Há precisamente quinze anos, começava em Melbourne uma das temporadas mais equilibradas dos tempos recentes na Formula 1. Apesar desse equilíbrio ter acontecido depois de uma das temporadas mais dominadoras da categoria, o resultado acabou por ser o mesmo:
Michael Schumacher conquistou ali o seu sexto mundial de pilotos, tornando-se no mais vencedor dos campeões. E no ano seguinte, em nova dominação, elevaria o seu total pessoal para sete campeonatos.
Contudo, esta foi uma temporada equilibrada, com corridas caóticas, e oito vencedores diferentes. E também foi a temporada em que vimos surgir dois dos pilotos que iriam brilhar na década a seguir: o finlandês Kimi Raikkonen e o espanhol Fernando Alonso, bem como a consagração de outros pilotos como Juan Pablo Montoya.
Hoje é uma introdução a esse campeonato marcante, que faz agora 15 anos sobre o seu começo.
Em 2002, a Ferrari dominou completamente o campeonato: vencedor em 15 das 17 corridas da temporada, resolveu cedo a luta entre eles, especialmente depois do episódio do GP da Áustria, onde Rubens Barrichello abdicou da vitória para Michael Schumacher nos últimos metros, perante os olhares do mundo. Schumacher conseguiu 144 pontos, contra os 77 do seu companheiro de equipa, e ficou a 94 pontos do terceiro classificado, o escocês David Couthard.
E no campeonato de Construtores, não se falava: a Ferrari tinha obtido 221 pontos, contra os... 92 da McLaren!
Assim sendo, a FIA, então chefiada por Max Mosley, decidiu mexer em algumas regras para evitar novo domínio da Ferrari. A qualificação iria ser agora feita numa única volta para dar maior espectacularidade, e o sistema de pontuação seria modificado, pela primeira vez desde 1960, com uma ligeira alteração em 1990, acrescentando um ponto ao vencedor. Dos seis primeiros, agora seriam oito os que acabariam por pontuar, com o vencedor a conseguir dez pontos, e o segundo levava oito para casa, o terceiro seis, o quarto cinco, o quinto quarto, o sexto três, o sétimo dois e o oitavo um.
Para além disso, as sextas-feiras seriam usadas para dar maior quilometragem a carros e pilotos, sendo totalmente dedicados a treinos livres e preparar o carro para a sessão de qualificação no sábado. Mexer nos pontos significaria que o título seria decidido mais tarde na temporada, quase na última corrida do ano, pois a diferença entre o primeiro e o segundo seria apenas de dois pontos.
Para além disso, haveria uma medida de segurança importante para os pilotos: depois de um teste no ano anterior, a FIA aprovou o sistema HANS (Head and Neck Support), um sistema que segurava no seu lugar a cabeça e pescoço do piloto, especialmente em termos de impactos contra a parede e impedissem, entre outros, mortes devido a fraturas na base do crânio. A medida, porém, contou com algumas queixas de pilotos como Rubens Barrichello e Jacques Villeneuve, que se queixavam de, entre outros, tonturas na cabeça. Mas de resto, os pilotos adaptaram-se rapidamente ao novo dispositivo.
Sem a Arrows, que abandonou a Formula 1 a meio do ano, depois de 26 temporadas ao mais alto nível, iriam existir dez equipas a lutar pelo campeonato. Se na Ferrari, Williams e McLaren, tudo ficava na mesma - Schumacher e Barrichello na Scuderia, Raikkonen e Coulthard pelas máquinas de Woking e Montoya e Ralf Schumacher pela equipa de Grove, havia alterações no resto do pelotão.
Começa-se pela Toyota, que trocou a dupla do ano anterior, constituida por Mika Salo e Alan McNish, por uma nova, constituída pelo francês Olivier Panis, que vinha da BAR-Honda, e pelo brasileiro Christian da Matta, que tinha vindo da IndyCar, depois de ter sido vencedor no ano anterior em terras americanas. E esperava-se que o TF103 fosse uma melhor máquina do que a do ano anterior.
Na Renault, Jenson Button saía de cena para dar lugar a um jovem espanhol, então com 21 anos, e que tinha andado em 2001 pela Minardi: Fernando Alonso. Tinha ficado de fora em 2002, como piloto de testes, e Flávio Briatore esperava que ele fosse aquilo que andava a prometer nas categorias inferiores. E Jarno Trulli iria ser o seu companheiro de equipa.
A Jaguar iria ter uma dupla totalmente nova, constituída pelo australiano Mark Webber, que vinha da Minardi, e pelo brasileiro Antônio Pizzonia. Na BAR, Jacques Villeneuve iria ter a companhia de Takuma Sato, que tinha estado na Jordan na temporada anterior. Já na Sauber, Felipe Massa saia para ser piloto de testes da Ferrari, enquanto que para o seu lugar ia o veterano alemão Heinz-Harald Frentzen, que tinha ficado sem lugar depois da falência da Arrows. E ele fazia companhia a Nick Heidfeld.
Na Jordan, que perdia os motores Honda e os trocava pelos Ford, Giancarlo Fisichella iria ter a companhia do irlandês Ralph Firman Jr, filho de um dos fundadores do construtor de chassis Van Diemen (o outro é o australiano Ross Ambrose, o pai do piloto Marcus Ambrose). Contudo, na equipa de Eddie Jordan, depois de terem perdido o apoio da Honda, era o sinal da decadência sda sua equipa, depois dos bons momentos que tinha vivido desde 1998.
Na Minardi, Jos Verstappen alinhava com o britânico Justin Wilson ao seu lado. E Wilson era provavelmente um dos pilotos mais altos do campeonato, pois tinha 1,93 metros. E claro... teria de arranjar um chassis só para ele.
No final, estava desenhado o cenário para aquela que viria a ser uma das temporadas mais interessantes da história da Formula 1. Mas nesta altura, aquilo que se esperava era que o domínio da Ferrari fosse um pouco mais atenuado...