No momento em que escrevo estas linhas, leio que a Spanair anunciou ontem à noite que ia cessar as suas operações, com efeito imediato, cancelando voos e deixando dezenas de milhares de passageiros em terra. Uma companhia de baixo custo espanhola, decidiu cessar as suas operações devido ao fato de não ter dinheiro para pagar aos credores e também porque as negociações com a Qatar Airlines, com vista a uma possivel aquisição, falharam no inicio da semana.
Esta noticia, na mesma altura em que se conheceram os números do desemprego em Espanha, e que bateram um recorde com 15 anos - 5,4 milhões de desempregados - era a pior coisa que se poderia esperar num país e num continente que está deprimido em crise e em desemprego, onde o pessoal da minha geração, se quiser trabalhar, terá de emigrar para outros lados. Mas esta noticia de uma companhia aérea a falir provavelmente não será a única em 2012. Isto porque há outras em situação periclitante, uma delas bem conhecida do nosso meio automobilístico: a Kingfisher Airlines. Caso não saiba, caro leitor, tem a ver com Vijay Mallya e a Force India.
Mallya é um dos homens mais ricos do subcontinente, mas como todos os homens ambiciosos, a sua fortuna cresceu de igual modo que a sua ganância, alimentada à custa de empréstimos bancários. E quando a soma desses empréstimos é superior ao seu "cash-flow", temos problemas. É uma lição básica de Economia do qual muitos estão a aprender da pior forma possível. E a ironia é que isto está a acontecer num dos "BRIC's", a Índia, cujo setor aeronáutico é dos que mais cresce em todo o mundo. Quem conta isto tudo é o Joe Saward.
É sabido que Mallya assinou em outubro do ano passado um acordo de parceria com a Sahara, uma das maiores companhias do país, de forma a ficar com uma posição minoritária - cerca de 40 por cento - da Force India, a troco de uma injeção de cem milhões de dólares nas próximas três temporadas, para ajudar no crescimento sustentável da equipa, que tem motores Mercedes e uma dupla razoável em 2012, na figura do Nico Hulkenberg e do escocês Paul di Resta. Mas pouco se sabe deste acordo e pouco se sabe qual é a influência da Sahara no negócio da Force India. Serão "silent partners", à espera de ver colapsar o sócio maioritário? Sabe-se muito pouco sobre os seus planos, por agora.
Entretanto, a companhia aérea de Mallya, a Kingfisher Airlines, "está pela hora da morte". Em finais de 2010, a companhia aérea - fundada apenas cinco anos antes - tinha dívidas de 1.5 mil milhões de dólares e esta teve de ser reestruturada, de forma a ser paga de forma mais faseada e mais suportável pela companhia. Mas dia sim, dia não, fala-se na India de noticias de problemas com os pagamentos de taxas aeroportuárias, gasolina para aviação, para não falar dos salários em atraso. Este mês, a companhia pagou apenas 60 por cento do salário deste mês e ainda falta pagar parte do salário de dezembro.
E para piorar as coisas, há a ameaça do governo indiano de retirar a sua licença de voo paira no ar, apesar desta ter decidido - discretamente, é certo - ajudar a companhia aérea, para evitar o embaraço de ter uma falência deste género, que seria sem dúvidas, espectacular. E claro, com efeitos colaterais no mundo da Formula 1...