sábado, 2 de janeiro de 2016

A imagem do dia

O Dakar começou hoje com o prólogo em Buenos Aires... e não começou lá muito bem. Guo Meiling, uma chinesa com muito dinheiro e "unhas curtas para tocar guitarra", alugou um Mini X-Raid e andou oito quilómetros antes de perder o controlo do carro e enfiar-se num ajuntamento de pessoas, ferindo oito, três deles com gravidade.

Segundo relatos do que estiveram no local, onde há um salto, Meiling acelerou a fundo e bateu com o jipe em frente, perdendo o controlo e indo para eles. O prólogo foi imediatamente encerrado e quer ela, quer o seu navegador não sofreram nada.

Torçamos para que tudo corra bem. E que este seja o único incidente deste Dakar.

O Rali Dakar considera um regresso a África

O Dakar 2016 arranca hoje com o Prólogo, em Buenos Aires, mas parece que não há garantias da sua continuidade na América do Sul nos anos seguintes. Depois de sabermos que esta edição teve de ser alterada a meio do caminho quando Peru e Chile desistiram de o ter por causa dos prejuízos causados pelo "El Niño", ficando a Bolivia com boa parte dessa despesa, as garantias de que a Argentina poderá continuar após este ano não estão cobertas, agora que há novo governo em Buenos Aires. Assim sendo, o regresso a África é algo do qual a ASO anda a pensar desde há algum tempo.

Segundo conta numa entrevista publicada hoje no jornal Marca, Etiénne Lavigne, o diretor do Dakar, considera um regresso a África, nomeadamente na parte sul, e confidenciou que andou a conversar com as autoridades angolanas em 2014, com a ideia de fazer um rali que começaria em Luanda e acabaria na Cidade do Cabo.

"No sul de África Angola, Namíbia e África do Sul, há terrenos para montar este tipo de competição", começou por declarar o director de corrida. "Estamos a falar há dois anos com Luanda, a capital da Angola. A geografia do continente permite fazer a prova. No norte de África é impossível devido à situação política", concluiu.

De facto, a imprensa angolana afirmou no inicio de 2014 que a organização pensava fazer um rali trans-nacional, com a ajuda do Ministério da Juventude e Desportos. O projeto foi apresentado em setembro desse ano, mas até então não se tem ouvido falar mais nada. Para piorar as coisas, a situação económica do país, altamente dependente do petróleo, fez com que o interesse possa ter arrefecido.

Marc Coma, agora o diretor desportivo da competição, afirmou que apesar de faltar muito por descobrir na América do Sul, o rali tem uma origem africana, do qual não pode ser negligenciado.  "O Dakar tem sido uma carreira em constante evolução e estabeleceu-se na América do Sul de uma forma que ninguém poderia imaginar em 2009", afirmou. "Há muito para descobrir por aqui, mas também é verdade que as origens do Dakar estão em África, e em algum momento, se existir uma situação no qual pode ser levantado de novo [voltaremos], mas, no momento, infelizmente, não é possível", concluiu.

Resta saber como vão ser as coisas a partir de 2017, mas aparentemente, tudo está em cima da mesa.

O novo Top Gear está a caminho do desastre?

O Top Gear é um programa que já existe desde 1977, mas em 2002 decidiu fazer uma revisão profunda que acabou por criar um monstro, com três apresentadores míticos e um produtor muito bom, que fizeram do programa uma mina de ouro graças aos seus comentários muitas vezes politicamente incorretos. Contudo, em março de 2015, Jeremy Clarkson esmurrou um produtor e a BBC não teve outra chance senão despedi-lo. E com isso, desencadeou uma cadeia de eventos que resultou na situação em que vivemos: os três apresentadores afastados estão a continuar num canal totalmente novo, enquanto que no lugar original, três (ou quatro) novos apresentadores estão a tentar fazer o seu melhor num programa que vive dias difíceis, com a saída de dois produtores e as dificuldades de convívio entre o novo apresentador e a BBC, que quer controlar melhor as coisas.


Com Chris Evans agora a controlar as coisas na BBC, existe a expectativa de saber como é que andariam as coisas por lá, dado que ele tem uns sapatos muito grandes para calçar (por muitos que os detractores odeiam admitir), e pelos vistos, a viagem não tem sido boa. Ao mesmo tempo que Evans anunciou que David Coulthard, Sabine Schmitz e Chris Harris como seus co-apresentadores, uma das produtoras, Lisa Clark, abandonou o programa por alturas do Natal, acompanhado por um dos argumentistas, Tom Ford, enquanto que há noticias de tensões entre Evans e Kim Shillingshaw, outra produtora da BBC, que tem fama de ser ambiciosa e controladora, e que está a ser um pesadelo para os que trabalham no programa. É que Evans, trabalhador incansável (tem tres programas ao mesmo tempo!) tem também funções de produtor e fama de controlador.

Para piorar as coisas, já houve incidentes a registar. "A primeira vez que ele deu uma volta na pista do Top Gear acabou em desastre, pois ele despistou-se e destruiu o carro que conduzia. Infelizmente para ele era um Jaguar novinho em folha que tinha sido emprestado para o programa", contou uma fonte do programa ao jornal inglês.

E para adicionar mais pressão desnecessária, Evans já anunciou que o primeiro programa iria para o ar a 8 de maio, algo que a BBC... não sabia. O que irá adicionar mais pressão e aumentar a tensão entre todos os membros do elenco.  

Entretanto, a noticia fala sobre os "três estarolas", que estão tranquilamente a gravar os episódios do novo programa na Amazon, que ainda não tem nome. E o que se fala ali é que eles terão tiudo à sua disposição. Para começar... o orçamento. Cada episódio vai custar a módica quantia de... quatro milhões de libras. Já podem imaginar se a primeira temporada tiver dez episódios, não é? À partida, o programa irá para o ar em setembro, e terá três temporadas de 12 episódios cada uma. Isto significa que terão a incrível quantia de... 160 milhões de libras. Quase duzentos milhões de euros. Isso é orçamento de uma equipa de Formula 1 como a Mercedes ou a Ferrari...

Mas aparentemente eles estão atentos com o que se passa na BBC e poderão fazer algo por alturas do lançamento do programa, um pouco para que os espectadores possam comprar o incomparável. E isso poderá ter consequências imprevisíveis, claro. Alguns pregos no caixão do novo Top Gear, por exemplo...

Vamos a ver. O ano de 2016 promete ser interessante neste campo dos programas de televisão sobre automóveis.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

A imagem do dia (II)

Lembrando um dos aniversariantes do dia, Jacky Ickx (que comemora hoje 71 anos) e a prova que acontece sempre no inicio de cada ano civil: o Rali Dakar. Aqui, em 1983, no ano em que o venceu, ao lado de Claude Brasseur

A imagem do dia



Na Argentina, todos estão prontos. O rali Dakar arrancará amanhã e como sempre, será muito duro.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

A imagem do dia

Hans-Joachim Stuck, algures em 1978, a gozar com o seu companheiro de equipa na Shadow, Clay Regazzoni. Amanhã, o grande piloto alemão (tem 1,91 metros de altura!) fará 65 anos, mas não sei se andarei por aqui. Vou passar o final de ano fora, e creio que isto é simbólico, porque este vai ser o último post do ano.

Não tive um ano espectacular. Como em tudo, houve momentos frustrantes e momentos entusiasmantes, mas posso dizer que fiquei ligeiramente otimista. Teve no cinzento, mas mas o facto de ter começado o negócio das t-shirts - de forma amadora, claro - é um começo para algo maior, caso não dê o passo maior do que a perna. Tenho ali algo interessante, isso sei eu.

Os resultados desportivos não foram emocionantes. Como já disse na semana passada, tivemos dominios em quase tudo: na Formula 1, nos ralis, na Endurance, no WTCC. Mas o automobilismoi não é só isso e há sitios onde ainda vale a pena vermos duelos e incerteza, como por exemplo na Formula E ou na IndyCar. E ainda temos aquela expectativa em relação a uma nova competição, a TCR, que terá uma série internacional, várias séries regionais e nacionais, do qual Portugal é uma delas.

Logo, mesmo quando estamos mal, arranjamos forma de nos safar desta.

O meu desejo para o Ano da Graça de Dois Mil e Dezasseis é que mantenhamos a saúde e não percamos o sorriso. Que trabalhemos para que as coisas corram bem para nós, e mesmo que não aconteça, não nos desanimemos, pois a paisagem está sempre a mudar. Para o bem e para o mal.

E para vocês todos, desejo-vos o melhor. Um grande abraço e Feliz 2016!

Noticias: John Surtees condecorado pela Rainha

O britânico John Surtees, de 81 anos, cuja carreira se estendeu nas duas e quatro rodas, foi hoje condecorado pela Rainha Isabel II pelos seus serviços ao desporto com o grau de CBE (Comandante do Imério Britânico). Basicamente ele sobe na hierarquia, dado que recebeu o MBE (Membro do Império Britânico) em 1960, quando venceu os seus campeonatos de motociclismo, e em 2008 subiu para o OBE (Ordem do Império Britânico), sempre pelos seus serviços no automobilismo, primeiro como piloto, e depois como construtor.

Contudo, ele ainda não almejou o grau de cavaleiro (KBE), o que faria com que fosse tratado por "Sir".

Surtees é neste momento o mais antigo campeão do mundo ainda vivo, e também é o unico piloto na historia a ser campeão do mundo em duas e quatro rodas, tendo sido campeão do mundo de Formula 1 em 1964, ao serviço da Ferrari. Em 1970 tornou-se construtor, tendo a sua equipa até à temporada de 1978, onde estiveram pilotos como Mike Hailwood, José Carlos Pace, John Watson, Alan Jones e Vittorio Brambilla, entre outros.

Para além disso cuida da Henry Surtees Foundation, criada em memoria do seu filho, morto em 2009 numa prova de Formula 2 em Brands Hatch, que lida com a rápida resposta em caso de acidente, neste caso com a evacuação de sinistrados para o hospital por via aérea (helicópteros). 

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

WRC: Saiu a lista de inscritos para o Rali de Monte Carlo

A pouco menos de um mês do começo do Mundial de ralis, a organização do Rali de Monte Carlo divulgou a sua lista de inscritos, onde estarão ao todo 14 carros do WRC mais 16 carros da categoria WRC2, mesmo que oficialmente estejam apenas duas equipas oficiais, a Volkswagen e a Hyundai, com a Ford a alinhar ao serviço da M-Sport, de Malcom Wilson.

A marca alemã, campeã do mundo, alinha com três carros, e para os "suspeitos do costume": Sebastien Ogier, Jari-Matti Latvala e Anders Mikkelsen. Já a Hyundai alinha com Dani Sordo, Thierry Neuville e Hayden Paddon, enquanto que na Ford, os três carros vão ser entregues a Mads Ostberg e aos franceses Bryan Bouffier e Eric Camili, este último que vai ter o seu primeiro rali a bordo de um carro WRC. Outros Ford privados serão entregues a Ott Tanak, Robert Kubica e a Lorenzo Bertelli.

Entretanto, dois Citroen DS3 estão inscritos pela Abu Dhabi Total World Rally Team, para Stephane Lefebvre e para Kris Meeke.

Já do lado WRC2, sem Nasser Al-Attiyah (que se vai concentrar no Dakar e na qualificação para os Jogos Olimpicos) as inscrições mais interessantes serão as de Flfyn Evans, que alinha num Ford inscrito pela M-Sport, Quentin Gilbert, a bordo de um Citroen DS3, Julien Maurin e Essapekka Lappi, ambos num Skoda Fabia. Francois Delecour, a caminho dos 54 anos, alinha com um Peugeot 207 S2000.

O Rali de Monte Carlo acontecerá entre os dias 22 e 24 de janeiro. 

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

A imagem do dia

Michael Schumacher, perseguido por Jacques Villeneuve, no GP da Europa de 1997, em Jerez de la Frontera, e a caminho do acidente que definiu aquele campeonato, numa foto tirada por Paul-Henri Cahier.

Dois anos depois do seu acidente em Méribel, ninguém sabe como anda Michael Schumacher. As especulações são muitas, mas do outro lado encontra-se um muro de silêncio, vinda da sua família, a começar pela sua mulher, Corinna. Após este tempo todo, aprendeu-se a respeitar esse silêncio, mas as fãs do piloto não gostam muito pelo simples facto de que se sentem marginalizados pela atitude da família. De facto, os advogados poderão dizer que isto esta no domínio privado... e é verdade, mas isto acontece porque ele não está nas suas faculdades, ou seja, está frágil, totalmente dependente.

Já disse isto uma vez e volto a dizer: não creio que haverá qualquer informação importante sobre ele num futuro próximo. Estas coisas são dolorosamente lentos e o impacto que ele teve foi bem forte. Não acredito que ele volte a ter as mesmas faculdades, e se alguma vez recuperar a consciência, ou até andar, não será aquilo que pensamos que foi no passado. De uma certa maneira, esta proteção até preserva a imagem do alemão para o resto do mundo, especialmente no dia em que eles quebrarem o silêncio para dizer algo. E tenho a sensação que isso acontecerá apenas para duas coisas: quando ele estiver recuperado, ou quando anunciarem o seu falecimento. Só acredito nessas duas coisas.

Até lá, só poderemos especular, e ouvir os desmentidos. E entretanto, recordamos o piloto pelos seus feitos na pista, e a razão pelo qual ele se tornou num dos melhores de todos os tempos.

O dia em que Stefan Johansson atropelou um veado, contado pelo próprio

Stefan Johansson é provavelmente dos pilotos mais virtuosos que anda por aí. Dono de um dos capacetes mais fixes que conheço, o piloto sueco, agora com 59 anos tem uma carreira eclética: vencedor das 24 Horas de Le Mans em 1997, ao lado de Michele Alboreto e do dinamarquês Tom Kristensen, nunca ganhou corridas nem na Formula 1 ou na CART, apesar de ter sido o "rookie do Ano" em 1992. 

Na categoria máxima do automobilismo ficou conhecida a sua passagem pela Ferrari e McLaren, mas também passou pela Shadow, Spirit, Tyrrell, Toleman, Ligier, Onyx, Arrows e AGS, conseguindo doze pódios e 88 pontos no total, os últimos dos quais no GP de Portugal de 1989, com aquele incrível terceiro posto. E na CART, conseguiu quatro terceiros lugares, sempre pela Bettenheusen Racing.

Mas boa parte desta carreira poderia não ter acontecido caso um encontro imediato tivesse corrido mal. Na sexta-feira, 14 de agosto de 1987, durante os treinos de qualificação do GP da Austria, Johansson ia a mais de 225 km/hora ao volante do seu McLaren MP4/3 TAG Porsche quando um veado atravessou no meio da pista para tentar escapar do barulho à sua volta. O sueco não teve como evitá-lo e ele atingiu-o no seu lado direito, destruindo a suspensão do carro e o fez ir parar aos rails de proteção. O veado teve morte imediata, e Johansson nada sofreu, para além de escoriações na cabeça, que não o impediram de correr no domingo.

Agora, 28 anos mais tarde, Johansson conta o que aconteceu nessa tarde. Num relato publicado este fim de semana ao site Motorsport.com, ele conta aquilo que é batizado de "deer-death experience". Gosto da expressão, e de facto, é verdade. Mas também revela o bom humor do piloto sueco.

"Todo o episódio ainda me dá arrepios quando me lembro", começou por recordar Stefan. "Você faz aquela curva de forma completamente cega e apontas o carro para a cabana dos comissários de pista do lado de fora daquele canto, então você tem a linha ideal para a próxima curva. À medida que o carro faz aquela curva e vejo um pouco de luz, vi o veado e ele estava apenas a começar a entrar no meio da pista", continuou.

Sem tempo para nada, pois foi uma questão de poucos segundos, o impacto foi enorme. Mas no meio da desgraça, ele teve sorte. "Não tive tempo para fazer alguma coisa, nem tentei travar", lembra o piloto sueco. "Ele bateu no meu lado esquerdo e ainda hoje me lembro do som do impacto - foi horrível. Foi realmente um impacto enorme. Ele rasgou todo o lado esquerdo do carro. A suspensão foi arrancada para fora do chassis, o monocoque ficou destruído. Se eu tivesse sido apanhado talvez mais 10 polegadas para o outro lado, teria me atingido e arrancado a minha cabeça, não tenho dúvidas sobre isso", comentou.

De facto, as imagens desse acidente são horríveis, e caso tivesse acontecido o pior, iria fazer lembrar os eventos de dez anos antes, em Kyalami, quando o galês Tom Pryce morreu, atingido pelo extintor de incêndio trazido por um comissário de pista sul-africano. Contudo, o acidente também faz lembrar aquilo que o brasileiro Cristiano Da Matta passou na pista de Elkhart Lake, em 2006, e que precipitou o seu final de carreira como piloto.

Contudo, o acidente não acabou com o impacto no veado. Descontrolado - sem direção e sem travões - o carro acabou nos rails de proteção, totalmente destruído. A equipa acabaria por trazer outro chassis diretamente de Woking, e o sueco pôde correr no domingo, apesar de ter ficado magoado em algumas costelas.

"Só me lembro de ter recolhido as minhas pernas tanto quanto eu podia, cruzando os braços e esperar pelo melhor", lembra ele. "Foi um forte impacto e eu quebrei um par de costelas"

"Eu fiz a corrida, mas eu estava com tanta dor que foi realmente desagradável. Lembro-me que Ayrton [Senna] estava atrás de mim, talvez a 10 comprimentos do meu carro na sua Lotus e ele passou a toda a velocidade sobre o que restava do veado. Não acho que ele era muito feliz por isso depois!"

No final da corrida, Johansson acabou no sétimo lugar - que na altura era o primeiro fora dos pontos - a duas voltas do vencedor, o britânico Nigel Mansell. E após isso, ele conseguiu ainda mais onze pontos naquele campeonato, incluindo mais dois terceiros lugares em Jerez e Suzuka, terminando o ano com 30 pontos e o sexto lugar. Mas isso não o impediu de ficar na equipa de Woking para 1988, pois ele foi substituído por Ayrton Senna.

E ainda teve o resto da carreira que sabemos, primeiro pelas passagens na Ligier, Onyx, Arrows e AGS, a ida para os Estados Unidos, onde correu na CART e depois a Endurance, onde venceu as 24 Horas de Le Mans e onde ainda faz esporadicamente umas provas em lugares miticos como Daytona ou Sebring. 

A história de um mau perder... muito caro

Por estes dias de Natal e Ano Novo (enquanto não chega o Dakar...) seria ótimo falar sobre historietas que andam por aqui de vez em quando nessa Internet fora. Esta que apresento hoje é boa porque foi dada por um amigo meu, o António, e também porque fala da magnifica história de um carro que esteve no fundo de um lago entre a Suiça e a Itália por mais de 70 anos, e agora está num museu da California, depois deste ter sido recuperado, há alguns anos. E a história envolve uma aposta e um mau perder muito caro.

Recuemos 81 anos, até 1934. René Dreyfuss é um dos melhores pilotos de então em França. Nascido em 1905 em Nice, Dreyfuss vence na primeira corrida em que entra, em 1924, e seis anos depois, vence o GP do Mónaco, então apenas na sua segunda edição, a bordo de um Bugatti. Nos anos seguintes, torna-se num dos melhores pilotos franceses e compete contra Tazio Nuvolari, Rudolf Caracciola ou Hans Stuck, mas em carros algo datados, quando aparecem os Flechas de Prata. Apesar disso, em 1935, ele consegue um segundo lugar no GP de Itália, a bordo de um Alfa Romeo da Scuderia Ferrari.

Contudo, algum tempo antes, Dreyfuss era dono de um Bugatti Type 22 Brescia Roadster. E um dia, algures em 1934, estava a jogar cartas com o suíço Adalbert Bodé, um playboy de fama internacional. Ele apostou o seu carro contra ele... e perdeu. Contudo, Bodé não gozou muito o carro. Mal chegou à fronteira, foi parado pela Alfândega e sem dinheiro no bolso para pagar as taxas, ele foi apreendido pela policia local. Mas sem saber o que poderiam fazer, pois aparentemente aquele carro parecia não ser muito útil, decidiram atirar o carro para o fundo do Lago Maggiore, onde repousou a cerca de 30 metros de profundidade.

Ninguém mais quis saber desse carro nos próximos 30 anos até que em 1967, um mergulhador local, Ugo Pillon, ouviu falar dessa história e foi à procura. Facilmente encontrou esse carro, mas este ficou no fundo do lago nos 40 anos seguintes, onde os mergulhadores locais iam lá numa peregrinação curiosa.

Contudo, em 2009, um grupo de mergulhadores decidiu que era hora de o tirar do fundo do lago. A razão era triste: um dos seus membros, Damiano Tamagni, tinha sido brutalmente espancado por um grupo de jovens e acabaria por morrer. Para juntar dinheiro no sentido de criar uma fundação para a prevenção da violência juvenil, decidiu-se que retirar o Bugatti do lago e o colocar em leilão seria uma excelente ideia.

No final, demorou nove meses e mais de trinta voluntários, mas a 12 de julho de 2009, o carro foi retirado do fundo do lago. Apesar do seu aspecto ferrugento, havia detalhes que impressionavam. Exemplo? Ainda havia ar nos dois pneus que tinham sobrado! Feito o resgate, decidiu-se que seria vendido tal qual como estava, num leilão da Bonhams, no ano seguinte. E o resultado foi bem impressionante: 350 mil dólares. Por um carro com 80 anos, 70 dos quais no fundo de um lago.

O carro está agora num museu na California, e exposto tal qual foi tirado do fundo do lago, pois seria mais interessante vê-lo assim.

Quanto a Dreyfuss, o piloto? A sua carreira também foi interessante. Correu pela Delhaye nos anos 30, e não foi muito mais longe por ser judeu (só por isso não poderia andar nos Flechas de Prata alemães, por exemplo). Contudo, em 1940, o governo francês lhe pediu para competir nas 500 Milhas de Indianápolis, a bordo de um Maserati, ao mesmo tempo que a sua terra era invadida pelos nazis. A 30 de maio, quando os panzers estavam em Dunquerque a assediar a Força Expedicionária Britânica, Dreyfuss levava o seu carro ao décimo posto final... apesar de não saber falar inglês para comunicar com os mecânicos.

Após essa corrida, radicou-se nos Estados Unidos, onde ajudou o exército americano, abriu um restaurante em Nova Iorque, e continuou a correr até 1955, aos 50 anos. Tornou-se cidadão americano e acabaria por morrer a 16 de agosto de 1993, aos 88 anos.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

O mau tempo pode afetar o Dakar

O Rali Dakar arrancará dentro de cinco dias, mas o tempo naquela parte da América do Sul está no seu pior. Chuvas intensas estão a afetar o sul do Brasil, o Paraguai e o norte da Argentina, causadas por aquele que pode ser um dos mais fortes "El Niños" da história. Nos últimos dias, essas chuvas intensas têm causado a evacuação de vinte mil pessoas quer na Argentina, quer no Paraguai, e claro, a organização do Dakar está preocupada com este fenómeno, pois o rali poderá passar por algumas dessas zonas afetadas.

As informações que tenho é que está a chover bastante e isso pode trazer problemas com o prólogo e com a primeira etapa onde existem zonas muito planas e que se podem transformar num enorme lamaçal. Depois temos o El Niño que nos preocupa a todos porque pode trazer muito calor, é um fenómeno muito instável e difícil de controlar”, conta Nani Roma.

A edição do Dakar de 2016 começará a 2 de janeiro, em Buenos Aires, e acabará a 16 do mesmo mês em Rosário, também em paragens argentinas.

O piloto com número "fétiche"... agora de "buggy"

Há anos que Hugo Payen tem participado no Rali Dakar, especialmente nas motos, sempre com o seu número "fétiche": o 69. O número têm razão de ser, porque ele é apoiado por Marc Dorcel, produtor francês de filmes pornográficos. Claro que as suas publicidades são sempre... de dar nas vistas, só que este ano, decidiu ser um pouco diferente. É que mudou de classe, passando para os "buggys".

Em 2016, Payen adquiriu um "buggy" Polaris, esperando que tenha uma classificação melhor do que tem tido até agora (o seu melhor foi um 31º posto em 2014), mas o estilo mantêm-se. É que vai partir para a estrada no dorsal 469, é claro, o mediatismo continua...

domingo, 27 de dezembro de 2015

A imagem do dia (II)

Jean-Cristophe Bouillon faz hoje 46 anos, e para os que vêm a Formula 1, devem recordá-lo como sendo o substituto de Karl Wendlinger na temporada de 1995 na Sauber. A foto que ilustra é de Paul-Henri Cahier, tirada em Silverstone.

Mas ele foi mais do que isso. Campeão da Formula 3000 em 1994, este piloto de Saint-Brieuc teve uma longa carreira na Endurance, especialmente na Pescarolo, onde foi segundo classificado nas 24 Horas de Le Mans de 2005, e terceiro em 2007.

A última vez que correu foi em 2012, pela Pescarolo, onde foi quinto classificado em Sebring.

A imagem do dia

Há 30 anos, Jean Rondeau passava à história numa passagem de nível na zona de Champagne quando o seu Porsche embateu no comboio que ia ali a passar. Terminava assim, aos 39 anos de idade, a vida e a carreira de um homem extraordinário, cujo sonho era de vencer em Le Mans. E o conseguiu de forma unica até aos dias de hoje.

Se a Formula 1 teve Jack Brabham campeão com o seu próprio carro, mais as aventuras bem sucedidas de outros pilotos-construtores como Bruce McLaren, na Endurance, a pessoa a ter em conta era Jean Rondeau. A ideia de construir os seus carros surgiu em 1976 quando apareceu uma companhia especializada em... papel de parede, a Inaltera, que lhe pediu para construir um chassis à volta de um motor Ford Cosworth. As tentativas não foram muito bem sucedidas, mas a cada ano que passava, estava a melhorar, e também recrutava os melhores pilotos de então, como Henri Pescarolo.

Em 1980, Jean Rondeau tinha já o apoio dos elevadores Otis e o jornal Le Point e tinha construido um chassis 379B com motor Ford Cosworth, apesar de ter chegado à conclusão de que o motor não era o adequado para aquela corrida, por ser pouco potente contra a maré de Porsches presentes, na maior parte deles modelos 935. Jacky Ickx usou um... 908, versão 80, para correr.

Apesar dessa maré de carros alemães, a chuva ajudou muito os Rondeau. Primeiro, porque Ickx adotou uma toada cautelosa, até que a chuva parasse, e depois, a apanhar o carro francês que já estava na frente. E corria com alguém já experimentado, Jean-Pierre Jassaud, que vencera dois anos antes com o Renault A442, ao lado de Didier Pironi.

O Porsche levou a melhor sobre o Rondeau no inicio da manhã, mas o motor Cosworth aguentou melhor do que se esperava. E a grande ironia é que quem quebrou... foi o Porsche, que pelas dez da manhã, viu a sua caixa de velocidades quebrar. Eles perderam três voltas para o reparar, e quando voltaram à pista, Rondeau e Jassaud eram os lideres. E foi assim que acabaram, fazendo algo unico na história de La Sarthe.

Youtube Motorsport Racing: A corrida da Formula E em Punta del Este na integra

Há uma semana que aconteceu a corrida da Formula E em Punta del Este, no Uruguai, prova vencida por Sebastien Buemi, na frente de Lucas di Grassi e Jerôme D'Ambrosio. Foi uma corrida bem disputada, com Buemi a conseguir chegar ao poder do quinto lugar da grelha, e com outros incidentes de renome, como o que aconteceu na última volta, entre Jean-Eric Vergne e Nelson Piquet Jr.

Aqui podem ver a corrida na integra, caso não tenham visto.

Youtube Motorsport Racing: TCR 2015, Singapura, Corrida 2

O ano de 2015 vai ser marcado pela estreia de uma competição de Turismos destinado a ser o mais acessível possível, o TCR. Com uma série internacional, séries continentais e nacionais, e com o envolvimento de marcas como Volkswagen, Seat, Opel e Honda, para começar, a série promete expandir grandemente em 2016, pois já teremos uma série europeia, para se juntar à asiática, e séries nacionais como a de Espanha, Itália, Rússia, Benelux e claro, Portugal. 

E os carros têm de ser em conta, pois em média, valem cem mil euros, tudo pronto, chave na mão. em contraste, um Chevrolet Cruze da RML, pronto para correr no WTCC, vale cerca de 450 mil euros.

Eu escolhi esta corrida em particular por causa de uma coisa: ao contrário da Formula 1 e até da primeira corrida desta ronda, ela é realizada... de dia. Aconteceu no fim de semana do Grande Prémio e foi uma batalha de dez voltas para ver quem seria o melhor. E nessa corrida, o melhor foi Jordi Gené, no Volkswagen Golf, na frente de Stefano Comini e Jordi Oriola

Enfim, aqui podem ver a corrida na integra e ver como é uma corrida nessa cidade durante o dia.

Youtube Formula 1 Classic: GP do México 1968

Ontem, quando andava a pesquisar coisas sobre Moisés Solana, dei de caras com este belo video do GP do México de 1968, feito para os cinemas mexicanos, mas colocado no canal do Youtube da British Pathé. 

Esta corrida ficou para a história por uma boa razão: antes desta prova estavam três candidatos ao título: Graham Hill, Jackie Stewart e Dennis Hulme, cada um na sua marca: o inglês na Lotus, o escocês na Matra e o neozelandês na McLaren. A corrida tinha sido inicialmente marcada para o dia 26 de outubro, mas por causa dos Jogos Olimpicos - que tinham sido realizados ali mesmo - foi adiada por uma semana. Hill liderava, mas tinha apenas três pontos de vantagem sobre Stewart, que tinha ganho a corrida anterior, em Watkins Glen.

Parecia que Stewart tinha tudo a seu favor, por causa da sua forma nessa parte da temporada (tinha falhado as corridas de Jarama e Monaco por causa de um pulso fraturado) e a sua vitória épica no Nurburgring Nordschleife, debaixo de chuva e nevoeiro, tinha deixado toda a gente de boca aberta, mas o seu carro teve vários problemas e acabou fora dos pontos. 

Graham Hill, com o seu Lotus 49, aproveitou a deixa (e também a desistência de Hulme) para vencer a ser campeão. Aos 39 anos de idade e na temporada em que morreu Jim Clark.