No mesmo dia em que o Rali de Portugal sai para a estrada, o jornal português "A Bola" decidiu publicar um especial de oito páginas sobre a quarta prova do campeonato do mundo do WRC, e uma das clássicas do automobilismo internacional, a par de Monte Carlo, Finlândia ou País de Gales. E uma das entrevistas que é feita - para além das feitas a Michele Mouton, a representante da FIA para a categoria, a Pedro Almeida, o diretor de prova e a Armindo Araujo - também foi feita uma entrevista a Carlos Barbosa, o presidente do ACP, o Automóvel Clube de Portugal, a entidade que tutela a prova, sobre esta prova, as novidades deste ano, com a reintrodução das classificativas noturnas, e o futuro do rali.
Quem o entrevistou foi a jornalista Edite Dias.
«O ARMINDO FAZ MILAGES COM O CARRO QUE TEM!»
O sucesso passa pelo caminho da inovação e da surpresa. Esta parece ser a fórmula do presidente do ACP para garantir a paixão dos pilotos, da FIA e dos adeptos pelo Rali de Portugal. O melhor rali do mundo, defende Carlos Barbosa, orgulhoso das provas noturnas e lamentando apenas a falta de competitividade do unico português no WRC.
- Como foi a experiência do regresso do rali a norte, nomeadamente a Fafe e ao reencontro com estes adeptos?
- Extraordinária, o público acorreu em massa, os números da GNR dizem que foram mais de cem mil pessoas. Realmente, é no norte é que estão os fãs. A 'afficion' do norte é outro rali. Não só o público, como as classificativas... É outro rali.
- É possivel pensar num regresso ao norte do rali? Para o ano?
- Vamos pensar, ver como é que podemos e se podemos fazer o rali no norte, mas não para o ano. Há um determinado numero de cadernos de encargos que temos de respeitar, em relação à FIA. Só para se ter esta ideia, no Algarve estão 900 quartos alugados para o rali, É preciso ponderar, é precisa toda esta logística, não podemos colocar as marcas longe dos troços... Tem de se montar um rali de A a Z. Não sei se os troços estão em condições de poder fazer isso, aquilo que me apetece é ir para o norte por causa da 'afficion'. mas não sei se a logistica me permite ir para o norte.
- Ir para o norte significa deixar o rali no sul do país, ou significa estender o rali de norte a sul?
- Não, isso não. Os construtores não aceitarão isso, porque o rali neste formato é o mais barato do Mundial. Os construtores não aceitarão fazer um rali como antigamente, que saía de Lisboa e acabava na Póvia de Varzim. Isso já não é possivel hoje em dia, nem comparável com as despesas. Os carros de assistência do rali ficam ali no parque, no estádio. Andar com aqueles carros gigantescos atrás não é possivel. Tinhamos de montar um centro no Porto, em Braga, noutro sítio...
- Admite estudar a hipótese?
- Sim, mas é complicado. É outro rali, é outro ambiente, os pilotos que estiveram ali em Fafe, a 'nata da nata', adoraram, disseram que ali é que era. O Petter Solberg, que já fez aquilo nos tempos do Rali de Portugal, estava emocionadíssimo com o regresso. Não prometo nada. Um dos principais patrocinadores é o Turismo de Portugal e também não sei se está mais interessado em promover o Algarve ou o norte. Não podemos decidir isto sozinhos.
- Este ano será um rali mais desafogado financeiramente?
- Não, porque com as etapas noturnas temos condições de segurança muito mais apertadas e vamos ter gastos totalmente diferentes. Os helicópteros não voam à noite, temos de ter mais ambulâncias, mais comissários com menos distância entre eles, que é para se houver algum acidente agiur imediatamente.
- Lisboa foi uma aposta ganha?
- Sim, sim. Os Jerónimos são uma imagem de Portugal, transmitida para todo o mundo e este anos vamos ter ainda mais plataformas de transmissão e mais audiência. Teremos mais uma bancada, no topo dos Jerónimos, para não prejudicar a imagem do Mosteiro. Está tudo preparado para que seja um grande espectáculo, mesmo com chuva. Quem gosta de automóveis vai querer ir, porque tem os carros 'à mão'.
- E em termos competitivos, espera um rali dos mais interessantes dos últimos tempos?
- Muito! Sobretudo, com esta troca de pilotos. Em Fafe, o Petter Solberg ganhou por duas décimas ao Löeb! E ainda o Nasser [Al-Attiyah], rapidíssimo e que deu um grande show. Não dou como adquirida a vitória do Löeb, apesar de ser considerado um extra-terrestre. Todos os pilotos adoram Portugal, os troços do Algarve, o público, a segurança e acho que este ano haverá mais competição.
- E o Armindo Araujo, é uma excelente bandeira deste rali?
- O Armindo ajuda imenso e só é pena não ter no carro as evoluções que têm os carros da Prodrive. É uma pena que a Prodrive não lhe dê as mesmas capacidades que dá a um Daniel Sordo. Se o Armindo tivesse um carro exactamente igual ao do Sordo, dava cartas aqui e podia ficar nos cinco primeiros tranquilamente. Com um carro inferior e sem as evoluções da Prodrive é muito difícil. O Armindo já faz milagres copm o carro que têm!...
- E porquê essa desvantagem?
- Há uma guerra entre a BMW, a Prodrive e a Motorsport Itália. Uma relação estranha e é pena que a Prodrive não cumpra o que prometeu ao Armindo, de lhe dar as especificações que deu ao Sordo. O Armindo pagou uma fortuna pelo carro e as especificações todas, que não vieram. Imagine ele, que guia maravilhosamente bem, com um carro de topo! O Armindo com um carro igual ao do Sordo, era ótimo para o rali, para o público e podia apostar no 'top 5'!
- E surpresas para o ano?
- Já sei o que será, mas não posso dizer. Prometo continuar a inovar! Mais dia menos dia só vaºo realizar-se seis ralis na Europa. Não posso correr o risco de perder o rali para Espanha ou França. Tenho de ser o melhor. Como os outros são sempre iguais, o rali de Portugal é muito apetecível para a FIA, para os construtores e para as televisões.
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ORÇAMENTO: O orçamento deste ano é de quatro milhões. O Governo contribuiu com um milhão e meio, um milhão do turismo e 500 mil do desporto. O resto é dos patrocinadores e das inscrições.
NOTURNAS: As noturnas vão voltar ao velho Rali de Portugal, estão nas memórias de todos. Vão dificultar o andamento dos pilotos, é certo, mas eles são profissionais, de dia ou de noite.
INOVAÇÕES: Foi o rali de Portugal que fez a 'especial' da capital, criou zonas de espetáculo e etapas noturnas. Monte Carlo tem uma, mas não interessa nada. Inovamos sempre e é por isso que é o melhor rali do mundo.