Vi isto no Twitter, a partir deste site. Tudo começa a 4 de março de 1990, um domingo. Um italiano, Massimo Bulzamini, então com 18 anos, cai da Vespa do seu amigo em andamento e magoa-se seriamente. Levado para o hospital, está em coma, com lesões sérias na parte cervical, paralisado do peito para baixo. Não pode respirar sem ser assistido, e todos temem o pior.
Ao final de um mês, um dos médicos afirma aos pais que existe um tratamento experimental para o fazer acordar do coma. Essencialmente, gravariam uma mensagem que seria colocada para que ele ouvisse de forma repetida, durante um tempo, para o ajudar a acordar, eventualmente. Primeiro os pais, depois os amigos, fizeram isso, gravando várias mensagens, até ao dia em que alguém lhe conta que ele é fã de alguém que costuma andar por ali. É que esqueci de contar esta parte: ele é de Imola, gosta de assistir às corridas de Formula 1 e é fã de Ayrton Senna.
O médico tenta o "impossível": que Senna grave uma conversa para Massimo, pedindo que ele acordasse e recuperasse. E por incrível que pareça, ele consegue. Começam a chegar cassetes ao hospital, todas com mensagens semelhantes a esta:
"Ciao Massimo, sou Ayrton Senna, o piloto de Formula 1. Tenta ouvir-me, se puderes. Tens de reagir, lewanta-te, tens de sair da tua cama porque todos gostam de ti e esperam-te para os testes. Põe-te bem em breve, ciao, ti saluto!"
Dois anos depois, Massimo acorda parcialmente do coma. Começa a entender onde está e dão-lhe uma televisão para poder assistir aos seus programas. Um dia, quando está a ver um jogo da Juventus, de surpresa, descobre que alguém o visita. Era o próprio Senna. Contou depois que estava "excitado e nervoso" com o encontro.
E claro, tudo privado, sem publicidade. Como dois seres humanos, um deles a desejar o melhor para outro.
Apesar de tudo o tratamento continuava. Durante os testes de Imola, em março de 1994, ele gravou uma mensagem para ser entregue a Massimo na sua terapia. Nunca conseguiu ser entregue. A 1 de maio, Massimo ouviu o helicóptero passar por cima da sua cabeça, depois de ter assistido ao acidente na televisão. Afirmou: "A única coisa que poderia fazer era rezar por ele". Ele morreria horas depois, por causa dos ferimentos sofridos na cabeça por causa do braço da suspensão que se espetou no seu capacete e o feriu no crânio.
Massimo mudou-se em 2008 para uma unidade de cuidados continuados, e continuou a aparecer em encontros no circuito de Imola até à sua morte, em 2015, aos 43 anos. Ele contou que ouvia as gravações vezes sem conta, especialmente aquelas onde lhe dizia para acordar, durante meses a fio. "Ele me afirmava para acordar, levantar-me e ver os testes com ele."
Que posso dizer sobre isso? Creio que foi o Dr. Syd Watkins, o médico da FIA, que afirmou algo que ele tinha de ser assim como ser humano porque sabia perfeitamente que, como piloto, poderia ser cruel e impiedoso. E sabendo que ele, com a sua espiritualidade, poderia estar a entrar em contradição, tinha de ter estes gestos como pessoa. Mas porquê a anonimidade, a falta de publicidade? Pela mais simples das razões: era famoso. E fazia isso porque era um ser humano, queria ajudar os outros por simples empatia.
E é isso.