Nesta antecâmara do GP da Austrália, que se recebe a Formula 1 desde 1985, hoje falo da corrida de há vinte anos atrás, numa altura em que tudo estava decidido, mas isso não impediu de ser uma corrida interessante...
A
13 de Novembro de 1988, o circuito de Adelaide iria assistir a algo inesquecível: a última corrida dos Formula 1 com motor Turbo. A FIA tinha decidido em 1986 tirar de cena os motores Turbo, que dominavam o panorama, com os seus motores pequenos, mas extremamente potentes. Primeiro restringiu a sua admissão de ar, e depois, aboliu-os, medida essa que surtiria efeito no final da temporada de 1988. Entretanto, nessa temporada, tinha-se assistido ao dominio dos McLaren, ganhando 15 dos 16 Grandes Prémios disputados. O duelo pelo título tinha sido restrito a
Ayrton Senna e
Alain Prost, e o brasileiro tinha resolvido essa questão na corrida anterior, em Suzuka. Sendo assim, a atmosfera em Adelaide era muito mais festiva, e todos estavam ali para "cumprir calendário"...
Nos treinos, a McLaren conseguiu monopolizar a primeira fila, com Senna a fazer a sua 29ª "pole-position" da sua carreira. Depois dele e Alain Prost, vinham na segunda fila o Williams-Judd de Nigel Mansell e o Ferrari de Gerhard Berger. Na terceira fila, estavam o Lotus-Honda de Nelson Piquet e o Williams-Judd de Riccardo Patrese. O italiano nesse dia alcançava uma marca histórica: igualava os 176 Grandes Prémios obtidos dois anos e meio antes pelo francês Jacques Laffite.
No dia da corrida, os McLaren partem na frente, com Prost a superar Senna, mas logo atrás vem o Ferrari de Gerhard Berger, disparado como uma bala, pressionando os McLaren. Na segunda volta, Berger consegue ultrapassar Senna e vai para cima de Alain Prost, no sentido de o ultrapassar. Se Berger dá nas vistas, o seu companheiro
Michele Alboreto, na sua última corrida pela Ferrari, é abalrroado pelo seu compatriota
Alex Caffi, num Dallara.
Após 14 voltas, Berger ataca Prost para a liderança, e consegue passar. Nas nove voltas seguintes, o austríaco cava um fosso sobre os dominantes McLaren que surpreende todos os que vêm. Entretanto, na luta pelo quarto posto, O Lotus de Nelson Piquet aguenta os ataques do Williams de Riccardo Patrese. Atrás deles, o outro Williams, de Nigel Mansell, esperava por um erro para conseguir subir na classificação.
Na volta 25, Berger estava bem na frente, quando no final da Recta Brabham, encontrou o Ligier de René Arnoux, no qual lhe iria tirar uma volta. Posicionou-se para tal, mas fez uma travagem demasiado optimista e abalroou o carro do piloto francês, abandonando na hora.
Sendo assim, a liderança voltou para o piloto francês, já que Senna debatia-se com problemas na caixa de velocidades. Piquet, agora terceiro, aguentava os ataques dos Williams. Atrás deles, o sexto lugar era ocupado por um surpreendente
Andrea de Cesaris, num Rial, superando o Benetton de
Thierry Boutsen e o March de
Ivan Capelli. Na volta 53, Patrese despista-se e perde algum tempo e o quarto lugar a favor de Mansell. Este ataca o brasileiro, mas este defende-se bem, até que na volta 66, uma falha nos travões faz com que o piloto britânico perca o controlo do seu carro e termine a corrida. Patrese herda o lugar, mas não consegue alcançar Piquet.
Nas voltas finais, a falta de gasolina nos carros de Formula 1 torna-se óbvia: o Larrousse de Phillipe Alliot, o Ligier de Stefan Johansson, e o Rial de Andrea de Cesaris encostam na berma, sem combustivel para terminar. No final, Prost ganha a corrida, seguido de Senna e Piquet. Patrese foi quarto, enquanto que Thierry Boutsen, apesar dos vários problemas que sofreu na corrida, acaba em quinto, enquanto que Capelli é sexto com o seu March, na sua melhor época de sempre.
Para terminar: sabem a corrida de loucos de Gerhard Berger e a colisão com René Arnoux? Foi uma artimanha da Ferrari para dar espectáculo! O
Blog do Capelli conta essa história:
«(...) O "milagre" dos italianos naquele dia, na verdade, foi operado por um santo de barro. O fato é que a equipe sabia que não tinha muito a fazer naquela corrida em Adelaide. Não encontraram um bom acerto e o motor consumia muito combustível. Como na época os reabastecimentos eram proibidos, o time sabia que, para conseguir terminar aquela prova, precisaria andar num ritmo muito lento. A solução? Correr desenfreadamente, sem qualquer preocupação em chegar ao final, apenas para dar show. E Berger conseguiu.
O mais saboroso de toda a história foi a confissão feita pelo austríaco anos mais tarde, em seu livro "Na Reta de Chegada". Berger admitiu que bateu em Arnoux de propósito, era uma forma "digna" de encerrar aquele show. Nas palavras do piloto:
"Cheguei a dois carros retardatários; o que estava mais à frente era o Ligier azul de René Arnoux. Era perfeito, pois Arnoux era um dos pilotos mais inoportunos, do tipo que nunca olhava nos retrovisores e estava sempre no caminho de alguém. Assim, passei pelo primeiro carro e por Arnoux também, em uma só manobra um tanto ambiciosa em que o pneu traseiro do Ligier entrou em minha frente, uma pequena batida, acabou, finito."»