A cidade balnear de Sochi gosta de se gabar que tem as quatro estações do ano num só lugar. Pode se banhar nas águas no Mar Negro quase todo o ano, mas nas montanhas do Caúcaso, pode-se esquiar com os rigores do inverno. Foi por isso que o regime de
Vladimir Putin pegou no lugar e construiu ali os jogos mais caros da sua história, em 2014. A coisa foi tão cara, tão infamemente cara, e os seus métodos foram tão descarados que o país está a se transformar num pária internacional e dentro do seu país, os críticos do regime acabam por tomar chá radioativo...
O fim de semana de Sochi começou com a noticia de que a Formula 1 iria ter um novo diretor. Chase Carey saia de cena para dar lugar a Stefano Domenicalli, um antigo homem da Ferrari e agora estava a mandar na Lamborghini. Sai "Bigotum Maximus" e entra "il Capo de tutti cappi", mas de uma certa maneira, não se crê que haja mudanças radicais na condução dos destinos da competição, especialmente numa altura em que irá começar a ficar dependente do dinheiro saudita.
E também Sochi vai entrar na história por ser a primeira corrida com número significativo de espectadores. já tinha havido gente em Mugello, mas três mil não é muita coisa. Agora, ali,será muito mais. Sol azul, muita gente, calor, final do verão, o que se poderá pedir mais? Um fim de semana emocionante, mas a pista não ajuda.
Com isso tudo em mente, a qualificação começava com Bottas a marcar tempo: 1.32,556, enquanto Hamilton começava a ter algumas dificuldades em responder. Um tempo fraco, 1,6 segundos mais lento que o previsto, e mais tarde anulado porque tinha excedido dos limites de pista na Curva 2, parecia fazer soar os sinais de alarme. Lá fez um tempo de 1.32,983, suficiente para passar à Q2, mas atrás do finlandês, o que parecia não ser lá muito bom. Atrás, não eram os Red Bull a marcar passo, mas sim a Racing Point, especialmente Setgio Perez, que era quarto. Max Verstappen era sexto, atrás de Carlos Sainz Jr. E aqui havia competividade, porque o 13º colocado, George Russell, era menos de um segundo mais lento que Perez.
Na parte final, Esteban Ocon conseguiu uma boa volta e passou para cima, com o terceiro melhor tempo, ao mesmo tempo que Kimi Raikkonen era o último e não passava, fazendo companhia ao seu companheiro de equipa, António Giovinazzi, Nicholas Latiffi, da Williams, e os carros de Kevin Magnussen e Romain Grosjean. Sebastian Vettel esteve muito perto de lhes fazer companhia, mas se esforçou para evitar tal humilhação.
Para a Q2, quase toda a gente tinha calçado os pneus médios para fazer as suas voltas de qualificação, e apesar de haver avisos de pingos de chuva, ninguém mudou de pneus e Lewis Hamilton marcou um tempo suficiente para bater Bottas: 1.32,085. Mas... ele exagerou na última curva e o tempo foi apagado. Mais sarilhos para o campeão. Com o finlandês a fazer um tempo suficiente, mas não fabuloso, quem comandava as coisas era... Daniel Ricciardo, no seu Renault, seguido por Sainz e Perez. Bottas melhorou, mas insuficiente para bater Ricciardo. E Hamilton?
Ele ia a caminho de fazer uma boa volta quando Sebastian Vettel perdeu o controlo do seu carro na Curva 4, batendo no muro. Leclerc quase foi apanhado de surpresa, mas safou-se. Bandeira vermelha colocada, sessão parada para recolher os pedaços. Quando voltou, Hamilton decidiu mudar de estratégia, colocou macios, porque o que queria era marcar uma volta que o colocasse nos dez primeiros. Ainda teve problemas na curva 2, mas depois marcou o tempo que queria, 617 centésimos mais lento que o piloto da Renault. Assim, não fez companhia a Charles Leclers, Sebastiam Vettel, Daniil Kvyat, George Russell e Lance Stroll.
Para a Q3, todos foram para a pista com pneus macios, E apesar da emoção, todos já sabiam que a primeira fila teria dono. Mas o primeiro a marcar foi Daniel Ricciardo, que fez 1.32,364, antes de ser superado por Bottas e Hamilton, que marcou, sem falhas e saídas onde não devia... 1.31,391, praticamente um segundo mais veloz. No final, Bottas tentou a sua sorte, mas não conseguiu, e ainda viu Max Verstappen fazer um tempo que o colocou na segunda posição e dividiu os Flechas Negras, enquanto Hamilton ainda tirou mais, fazendo 1.31,304, novo recorde da pista. Perez fez 1.32,317, quarto na grelha e na frente de Ricciardo, que alternava na posição com Carlos Sainz Jr, no seu McLaren. Ocon, Norris, Gasly e Albon fechavam o "top ten".
No final, apesar das emoções e dificuldades de Hamilton, acaba por ser como a Alemanha no futebol: são 22 carros e o fim de semana é da Mercedes. Claro, hoje é apenas a primeira parte, amanhã é a segunda, e espera-se uma corrida sem história, com um vencedor esperado. Mas em Monza, duas corridas antes, apareceu uma placa a dizer que Hamilton iria vencer ali no dia seguinte a sua 90ª corrida no campeonato, e não foi isso que aconteceu...