É seguro que muito pensem que nas ruas do Mónaco, as coisas possam ser um pouco diferentes que num circuito onde os limites são moldados pelo ser humano, em vez daqueles cuja competição tem de se adaptar. E é verdade que o Mónaco pode ter todos os defeitos do mundo, uma pista pequena onde a corrida pode arriscar a ser uma procissão, mas é uma prova onde um erro significa o final da corrida para aquele que erra.
E neste sábado, neste ano, mesmo com os Mercedes a serem perfeitos, aqui poderia acontecer uma de duas coisas: ou a concorrência erraria para tentar apanhar os Flechas de Prata, ou os carros cinzentos iriam bater para tentar estar sempre na frente. Aqui, a normalidade não iria acontecer, especialmente quando parte da concorrência estava sobre brasas. Quando Sebastien Vettel bateu em Ste. Devote, no terceiro tempo livre, os que podiam, não desperdiçaram a chance de o atacar pelo erro que cometeu.
E foi provavelmente por causa dessas "brasas" que logo na Q1 deste GP do Mónaco é que aconteceu o grande erro da Ferrari. Charles Leclerc lá marcou um tempo, mas a Scuderia disse para que ficasse nas boxes, tentando poupar um jogo de pneus. Ora... foi um erro crasso: os tempos baixaram e ele acabou por não ter um tempo para passar à Q2. o 16º tempo no GP "caseiro" foi praticamente uma humilhação para Leclerc, que foi o menos culpado de mais um erro grave da Scuderia, que agora estava sobre brasas, numa temporada que, definitivamente, era um inferno.
Mais tarde, afirmou: “Perguntei se tinham certeza (de que estávamos dentro), ao que me responderam que achavam que sim. Eu achava que não, e que deveria voltar à pista, mas não obtive resposta. Não tenho ainda nenhuma explicação detalhada. Esta é um situação muito difícil de engolir”, afirmou, desgostoso.
A acompanhar o desafortunado Leclerc estavam os Williams e os Racing Point.
Com esta primeira bomba, a Q2 aconteceu com os Mercedes a irem para a pista e a marcarem tempos que os fariam ficar com o recorde da pista. Primeiro, altteri Bottas fe 1.10,711 e ficou com o recorde da pista que era de Daniel Ricciardo, com Hamilton a ficar atrás, a 423 centésimos. Pouco depois, Max Verstappen melhorava e subia ao topo da tabela de tempos, com 1.10,618, batendo Bottas. Os Mercedes ficavam logo a seguir, com Vettel em quarto e um surpreendente Kevin Magnussen em quinto.
Nessa parte final, houve polémica, quando Pierre Gasly atrapalhou a volta de Nico Hulkenberg, e por causa disso, o piloto da Renault não foi para a Q3. Apesar do francês ter sido oitavo, mais tarde, a organização decidiu penalizá-lo em três lugares, acabando... atrás de Hulkenberg. Mas a acompanhar o alemão ficaram os Alfa Romeo, o McLaren de Lando Norris e o Haas de Romain Grosjean. Em contraste, os Toro Rosso de Alexander Albon e Daniil Kvyat passaram para a Q3.
Para a Q3, os Mercedes eram favoritos a tudo: pole e primeira fila. Os que poderiam contrariar, Sebastian Vettel e Max Verstappen, não estavam em forma suficiente para os apanhar, e mesmo que dessem nas vistas, bastava uma boa volta da parte deles para conseguirem o que queriam. Para os Mercedes, isso seria normal, para os outros, teriam de fazer algo invulgar.
E isso viu-se quando Bottas fez 1.10,252 e bateu o recorde da pista. Vettel foi quase sete décimos mais lento, e dizia tudo: não tinham capacidade de os apanhar, nem sequer de os atrapalhar. O terceiro posto era o melhor do resto. Mesmo assim, Hamilton errou na Chicane do Porto, com 231 centésimos mais lento que Bottas. Mas havia mais um chance.
E essa chance, saiu tudo perfeito: Hamilton fez uma volta de campeão e conseguiu 1.10,166, sendo o "poleman" pela 85ª vez, conseguindo bater Bottas por 86 centésimos. erstappen foi o terceiro, mas ficou a quase meio segundo, na frente de Sebastian Vettel. E Kein Magnussen era o quinto, o último menos de um segundo da primeira posição.
Mais tarde, quando a qualificação terminou, Mattia Binotto enfrentou os jornalistas e assumiu o erro de Leclerc: “Não foi um bom dia. A margem que demos para o cálculo do tempo de corte não foi o bastante”, começou por dizer. “Sabemos que temos de recuperar terreno e, por isso, assumimos riscos. Hoje arriscamos para guardar um jogo de pneus para o Q2 e o Q3. Cometemos dois erros, e o tempo de corte foi muito otimista. Deveríamos ter percebido isso com o tempo e respondido", continuou.
“Foi um erro de cálculo das margens. Uma pena por Charles e pela equipa, e não queremos que isso se repita no futuro. Cometemos um erro. Tivemos uma avaliação errada. Pensávamos que o tempo do Charles era o suficiente para entrar no Q2”, concluiu.
Em suma: a Ferrari anda agora sobre brasas. E amanhã, para redimir-se, só se os outros baterem no guard-rail.