quarta-feira, 22 de outubro de 2025

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Há precisamente 30 anos, na madrugada do dia 22 de outubro de 1995, Michael Schumacher alcançava o seu segundo título mundial, no lento circuito de Aida (ou Okayama), numa demonstração de condução que, de uma certa forma, serviu para demonstrar as suas habilidades ao volante do seu Benetton.

É claro que Schumacher não ganhou ali o campeonato. Este foi ganho ao longo do ano, com uma Benetton que trabalhou para si, enquanto na Williams, os atritos entre Damon Hill e David Coulthard, os erros cometidos por ambos, os incidentes entre Hill e Schumacher, especialmente nas corridas de Silverstone e Monza - curiosamente, ambos ganhos por Johnny Herbert - e tudo isso levou ao ponto de, a três corridas do final, ter aparecido o primeiro "match point" daquela temporada, em terras japonesas.

Para piorar as coisas, no Reino Unido, havia dúvidas se Hill tinha estofo de campeão. Com Coulthard a demonstrar velocidade, mas inconsistência, na sua primeira temporada a tempo inteiro, e situações onde o britânico foi incapaz de ser mais assertivo sobre Schumacher - o melhor exemplo foi na Bélgica, onde numa superfície húmida, o alemão, com pneus slicks, conseguiu segurar Hill, que tinha pneus de chuva, para acabar a ganhar essa corrida - havia gente que não acreditava nele. Quem tinha uma opinião sobre isso era Martin Brundle, que não iria correr nessa corrida, pois o seu lugar era partilhado com Aguri Suzuki na Ligier Mugen-Honda, e escreveu, numa coluna do The Times:

"O Damon precisa de fazer duas coisas. Primeiro, precisa de se consolidar como número um da Williams no próximo ano para que a equipa lhe possa dar total apoio. Segundo, precisa de se restabelecer como piloto. Talvez precise de perder uma roda dianteira uma ou duas vezes para se restabelecer."

Esta corrida deveria ter acontecido no inicio da temporada, mas a 17 de janeiro daquele ano, na zona de Kobe, um forte terramoto devastou a cidade e matou mais de sete mil pessoas. Okayama, o lugar onde se situa a pista de Ti-Aida, foi afetada porque a principal estrada de acesso ao circuito tinha sido destruída (a pista situava-se num lugar remoto, e só tinha bancadas para... 15 mil espectadores) e iria demorar algum tempo até ser reconstruída. Com isso em mente, a corrida foi adiada até outubro, para ligar com o fim de semana em Suzuka, a primeira vez que isso acontecia.

Mas não era só na Ligier que havia mudanças: na McLaren, Mika Hakkinen fica doente, com uma apendicite, e é substituído pelo seu piloto de testes, o dinamarquês Jan Magnussen, então com 21 anos. E na Pacific, Bertrand Gachot, um dos acionistas da equipa, fazia o seu regresso, depois do desastre Jean-Denis Deletraz

Com os Williams na frente na grelha, a pressão era grande: mostrar a Schumacher que tinham carro melhor que ele, e - pelo menos - adiar a discussão do título para Suzuka. Mas o alemão, que partia de terceiro na grelha, tinha o seu truque na manga. Na partida, Damon Hill conseguiu segurar Schumacher, mas depois, ambos foram passados pelo Ferrari de Jean Alesi, que era segundo no final da primeira volta, com David Coulthard a comandar a corrida. Schumacher era quinto, tinha sido passado pelo segundo Ferrari de Gerhard Berger.

As paragens previstas eram três, com os primeiros a pararem na volta 18. Contudo, Schumacher e a equipa Benetton foram mais rápidos no reabastecimento, e ele saiu na frente de Hill e Alesi, ficando com o segundo posto, atrás de Coulthard. E para piorar as coisas, o reabastecimento de Hill foi um desastre, por causa da mangueira ter demorado para tirar do seu lugar. Quando Berger e Herbert pararam, ele consolidou o seu segundo posto, e começou a aumentar o ritmo para ver se saía melhor que o escocês, quando fosse a sua vez de reabastecer. É que, ao contrário dos outros, ele iria só parar por duas vezes. Logo, na volta 24, foi o seu primeiro reabastecimento, suficiente para manter a liderança. 

Mas por causa disso, Schumacher começou a ser mais rápido que Coulthard por causa do depósito mais leve, logo, voltas mais rápidas. O alemão parou na volta 38, e saiu ainda em segundo, vinte segundos atrás de Coulthard. O alemão começou a acelerar, fazendo volta mais rápida atrás de volta mais rápida, diminuindo a distância entre ambos, ao ponto de, na volta 49, quando o escocês fez o seu segundo e último reabastecimento, ele voltou à pista com 15 segundos de atraso para o alemão da Benetton.

De uma certa maneira, a estratégia tinha dado resultado. Quando parou pela terceira e última vez, a diferença entre ambos era de 21 segundos, e no regresso à pista para as voltas finais, lo alemão manteve a liderança com uma diferença mais pequena, que abriu para os 15 segundos, por alturas em que cruzou a linha de chegada para receber a bandeira de xadrez. 

No pódio, Schumacher celebrou o seu bicampeonato, sabendo que esses tempos iriam ter um prazo de validade. Afinal de contas, ele já tinha os pensamentos para um desafio ainda maior. Quanto a Damon Hill, todos estavam a colocar dúvidas sobre se tinha estofo de campeão. O único que iria mexer na engrenagem era Frank Williams, e ele decidiu dar mais um voto de confiança. 

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