terça-feira, 27 de março de 2012

A história dos "travões a água"

(...) Em 1980, a luta entre as duas partes estava ao rubro. O motivo tinha a ver com as saias laterais, que a FISA queria abolir, e do qual os construtores estavam contra, especialmente o patrão da Brabham, Bernie Ecclestone. Então com 50 anos, o britânico que tinha comprado a Brabham em 1971 a Ron Tauranac, depois de ter sido o “manager” de Jochen Rindt, tinha pegado entre mãos o negócio da Formula 1 e o fez crescer em termos de publicidade e televisão, expandindo-o para novos mercados, como os Estados Unidos. Tendo motores Cosworth, como a esmagadora maioria dos “garagistas”, não via com bons olhos o aparecimento dos motores Turbo, trazido em 1977 pela Renault e que demorou ano e meio para alcançar a sua primeira vitória. 

Naturalmente, Renault, Ferrari e Alfa Romeo, com os seus muitos milhões gastos em pesquisa para os seus motores Turbo, estavam a incomodar as restantes equipas, que confiavam nos velhos Cosworth DFV V8. E com a crescente potência desses motores Turbo, começavam a cavar um fosso entre eles e a concorrência, algo que estragava o espectáculo que Bernie Ecclestone começava a montar. 

Assim, Colin Chapman veio com um truque: “travões a água”. Criaram-se nos chassis dos Lotus dois depósitos perto dos travões, que se enchiam de água, um pouco acima do peso mínimo dos carros, do qual se esvaziava ao longo das primeiras voltas da corrida, que era para aligeirar os carros, no sentido de os tornar mais leves e os conseguir acompanhar ou mesmo bater os carros Turbo. No final, enchiam os depósitos dos carros antes de serem pesados pelos comissários da FISA. Engenhoso, mas ilegal, pois com esses depósitos vazios, o carro ficava bem abaixo do peso mínimo, cinquenta quilos em média. (...)

O GP do Brasil de 1982 mostrou mais um episódio de uma guerra entre a FISA e as equipas, lideradas pelo patrão da Brabham, Bernie Ecclestone. Numa altura em que as construtoras, lideradas pela Renault, tinham descoberto o poder dos motores Turbo e faziam carros mais pequenos e mais potentes, para poder superar a hierarquia dos motores Ford Cosworth V8 de 3 litros, as equipas que se viam de súbito superadas pelas construtoras, recorreram a truques - muitas vezes ilegais - para acompanhar o passo de Ferrari e Renault, e em breve Alfa Romeo e Toleman.

O truque dos "travões a água" não era mais do que encher depósitos vazios, existentes dentro do carro, com água, que seria largada ao longo da corrida, para os tornar mais leves em cerca de 50 quilos, ficando muitas vezes abaixo dos 580 quilos regulamentados, o que era ilegal. Quando a "urucubaca" foi descoberta, já Brabham, Lotus, Williams e McLaren usavam-no quase abertamente nos seus carros, e com isso, Nelson Piquet, o vencedor do GP do Brasil, e Keke Rosberg, o segundo classificado, foram sumáriamente desclassificados.

Essa desclassificação, porém, não ficou por aqui. As equipas lesadas decidiram apelar da desclassificação no Tribunal de Apelo, afirmando que essas desclassificações tinham sido politicas, pois o terceiro classificado dessa corrida tinha sido Alain Prost, e assim ele ficaria destacado, com 18 pontos. O Tribunal de Apelo deu razão à FISA e aos comissários brasileiros e as equipas FOCA decidiram reagir, boicotando o GP de San Marino, a quarta prova do campeonato.

A história dos "travões a água" pode hoje ser lida no PortalF1.com.   

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