Vai fazer amanhã 34 anos que tudo aconteceu. A 29 de Julho de 1973, milhões de pessoas assitiam ao Grande Prémio da Holanda de Formula 1, expectantes pelo duelo entre o escocês Jackie Stewart, da Tyrrell, e o brasileiro Emerson Fittipaldi, da Lotus. Mas cedo assistiram, em directo, a uma das cenas mais chocantes da história do automobilismo. Sumariamente fotografada e registada, a morte do piloto inglês Roger Williamson e as tentativas infrutíferas do seu compatriota David Purley de o salvar ficaram na mente de muita gente.
Zandvoort iria ser a segunda corrida de Williamson e Purley na Formula 1. Ambos tinham carros March e tinham ficado no meio do pelotão, numa grelha onde o melhor tinha sido o Lotus de Ronnie Peterson. Na volta seis, quando Williamson era 13º e Purley 14º, um pneu furado faz com que bata nos “rails” na curva Scheivlak e ricocheteia, virado de pernas para o ar. Nesse percurso de 275 metros, Durante o arrasto, o tanque riscou o asfalto, efeito similar ao de um palito de fósforo, sendo friccionado contra a caixa, e causando um incêndio. Quando o carro parou, o carro ardia e Williamson estava virado de cabeça para baixo, e não podia sair.
Testemunha do que tinha acontecido, David Purley para o seu March e corre em direcção de Williamson, tentando virar o carro ao contrário, pois sabia que ele estava vivo. Entretanto, o incêndio espalhava-se e os comissários de pista assistiam passivos ao que se passava, julgando que o carro que Purley estava a virar… era o dele! Sabendo o que se passava, Williamson gritou: “Pelo Amor de Deus, David, tira-me daqui!”. Purley fazia o impossível, e pedia aos comissários para o ajudar. Mas estes não o fizeram, e para piorar as coisas, a organização não tinha interrompido a corrida, limitando-se a assinalar o local com uma bandeira amarela. Um equivoco fatal!
Desolado, Purley caminhou para fora dali. Quando os comissários finalmente apagaram o incêndio é que viram a realidade. O promissor piloto inglês de 25 anos, que tinha ganho tudo na Formula 3 britânica, estava morto na sua segunda corrida da carreira. O resto não teve importância: Jackie Stewart ganhou, seguido do seu companheiro Francois Cevért, e do inglês James Hunt, num March do seu amigo Lord Hesketh.
O acidente tinha sido visto por milhões de pessoas no mundo inteiro, causando profundo impacto. Para alguém como Jackie Stewart, um paladino pela segurança na Formula 1, foi demais, e parece que foi nesse momento que decidiu retirar-se da competição no final da época. Anos mais tarde, disse que ele e a mulher, Helen, tinham começado a contar todos os amigos que tinham morrido em competição. Parou nos 53.
Para tentar salvar a face, os organizadores holandeses afirmaram que Williamson tinha morrido no impacto. O inquérito subsequente confirmou a versão de Purley: que Williamson estava vivo no momento do impacto, e que só tinha sofrido escoriações. O primeiro camião de bombeiro só chegou ao local oito minutos depois, tarde demais para socorrer o piloto britânico. Houve casos de espectadores que queriam ajudar Purley a virar o March, mas estes foram rechaçados por polícias com cães. Ed Swarts, o director da prova daquele ano, tentou anos depois justificar-se: “Foi tudo uma terrível má interpretação do que estava a acontecer.”
Purley ficou desolado por não o ter salvo. Mas o seu gesto fez com que fosse condecorado com a George Medal, a condecoração civil mais alta de Inglaterra por bravura. E recebeu mais doze prémios semelhantes… As fotografias do acidente, e subsequente tentativa de salvamento, foram tiradas pelo holandês Cor Mooij, que em consequência, recebeu o prémio World Press Photo desse ano.
Williamson ficou conhecido como um dos pilotos que o jornalista inglês David Tremayne chamou de “Geração Perdida”, a par de Tony Brise e Tom Pryce, que morreram muito cedo nas suas carreiras. Brise morreu em Novembro de 1975, num acidente aéreo em Londres, com Graham Hill, e Tom Pryce no Grande Prémio da Africa do Sul de 1977, quando foi atingido pelo extintor de um comissário de 18 anos, Jenson Van Vuuern…
3 comentários:
A morte de Willianson é uma vergonha enorme.
Eu não conhecia a versão de que os holandeses não sabiam da presença do piloto no carro em chamas.
Nada explica a covardia dos holandeses, nesse caso. Me pergunto o que passa na cabeça dessas pessoas quando, ainda hoje, se lembram de haver matado um homem, por omissão.
grande reportagem, tinha apenas as imagens em vídeo que já eram chocantes, li o texto, vi que o vídeo é apenas uma imagem pálida e sem sal de uma verdade mais triste.
Purley foi um herói, a fórmula 1 olhando para hoje perdeu a graça.
sds
guto
Uma vez vi, numa entrevista em um artigo divulgado na Internet, que um repórter perguntou a Niki Lauda, então pilotando uma BRM, porque não parou para ajudar David Purley a tentar salvar a vida de Williamson. Lauda disse: "Sou pago para correr, não para parar !" 3 anos depois, em Nurburgring, sentiu na carne o que sua omissão dolosa de socorro impôs a Roger Williamson. Eu agradeceria MUITO se alguém encontrasse em algum site ESSA entrevista de Lauda, pois muitos duvidam de minhas palavras e fazem pouco dele tê-las dito. Meu email é leoandras@outlook.com e Whatsapp é 55(85)99684-3685.
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