia afetar a sua qualificação, caso não se resolvesse antes da sessão decisiva. E a chuva, que apareceu entre a última sessão de treinos libres e a qualificação, alterou as condições de aderência da pista.

A sessão começou com os Williams a serem os primeiros a entrar na pista, Alex Albon foi o primeiro a entrar no segundo 18, sendo destronado por Nico Hulkenberg. As equipas mais rápidas foram para a pista pouco depois e a sessão foi interrompida pouco depois, com Sérgio Pérez a sair de pista e a ficar preso na caixa de gravilha e a ficar fora da sessão. A Red Bull tinha de contar apenas com Max Verstappen para conseguir algo em Melbourne.


Tudo recomeçou alguns minutos mais tarde, com Verstappen a tratar de se colocar no topo da tabela, com Hulkenberg a manter o segundo e Lance Stroll em terceiro. Seguia-se Lewis Hamilton, Albon e Russell. Na parte final, Albon colocou-se no segundo posto, seguido de Carlos Sainz Jr., que tratou de se colocar no pódio. Fernando Alonso melhorou na segunda volta rápida, e conseguiu o segundo lugar, atrás de Vertappen, que melhorou a sua primeira marca.

Atrás, para fazer companhia a Pérez, ficaram o local Oscar Piastri, os Alfa Romeo de Bottas e Zhou, e o Williams de Logan Sargeant.

Alguns minutos mais tarde, com a Q2, a sessão começa com diversos carros a saírem, para marcarem um tempo o mais depressa possível. Os Aston Martin de Alonso e Stroll foram os primeiros a marcar, seguido do Ferrari de Leclerc, antes de Max marcar o seu tempo e subir para o topo da tabela de tempos, três décimos mais rápido que Leclerc. Até ao final, Alonso melhora o seu tempo, mas não o suficiente para desalojar o neerlandês da Red Bull do topo da tabela.

Quem ficou para trás foram o Alpine de Esteban Ocon, os Alpha Tauri de Yuki Tsunoda e Nyck de Vries, o Haas de Kevin Magnussen e o McLaren de Lando Norris. em contraste, Nico Hulkenberg e Alex Albon iam para a Q3.  

E agora ia-se para a fase final. Ela começou animada, com todos - menos Stroll - na pista, e na primeira tentativa, Max fez 1.17,578, destronado logo depois por Fernando Alonso, que por sua vez foi destronado por... Lewis Hamilton! Os Mercedes estavam a dar um ar da sua graça. Parecia que poeria existir algo de anormal, mas na segunda tentativa, Max tirou nove milésimos de segundo e Lewis, pra ficar no topo da tabela. Mais tarde, o neerlandês melhorou, colocando 1.16,732, contra o 1.16,968 de George Russell, o segundo. Lewis Hamilton conseguiu o terceiro melhor tempo, na frente de Fernando Alonso e Carlos Sainz Jr, o melhor dos Ferrari.  


No final, Max disse de sua justiça:

A última volta foi muito boa. Durante todo o fim de semana tem sido difícil colocar temperatura nos pneus e poder forçar o ritmo desde início, mas funcionou tudo na Q3. Estou feliz com aquela volta e obviamente, muito contente pela pole position. Estou ansioso pela corrida de amanhã. Penso que amanhã teremos um bom carro para a corrida, novamente com alguma atenção aos pneus para os manter em bom estado”, afirmou.

Na verdade, tem carro para isso. Contudo, Max terá os Mercedes atrás dele, é verdade. E sem a proteção do seu companheiro e equipa. Mas creio que ele sabe defender-se da concorrência. Já o mostrou ao longo da temporada. 

No domingo veremos como é que será esta corrida.  

sexta-feira, 31 de março de 2023

Formula 1: Ricciardo deseja regressar


Daniel Ricciardo reapareceu no fim de semana do GP da Austrália, em Melbourne. Agora piloto de reserva da Red Bull, deu a cara esta semana num vídeo da equipa, guiando um velho BR7,  insiste que não está desesperado por voltar ao volante de um Formula 1, mas não deixa escapar que gostaria de regressar. E revelou que esteve perto de ir correr para a Haas. Contudo, Gunther Steiner não quis pagar os 10 milhões de dólares por ano que ele pedia. Assim sendo, aceitou o lugar de terceiro piloto na Red Bull.  

"Ainda estou num ponto em que não é a qualquer custo, não é apenas para estar de volta à rede", disse Daniel Ricciardo à imprensa em Melbourne. "Muitas das razões para tirar este ano de folga foi que eu não queria simplesmente saltar de volta para um carro, qualquer carro apenas para ser um dos condutores de Formula 1. E continuo a não me ver a começar do zero e a reconstruir uma carreira a partir do zero e a ir até lá por mais uma década.", continuou.

Ricciardo admite que perdeu a motivação no seu tempo na McLaren, especialmente no seu último ano, e que a Red Bull permite recuperar um pouco dessa motivação.

"Talvez quando olho para trás isso seja uma fraqueza minha, mas de certa forma é uma força, uma vez que me sinto melhor na frente da grelha. Sinto que atuo nessas situações com um pouco mais de pressão e um pouco mais de ênfase num pódio", concluiu.

Noticias: F1 Academy fará parte do calendário em 2024


A F1 Academy, competição totalmente feminina que arrancará em abril no Red Bull Ring, fará parte da Formula 1 em 2024, disse Stefano Domenicalli nesta sexta-feira em Melbourne. A competição terá a sua ronda de encerramento, no Citcuito das Américas, a 22 de outubro, a fazer parte da competição, mas na temporada seguinte, serão todas as suas corridas a fazer parte da competição maior. 

A F1 Academy estará no fim-de-semana de corridas com a Fórmula 1. Claro que não em todo o lado, mas isso fará parte do plano para promover a F1 Academy… isso é algo que estamos realmente interessados, que esperamos que seja o impulso certo para que cresça”, afirmou.

Susie Wolff vai liderar a nova série, que depois de arrancar no Red Bull Ring, passará por Valência (5 a 7 de maio), Barcelona (17 a 21 de maio), Zandvoort (23 a 25 de junho), Monza (7 a 9 de julho) e Le Castellet (29 a 30 de julho), antes de uma paragem de três meses, para a ronda final em Austin.

Os chassis serão Tautuus de F4, com motores turbo de 4 cilindros, tendo uma potência a rondar os 165 cavalos. Estão inscritas cinco equipas com três chassis cada um. 

quinta-feira, 30 de março de 2023

Youtube Formula 1 Vídeo: A corrida mais maluca de sempre... na Austrália

Este fim de semana, a Formula 1 está em terras australianas, e é uma boa altura para recordar a edição de 2002. Aquela onde Ralf Schumacher parou apenas na traseira de Rubens Barrichello, lembram-se?

Se já não se recordavam, pois bem, o Josh Revell decidiu publicar hoje um vídeo da sua autoria sobre esse dia. Deixo-vos aqui para vocês recuarem 20 anos no tempo. 

CPR: Pedro Almeida quer estar perto dos da frente


Com o Campeonato de Portugal de Ralis de regresso neste fim de semana com o Rali Casinos do Algarve, neste ano disputado em troços de terra, Pedro Almeida, piloto que corre num Skoda Fabia Rally2, deseja acabar mais à frente do que costuma ficar nas provas anteriores. É esse o seu objetivo, apesar do seu desconhecimento dos troços que irá correr.

Nas vésperas do rali, disse o que acha da prova e o que espera em termos de resultado.    

É novidade para nós e para os pilotos mais novos, já que só aqueles que antes fizeram o mundial de ralis quando o Campeonato do Mundo esteve aqui centralizado conhecem parte destes troços que vamos ter pela frente.” começa por apontar o piloto do Skoda, navegado por Mário Castro.

Procuramos ser o mais rigorosos possível nos reconhecimentos e aprender rapidamente o traçado para fazer um bom rali e estar entre os pilotos da frente” acrescenta.

O Rallye Casinos do Algarve começa esta sexta-feira, dia 30 de Março, com o shakedown e qualificação, num traçado desenhado no concelho de Lagoa. Depois, haverá a super-especial noturna de Lagos, antes de, no sábado, acontecerem as passagens duplas por Silves, Perna Seca, Messines e São Marcos. 

Ralis: Loeb não fará WRC em 2023


Sebastien Loeb correrá nesta final de semana o Rali dos Açores, num Skoda Fabia da Toksport, de Rally2 mas a ideia de correr o Mundial, num Rally1, é muito provável que não aconteça. Pelo menos em 2023. Numa entrevista à Auto Hebdo, disse que por causa das decisões da Ford em relação a Ott Tanak, não há mais dinheiro para o contratar para um programa em "part-time", como aconteceu em 2022.

Todos me querem ver no mundial, até eu, mas não sei... a Ford colocou todo o seu empenho [financeiro] na contratação de Ott Tänak este ano. Então não houve mais nenhuma oferta para mim!”, disse o piloto de 49 anos, que participou no Dakar deste ano.

"Antes do Dakar, em Janeiro, eu estava aberto a todas as propostas que surgissem. Hoje começo a ter uma agenda preenchida. Se me fosse proposto um programa parcial no WRC, eu já não teria oportunidade de alinhar em muitas provas." continuou Loeb.

"[Dito isto] não há nada feito, mas também nada planeado. Duvido que vá competir no WRC este ano." concluiu.

quarta-feira, 29 de março de 2023

A imagem do dia


Há 30 anos, em Interlagos, Ayrton Senna conseguia uma vitória bem popular no GP do Brasil. E com este triunfo com uma McLaren que não era tão poderosa, aproveitando a sorte da chuva ter aparecido - ele tinha sido penalizado com um "stop & go" de 10 segundos - e dos azares dos seus adversários, especialmente Alain Prost, que se despistou na chuva e ainda por cima, sofreu uma colisão do Arrows de Christian Fittipaldi.

E claro, a grande cena final, onde 16 títulos mundiais estavam presentes no pódio - passados e futuros - e aquele abraço de Senna a Juan Manuel Fangio, que então com 81 anos, tinha ido presentear os vencedores. 

Mas enquanto uns eram celebrados por tudo e todos, outros se despediam por uma porta muito discreta. E no dia anterior a essa corrida, Ivan Capelli não tinha consegui qualificar-se no seu Jordan, decidindo abandonar a Formula 1 de forma definitiva. De uma certa forma, com quase 30 anos de idade, terminava de forma melancólica uma carreira que, em larga medida, ficara marcada pela sua passagem pela March, e depois, pelo desastre que foi a Ferrari, em 1992, um dos últimos italianos a correr pela Scuderia a tempo inteiro. 

A vida e carreira de Capelli está associada a de outra pessoa: Cesare Gariboldi. Tudo começou em 1982, quando Capelli queria correr na Formula 3 italiana e procurava uma equipa. Foi ter ao escritório dos irmãos Pedrazzani, donos da preparadora de motores Novamotor, que lhe tinha dito que alguém procurava um bom piloto. Capelli, que tinha acabado de ganhar o campeonato italiano de karting, foi ter com Garoboldi, e juntos começaram uma associação que durou até 1989, quando este último morreu num desastre rodoviário, a ajudou a reavivar a March na Formula 1. 

Cesare e eu nos demos bem imediatamente”, contou Capelli numa entrevista em 2020 à Motorsport britânica.Eu estava em uma curva de aprendizagem muito íngreme porque precisava aprender sobre engrenagens, entender como dar feedback relevante e assim por diante, mas me senti confortável imediatamente. Começamos com um chassis March, mudamos para um Ralt RT3 e fizemos uma temporada decente. Não ganhei nenhuma corrida, mas terminei em sexto no campeonato como rookie do ano. Acho que gastamos 190 milhões de liras [cerca de 80 mil libras], então foi muito caro, ainda mais porque todas as peças vieram da Inglaterra numa época em que a lira estava muito fraca em relação à libra. Foi muito importante não ter nenhum acidente…

Em 1985, Capelli teve a sua primeira grande chance na Formula 1, quando correu por duas provas pela Tyrrel, em substituição do alemão Stefan Bellof, morto num acidente numa corrida de Endurance em Spa-Francochamps. Capelli aproveitou bem a chance, mas disse logo ao que ia:  

Deixei claro desde o início que não poderia trazer dinheiro”, diz Capelli. “O Sr. Tyrrell me disse para não me preocupar e que eu teria que pagar apenas pelos meus voos e acomodação. Eu não tinha dinheiro nem para comprar uma passagem aérea para Cesare… Voei de Milão para o Reino Unido por conta própria, peguei num autocarro em Heathrow e depois completei a viagem até Brands Hatch de táxi.", começou por dizer na mesma entrevista.  

Cheguei na quarta-feira, fui apresentado à equipa e depois fiquei por aqui porque não tinha carro alugado para chegar ao hotel. Quando Ken Tyrrell percebeu, ele pediu ao meu companheiro de equipa, Martin Brundle, para ser meu motorista no fim de semana. Fiquei com um pouco de inveja porque Martin tinha um Jaguar XJS da marca, através do seu contrato na Endurance. Eu tive que me espremer no banco de trás, atrás dele e de sua esposa.”

E correu bem. Apesar de não ter chegado ao fim na corrida britânica, e do seu lugar ter sido preenchido por Philippe Streiff no GP sul-africano, em Adelaide, na Austrália, acabou num forte quarto posto, conseguindo os seus primeiros pontos da sua carreira. 

Em 1986, enquanto triunfava no campeonato de Formula 3000 e fazia duas corridas pela AGS, em Monza e Estoril, Capelli conheceu outro elemento que compôs a sua carreira. Em Imola, durante uma ronda da Formula 3000, Hiroshi Yasukawa, diretor desportivo da Bridgestone na Europa, apresentou a um dono de equipa que queria um piloto para correr na Formula 2 japonesa. Esse senhor chamava-se Akira Akagi, dono da Leyton House, uma firma imobiliária local. Outra relação para a vida, com acordos importantes à base do... aperto de mão. 

O Sr. Akagi perguntou se eu pilotaria pela Leyton House Racing no Japão em tempo integral em 1987. Ele também me ofereceu um salário de 200 mil dólares. Respondi que gostaria de vir, mas que já estava conversando com algumas equipes de F1, incluindo Osella e Tyrrell. Cesare olhou para mim com espanto, porque era um completo 'bluff'. O Sr. Akagi então perguntou quanto custaria me apoiar na Formula 1, correndo com as cores da Leyton House. Eu não tinha ideia, então disse a Cesare que era sua vez de responder e ele sugeriu 4 milhões de dólares. O Sr. Akagi perguntou se eu tinha certeza de que estava pronto para a Formula 1, e eu disse que sim. Ele disse: 'OK, faremos isso' e concordou mais uma vez com um aperto de mão."

"No voo de regresso para a Europa, bebemos um bocado, mas não sabíamos como fazer qualquer tipo de acordo com a Formula 1. Após aterrarmos em Milão, Cesare reservou um voo para Londres na manhã seguinte, apareceu sem avisar na porta de Robin Herd e perguntou se ele gostaria de trazer a March de volta à Fórmula 1, pois tinha o apoio necessário. Acho que eles resolveram isso com uma garrafa de vinho, embora o carro de F1 de 1987 fosse apenas um chassi 86B de F3000 modificado para acomodar um tanque de combustível maior e com aerodinâmica revista.

Na primeira corrida, no Rio de Janeiro, tínhamos uma equipa de apenas 17 pessoas, incluindo o Sr. Akagi, sua namorada, seu tradutor e o meu pai. Nosso preparador, Heini Mader, ainda não tinha um Cosworth DFZ pronto, então usamos um motor com especificações do Campeonato Mundial de Sport-Protótipos, que não era muito potente. Nas retas, os turbos passavam pelo menos 100 km/hora mais rápido do que eu, então era uma espécie de chicane móvel."

Depois de uma temporada de 1988 fantástica, com dois pódios, 17 pontos e a liderança do GP do Japão, antes de ter tido problemas com o sistema eletrónico do seu carro, que o obrigaram a abandonar, a temporada de 1989 começou com tragédia, devido ao acidente mortal de Gariboldi. O carro, agora batizado de CG891, fora desenhado por um jovem Adrian Newey, vindo da March, tinha os seus bons e maus tempos, mas conseguiu novo ponto alto em 1990, quando Capelli conseguiu um segundo lugar no GP de França, depois de andar 40 voltas na liderança. Mas por essa altura, Newey tinha sido despedido, indo de imediato para a Williams. 

No final de 1991, com a bolha do mercado imobiliário japonês a explodir, e a Leyton House a passar por dificuldades, Capelli decidira partir da equipa que o ajudara a construir e tinha feito a sua casa na Formula 1. Tinha assinado pela Dallara em 1992, mas um dia, ligaram de Maranello. Era uma oferta que não podia recusar, pensando que seria um sonho, mas acabou por ser um pesadelo. 

Expliquei que tinha um contrato com a Scuderia Italia, mas eles me garantiram que não era um problema e que iriam lidar com isso. Obviamente não queria dizer ‘não’ para a Ferrari, mas entrei completamente às cegas, sem saber nada sobre o que eles estavam planeando.", começou por dizer.

A situação que encontrei lá era bastante dramática. O chassi do F92A incluía alguns recursos radicais, incluindo o fundo plano duplo, mas a aerodinâmica não funcionou, a suspensão monoamortecedora não funcionou e tivemos que reduzir o motor de 12.500 rpm para 11.800 para torná-lo mais fiável. O carro foi projetado com uma caixa de velocidades transversal, mas acho que a fábrica da Ferrari conseguiu fazer apenas dois [exemplares] que funcionaram corretamente, e ambos foram dados a Jean Alesi. Nas primeiras sete ou oito corridas usei a caixa de câmbio longitudinal de 1991, então tínhamos dois carros completamente diferentes. Foi um desastre absoluto, porque não podíamos trocar informações.", continuou.

Fiquei chocado quando testei o carro pela primeira vez no Estoril. Eu estava dirigindo o carro de 1991, mas no último dia, à tarde, finalmente pude experimentar o F92A pela primeira vez e percebi imediatamente que não parecia certo. Durante a conversa, não disse: 'Olha, temos um carro de merda', mas ressaltei que precisávamos refinar a suspensão dianteira e a aerodinâmica - e isso exigia muito trabalho. Quando eles mudaram para Jean do outro lado da mesa, ele disse que o carro era fantástico, que ele poderia vencer corridas e disputar o campeonato. Eu indiquei que estávamos 1,5 segundos mais lentos que a Williams, mas eles apenas disseram que eu não entendi e optei por acreditar em Jean. Para mim, a coisa toda foi um pesadelo desde o segundo dia, com muitas coisas políticas que eu simplesmente nunca tive durante meus dias de March e Leyton House, quando trabalhávamos como uma família. Maurício [Gugelmin, seu companheiro na equipa de 1988 a 91] e eu comíamos juntos, saíamos de férias juntos. Com a Ferrari, uma relação de piloto como essa era impossível”.

No final, foram apenas três pontos e a saída da equipa após o GP de Portugal, uma temporada de pesadelo. Em 1993, queria recomeçar e apareceu um lugar na Jordan, que aproveitou. Contudo, existia uma exigência: Eddie Jordan queria um milhão de dólares de patrocínio, e ele queria o dinheiro... para ontem. E isso foi demais para Capelli. 

Eddie disse que eu poderia ficar com o assento por um milhão de dólares, então comecei a tentar juntar algum dinheiro”, diz ele. “O carro não teve um bom desempenho na corrida de abertura em Kyalami, porém, e sofri um grande acidente.", continuou.

Enquanto isso, Eddie estava no telefone quase todos os dias me pedindo o dinheiro. Este era um novo tipo de pressão, algo que eu nunca havia encontrado antes. Depois que não ter conseguido qualificar-me no Brasil, Eddie disse: 'Precisas de me trazer um milhão ou estás fora'. Respondi que, depois de 93 GPs, não achava que deveria trazer dinheiro. Se ele quisesse me dar a possibilidade de correr, tudo bem, mas decidi que não queria ser piloto pago, então parei. Muitas equipas estavam pedindo dinheiro na altura. Jordan usou cinco pilotos diferentes ao lado de Barrichello durante a temporada [Capelli, o belga Thierry Boutsen, os italianos Marco Apicella e Emmanuelle Naspetti, e o irlandês Eddie Irvine], então foi quase como se fosse um carro alugado."

CPR: Teodósio quer ganhar no Algarve


Com o Campeonato de Portugal de ralis de volta no fim de semana, com o Rali do Algarve, e sabendo-se da ausência de Armindo Araújo, a recuperar do seu acidente em Fafe, Ricardo Teodósio e o seu navegador, José Teixeira, estão prontíssimos para correr em casa, rumo à vitória. O piloto da Team Hyundai Portugal, Campeão Nacional em 2019 e 2021, quer ‘apostar as fichas todas’ na luta pelo triunfo, numa prova que será disputada sobre pisos de terra.

Estamos verdadeiramente confiantes que vamos estar na luta pela vitória neste rali. Apostar as fichas todas é uma boa forma de dizer que queremos muito ganhar o Rali Casinos do Algarve, o rali da nossa terra. Estamos conscientes que as atenções vão estar sobre nós, que o público vai apoiar-nos de início ao fim e que a mancha amarela vai voltar a ser sentida! Neste momento só queremos que a semana de rali tenha início para podermos ir conhecer melhor os troços preparados pelo Clube Automóvel do Algarve para a edição deste ano”, garantiu. 

Já José Teixeira, o seu co-piloto, mostra-se confiante e acredita que o apoio local fará toda a diferença: 

Vamos correr em casa e queremos provar que somos competitivos. O apoio da família #24 será fundamental, bem como o metódico trabalho da Sports&You. Integrados no Team Hyundai Portugal temos de ter uma mentalidade ganhadora e por isso vamos fazer tudo para estar no lugar mais alto do pódio no final do Rali”, assumiu.

Organizado pelo Clube Automóvel do Algarve, o rali arranca a 31 de Março com a realização da Free Practice, Qualifying Stage e Super Especial de Lagos. Para o segundo dia de prova, a 1 de Abril, estão planeados quatro troços a ser repetidos por duas vezes. O Rali terminará em Portimão com a realização de uma City Stage.

Endurance: Spa terá 13 Hypercars


Foi hoje divulgada a lista de inscritos para as Seis Horas de Spa-Francochamps, que acontecerá a 29 de abril, duas semanas depois das Seis Horas de Portimão, e também será a última prova antes as 24 horas de Le Mans. As grandes novidades serão a inscrição de 13 Hyperacars, com a entrada de mais um Cadillac e do Porsche da Jota, que será guiado pela tripla António Félix da Costa, o britânico Will Stevens e o chinês Yifei Ye

No caso do segundo Cadillac, será o carro numero 3, guiado pelo francês Sebastien Bourdais e pelo neerlandês Renger van der Zande, que se preparará para a grande corrida francesa, em junho. 

Estamos entusiasmados com a oportunidade de trazer outro Cadillac para a corrida em Spa”, explicou a diretora desportiva da GM, Laura Wontrop Klauser. “Qualquer oportunidade que temos de nos preparar para Le Mans dentro das regras e regulamentos do WEC é ótima. Isso deixará a equipe ainda mais pronta para enfrentar essa corrida, bem como uma oportunidade de trazer mais participação do Cadillac na corrida europeia”.

De resto, na clase Hypercar, é o esperado para esta temporada: para alem dos dois Cadillacs, dois Toyotas, dois Peugeots, três Porsches, dois Ferrari da AF Corse, um Glickenhaus e o Vanwall da Kolles. Também haverá 11 LMP2 e 14 GTE-Am a participar nessa corrida.

terça-feira, 28 de março de 2023

A imagem do dia


Há 30 anos, em Interlagos, Ayrton Senna conseguia uma vitória bem popular no GP do Brasil. E com este triunfo com uma McLaren que não era tão poderosa, aproveitando a sorte da chuva ter aparecido - ele tinha sido penalizado com um "stop & go" de 10 segundos - e dos azares dos seus adversários, especialmente Alain Prost, que se despistou na chuva e ainda por cima, sofreu uma colisão do Arrows de Christian Fittipaldi. Com a chuva a passar, aproveitou a pista seca para apanhar Damon Hill e o passar, rumando para a vitória. 

E claro, a grande cena final, onde 16 títulos mundiais estavam presentes no pódio - passados e futuros - e aquele abraço de Senna a Juan Manuel Fangio, que então com 81 anos, tinha ido presentear os vencedores. 

Mas não foi só isso que aconteceu. Esta foi a última ocasião em que os dois Lotus pontuaram, com o quarto lugar de Johnny Herbert, que lutou pelo pódio com o Benetton de Michael Schumacher, e o sexto posto de Alex Zanardi, a única ocasião onde o italiano pontuou na Formula 1.

A carreira de Zanardi, nascido a 10 de outubro de 1966 na cidade italiana de Bologna, nos monolugares começou em 1988, na Formula 3 italiana, antes de em 1990, acabou como vice-campeão, passando em 1991 para a Il Barone Rampante, onde lutou pelo título com o brasileiro Christian Fittipaldi. O brasileiro acabou por ganhar com cinco pontos de diferença (47 contra 42), embora ambos tiveram duas vitórias cada uma. E a recompensa aconteceu no final da temporada, quando correu pela Jordan nas últimas três corridas da temporada, conseguindo dois nonos lugares. 

Contudo, em 1992, ele não conseguiu um lugar como titular, e ironicamente, coreu nessa temporada por causa de Fittipaldi, que se lesionou no fim de semana do GP de França. Ficando com o lugar por três corridas, apenas se qualificou numa corrida, na Alemanha, onde apenas deu uma volta, desistindo com problemas na caia de velocidades. 

No final da temporada, Zanardi teve uma chance de ser piloto de testes da Benetton para 1993, mas quando a Lotus perguntou se não queria correr com eles naquela temporada, ele aceitou. Anos depois, o italiano disse que, se tivesse esperado, a sua chance de correr num carro vencedor teria sido muito grande, porque existia a promessa de correr pela Benetton em 1994 e 95.

Mas na temporada, as coisas não começaram bem. Em Kyalami, envolveu-se num acidente com Damon Hill, acabando ambos por abandonarem. Ajudando no desenvolvimento da suspensão ativa do modelo 107, em Interlagos, largou de 15º na grelha e escapou das armadilhas que a corrida deixou, especialmente quando choveu e entrou o Safety Car. Também beneficiou da penalixação de gente como o Ferrari de Jean Alesi, que acabou fora dos pontos, e quando terminou na sexta posição, duas abaio do seu companheiro de equipa, Johnny Herbert, tinha conseguido o seu primeiro ponto da carreira, ficando satisfeito com a corrida.

O que ele não sabia era que seria o seu primeiro... e único ponto na Formula 1. Dali a alguns meses, em Spa-Francochamps, iria sofrer o primeiro dos seus grandes acidentes, que o colocariam em prova de imensas maneiras.  

MotoGP: Miguel Oliveira não irá à Argentina


Um dia depois da colisão entre Marc Marquez e Miguel Oliveira, na primeira volta do GP de Portugal de MotoGP, a sua equipa, a Aprilia, relevou que o piloto português sofreu lesões na perna direita que o impedem de alinhar na etapa seguinte, em Termas de Rio Hondo, na Argentina. 

A extensão das suas lesões foi revelada pelo piloto nas suas redes sociais: 

"A ressonância magnética marcada para hoje em Lisboa veio confirmar as suspeitas que tínhamos ontem após avaliação médica no circuito. Foram verificadas lesões tendinosas dos rotadores externos da perna direita, que não apenas impede de caminhar, assim como montar na moto e inclinar para as curvas", contou.

Apesar de não ser necessária cirurgia, o descanso impede a sua participação na corrida seguinte, marcada para este final de semana.

"É uma lesão que não é passível de cirurgia e que apenas o descanso ajuda na recuperação. Por esta razão, não estarei presente no GP da Argentina. Quero enviar um grande abraço a todos os meus fãs amigos e patrocinadores e agradecer o incondicional apoio!", concluiu.

Curiosamente, Marquez também sofreu uma lesão na colisão com o piloto português, acabando por fraturar um dedo da mão direita, sendo operado e também não estará presente na prova argentina. Isso, aliado à queda de Pol Espagaró na sexta-feira, onde sofreu uma contusão pulmonar e cervical, são três os pilotos que não estarão presentes na próxima ronda da MotoGP. 

segunda-feira, 27 de março de 2023

A imagem do dia


Há 40 anos, a Formula 1 corria nas ruas de Long Beach naquilo que viria a ser a última vez, antes de decidirem acolher a IndyCar, menos cara e ajudando a consolidar a reputação de ser o Mónaco da Califórnia. Foi uma corrida agitada, onde os McLaren, que tinham feito uma péssima qualificação, escalaram na classificação geral para conseguirem a sua primeira dobradinha em 15 anos, com John Watson na frente de Niki Lauda. E o 22º posto na grelha por parte do britânico constitui um recorde por bater até aos dias de hoje.

E também foi a corrida onde Alan Jones sentou novamente num carro de Formula 1, a bordo de um Arrows, apesar de estar nitidamente fora de forma - recuperava da queda de um cabalo na sua fazenda e não aguentou o ritmo de um Grande Prémio.  

Contudo, hoje também passa 40 anos desde a primeira ocasião onde um piloto venezuelano pontuava num Grande Premio de Formula 1. E também é a história de um dos poucos pilotos que, depois de uma grande carreira nas duas rodas, passou para as quatro e também conseguiu marcar presença. Não teve o mesmo sucesso de John Surtees e Mike Hailwood, mas a Formula 1 não foi o único lado onde ele andou bem nas quatro rodas. Afinal de contas, conheci-o quando estava a ter sucesso na DTM alemã, ao serviço da BMW.

Johnny Cecotto nasceu a 25 de janeiro de 1956 em Caracas, e cedo se dedicou ao motociclismo, porque o seu pai era dono de uma loja na capital venezuelana, e tinha sido campeão nacional com uma Norton de 500cc. Em 1974, aos 18 anos, tinha ganho dois campeonatos nacionais, e decidira ir a Daytona com uma Yamaha 750 inscrito pela importadora local, a Venemotos. Logo nessa primeira corrida, tinha impressionado toda a gente, primeiro por colocar a sua moto na primeira fila da grelha, e quando os comissários detetaram um líquido a cair da sua mota, julgando que era óleo, retiraram-no da grelha, porque julgaram que poderia ser um perigo para ele e para os concorrentes. Quando descobriram que era apenas água, deixaram-no ir, largando na última posição, para fazer uma corrida de recuperação atá ao terceiro lugar, ultrapassando entre outros, Giacomo Agostini.

Indo para o Mundial, correndo quer na classe 250cc e 350cc, acabou campeão nesta última classe, sendo, aos 19 anos, no mais jovem campeão de sempre. Correndo até 1980, ganhou 14 corridas, três delas na classe rainha, os 500cc, sempre com Yamahas.

Contudo, no final desse ano, com a retirada da Yamaha da competição, e a falta de uma moto competitiva, decidiu apostar nas quatro rodas, começando logo a correr na Formula 2, pela Minardi. Mostrou nas quatro rodas a rapidez das duas, e em 1982, num March oficial, ganhou três corridas, em Thruxton, no Reino Unido, em Pau, o circuito citadino francês, e na pista sueca de Mantorp Park, terminando na segunda posição, apenas batido pelo italiano Corrado Fabi, irmão mais novo de Teo Fabi.

Com este rico palmarés, a Formula 1 foi o passo seguinte. A Theodore deu-lhe um lugar, numa dupla latino-americana com ele e o colombiano Roberto Guerrero. Num ano onde as equipas iam lentamente arranjar motores Turbo, eles se mantinham com os Cosworth aspirados, mesmo sabendo que, mais cedo ou mais tarde, iriam ser relegados para o fundo da grelha. Depois de um 19º posto em Jacarépaguá, ele conseguiu colocar o seu carro no 17º lugar, um na frente de Guerrero, aproveitou os acidentes dos outros para subir na classificação geral, especialmente a carambola entre Keke Rosberg, Patrick Tambay e Jean-Pierre Jarier.

No final, aguentou-se e fez história, terminando uma volta atrás dos McLaren vencedores e alcançando um sexto lugar. Se na corrida anterior, em Jacarépaguá, era o segundo venezuelano a correr na Formula 1, depois de Ettore Chimeri, em 1960, agora era o primeiro a marcar pontos. Um ponto, apenas. Mas também entrava no grupo restrito de pilotos que correram em duas e quatro rodas. 

Parecia que pontuar logo na sua segunda corrida na Formula 1 poderia ser o começo de algo importante. Mas não: na realidade, era a última ves que a Theodore iria pontuar na categoria máxima do automobilismo, e no final de 1983, a equipa iria fechar as portas devido aos altos custos de produção. Até tinha não conseguido qualificar em quatro corridas: no Mónaco, Grã-Bretanha, Áustria e Países Baixos, mostrando a falta de evolução do bólido. Mas conseguiu um lugar em 1984 na Toleman. Onde teve de lidar com um estreante chamado Ayrton Senna...

Mas naquela tarde californiana, ele fazia história, colocando a si e ao seu país no mapa automobilístico mundial.    

Formula E: Felix da Costa com sabor amargo


António Félix da Costa saiu de São Paulo com o quarto lugar e mais 12 pontos, que permitem ficar na quinta posição do campeonato, mas esse lugar, bem como o resto do fim de semana brasileiro, teve um sabor algo amargo, depois do segundo lugar na grelha no final da qualificação, e de ter andado a lutar pela vitória em boa parte da corrida, até cometer um erros que o atirou para o sétimo lugar, conseguindo recuperar até ao quarto, o lugar imediatamente abaixo ao do pódio.

Apesar do resultado aparentemente positivo, e de ter ajudado a consolidar a liderança da Porsche no campeonato por equipas, e de ter conseguido ganhar pontos a Pascal Wehrlein, seu companheiro de equipa e atual líder do campeonato, o piloto de Cascais não escondeu a sua frustração, porque sabia que a vitória estava no seu alcance. 

"Foi um dia que me deixa com um sabor ligeiramente amargo. A verdade é que me senti muito rápido neste circuito e tinha bem definida a estratégia de atacar a vitória nas voltas finais, mas infelizmente quando estávamos a entrar na fase decisiva da corrida, cometi um ligeiro erro na travagem da curva 1 e acabei por perder várias posições. Ainda recuperei até ao 4º lugar, mas fico com um sentimento de que perdi uma boa chance de vencer ou pelo menos terminar no pódio. Enfim, os erros fazem parte das corridas e hoje cometi um pequeno, mas que me custou a vitória.", começou por afirmar. 

"Aprender, melhorar e avançar para a próxima em Berlim! De qualquer forma amealhámos doze pontos, mostrámos bom andamento tanto em qualificação como em corrida e seguimos fortes na luta pelos primeiros lugares do campeonato.", concluiu.

No campeonato, Pascal Werlhein (Porsche) lidera com 86 pontos, seguido de Jake Dennis (McLaren) com 62, Nick Cassidy (Envision) com 61, Jean-Eric Vergne (DS Penske) com 58, e António Félix da Costa (Porsche), com 56.  

A próxima prova do Mundial de Fórmula E tem lugar em Berlim, numa jornada dupla marcada para os dias 22 e 23 de Abril.

domingo, 26 de março de 2023

Youtube Motorsport Videos: Automobilismo em Hollywood, visto por quem entende

E por falar em filmes de automobilismo (OK, eu falei de um documentário um pouco atrás...)

Mas quase por coincidência, o canal do Youtube da GQ decidiu fazer um apanhado de filmes sobre automobilismo que apareceram nos últimos anos, desde o "Ford x Ferrari" a "Rush", passando por outros como o "Need for Speed", "Cars" e o "Driven".

E para dar uma opinião sobre estes filmes, convidaram quem entende do assunto. Nada mais, nada menos que... Esteban Ocon, piloto da Alpine.   

Considerações sobre "Villeneuve x Pironi"


Inesperadamente, numa sexta-feira à noite, descubro neste enorme mundo do Youtube, o vídeo do documentário sobre Gilles Villeneuve e Didier Pironi, o duelo que marcou a Ferrari em 1982 e que acabou em tragédia, onde em três meses, as chances reais de um titulo de pilotos e de Construtores acabaram em pó, primeiro, com o acidente mortal de Villeneuve, no fim de semana do GP da Bélgica, e depois, o acidente sério de Didier Pironi, que deu cabo das suas pernas e encerrou a sua carreira na Formula 1, quando estava prestes a ganhar o campeonato e a ser o primeiro francês a alcançar o título.

O documentário fala muito de Gilles, desde o seu tempo na Formula Atlantic até à maneira como Enzo Ferrari notou a sua atenção e o contratou no lugar de Niki Lauda, no final de 1977. E depois, como surgiu Pironi, que começou na Formula 1 em 1978, pela Tyrrell, antes de seguir para a Ligier em 1980 e no ano seguinte, a Ferrari. 

Fala também de algumas coisas interessantes. De como Joanne, a mulher de Gilles, no alto do seu sexto sentido feminino, ter dito que não tinha grande confiança em Didier, para que tivesse cuidado. Das intrigas politicas dentro da Scuderia, onde Marco Pichinini, o então diretor desportivo da marca, favorecia Pironi - ao ponto de ter sido convidado para o casamento dele, semanas antes de Imola - e como, apesar de ter gente que o protegesse - Mauro Forgheri era o seu mais forte defensor na equipa - Gilles estava vulnerável na corrida de San Marino, porque, por exemplo, Forgheri estava ausente para proteger dos ataques de um Pironi alimentado pela ambição de bater Gilles para ser campeão, agora que na temporada de 1982, existia um chassis com essa capacidade.


Sobre Imola, explica-se muito, mas nada novo se acrescenta. O que se chega à conclusão é que Gilles foi ingénuo e Didier aproveitou. E mesmo assim, fala-se, a título de exemplo, do GP de Itália de 1979, onde ele não atacou Jody Scheckter no duelo para ver quem seria campeão, e do qual esperava o mesmo tipo de lealdade da parte de Pironi, que achava que estava tudo igual, e ganharia o melhor. E para ele, mesmo não dizendo, o seu companheiro de equipa era o seu primeiro adversário. 

Depois do que aconteceu, a agitação fora nítida, e mesmo com Ferrari a defender primeiro as manobras do francês, decidiu voltar atrás e defender Gilles. Só que o estrago estava feito e era um Gilles perturbado que chegou a Zolder, na Bélgica, determinado a batê-lo. Só que a emoção levou a melhor e um mal entendido com o March de Jochen Mass levou ao seu acidente fatal.        

Sabia que o funeral tinha sido público - desconhecia que o então-primeiro ministro, Pierre Trudeau (e pai do atual, Justin Trudeau), tinha ido ao funeral! - mas desconhecia o impacto que aquilo tinha causado na altura. E há uma frase da própria Joanne acerca disso. "Quando sabes que o fim está a chegar, e é lento,  tens tempo de despedir. Quando é rápido e é muito público, a história é outra." E entendes o que foi aquilo. Se não foi funeral de estado, não andou longe: bandeiras a meia haste, o caixão foi trazido num 707 da Força Aérea Canadiana, coisas assim. O próprio Jacques conta da estranheza de tudo aquilo, mesmo para um garoto de 11 anos como ele.

E o impacto do funeral de Gilles só tem comparação com o de Ayrton Senna, praticamente 12 anos depois.  


Depois, passa para Pironi, e o seu acidente em Hockenheim, no qual destruiu a sua perna direita, ao ponto de ter sido considerada a sua amputação no local. Conta-se quantas vezes foi operado - cerca de 30 ao longo que quatro anos - e como ele foi para os barcos, com o famoso Colibri, que era muito potente e muito leve, por causa do seu chassis de carbono. E das circunstâncias do seu acidente mortal, o Needles Trophy, na ilha de Wight, onde decidiu-se por uma trajetória arriscada, quando um petroleiro largou uma onda que poderia colocar os barcos em perigo. Em suma, o seu acidente aconteceu porque jogou com a sua sorte para ganhar a corrida. E o seu funeral, em St. Tropez, foi mais discreto, apesar do seu caixão estar envolto na bandeira francesa.  

Detalhes: o seu rival naquela corrida era o "Piniot di Pinot", um catamarã guiado por Stefano Casiraghi, marido da princesa Carolina do Mónaco. Que morreu num acidente de barco três anos depois, em 1990. E nessa altura, tinha reatado uma relação com Catherine Goux, que na altura estava grávida de gémeos, graças a um tratamento "in vitro". 


No final de 98 minutos de duração, o que ficou nisto tudo é o seguinte:

Tirando uma ou outra pequena revelação, quem conhece a história chega ao final sabendo que não existe nada que não altere o que sabe sobre Gilles e Didier, sobre Imola e as duas semanas antes da corrida fatal. O que se assiste por aqui são duas famílias que viveram no limite, e que sofreram com a partida súbita dos seus companheiros. Nesse campo, está bem feito. Ambas as famílias falam sobre eles e sobre o seu legado, e entre eles, existe sobretudo mágoa, mas não ressentimento de uns contra os outros. Bem pelo contrário: há respeito e solidariedade pelas suas perdas mútuas. Quer Joanne, quer Catherine, sentem a falta dos seus maridos, porque tiveram vidas curtas, mas intensas com eles. Isso é um facto.

Quanto aos filhos, cada um lida com os pais que tiveram. Se Jacques lida bem com o pai, por causa da carreira que teve, mais do que conhecido, já os filhos de Didier, o Junior - que é engenheiro da Mercedes - e o Gilles Pironi, sentem respeito e uma ponta de orgulho pelo pai que nunca conheceram porque como sabem, são seus filhos póstumos. 

O que me fica no final é uma frase da Brenda Vermor, a mítica secretária do "Commendtaore" Ferrari. Ela afirma o legando contraste entre os dois pilotos. De Gilles, há estátuas e ruas com o seu nome. De Didier, não há nada. 

Bem sei que nenhum deles tem culpa nisto, mas os tiffosi tomaram uma decisão há muito. E a sentença é eterna e definitiva.