Há exactamente cem anos, um acontecimento abalou Portugal, a Europa e o Mundo: o assassinato do Rei
D. Carlos I e do seu filho, o herdeiro do trono, D.
Luis Filipe. O impacto desta morte foi tal que só se encontram paralelos em 1914, quando o
Arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do trono austro-hungaro, foi morto na cidade de Sarajevo, dando origem à
I Guerra Mundial, ou em 1963, quando
John F. Kennedy foi morto às mãos de um "sniper",
Lee Harvey Oswald. Quando se soube do atentado, o rei de Inglaterra,
Eduardo VII, terá afirmado: "
Dois mebros da Ordem da Jarreteira abatidos como cães no meio da rua..." Na tarde do dia
1 de Fevereiro de 1908, três dias após uma tentativa de golpe de estado de origrm republicana, a Familia Real voltava a Lisboa, vindo do seu palácio da Vila Viçosa, onde tinham estado em caçadas, para mostrar uma posição de força, num momento agitado para o país, que então governava em ditadura do primeiro-ministro João Franco.
Pelas cinco da tarde, depois de um atraso de uma hora devido a um descarrilamento, a Familia Real era recebida no Cais da Rocha, e deslocaram-se pela Praça do Comércio acima, rumo ao Palácio da Ajuda, onde a Familia Real morava. Nesse instante, dois homens, Manuel dos Reis Buiça, professor primário e atirador exímio, e Alfredo Costa, lojista e editor anti-monarquico, aproximaram-se da carruagem real e começaram a desatar aos tiros. Buiça foi certeiro: no primeiro tiro atingiu D. Carlos pelas costas, matando-o de imediato. O Principe Luis Filipe foi atingido no pulmão e na cara, mas conseguiu ainda atirar sobre um dos homicidas, ferindo-o mortamente. Mas ele já estava condenado e iria morrer pouco tempo depois. D. Manuel, o infante mais novo, com 18 anos, foi empossado como rei, sob o nome de D. Manuel II. Iria durar dois anos no trono e seria o último rei de Portugal.
D. Carlos I foi provavelmente um dos reis mais cultos e ecléticos que Portugal teve. Eea pintor, caçador e marinheiro. É considerado, inclusivé, como um dos pioneiros da oceanografia mundial, devido às suas campanhas maritimas no iate real D. Amélia.
Mas desde o seu inicio, em 1889, que o seu reinado fora marcado pela polémica: poucos meses depois de subir ao trono, aos 26 anos, surge a questão do Ultimato Inglês, onde a Grã-Bretanha exige aos portugueses a retirada das suas tropas do Chire, um pedaço de território africano que é hoje o actual Malawi, algo que o governo acedeu. O ultimato foi considerado uma afronta para o orgulho nacional e durante meses, houve manifestações de ódio a tudo que é inglês. Foi nesse período que Alfredo Keil compôs "A Portuguesa" actual hino de Portugal, que no seu verso original tinha escrito: "Contra os bretões, marchar, marchar!" Hoje, marchamos contra canhões...
Um ano mais tarde, a 31 de Janeiro de 1891 (fez ontem anos), houve a primeira tentativa de golpe republicano, no Porto, prontamente sufocada. O aviso tinha sido dado, e a partir dali as coisas não iam parar. Em 1900, Portugal era pobre, essencialmente agricola e quase 75 por cento da população era analfabeta. Quem estudava era uma elite, da alta burguesia. O sistema politico obedecia a algo que foi chamado de "rotativismo", onde dois partidos governavam: o Regenerador e o Progressista. Com um sistema politico gasto por dentro, a elite republicana fazia tudo para desgastar ainda mais esse sistema. Lisboa, a capital, tinha-se tornado republicana.
Para piorar as coisas, D. Carlos I, que tinha uma função de ser o "arbitro" da situação politica de então, tentou "entrar no jogo", graças a um homem: João Franco. Este homem, deputado e primeiro-ministro, tentou refundar o sistema por dentro e salvar a monarquia, antes que os republicanos a derrubassem. A ideia era a de um governo forte, sem necessidade de uma representação no Parlamento. E tinha o homem certo para isso:
João Franco.
No inicio de 1906, aplicou o seu plano: forçou o governo progressista de José Luciano de Castro a pedir a demissão. Num primeiro momento, a lógica rotativista manteve-se, com outro primeiro-ministro,
Hintze Ribeiro, a assumir a chefia do novo governo regenerador. Mas este não tardou a cair, sob a oposição concertada dos progressistas e dos ex-regeneradores agrupados no Centro Regenerador Liberal de João Franco. O pretexto imediato para a queda de ambos os gabinetes fora a recusa do rei em permitir que se governasse por decreto, adiando a abertura do Parlamento. Ora, D. Carlos, não só convida João Franco a formar governo, deixando de fora os dois grandes partidos monárquicos, como lhe concede justamente o que recusara aos seus antecessores. Os republicanos, mas também os que pouco antes tinham pedido o mesmo que Franco agora alcançara, clamaram indignadamente contra esta ditadura sustentada pelo rei.
As coisas começam a correr bem a João Franco, mas rapidamente precipitam-se, com a questão do "Aditamentos à Casa Real". Basicamente, era uma verba no Orçamento para as despesas da Familia Real. A polémica já tinha estalado antes, mas nessa altura tinha-se acalmado. Só que João Franco decide aumentar esa verba, pensando que o problema ficaria resolvido. Erro crasso: a opinião pública foi contra, o Rei foi contra, os republicanos aproveitaram esta mina: Afonso Costa, mais tarde uma figura da I Républica, deu o mote, afirmando em plenas Cortes que "por menos do que fez o senhor D. Carlos, rolou no cadafalso a cabeça de Luís XVI".
A partir daí, surgem as conspirações: republicanos e monarquicos dissidentes juntam-se com o objectivo de derrubar o regime por métodos violentos. A Carbonária, uma organização anarco-sindicalista, fabrica bombas, que por vezes explodem quando não devem ser. Uma dessas explosões matou dois Carbonarios e o terceiro escapou por pouco. Esse terceiro era Aquilino Ribeiro.
Finalmente, os golpistas marcam uma data:
28 de Janeiro de 1908, uma quarta-feira. Contudo, a poucos dias do golpe, um dos conspiradores tenta aliciar um policia graduado, e este denuncia a conspiração. Em poucas horas, grande parte dos mentores estava presa, e João Franco, confiante, manda no dia 30 de Janeiro um emissário a Vila Viçosa para que D. Carlos assine um decreto, que consistia na deportação para as Colónias de Angola e Moçambique dos conspiradores. ao assinar, consta-se que D. Carlos murmurou: "
Estou a assinar a minha sentença de morte".
No dia 1 de Fevereiro, a Familia Real chega a Lisboa e em poucos minutos, a Momarquia estava ferida de morte. Dois anos mais tarde, a
5 de Outubro de 1910, um novo golpe de estado abole-a de vez.
Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/RegicÃdio_de_1908