Este ano ando a assistir com natural atenção o primeiro ano de Armindo Araujo com uma máquina do WRC. A sua escolha, um Mini JCW (John Cooper Works), baseado no modelo Countryman e a ser preparado pela Prodrive, de David Richards, é arriscada porque não dará resultados a curto prazo, como daria um Citroen DS3 ou um Ford Fiesta. E é o que está a acontecer, e ele próprio está a dizer para que não lhe exigam resultados, porque este é o primeiro ano de um projeto com três temporadas de duração.
Só que mal começou a andar, as pessoas começaram a criticar o seu desempenho. É obvio que noventa por dento dessas criticas são ruído vindo dos "campeões da Playstation", mas o problema é que no tempo em que vivemos, com as redes sociais e os fóruns de automobilismo, a "boca foleira" tem o mesmo impacto do que as declarações do piloto, deixando para nós mesmos a capacidade de separar o "trigo do joio". Mas nem toda a gente tem essa inteligência e isso pode ser prejudicial para a sua reputação. E ainda por cima, há um certo jornalismo que não consegue fazer essa separação e em última análise, prejudica a reputação do piloto no público em geral, e em última análise, os patrocinadores. E é aí que mora o perigo.
Na semana passada, surgiram rumores de que Rubens Barrichello estaria insatisfeito com o rumo da Williams e poderia estar de saída. Os rumores foram rapidamente desmentidos, mas quando surgiu no ar essa possibilidade de retirada, muita gente começou a dizer que "Rubinho" já deveria ter tomado tal decisão e já o rotulava de "fracassado". O Brasil é uma nação absolutamente cruel com os vencidos - a frase "o segundo é o primeiro dos últimos" foi cunhada por um brasileiro - mas estes exemplos demonstram que a cultura do "agora" não é deste ou daquele país. É mundial, é a do ser humano. Treinar a nossa mente para o contrário, valorizar o trabalho em vez do resultado, é uma tarefa hercúlea que nem toda a gente quer abraçar.
Essa nossa memória coletiva é comparável a de um peixe, esquece-se após 24 horas de duração. Há certas ocasiões que me faz lembrar o "Groundhog Day", o filme com Bill Murray e a Allie McDowell em que o protagonista vive uma maldição que o faz viver o mesmo dia até à exaustão. As pessoas temdem a esquecer que por detrás de alguém ou alguma coisa, que normalmente dá a cara (piloto, diretor) há um projeto de dezenas ou centenas de pessoas, que não aparecem nas noticias, mas perdem dias e noites a fazer com que a máquina melhore a cada dia que passa, e é isso que faz evoluir as máquinas.
Hoje em dia, todos louvam o caso Copersucar-Fittipaldi, o Formula 1 brasileiro, mas em 1976, ninguém compreendeu o gesto de Emerson e Wilson de fazerem a sua própria equipa. Porquê? Só o queriam ver no lugar mais alto do pódio. Fora dele, tratavam-no e à equipa como se fosse lixo. E o projeto prejudicou-se, entrando em decadência e consequênte falência, no final de 1982. O velho preconceito do vira-lata levou a melhor e só depois de morto é que se louva o projeto. O ideal deveria ser o contrário, mas não foi.
Em suma, não há paciência. O ser humano só tolera um lugar: o primeiro. "Win or Wall", o segundo é o primeiro dos últimos. E não devia ser assim. Tende-se a esquecer que estar "lá" já é uma vitória. É um bocado como o respirar, esquecemos que a vida é um milagre. Gostaria que as pessoas não exigissem "só" o primeiro lugar. O segundo lugar já é digno de registo, há pessoas que fazem festa só por lá estarem. Lembro-me dos Minardi que comemoravam os sextos lugares como se de uma vitória tratasse, e para mim, valorizo tanto esses gestos como os campeonatos do mundo.
Portanto, da próxima vez que as pessoas critiquem os Barrichellos, Massas e Araujos de ocasião, chamando-os de perdedores e tartarugas, pensem o esforço que essa gente fez para chegar lá e o reconhecimento que eles já têm "só" por estarem lá. Porque a História é muito mais do que vencedores e campeões.
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