A apresentação do novo Jaguar I-Type 7, o carro onde competirá na temporada de 2025-26 da Formula E, foi a ideal para que
António Félix da Costa falasse um pouco sobre a sua nova aventura, a razão pela sua escolha, as relações com o seu novo companheiro de equipa, comparado com o que tinha na Porsche, e até falou um pouco sobre a Alpine, na Endurance, e a atual situação da Formula 1.
Falando para a Autosport portuguesa, o piloto de Cascais começou evidenciar o seu entusiasmo e otimismo nesta nova aventura, considerando que a Jaguar é o “melhor lugar para lutar novamente por um título mundial”.
“Acho que estou no sítio certo, senão não teria tomado esta decisão. A Jaguar tem sido a minha maior concorrente nos últimos anos e poder juntar-me a eles, ainda por cima de forma natural e tão boa, é algo que faz cada vez mais sentido. Ter um colega de equipa que gosto muito, com uma boa relação e com muito respeito é fantástico. O dia a dia tem sido ótimo. Tivemos dois dias a testar e só tenho as primeiras sensações, mas para já, tudo corre muito bem. Acho que é o melhor sítio onde eu podia estar para tentar novamente ganhar um campeonato do mundo na Fórmula E”, continuou.
“Tive bastante tempo para pensar bem antes de tomar a decisão, e foi um conjunto de fatores que me levou a escolher a Jaguar. Quando assinei, a equipa não atravessava o seu melhor momento na Fórmula E, mas isso não teve qualquer influência negativa na minha escolha. O que me convenceu foi o conjunto — o colega de equipa, a gestão, o espírito e a mentalidade da estrutura."
"A verdade é que, nos últimos seis anos, a Jaguar esteve sempre na luta pelos títulos e, quando uma equipa assim tem um ano menos bom, sabemos que é algo temporário. Para ser uma equipa vencedora na Fórmula E, é preciso ter uma mentalidade de trabalho muito forte — e eu vi isso aqui. Além disso, com a chegada da nova geração Gen4, acredito que a Jaguar vai ser uma das equipas mais importantes e competitivas. Tudo isso deu-me confiança de que este era o lugar certo para mim”.
Referindo sobre a relação com o seu companheiro de equipa, Mitch Evans, ele acredita que será positiva, baseada em respeito e competitividade saudável, e que não afetará a sua relação pessoal fora das pistas.
“Tivemos uma conversa antes de eu assinar. Disse-lhe: ‘Estás pronto para isto?’ e ele respondeu que sim. Queremos ambos ganhar, mas com respeito. Não vejo qualquer problema, pelo contrário — facilita o trabalho.”
E quanto à nova temporada:
“Vai ser ainda mais difícil. Todas as equipas estão muito fortes, e estamos no quarto ano desta geração técnica. Por isso, cada detalhe conta — desde o trabalho de casa até à execução em pista. Estou motivado e confiante de que podemos lutar desde São Paulo.”, concluiu.
Falando um pouco sobre o que se passou na última temporada, ele referiu que as coisas não correram tão bem como queria por causa das tensões dentro da equipa, especialmente com Pascal Wehrlein.
“Eu sou uma pessoa fácil de se trabalhar e às vezes, neste mundo, confunde-se simpatia com fraqueza.” começou por dizer AFC. “Acho que foi isso que aconteceu comigo na Porsche. A verdade é que a minha entrada na Porsche ficou aquém das expetativas. O meu colega de equipa estava a ganhar corridas e depois, com a minha simpatia, fui eu que me disponibilizei para ajudar o Pascoal a ser campeão no primeiro ano, o que não conseguimos. Acho que essa simpatia e disponibilidade foram vistas como fraqueza."
“Quando me empregaram, contrataram um piloto que já tinha sido campeão. Esperavam um certo nível de performance que não conseguimos atingir logo. E, ao mesmo tempo, o meu colega de equipa estava muito forte. Acho que, inconscientemente, criou-se dentro da equipa uma ideia de que eu era o número dois. E quando finalmente consegui dar a volta às coisas, nunca me consegui desvincular dessa posição.”
Daí que, sobre o tipo de relação que pretende ter na Jaguar, ele foi aberto no assunto:
"Foi uma conversa que tive com a Jaguar, porque uma pessoa não muda como é na sua essência. Eu não quero chegar aqui e ser uma má pessoa, não quero fazer coisas de forma que já não vou dormir bem à noite. Por isso, tive uma conversa muito aberta”.
“Pedi-lhes que quero muito chegar a um ponto em que estou confortável para ajudar. Se eu estiver ali nos três, quatro primeiros numa corrida, com o Mitch [Evans, colega de equipa] ali por perto e eu sentir que não tenho ou andamento, ou energia para ganhar uma corrida, quero estar confortável ao ponto de abrir a porta ao meu colega para ele ter um bom resultado, sem correr o risco de essa postura ser mal interpretada. Quero ter a confiança que quando os papeis se inverterem vai acontecer o mesmo da outra parte. Mas por favor, não confundam a minha simpatia com fraqueza, pois correu mal nos últimos três anos”.
“Da parte da Jaguar senti que entenderam a minha posição. Aqui é outra onda. É tudo diferente, para melhor. Claro que, tecnicamente, a Porsche era uma equipa fortíssima, fazia muitas coisas bem e sabemos que temos que melhorar algumas coisas para continuar a elevar o nosso nível como equipa. Há coisas em que a Porsche é melhor, outras em que a Jaguar é melhor. Por isso, espero que a minha entrada não seja só valiosa por aquilo que faço em pista, mas também pela experiência que possa trazer. Mas tenho vivido um ambiente de trabalho muito mais agradável para mim."
"Eu não quero tratamento especial, nada disso. Vamos ter dias maus, isso é garantido, toda a gente os tem na Fórmula E. Mas tenho a certeza que a abordagem aos dias maus vai ser feita de uma forma muito mais humana e não tão robótica. Por isso não estou preocupado e sei que vai tudo correr melhor”.
Questionado sobre o atual campeonato da Formula 1, ele referiu que, como espectador, está a gostar da imprevisibilidade do campeonato e refere que Verstappen tem do seu lado a experiência dos anos anteriores e mentalidade vencedora, até... assassina:
“Para começar, o Max tem uma mentalidade muito mais ‘assassina’ do que os outros. Mas, além disso, tem estado nos últimos quatro ou cinco anos a lutar por campeonatos. Os outros ainda estão a sair de uma fase que não foi muito boa, durante dez anos ou mais, para a McLaren, e por isso ele tem um bocadinho de vantagem nesse capítulo. Mas de resto… acho que ainda há uns 40 ou 50 pontos de diferença, por isso não sei. Vamos ver, cá estaremos para assistir.”