A temporada de 2021 não é ainda um regresso ao normal. Ainda há muitas coisas pendentes, e apesar de se combater fortemente a pandemia com a vacina, e se nota que há sucesso, com o diminuir dos casos um pouco por todo o mundo, o cancelamento da corrida de Singapura, na semana que passou, mostra que as coisas ainda vão demorar pra voltar ao que era em 2019.
Contudo, o interessante sobre isto é que, nesta altura do campeonato, parece que havia mexidas. Não era o passeio dos últimos anos, a Mercedes tinha por fim alguém à sua altura, a a Red Bull queria provar ter um conjunto melhor e mais consistente, mas a corrida do Mónaco tinha sido um "baralhar e voltar a dar", com a Mercedes fora do pódio. E se achavam que eles voltariam, e era um soluço, Toto Wolff avisou logo que Baku não seria o palco do regresso. E a qualificação provou isso, apesar da luta de Lewis Hamilton para não acentuar as diferenças.
Mas a história desta corrida pode-se resumir no seguinte: se vocês desligaram a televisão a seis voltas do fim, esperando que a Red Bull iria fazer uma grande corrida e Max Verstappen ia a caminho de uma vitória convincente, e uma dobradinha para a equipa energética, então... perderam provavelmente alguns dos momentos mais decisivos do campeonato. E foi um perfeito "bodo aos pobres".
Então, a corrida começou desta maneira: Leclerc largou bem e ficou na frente, seguido por Hamilton e Verstappen, que passara Perez na traagem para a primeira curva. Uma partida normal, sem incidentes de maior, nem o Mazepin fez asneiras, que como sabem, nesta pista onde um erro e acabas no muro, tens de ser perfeito. Atrás, Perez tinha passado Sainz Jr. e Vettel começava a recuperar posições, passando Bottas e era nono.
Na terceira volta, Hamilton passou Leclerc e ficou com a liderança da corrida, apesar da reação do monegasco da Ferrari. Quatro voltas depois, e quase no mesmo lugar, Verstappen passava Leclerc e ficava com o segundo lugar, a ia à caça de Hamilton. E a mesma coisa fazia Perez na volta seguinte, ou seja, na velocidade pura, a Ferrari ainda não tinha motor para Flechas Negras e energéticos austríacos.
Quando os pilotos da frente começaram a trocar de pneus, lá pela volta 11, o britânico foi o primeiro a parar, esperando que conseguisse superar os Red Bull quando fosse a vez deles de trocar de pneus. Os vermelhos, moles saíram para os brancos, duros, ou seja, iriam até ao fim. Mas a paragem foi mais lenta que o habitual, e essa estratégia parecia ter ido por água abaixo. E quando três voltas depois, os energéticos fizeram o que tinham a fazer, eles tinham conseguido ficar na frente de Hamilton, o objetivo deles. Ali, os energéticos pareciam que tinham ganho o dia.
Mas também chegou-se a um ponto em que Sebastian Vettel chegou a liderar a prova. Um Aston Martin a liderar uma corrida? Bom, tenho a certeza que les esperavam isso um dia, foi agora, na sexta corrida do campeonato! E ainda tinha os moles, claro, enquanto todos que estavam atrás de si já tinham os duros, se calhar para ver se iam até ao final da corrida. Quando por fim, o alemão parou, saiu para a pista em sétimo, passando Tsunoda no processo.
Agora, Verstappen voltava à liderança, com Perez a seguir, e Hamilton à espreita.
Mas se todos pensavam que seria Mazepin que iria causar a primeira situação de Safety Car, afinal de contas, foi... Lance Stroll, que bateu no muro. Claro, o Safety Car era inevitável e o Mercedes vermelho entrou na pista para juntar toda a gente, ainda com os Red Bull na frente, com Hamilton em terceiro, Gasly em quarto e Leclerc em quinto.
Com o carro parado num lugar relativamente perigoso, a entrada das boxes estava fechado até que tirassem o Aston Martin dali. Quando isso aconteceu, os mecânicos da Haas fizeram uma asneira bem grande com os pneus de Mick Schumacher. Se calhar era para ver se o Mazepin o apanharia, não?
E no regresso à bandeira verde, quem aproveitava era Vettel, que em pouco tempo passava Gasly e Leclerc para ser quarto classificado. Bom, ele adora circuitos citadinos, não é? Atrás, Raikkonen também fazia passagens, como a um... Valtteri Bottas. Nossa, que fim tão triste.
Na frente, Hamilton tentava não deixar escapar os Red Bull, especialmente Perez, que fazia o seu trabalho de ser o "wingman" de Max, que claro, tentava escapar do resto do pelotão, rumo à vitória. Estava tudo a correr bem, tudo a correr de acordo com o grande plano da Red Bull e tudo o mais, porque... golpes de teatro em Baku, alguém se lembra? Não, pois não?
Mas a três voltas do fim... o tal golpe, digno de um Adelaide 1986. E tudo aconteceu quando o pneu traseiro esquerdo de Max rebenta em plena reta da meta. Despistou-se e abandonou, entregando 25 pontos a Hamilton. O pneu mandou sinais de alerta para o resto das equipas, que foram às boxes para trocar de pneus, mas a organização da corrida decidiu colocar para fora a bandeira vermelha, parando a corrida. O holandês estava frustrado até à décima potência, afinal de contas era uma vitória quase garantida... não era?
Alguns minutos depois, os carros alinharam na grelha para aquela que muitos já diziam, sarcasticamente, como a primeira corrida "sprint" da história. E neste aparato para duas voltas a uma pista longa, era possivel muita velocidade e qualquer coisa no meio. E quando a bandeira verde foi mostrada... novo golpe de teatro quando os travões cederam e Hamilton seguiu em frente. Houve um bruááá nas bancadas, nas janelas e sem dúvida, nas televisões e telemóveis um pouco por todo o mundo.
As coisas finalizaram com um triunfo de Sergio Perez, que estava no lugar certo, na hora certa, na frente de um Sebastian Vettel que teve uma grande tarde, e ainda tentou a sua sorte no primeiro posto, mas no final, para além de dar o primeiro pódio da Aston Martin, tinha conseguido amealhar 28 pontos em duas corridas citadinas e enxotado a ideia de que era um piloto acabado. E Pierre Gasly, terceiro depois de ter conseguido passar Charles Leclerc, também deu à Alpha Tauri o primeiro pódio do ano. E ainda por cima, com Tsunoda em sétimo, foi um bom fim de semana para os energéticos juniores.
Mas a grande moral da história que se tira de Baku é que ninguém sai a rir dali. Os da frente não pontuaram, embora a Red Bull tenha um sorrido maior do campeonato de Construtores, que com os 25 pontos do mexicano, afastou-se mais da Mercedes. Mas nem Hamilton, nem Verstappen, saíram a ganhar ali, foi um gigantesco "bodo aos pobres", algo do qual ninguém esperava, se alguém tivesse a ideia de desligar o televisor a cinco voltas do fim. Não é?