Por esta altura, estamos todos colados à televisão a ver os Jogos Olimpicos, que decorrem desta vez em Londres. As dezenas de modalidades do qual só ouvimos falar uma vez a cada quatro anos - quantos de nós acompanham frequentemente a luta greco-romana ou os saltos de trampolim? - nos deixam embasabacados com a facilidade que realizam as suas provas, que tão complicadas nos parecem aos nossos olhos, dando o seu melhor para conseguir ou uma medalha, ou um diploma, ou então uma classificação honrosa que faça com que a sua participação tenha valido a pena.
Sendo os Jogos Olimpicos uma realização única, do qual todas as modalidades gostariam de lá estar a participar nessa celebração, para conseguir uma visibilidade que fora dela quase nunca têm - basta ler os exemplos que deu acima - sei que alguns também perguntam "porque não o automobilismo?". E ainda por cima, essa pergunta se fez mais quando se viu, no espaço de algumas semanas, Bernie Ecclestone a receber o presidente do Comité Olimpico Internacional, o belga Jacques Rogge, e de se ter visto Bernie Ecclestone nas instalações olimpicas, a pretexto daquele local ser provavelmente o futuro lugar para um hipotético "GP de Londres".
Para além disso, no inicio da semana passada, li o artigo do
Joe Saward,
onde ele defendia que o automobilismo - ou a Formula 1 - deveria ser uma modalidade olímpica, dando o exemplo do hipismo, perguntando, entre outras coisas, sobre o elitismo de certos desportos ("
você ultimamente tentou comprar algum cavalo de dressage?) ou a interpretação de certas regras ("
Porque é os eventos equestes são desportos olimpicos? Qual é a diferença de um cavalo [animal]
para outro cavalo [mecânico]?")
Primeiro que tudo, um cavalo de "dressage" é caro - cheguei a ler por estes dias que o mais caro custa à volta de 15 milhões de dólares - e segundo, apesar de serem válidas as questões sobre a razão pela não participação do automobilismo nas Olimpíadas - havia corridas de carruagens no tempo dos gregos e romanos -, não creio que se deveria incluir o automobilismo nos Jogos Olimpicos. Primeiro que tudo, o Comité Olimpico Internacional, que se vê bombardeado todos os anos com a inclusão dos mais diversos desportos - squash, basebol ou hóquei em patins, entre outros - e ainda por cima, em 2016, no Rio de Janeiro, terá desportos novos como o rugby sevens e o golfe. Ora, numa grande realização que acontece de quatro em quatro anos e que tem de durar dezasseis dias, colocar eventos especiais, seja em pista, seja em estrada, não me parece justo porque ao contrário do esforço humano, não se alinham com máquinas iguais.
Vamos supor que o automobilismo existisse como modalidade olímpica. Para que fosse de acordo com o espírito olímpico, teriam de alinhar com máquinas iguais, seja ele no karting, em Formula 1 ou nos ralis, que seriam as três modalidades de eleição. Poderiam colocar alguma das categorias de acesso, como a GP3 e a GP2, que tem máquinas iguais, a tendência dos últimos anos, e também se poderia incluir carros de Turismo, para melhorar as coisas. Mas existiriam obstáculos dos quais seriam de difícil transposição, a começar pela marca do automóvel.
Suponhamos que havia uma disciplina de Formula 1, e a McLaren forneceria 26 carros para essa categoria. Certo que Jenson Button e Lewis Hamilton teriam o maior favoritismo,m dado que conheceriam o carro com a palma das duas mãos. Mas será que os pilotos das outras equipas, como a Mercedes, Williams, Red Bull, Ferrari... etc, iriam achar bem ver um dos seus pilotos a guiar, nem que seja um "one-off", o carro de outra equipa? E com apenas os três primeiros a subirem ao pódio e a receber as medalhas, não reavivaria o velho sonho de Bernie Ecclestone do "winner takes all" e do qual os donos de equipas lutaram para que isso não acontecesse?
Sei que colocar o automobilismo nos Jogos Olimpicos é um velho sonho que Ecclestone se lembra de quando em quando, mas não creio que seja algo exequível. Para mais, as corridas extra-campeonato já não existem desde 1983...
E se falo disso na Formula 1, a mesma coisa poderei falar em relação aos ralis. Contudo, com a criação das categorias monomarca, com o mesmo chassis, motor e fornecedor de pneus, tal coisa é à partida exequível. Sei disso e sei também que a ideia de Saward não é tão estapafurdia quanto parece. E ir buscar os velhos chassis das extintas A1GP ou da Superleague Formula até seria fácil, feitas algumas modificações em termos de segurança, mas em termos de espírito olímpico, ver uma ou várias disciplinas de desportos motorizados - e já me ia esquecendo das corridas de motos e a motonautica - onde o esforço do piloto tem a ajuda do motor, não se coaduna com os ideais do Barão Pierre de Coubertin.
Mas nunca se sabe o que vai acontecer no futuro...