E por fim, chegou o grande dia. Independentemente do resultado, o campeonato teria de ser decidido agora, porque o calendário tinha chegado ao fim.
Fernando Alonso e
Sebastian Vettel, um destes dois pilotos, teria de acabar a corrida como campeão. Tri-campeão do mundo, algo que apenas oito pilotos tinham conseguido ao longo da história:
Juan Manuel Fangio, Jack Brabham, Jackie Stewart, Niki Lauda, Nelson Piquet, Alain Prost, Ayrton Senna e
Michael Schumacher. Desses, três deles conseguiram ganhar mais campeonatos. E esta tarde, um nono nome iria entrar nos cadernos de história.
E o GP do Brasil iria ter algumas despedidas. Michael Schumacher iria embora de vez da Formula 1, aos 43 anos, num regresso que foi pior do que se esperava, quando dois anos e meio antes, decidiu aceitar o desafio da Mercedes. E no caso de Lewis Hamilton, seria a sua despedida da equipa que o formou, a McLaren, e queria ir embora como aconteceu em Austin, com uma vitória. Estava a caminho, com a pole-position, e ainda por cima com o monopólio da primeira fila, ficava-se com aquela ideia de que, caso não fosse os problemas daquele chassis, era certamente candidato ao título.
O Grande Prémio do Brasil, neste domingo à tarde, tinha várias incertezas no ar, e a maior delas era o do tempo. Ao longo da semana, havia fortes hipóteses de chuva para o momento da corrida, do qual todos esperavam que iria acontecer. Mas à medida que domingo se adiantava na zona de São Paulo, parecia que haveria incerteza em relação à chuva, pois este iria cair devagar e não em tempestade, como muitos pensariam que iria acontecer. Uma coisa era certa: todos iriam largar com pneus secos.
O momento da partida aproximava-se com imensa tensão no ar. Todos temiam confusão na primeira volta, nos S de Senna, que afastasse um dos candidatos ao campeonato. Quando as luzes se apagaram, Vettel partiu pior do que Alonso, mas o pior foi na Curva do Sol, onde o alemão da Red Bull levou um toque do Williams de
Bruno Senna e sofreu um pião, que o colocou no fundo do pelotão. Senna e
Sergio Perez acabaram no muro, mas no meio do azar, o alemão teve sorte: manteve o carro a funcionar, não tinha estragos significativos e a partir dali, tinha de correr "atrás do prejuízo"
Na frente, com o assentar da poeira, havia um piloto que dava nas vistas: o alemão
Nico Hulkenberg, que disputava posições no seu Force India com os McLaren de
Jenson Button e Lewis Hamilton. Para ele, Interlagos nesta situação não lhe era estranho, pois tinha feito aquela pole-position em 2010, e na corrida, o facto de ter largado bem e andado melhor em ritmo de quase chuva fazia com que os McLaren tivessem dificuldades em se livrar dele. Atrás, Vettel fazia uma recuperação espectacular, passando todo o pelotão intermediário, chegando até a rolar em lugares de pódio até mais ou menos o meio da prova.
Contudo, com o adiantar dos minutos, a pista ficava a secar, fazendo uma linha seca para que os pilotos rolassem sem problemas com o seus pneus secos. Mas alguns dos toques tinham feito com que alguns pedaços de fibra de carbono estivessem no meio da pista, causando, por exemplo, um furo no Mercedes de Nico Rosberg. E assim na volta 25, o Safety Car entrou na pista para limpar os destroços.
Alguns aproveitaram para trocar de pneus, mas sempre de olho do radar meteorológico, para ver se poderiam trocar quando fosse a altura, mas no lado de Vettel, mais um azar: o seu rádio ficava avariado e lá se voltava aos sinais para comunicar ao piloto. Na frente, era uma luta a três, com Alonso incapaz de se aproximar quer dos McLaren, quer de Nico Hulkenberg, e este tentava se superar a Button e Hamilton. Mas na volta 51, quando a chuva começou a cair um pouco mais forte, Hulkenberg perdeu o controlo do seu carro na Laranjinha e Hamilton aproveitou para ficar com o comando. O alemão não desistiu e no inicio da volta 55, tentou ultrapassar, com o Caterham de
Heiki Kovalanien à frente deles. Hamilton travou o mais tarde possivel, na linha seca, mas Hulkenberg, na linha molhada, faz um pião e bate... em Hamilton. Resultado final: a entrada do Safety Car em pista.
Nas voltas que se seguiram, o tempo agravou-se, ao ponto de quando tudo começou, Button se afastasse do resto do pelotão. Alonso beneficiava dos favores do seu companheiro de equipa e depois da penalização de Nico Hulkenberg, para ficar no segundo lugar, mas Sebastian Vettel parecia ter tudo controlado. Depois de uma paragem mais demorada, passou
Kamui Kobayashi e o Mercedes de
Michael Schumacher para ficar no sexto lugar, mais do que suficiente para continuar a manter a liderança do campeonato por três pontos.
E no final, este foi algo anticlimático. Na Curva do Café, o acidente de Paul di Resta na Curva do Café faz com que a saída do Safety Car fosse inevitável. Com uma chegada "em parada", mais parecia que a corrida iria mais acabar como se tivesse a acontecer nos Estados Unidos do que uma corrida de Formula 1. E foi nesse cenário que Sebastian Vettel chegou ao sexto lugar e se tornou campeão do mundo pela terceira vez consecutiva.
Como era óbvio, as emoções eram contrastantes: o olhar vazio e distante de Fernando Alonso, ao ver que todo o seu esforço tinha sido em vão, enquanto que Michael Schumacher e Sebastian Vettel abraçavam-se, numa passagem de testemunho, com o alemão mais novo a subir ao seu carro, mostrando ter conseguido domar a máquina, apesar de todas as contrariedades.
Vettel é, assim, o mais novo tricampeão do mundo de sempre. Muitos dizem que ele só é isso porque tem uma máquina que lhe permite chegar lá, mas mais do que isso, ele consegue superar os obstáculos e recuperou-se de uma enorme desvantagem. E são esses momentos do qual são moldados os campeões. O alemão mereceu o título graças à sua parte final, mas Alonso não ficaria mal com o ceptro.
Assim termina a imprevisível temporada de 2012. Daqui a cento e onze dias, em Melbourne, haverá mais campeonato, mais lutas e mais pilotos vitoriosos.