Encontrei esta publicidade no final da semana passada na página da Copersucar-Fittipaldi no Facebook. Trata-se da comemoração, na imprensa, do segundo lugar de Emerson Fittipaldi no GP do Brasil de 1978, o primeiro de três pódios que a equipa iria ter ao longo da sua carreira (quatro, se consideramos o segundo lugar na International Trophy, em Silverstone, uma corrida extra-campeonato)
A cada dia que passa, confesso que fico cada vez mais fascinado pelo projeto da Copersucar-Fitipaldi, a aventura brasileira na Formula 1. entre 1975 e 1982, os irmãos Wilson Fittipaldi e Emerson Fittipaldi decidiram tentar a sua sorte e ombrear com as melhores equipas do mundo - britânicas, italianas, francesas, americanas, alemãs... - para conseguirem ser campeões e provarem que o Brasil era capaz de fazer chassis tão bons como Ferrari, McLaren, Brabham, Williams, etc...
Graças ao facto de quase toda a gente usava os motores Ford Cosworth, eles julgavam que a vitória era apenas uma questão de tempo. Enganaram-se: pensavam que construir os chassis em São Paulo seria o bastante, mas cedo perceberam que tinham de fazer tudo na Grã-Bretanha, se queriam ser competitivos, e depois, a impaciência da imprensa tupiniquim, que achava que seria tão fácil vencer como Fitipaldi tinha feito como piloto, fez com que se começasse a acumular uma má reputação, do qual nunca se conseguiram safar.
Um bom exemplo disso aconteceu quando em 1980, a a equipa perdeu o apoio da Copersucar e passou a ter o apoio da Skol. Um patrocinio de três milhões de dólares, que fez com que comprassem os ativos da Wolf e com ele, chassis e mão de obra valioso, como Harvey Postlethwaithe. Com isso, conseguiram uma boa temporada - dois pódios, onze pontos - mas no final do ano, a Skol decidiu retirar o apoio porque "não queriam ser associados a uma equipa perdedora"...
O ser humano é bipolar. Tanto entra em euforia, como entra rapidamente em depressão. E isso, associado à falta de cultura automobilística no Brasil - daí a frase "o segundo lugar é o primeiro dos perdedores..." precipitou o fim. Depois de 1980, arrastaram-se por mais duas temporadas até ao seu inevitável final. Mas tinham material que, devidamente aproveitado, poderia ter dado numa das melhores equipas do mundo, desde Jo Ramirez a Peter Warr, de Ricardo Divila a Adrian Newey, passando por Harvey Postlethwaithe, e tiveram dois campeões do mundo como pilotos: Emerson Fittipaldi e Keke Rosberg.
Faltou-lhes a vitória, é certo. Mas faltou-lhes a paciência dos brasileiros e a visão de procurar outros patrocinadores para além do Brasil. Essa excessiva dependência foi, de uma certa maneira, o seu fim, pois se forem ver a situação de outras equipas de então, como a McLaren e a Williams, vemos que a diferença entre a vitória e a derrota teve a ver com os patrocinadores que conseguiram obter. Frank Williams tinha o petróleo saudita, a Marlboro, patrocinadora da McLaren, forçou Teddy Mayer a aliar-se com um jovem da Project Four, de seu nome Ron Dennis.
Trinta anos após o seu fim, as pessoas agora começam a olhar com outros olhos sobre a saga de Emerson e Wilson. Não com vergonha, mas com orgulho. Uma nova geração de autoentusiastas olham para os chassis desenhados por Ricardo Divila com fascinio e desejam restaurá-los e devolvê-los à sua antiga glória, projetos como o F5A continuam a correr mas em corridas de clássicos, as pessoas começam a olhar mais e mais para os artigos sobre a saga e querem saber mais. Eu sinto isso, confesso. E sinto que os brasileiros querem saber mais sobre esta fase da história. No meu campo, estou a fazer a minha parte, e desejo fazer ainda mais.