Claro, Jean-Marie Balestre, o então presidente da FISA, e novo "inimigo público número 1" no Brasil, sorria com a situação. E numa conferência de imprensa, tirou uma "bicada" monumental sobre toda esta situação:
“É que tenho o perverso prazer de enfrentar um público em delírio. Gostaria de informar o público brasileiro que este é o nosso campeonato mundial, da FIA. Já tivemos problemas na Córsega com o Campeonato Mundial de Ralis e tivemos de lhes lembrar que se não tomassem as medidas necessárias, ficariam sem o campeonato. E, olhem que eles são mais bravos do que os brasileiros. Não nos atiram com tomates, mas bombas. E de qualquer forma, os brasileiros agora nem dinheiro têm para comprar tomates…”
Senna competia pela primeira vez na sua cidade natal. E tirando o "karting", nunca tinha corrido competivamente em qualquer outra categoria que não a Formula 1, era esta a sua estreia na catedral do automobilismo brasileiro, que recebia novamente a Formula 1, depois de uma década de ausência. Poucos eram os sobreviventes dessa última vez, em 1980, um deles era Alain Prost. Nesse ano era um estreante na Formula 1, pela McLaren. Agora, era tricampeão do mundo, e a fazer a sua segunda corrida pela Ferrari.
Todos pensavam que seria um passeio no parque para Senna. Ele até tinha colaborado na renovação da pista - fora ele que idealizou o S de Senna - e como teria o melhor carro do pelotão, era fazer a pole-position e acelerar até à meta, no primeiro posto, e dar uma moral num povo que sofria. Sim, ele já era o ídolo que o povo torcia, porque o Brasil desejava heróis e o futebol não era suficiente. Só que existia um problema. Até 1990, Senna nunca tinha ganho no Brasil. O seu melhor resultado tinha sido um segundo em 1986, nos tempos da Lotus, batido por Nelson Piquet.
E a sua fama de apressado quando dobrava pilotos muitas vezes o traía.
Até foi uma corrida competitiva. Escapou da carambola na primeira curva, quando Jean Alesi, Riccardo Patrese e Andrea de Cesaris se envolveram, com o piloto da Dallara a ficar em pior estado, e aproveitava dos problemas dos outros, fossem por causa do carro ou por causa dos outros - Nigel Mansell teve problemas com um rollbar quebrado, Thierry Boutsen teve uma paragem na boxe desastrosa na sua Williams, Patrese tinha problemas com a pressão do óleo - mas o único que se safava era Prost. Adaptado à caixa de velocidades semi-automática, era segundo e tentava apanhar Senna, que por alturas da 40ª volta, tinha um atraso de 10 segundos sobre o brasileiro.
E depois aparece Satoru Nakajima. O japonês da Tyrrell iria perder uma volta, mas o brasileiro o apanhou na parte lenta do circuito, entre o Pinheirinho e o Bico de Pato. Não se entenderam, e a asa da frente ficou partida. Da surpresa, passou para a decepção, e depois, alguém tinha de ser o culpado. Afinal, alguém interferiu na caminhada vitoriosa. E logo ele, o mais inocente deles todos...
Senna foi às boxes, trocou de asa, mas o downfornce não era o mesmo e não conseguiu apanhar Prost, que naquele dia... fez tudo bem.
E foi mesmo. Sexta vitória no Brasil, um recorde que já era seu, o primeiro vencedor no Interlagos novo, e mais um número redondo para as estatísticas: 40 vitórias na Formula 1. Balestre deve ter saído de São Paulo com um enorme sorriso na cara...
Mas independentemente do resultado, todos sabiam que iria ser uma temporada competitiva. E um duelo Ferrari-McLaren, como muitos gostam.