Esta semana decidi deixar de lado a Formula 1 - que se encontra entre dois lançamentos de carros - e os Ralis - apesar de saber que amanhã se oficializará o rompimento entre a BMW e a Prodrive - para me concentrar na Endurance, pois hoje foi o dia da apresentação dos envolvidos no novo campeonato do mundo, que começará no mês que vêm, em Sebring, com as suas Doze Horas. Ao todo, serão 56 os carros envolvidos, quinze na LMP1 e 18 na LMP2.
Num período onde fomos todos surpreendidos com a saída intempestiva da Peugeot - que vive em crise de vendas, onde até cancelaram os seus planos de instalação de uma fábrica na India... - Audi e Toyota aparecerão em ação com seis carros, e com a grande novidade a ser... quatro híbridos, pois a Audi correrá com dois bólidos R18 a Diesel e dois outros carros híbridos, para verem até que ponto andam em relação à Toyota. E esta última estreará em Spa-Francochamps e correrá todas as provas do campeonato.
Há também algumas novidades engraçadas, pelo menos na categoria LMP1. A Dome, pequena construtora japonesa que quer construir o seu protótipo para a Endurance, aliou-se à Pescarolo e vai alinhar com um chassis seu, ajudando o veterano piloto e construtor francês para desenvolver a sua tecnologia. E a Honda vai começar a envolver-se um bocadinho mais na competição, pois o seu HPD vai estar na Strakka e na JRM, que no passado andou aliado com a... Nissan.
Na LMP2, com os motores Nissan a dominarem o panorama, É interessente ler que a morgan e a Lotus aparecerão por lá. Nesta última marca está uma mistura no mínimo insólita. Os motores podem ser da Lotus - preparados pela Judd - mas o chassis é da Lola, e o seu patrão poderá ser... Colin Kolles. Pois é, parece que o ex-patrão da HRT quer continuar a fazer uma gracinha no automobilismo. E não seria a primeira vez, pois em 2010 andou com os Audi R10 na Le Mans Series. Deverá atrair os seus velhos conhecidos, como o Christian Klien e o Cristijan Albers, querem ver? Pelo menos há um piloto confirmado: o alemão Thomas Holzer.
Já a OAK Racing também fez uma escolha insólita, que foi o de se aliar com a Morgan, para construir um chassis com motor Judd, e tentar a sua sorte na competição. Está-se a ver que as coisas para os lados da Endurance vão ser excitantes na "segunda divisão" do campeonato...
Depois há os GT's, que se encontram um pouco "amputados" devido ao fato de agora existirem campeonatos próprios, como os GT1. Uma razão dessa "deserção é o fato de, por exemplo, não haver McLarens e Lamborghinis, que estão todos nesse campeonato. Ferrari, Aston Martin, Porsche e Corvette fazem parte dessa paisagem, é certo, mas ao todo, as duas categorias dão 22 carros. Manifestamente pouco, para duas categorias.
É certo que estas novidades são ótimas num campeonato que ressuscita, vinte anos depois da sua última competição. Esta aliança entre a ACO (Automobile Club de L'Ouest) e a FIA só acontece devido ao passado de Jean Todt na Peugeot e o seu envolvimento no projeto do 905, que deu à marca duas vitórias nas 24 Horas de Le Mans no inicio dos anos 90. Desde há algum tempo que a ACO tem estado a fazer um bom trabalho para fazer crescer este tipo de competições, com a Le Mans Series e com a American Le Mans Series, e agora este ano vai-se ver em teste esta nova aliança.
E também é interessante é saber que o famoso "Delta Wing" foi inscrito nas 24 Horas de Le Mans como "fora de concurso". Estou, como seria de esperar, curioso de saber como se comportará numa pista como Le Mans. Se chegará ao fim, se for uma experiência para repetir no ano que vêm, porque acho que a Endurance deveria recuperar a sua essência inicial: ser um laboratório de experimentação. Não que isso não aconteça, mas para demonstrar ao resto do mundo que isto não é a Formula 1 e não pode ser regulamentado como se regulamenta por lá, nem mesmo em termos televisivos.
Este é provavelmente um bom motivo porque é que nos dias de hoje considero a Endurance como um "último reduto" para quem gosta de ver competição aliada à inovação. Eu sei que muitos ficaram com os cabelos em pé quando vieram os Diesel, e muitos também certamente não andarão muito felizes por verem carros híbridos e/ou elétricos, mas a esência da competição automóvel e da Endurance é essa: quem aguenta mais tempo e que faz mais quilómetros com um determinado carro, movido a uma determinada energia. E claro, ver transferida essa tecnologia para os carros do dia-a-dia, como hoje em dia andam a fazer certas marcas de automóveis.
Pelo menos é isso que gosto de ver na Endurance, muito para além da competição pura e dura.