sábado, 28 de julho de 2007

Memento Mori: A cruel morte de Roger Williamson

Vai fazer amanhã 34 anos que tudo aconteceu. A 29 de Julho de 1973, milhões de pessoas assitiam ao Grande Prémio da Holanda de Formula 1, expectantes pelo duelo entre o escocês Jackie Stewart, da Tyrrell, e o brasileiro Emerson Fittipaldi, da Lotus. Mas cedo assistiram, em directo, a uma das cenas mais chocantes da história do automobilismo. Sumariamente fotografada e registada, a morte do piloto inglês Roger Williamson e as tentativas infrutíferas do seu compatriota David Purley de o salvar ficaram na mente de muita gente.



Zandvoort iria ser a segunda corrida de Williamson e Purley na Formula 1. Ambos tinham carros March e tinham ficado no meio do pelotão, numa grelha onde o melhor tinha sido o Lotus de Ronnie Peterson. Na volta seis, quando Williamson era 13º e Purley 14º, um pneu furado faz com que bata nos “rails” na curva Scheivlak e ricocheteia, virado de pernas para o ar. Nesse percurso de 275 metros, Durante o arrasto, o tanque riscou o asfalto, efeito similar ao de um palito de fósforo, sendo friccionado contra a caixa, e causando um incêndio. Quando o carro parou, o carro ardia e Williamson estava virado de cabeça para baixo, e não podia sair.



Testemunha do que tinha acontecido, David Purley para o seu March e corre em direcção de Williamson, tentando virar o carro ao contrário, pois sabia que ele estava vivo. Entretanto, o incêndio espalhava-se e os comissários de pista assistiam passivos ao que se passava, julgando que o carro que Purley estava a virar… era o dele! Sabendo o que se passava, Williamson gritou: “Pelo Amor de Deus, David, tira-me daqui!”. Purley fazia o impossível, e pedia aos comissários para o ajudar. Mas estes não o fizeram, e para piorar as coisas, a organização não tinha interrompido a corrida, limitando-se a assinalar o local com uma bandeira amarela. Um equivoco fatal!



Desolado, Purley caminhou para fora dali. Quando os comissários finalmente apagaram o incêndio é que viram a realidade. O promissor piloto inglês de 25 anos, que tinha ganho tudo na Formula 3 britânica, estava morto na sua segunda corrida da carreira. O resto não teve importância: Jackie Stewart ganhou, seguido do seu companheiro Francois Cevért, e do inglês James Hunt, num March do seu amigo Lord Hesketh.



O acidente tinha sido visto por milhões de pessoas no mundo inteiro, causando profundo impacto. Para alguém como Jackie Stewart, um paladino pela segurança na Formula 1, foi demais, e parece que foi nesse momento que decidiu retirar-se da competição no final da época. Anos mais tarde, disse que ele e a mulher, Helen, tinham começado a contar todos os amigos que tinham morrido em competição. Parou nos 53.


Para tentar salvar a face, os organizadores holandeses afirmaram que Williamson tinha morrido no impacto. O inquérito subsequente confirmou a versão de Purley: que Williamson estava vivo no momento do impacto, e que só tinha sofrido escoriações. O primeiro camião de bombeiro só chegou ao local oito minutos depois, tarde demais para socorrer o piloto britânico. Houve casos de espectadores que queriam ajudar Purley a virar o March, mas estes foram rechaçados por polícias com cães. Ed Swarts, o director da prova daquele ano, tentou anos depois justificar-se: “Foi tudo uma terrível má interpretação do que estava a acontecer.”



Purley ficou desolado por não o ter salvo. Mas o seu gesto fez com que fosse condecorado com a George Medal, a condecoração civil mais alta de Inglaterra por bravura. E recebeu mais doze prémios semelhantes… As fotografias do acidente, e subsequente tentativa de salvamento, foram tiradas pelo holandês Cor Mooij, que em consequência, recebeu o prémio World Press Photo desse ano.

Williamson ficou conhecido como um dos pilotos que o jornalista inglês David Tremayne chamou de “Geração Perdida”, a par de Tony Brise e Tom Pryce, que morreram muito cedo nas suas carreiras. Brise morreu em Novembro de 1975, num acidente aéreo em Londres, com Graham Hill, e Tom Pryce no Grande Prémio da Africa do Sul de 1977, quando foi atingido pelo extintor de um comissário de 18 anos, Jenson Van Vuuern

3 comentários:

Anónimo disse...

A morte de Willianson é uma vergonha enorme.
Eu não conhecia a versão de que os holandeses não sabiam da presença do piloto no carro em chamas.
Nada explica a covardia dos holandeses, nesse caso. Me pergunto o que passa na cabeça dessas pessoas quando, ainda hoje, se lembram de haver matado um homem, por omissão.

O Pequeno Burguês disse...

grande reportagem, tinha apenas as imagens em vídeo que já eram chocantes, li o texto, vi que o vídeo é apenas uma imagem pálida e sem sal de uma verdade mais triste.

Purley foi um herói, a fórmula 1 olhando para hoje perdeu a graça.

sds
guto

Leonardo disse...

Uma vez vi, numa entrevista em um artigo divulgado na Internet, que um repórter perguntou a Niki Lauda, então pilotando uma BRM, porque não parou para ajudar David Purley a tentar salvar a vida de Williamson. Lauda disse: "Sou pago para correr, não para parar !" 3 anos depois, em Nurburgring, sentiu na carne o que sua omissão dolosa de socorro impôs a Roger Williamson. Eu agradeceria MUITO se alguém encontrasse em algum site ESSA entrevista de Lauda, pois muitos duvidam de minhas palavras e fazem pouco dele tê-las dito. Meu email é leoandras@outlook.com e Whatsapp é 55(85)99684-3685.