A história deste piloto lembra-nos que nesses tempos, um piloto que tivesse alguma experiência no automobilismo e que tivesse uma carteira relativamente boa, poderia arriscar a sua sorte na categoria máxima do automobilismo. E foi precisamente por causa desse tipo de exemplos que a FIA decidiu instituir no inicio dos anos 80 a Super-Licença, para dificultar ao máximo a chegada destas "chicanes móveis". Otto Stuppacher passou à história como sendo uma dessas chicanes móveis, como exemplo de persistência perante a adversidade. Dez anos após a sua morte, em Viena, e trinta e cinco anos depois da sua passagem meóricamente cómica, falamos sobre este piloto austriaco.
Nascido a 3 de março de 1947 em Viena, a sua carreira começou nas subidas de montanha no seu pais, mas a sua presença só é notada a partir de 1969, quando participa no Mundial de Endurance a bordo de um Porsche 906, ao lado de Kurt Riedler, nos 1000 km de Monza, numa prova onde termina na 12ª posição. Pouco depois, na inauguração do circuito de Zeltweg, participa na corrida inaugural, onde termina num respeitável terceiro lugar, atrás de Andrea de Adamich e Jo Bonnier.
No ano seguinte, volta a Zeltweg para participar nos 1000 km, com um Porsche 910, ao lado de um jovem de 21 anos que quer ser bem sucedido neste mundo. O seu nome era Niki Lauda, e a corrida não lhes correu muito bem, pois partindo de 17º na grelha, acabaram na 21ª posição, numa prova ganha por Jo Siffert, no habitual Porsche 917.
Em 1971, dedica-se às corridas de montanha, onde se sagra campeão nacional, e também em algumas provas da Interseries, a bordo de um Porsche 908A, comprado a... Niki Lauda. Correndo ao lado de Kurt Riedler, conseguiram qualificações modestas, mas não chegavam ao fim devido a problemas de motor. Em 1972, para além de participar em algumas provas do Europeu de Montanha, consegue um nono lugar nos 1000 km de Silverstone, e em Monza corre ao lado de Helmut Marko, mas ambos não chegam ao final. Pouco depois, ele e o seu Porsche 908 tenta a sua sorte nas 24 Horas de Le Mans ao lado do seu compatriota Walter Roser. Qualificado na 21ª posição, bateu ao fim de apenas duas horas de prova.
No final de 1972, apenas com 25 anos, decide abandonar a competição, mas faz um regresso em 1975, para participar nos 1000 km de Osterreichring, ao lado de Roger Heavens e Hervé de Guillec, num Lola T294 Ford, mas não terminaram a prova.
Em 1976, o Automóvel Clube Austríaco decide adquirir um dos Tyrrell 007 que a equipa tinha usado no inicio do ano, antes de se virar para os P34 de seis rodas. Tinha visto a experiência que a Scuderia Rondini estava a ter com outro desses chassis, às mãos de Alessandro Pesenti-Rossi, onde ele era capaz de levar o carro a bom porto, e assim, pensou que seria uma boa operação. Pagou vinte mil libras, arranjou uns conjuntos de pneus Goodyear e contratou Stupacher, mas também arranjou um March 761 para outro austriaco, Karl Oppitzhauser.
Ambos se apresentaram ao GP da Austria desse ano, no veloz circuito de Zeltweg na pior altua possivel, pois Niki Lauda tinha tido o acidente que quase lhe tinha tirado a sua vida, e o público era bastante menos do que esperavam. E para piorar as coisas, ao verem os seus modestos currículos e quase nenhuma experiência em monolugares, a organização decidiu exclui-los por causa disso. Stuppacher não desistiu e andou pelo Paddock a pedir aos outros pilotos para que assinasse uma petição para que os acolhesse na corrida, mas nada feito. Oppitzhauser desistiu logo - nunca mais tentou semelhante aventura - mas Stuppacher voltou à carga. Só que as coisas não iriam ser fáceis, bem pelo contrário.
Assim sendo, decidiu correr nas três provas seguintes, duas delas em solo americano. Em Monza, Stuppacher foi o mais lento dos 29 carros inscritos, conseguindo um tempo... treze segundos mais lento do que o poleman, Jacques Laffite. Pensava-se que ficaria por ali, mas sorte das sortes, a organização retira os tempos de James Hunt, Jochen Mass e John Watson, devido a irregularidades com a gasolina utilizada. Como no dia anterior tinha sido à chuva, e os tempos eram mais baixos, em teoria, estes pilotos estariam não-qualificados, enquanto que Arturo Merzário, no seu Wolf-Williams, e Stuppacher entrariam na grelha!
Contudo, quando tal decisão lhes foi comunicada... Stuppacher já estava a caminho de casa e não estava presente. Merzário também decidiu não correr, no seu Wolf-Williams, e no paddock corriam rumores de que ambos os pilotos tinham sido persuadidos a sair de cena graças a dinheiro da Penske, que queria colocar Watson na grelha a todo o custo. Na realidade, nada disso tinha acontecido, apenas fora um erro de amador.
Posto isto, Stupacher voou para os Estados Unidos para correr as corridas canadiana e americana. Em Mosport, marcou o pior tempo, a doze (!) segundos da pole-position tirada por James Hunt. Mais tarde, soube-se que ele passava demasiado tempo a olhar para os espelhos, tentando não ter nenhum piloto atrás de si, e que pudesse incomodar as suas voltas de qualificação. Sendo assim, a não-qualificação foi natural.
Algum tempo depois, quando soube disso, Niki Lauda, seu ex-companheiro nos tempos da Interseries, afirmou: "É pena. Stuppacher poderia segurar Hunt a meu favor! Teria uma nação inteira a agradecer por tal esforço." Pouco depois, em Watkins Glen, o mesmo destino aconteceria ao piloto austriaco, e os seus esforços ficariam por ali, nem tentando a sua sorte na última prova do ano, no circuito japonês de Mont Fuji.
Nada se sabe da sua carreira desportiva a partir desse ano, nem sequer da sua vida após a sua aventura na categoria máxima do automobilismo. O que se sabe é que a 13 de agosto de 2001, o seu corpo foi encontrado no seu apartamento de Viena. Tinha 54 anos.
Fontes: