O britânico Tony Brooks, o último vencedor ainda vivo de Grandes Prémios dos anos 50, a primeira década da Formula 1, morreu hoje aos 90 anos de idade. Pilotando pela Vanwall, Ferrari, Cooper e BRM, triunfou em seis ocasiões, correndo entre 1956 e 1961. Para além disso, triunfou na Endurance, nos 1000 km de Nurburgring, para além de ter participado nas 24 Horas de Le Mans.
Nascido a 25 de fevereiro de 1932 em Dunkfield, no Chesire inglês, era filho de um dentista e seguiu a profissão do pai. Um dos seus primos, Norman Standish Brooks, foi um nadador que participou nos Jogos Olímpicos de Amesterdão, em 1928.
A sua carreira começou em 1952, enquanto estudava para ser dentista, correndo em Healeys e Frazer-Nashs nos "club racers" um pouco pela Grã-Bretanha. Mas o seu primeiro grande momento foi em 1955, quando foi inscrito à última hora no GP de Siracusa, prova extra-campeonato, pela Connaught. Acabou por vencer, conseguindo a primeira corrida internacional em 30 anos a bordo de um carro britânico. O último vencedor britânico num carro britânico tinha sido em 1924 com Henry Segrave, a conduzir um Sunbeam, no GP de San Sebastian, em Espanha. Na altura, Brooks terminava os seus estudos de odontologia em Manchester.
Isso foi o suficiente para, depois de terminar os seus estudos, se dedicar totalmente ao automobilismo. Em 1956, entrou na Formula 1 pela BRM, no GP do Mónaco e o da Grã-Bretanha, sem concluir qualquer das corridas. No ano seguinte, estava na Vanwall, enquanto corria pela Aston Martin na Endurance. E entrou forte, com um segundo lugar no Mónaco, e uma vitória em Aintree, numa condução partilhada com Stirling Moss. Tempos antes, triunfara nos 1000 km de Nurburgring, a bordo de um Astin Martin, mas sofreu um acidente forte nas 24 Horas de Le Mans, o que fez repensar a sua maneira como corria, afirmando que não iria correr mais riscos desnecessários.
Foi por causa disso que se tornou num católico devoto.
“Sempre senti que era moralmente errado correr riscos desnecessários com a vida”, disse Brooks numa entrevista ao jornalista Nigel Roebuck na década de 1980, “porque acredito que a vida é um presente de Deus e que o suicídio é moralmente inaceitável. Suponho que há aqueles que diriam que dirigir carros de corrida é um risco desnecessário, mas eu não concordaria com isso. No entanto, dirigir um que pode ser insalubre ou danificado, embora não seja exatamente suicídio, está bem perto disso."
Em 1958, triunfou em Spa-Francochamps, Nurburgring e Monza, sendo terceiro classificado, com 24 pontos, o suficiente para a Ferrari o contratar para a temporada de 1959. Ao lado de Dan Gurney, Phil Hill e Wolfgang Von Trips, triunfou em França e na Alemanha, circuitos velozes e com carros de motor à frente, quando os Cooper de motor atrás, guiados por Jack Brabham e Bruce McLaren já dominavam o campeonato.
Mas quando a Formula 1 chegou a Sebring para a ronda final, ele era candidato ao título, e tentou a sua sorte. Contudo, na primeira volta, sofreu um toque de Von Trips e perdeu tempo a ver se tinha danos. "Minha inclinação natural era continuar", disse ele, na entrevista com Roebuck. "Acredite em mim, isso teria sido a coisa mais fácil de fazer, mas obriguei-me a entrar nas boxes para verificar o carro. Perdi meia volta fazendo isso, e ainda terminei em terceiro. Stirling retirou-se e Jack [Brabham, o eventual campeão] ficou sem gasolina perto do final! Ainda assim, em minha opinião, acho que fiz a coisa certa.", concluiu.
Apesar de tudo, foi terceiro e acabou como vice-campeão, com 27 pontos, sete atrás do campeão, Brabham.
Em 1960, foi para a Yeoman Credit, uma equipa privada, que tinha nessa temporada chassis Cooper, ao lado de Olivier Gendebien, Chris Bristow e Phil Hill, conseguindo sete pontos. No ano seguinte regressou à BRM, mas ele já estava com ideias de fazer alguma coisa. Tinha 29 anos e sabia que não podia ter sorte todo o tempo. E para piorar as coisas, o BRM P57 não era um carro satisfatório. Depois de um terceiro lugar em Watkins Glen, pendurou o capacete de vez.
Anos depois, Stirling Moss disse sobre ele: "Brooks foi um piloto tremendo, o maior - se ele me perdoar por dizer isso - piloto 'desconhecido' que já existiu. Ele foi muito melhor do que várias pilotos que venceram o campeonato mundial."
Apesar de ele ser conhecido pelos fãs mais dedicados do automobilismo, não foi esquecido, especialmente quando em 2007 a sua terra natal o homenageou com uma placa na casa onde viveu, bem a homenagem que foi feita a ele em 2018, em Goodwood. E agora, era o "último os moicanos", o derradeiro vencedor ainda vivo da primeira década da Formula 1. Ars longa, vita brevis.