Que passamos por tempos difíceis, passamos. Que a minha geração quer reagir às saídas que foram cortadas, às expectativas que foram frustradas e ao fato dos principais causadores desta crise mundial - leia-se bancos e especuladores - terem saído impunes a aquilo que causaram, isso é verdade. Mas a sensação que tenho é que neste ano de loucos no mundo, que começou com povos inteiros a derrubarem ditadores no Norte de África e que agora está a chegar aos pés das principais praças do globo, o final da história ainda está muito longe do fim.
As pessoas querem mudar, querem acabar com o atual estado de coisas. Mas modificar para quê? Para melhor? Não sei. Algo diferente? Com certeza. Mas pelo que vejo, as pessoas que manifestam são ainda uma franja identificada. O "Zé Povo" mundial ainda observa, quer ver até que ponto é que isto vai. Já viu o que aconteceu com os indignados de Espanha e da Grécia, mas não viu nada de radical ou significativo. Ainda não viu a Bastilha 1789 ou Petrogrado 1917, se calhar deseja e teme secretamente ao mesmo tempo, provavelmente por causa dos exemplos históricos e do seu radicalismo descontrolado.
Francamente, a sociedade deseja mudança a plenos pulmões. Deseja-se que se colque uma trela à "economia de casino" que são as bolsas mundiais, às corporações que olham para as pessoas como se fossem numeros, alvos para os seus produtos, que nos impingem que consumam "A" ou "B", mesmo que não necessitemos, entre outras coisas. Deseja-se que as pessoas que causaram a crise que vivemos não saiam mais impunes, especialmente os membros do governo.
Contudo... esta crise mundial vai entrar no seu quarto ano e ainda não se vislumbra a luz ao fundo do túnel. E as pessoas ainda não acreditam no impacto que estas manifestações estão a ter. Honestamente, tenho a sensação de que estão a colocar os dedos nos ouvidos e a dizer para eles mesmos: "se não os ouvirmos, se não lhes ligarmos nenhuma, eles eventualmente acabarão por se ir embora". E eventualmente, arriscam-se a ter razão, eles, os tais um por cento mais poderosos.
E agora pergunto: o que se deve fazer para que esses "um por cento" que dominam, comecem realmente a acreditar que os restantes 99 por cento que estão a fazer barulho, vieram para ficar e quer modificar o sistema? Se calhar esses 99 por cento tem de começar a fazer a coisa mais moralmente radical de todas: desobediência civil. Se calhar aí, a elite começará a ouvir esta gente toda no momento em que ocuparem bancos, repartições públicas e outras, em vez de se manifestar nos parlamentos num sábado à tarde. Que tal uma greve geral mundial por tenpo indeterminado? Talvez essa elite oiça.
Não sei. Pessoalmente, estou neste momento dividido entre o ceticismo e a expectativa. Vou esperar para ver o que os próximos dias trazem.