Não vou dizer "custou, mas foi", direi mais que sempre acreditei - em silêncio, muitas vezes - no potencial da equipa de canoagem. Sei perfeitamente, embora não estando totalmente dentro da modalidade, que nesta modalidade, a federação está a fazer um sólido trabalho, com dinheiro, apoios e instalações para que os atletas possam treinar calmamente para que este dia pudesse ser possível.
Sabia, pelo palmarés que esta gente anda a alcançar nos Europeus e Mundiais da modalidade, que a medalha olímpica seria uma inevitabilidade, nunca foi um "se" mas sim um quando. Aliás, até acreditava que hoje poderíamos ter visto algo ainda mais histórico, que seria vencer mais do que uma medalha no mesmo dia, na mesma modalidade. Ainda se vai a tempo, pois a canoagem tem mais uma final para disputar.
De uma certa maneira, a psique portuguesa ficou acalmada. Li muitos disparates vindos de "sábios", afirmando que esta participação já era um desastre, que iríamos sair de Londres sem medalhas, etc e tal. É certo que neste país não se aposta no desporto escolar como deveria de ser, é certo que em termos de Educação neste país, o ministro esteja agora numa lógica armazenista, com corte de disciplinas, mega-agrupamentos e turmas de 30 alunos, achando que cortar é que é bom, poupar algumas centenas de milhões porque vivemos em tempos de austeridade, etc e tal, é que nos vai salvar, quando muito provavelmente está a destruir o futuro.
Antes, queixávamos da falta de condições, agora é o contrário: temos condições, agora é encontrar a mão de obra humana. Que existe.
Mas acho que por hoje, deveríamos acalmar as criticas. Os dois canonistas, Emanuel Silva (apesar de ter 26 anos, vai nos seus terceiros Jogos Olimpicos) e Fernando Pimenta, de 22 anos, tiveram hoje a recompensa dos seis meses de estágios que estiveram juntos, dos milhares de quilómetros que pagaiaram, num barco nacional, das saudades de casa, da família, dos amigos. Sacrificaram-se para este dia, e mesmo que não tivesse compensado com medalha, já tinham alcançado algo inédito: uma final olímpica na canoagem. Há oito anos, se alguém dissesse que iriam ter até agora 75 por cento dos seus atletas numa final olímpica, seria uma utopia, um "whishful thinking". Pois bem, hoje é uma realidade. Prova de que o trabalho vale a pena.
E se o ouro não chegou por uma nesga (53 milésimos, menos do que certas qualificações de Formula 1...), não importa: fizeram história na mesma. E poderá ser a primeira de muitas. Creio que hoje, o resto de Portugal descobriu que esta é uma modalidade do qual será uma potência mundial a médio prazo, porque tem tudo: atletas, condições e uma federação que os apoia.
Parabéns rapazes, bom trabalho. E parabéns a todos os que se esforçaram e se superaram, pois é esse o espírito olímpico, independentemente do resultado.
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