Provavelmente, este deve ser um dos
Grandes Prémios mais conturbados da década de 90. Aqui assistiu-se de tudo: desde a pior carambola da história da Formula 1, até a uma histórica dobradinha da
Jordan, com
Damon Hill a superar
Ralf Schumacher. Pelo meio, um controverso acidente entre
Michael Schumacher e
David Coulthard, com o alemão a ir direitinho às boxes da McLaren com vontade de iniciar ali mesmo a
III Guerra Mundial…
A temporada de
1998 era um duelo a dois, entre Michael Schumacher e
Mika Hakkinen. O equilíbrio era a nota dominante: seis vitórias para o piloto finlandês, contra cinco do alemão. Ambos monopolizavam as vitórias, excepto David Coulthard, que tinha ganho em
San Marino. E na altura em que o Grande Circo chegava à Bélgica, para mais um Grande Prémio, Mika Hakkinen tinha 77 pontos, contra 70 do piloto de Kerpen. David Coulthard já era um distante terceiro, com 48 pontos. Quanto ao então campeão do mundo,
Jacques Villeneuve, só tinha 20 pontos, e o seu
Williams-Mecachrome não tinha força suficiente para aspirar a muito mais do que o meio do pelotão…
O tempo para aquele fim-de-semana era tipicamente das Ardenas: instável. No Sábado, a pista estava seca, o que proporcionou o duelo do costume entre Schumacher e Hakkinen pela pole-position, ganho pelo piloto finlandês. Logo a seu lado, ficou o seu companheiro de equipa, David Coulthard. Mas na segunda fila, a primeira surpresa: Damon Hill colocava a sua
Jordan - Mugen Honda na trerceira posição, superando as Ferraris de Michael Schumacher e
Eddie Irvine. Jacques Villeneuve era sexto,
Giancarlo Fisichella era sétimo e Ralf Schumacher ficava na oitava posição.
Entretanto, dois fortes acidentes nos treinos, de Villeneuve e do Arrows de Mika Salo, eram uma das notas dominantes desses treinos. Ambos se safaram incólumes, mas não se sabia que aquilo era apenas o começo de um fim-de-semana muito agitado…
O dia da corrida amanheceu com chuva, que ainda continuava na hora da corrida. Os organizadores decidiram iniciar a corrida na mesma, sem a presença do “safety-car” na pista, como tinha acontecido no ano anterior. Essa decisão teve consequências fatais… No momento da largada, Hakkinen liderava, seguido de Jacques Villeneuve, Michael Schumacher e Giancarlo Fisichella. Na descida para Eau Rouge, começa o desastre: David Coulthard toca em Eddie Irvine, e roda sozinho, com o pelotão logo atrás em aceleração completa,
nada podendo evitar a carambola que vinha a seguir: para além de Irvine, outros onze carros ficaram envolvidos: o Benetton de
Alexander Wurz, o Sauber de
Johnny Herbert, os Stewart de
Rubens Barrichello e
Jos Verstappen, os Tyrrell de
Ricardo Rosset e
Toranotsuke “Tora” Takagi, os Arrows de
Pedro Diniz e
Mika Salo e os Prost de
Olivier Panis e
Jarno Trulli.
Inevitavelmente, a partida foi interrompida. Os organizadores levaram uma hora para limpar os destroços, e dos envolvidos, quatro pilotos não puderam partir: Rubens Barrichello, Mika Salo, Ricardo Rosset e Olivier Panis. Se no caso de Barrichello, foi pelo facto de ter ficado combalido no acidente, nos outros três casos, o facto das suas equipas terem apenas um carro de reserva pesou na decisão.
E foi sem quatro carros que a corrida recomeçou. Na segunda partida, foi a vez de Damon Hill surpreender Hakkinen e Schumacher, ao passar pela liderança. Na curva de Eau Rouge, Hakkinen roda com o seu McLaren e
não evita a colisão com Johnny Herbert, desistindo ambos na hora. Entretanto, o “festival” Coulthard continua: uma colisão com Alex Wurz faz com que caísse para o fundo do pelotão, enquanto que o austríaco desistia. Para piorar as coisas, Eddie Irvine perdia o bico do carro e também ficava para trás. Acabaria por desistir na volta 25.
Entretanto, Hill e Schumacher disputavam a liderança, primeiro em "safety-car", depois em corrida até que na volta oito, o alemão ultrapassa o inglês da Jordan. Na primeira rodada de reabastecimentos, Jacques Villeneuve sobe à liderança. Mas é de pouca dura, pois despista-se e abandona. Na volta 25, Schumacher tinha 40 segundos de vantagem sobre Hill, quando tem David Coulthard à sua frente. Então, Jean Todt tinha visitado Ron Dennis para pedir que facilitassem a vida ao alemão. Se o recado foi ou não entregue, não se sabe, mas parece que sim, pois quando ambos os pilotos descem para Pouhon, o escocês reduz a velocidade para deixar passar Schumacher.
Isso seria bom em dia claro, mas em condições de chuva e visibilidade má, não era boa politica…
e o desastre aconteceu. A roda frente-direita do Ferrari foi arrancada, bem como a asa traseira do McLaren. No final, Schumacher consegue levar o seu carro para as boxes,
onde sai disparado para a da rival, e todos a tentarem acalmar o furibundo alemão, que acusou o escocês de “tentar matar-me”. Mais tarde, os comissários classificaram o incidente como “normal” e atribuíram culpas a ambos os pilotos: a Schumacher por não se ter desviado da trajectória de Coulthard, e o escocês, por ter travado tão bruscamente naquela zona, naquelas condições.
Entretanto, outro incidente agita a prova: na Paragem do Autocarro, a Banetton de Giancarlo Fisichella salta para cima da Minardi de Shiniji Nakano, pegando fogo no Benetton acidentado, e levando a nova intervenção do Safety-Car, numa altua em que Damon Hill tinha acabado de fazer o seu segundo reabastecimento.
No final daquela corrida, que mais parecia um pesadelo,
Eddie Jordan estava em delírio por ver os seus carros fazendo a dobradinha, comemorando a sua primeira vitória na história da sua equipa. Para fechar o pódio, o Sauber de
Jean Alesi, um dos sobreviventes da acidentada corrida belga. Seria o seu último pódio da carreira. Os restantes heróis que terminaram nos pontos foram o alemão
Heinz-Harald Frentzen, num Williams, o brasileiro
Pedro Diniz, num Arrows, e o Prost de
Jarno Trulli.