sábado, 25 de outubro de 2025

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Há 55 anos, a Formula 1 chegava ao final de um campeonato atribulado onde o campeão do mundo... estava morto. Mas a corrida final ainda teria mais alguns elementos de drama para acrescentar a um campeonato já de si polémico e dramático. E foi na figura de... excesso de espectadores. Já pensaram sentar-se na berma da pista e assistir à corrida? Foi o que aconteceu com o GP do México de 1970. 

Com o título de pilotos atribuído a Jochen Rindt - morto há sete semanas, em Monza - e o título de Construtores nas mãos da Ferrari, cumpria-se o calendário no Circuito Magdalena Mixuca, nos arredores da Cidade do México, num ano em que tinham recebido o Mundial de Futebol (ou Copa do Mundo, se está a ler isto no Brasil). Contudo, o fim de semana final da temporada, que teve a sua quota-parte de acidentes mortais e de despedidas do automobilismo -  por exemplo, Jack Brabham iria pendurar o capacete, aos 44 anos, na equipa que ele mesmo fundou - iria ser marcada pelo... excesso de espectadores. Mais concretamente, 200 mil.

Os espectadores começaram a aparecer cedo naquele dia, e perto da hora do arranque, as duas da tarde, as pessoas sentavam-se nas bermas da estrada, esperando pelos carros. Vendo que aquilo começava a ser demasiado perigoso, e cancelar a corrida seria contraproducente, pilotos como Jackie Stewart e Pedro Rodriguez começaram a ir pista fora para controlar os espectadores, para que sentassem num lugar mais abrigado para eles. Com isso, a partida foi atrasada em duas horas. Mas mesmo assim, os espectadores estavam agitados. E até cães e gatos, quase todos vagabundos de rua, andavam por ali, aumentando ainda mais o perigo. 

Na grelha, Clay Regazzoni foi o melhor, batendo por muito pouco o Tyrrell de Jackie Stewart. Jacky Ickx foi o terceiro, na frente de Jack Brabham, que ainda mostrava ser rápido, apesar da idade e da vontade dele de ir viver para a Austrália. Em contraste, a Lotus estava mesmo no fundo da grelha: Emerson Fittipaldi era 18º e último, a 6,27 segundos da pole. E não iria longe: desistira na primeira volta, quando o seu motor explodiu.

Na partida, Regazzoni manteve o primeiro lugar, antes de ser passado por Ickx, que ficou com o comando até ao final. Atrás dele, houve complicações: Stewart teve problemas com a coluna de direção, que o atrasou na tabela, mas o pior foi na volta 33, quando um cão atravessou na sua frente e ele atropelou-o. A suspensão ficou danificada e ele teve de abandonar. 

Com isso, Ickx liderava sobre Regazzoni e Brabham, mas na volta 53, o motor do carro do australiano rebentou e a sua 126ª e última corrida da sua carreira terminou mais cedo. O McLaren de Dennis Hulme herdou o lugar e não mais saiu até à bandeira de xadrez, na frente de Chris Amon, no seu March, Jean-Pierre Beltoise, no seu Matra, e Pedro Rodriguez, no seu BRM.

Os Ferrari cumpriram a sua missão, mas as coisas já tinham sido decididas antes, bem antes. Quanto aos espectadores mexicanos, cumpriram da melhor maneira que puderam as indicações, mas a Formula 1 só regressou em 1986, numa pista com algumas alterações. Para manter os espectadores afastados do perigo. 

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