Segunda prova do ano, segunda corrida noturna. A Formula 1 cada vez mais se adapta às Arábias - ou seremos nós a adaptar-nos à ideia de que a categoria máxima do automobilismo está a ir onde está o dinheiro, negligenciando cada vez mais a tradição - e em Jeddah, a grande novidade do final de semana foi o lado inesperado da coisa. Os problemas inesperados no Red Bull de Max Verstappen, durante a Q2 da corrida saudita, colocaram algum sal e pimenta de uma qualificação que indicava ser um passeio no parque para os energéticos, mas também mostrava que mesmo os melhores poderiam ter problemas, com os novos sistemas dentro dos novos carros.
E claro, a concorrência queria aproveitar. Mas quem sorria neste domingo - e que tinha as expectatibas mais altas - eram... não os Ferrari, nem os Mercedes, mas a Aston Martin. Sabendo que tinham um carro bem nascido, e o segundo posto do veterano Fernando Alonso, poderia ser um grande dia para ele. Especialmente, com todas as previsões a darem apenas uma paragem na corrida.
Com a noite a erguer, as expectativas eram altas. Afinal de contas, a chance de uma derrota em toda a linha da Red Bull atraia as pessoas para as telas, mesmo sabendo que tudo poderia ser um bluff e Max poderia subir pelotão acima até chegar ao topo antes da primeira metade da corrida e mostrar ao mundo que eles tinham tudo para ficar com ambos os títulos muito antes do final desta temporada...
Apesar de tudo, o próprio Max avisava, no "gridwalk": tinha de ser cuidadoso nas primeiras voltas. A sua versão de "não ganhas corridas na primeira curva, apenas perdes".
Na partida, Alonso largou bem a conseguiu passar Sergio Pérez para a primeira posição. Atrás, Esteban Ocon e Oscar Piastri tinham tocado e o nariz do australiano tinha quebrado o suficiente para ter de passar pelas boxes. Mas quase a seguir, a organização disse que Alonso tinha-se colocado mal e iria ser penalizado em cinco segundos. Pérez esperou pelo DRS para apanhar o Aston Martin e o passou. Atrás, Max ainda estava trancado atrás dos Haas e não passava de 13º na terceira volta. Mas ainda faltava imensa corrida e ele teria tempo de os passar. O que fez na quinta passagem pela meta.
Apesar de Checo ser o líder, Alonso não se escapava muito. Mas ambos estavam de médios, significando que os carros até eram relativamente iguais. Atrás, Hamilton, apenas sétimo, andava de duros, se calhar para ficar o mais tempo possível na pista. E na sétimo volta, Max já estava nos pontos, passando o Alfa Romeo de Guanyou Zhou, enquanto Hamilton aguentava os ataques de Charles Leclerc, até à entrada da oitava volta, quando o monegasco o passou, no final da reta da meta.
Na frente, Checo e Alonso não conseguiam afastar-se mais que um segundo, e ambos afastavam-se de Russell, terceiro a quase cinco segundos, no final da décima volta, com Stroll e Sainz atrás dele. Podia ser o melhor dos Mercedes, mas era mais por ele do que pelo carro. Duas voltas depois, Max continuava a sua recuperação, passando Hamilton - que não conseguia fazer funcionar os duros na pista - e agora era oitavo. Pelos vistos, parecia que os médios aguentavam melhor que se esperava, e os duros não eram tão eficazes quanto queriam. E os moles, o jogo que tinha Leclerc, também funcionavam melhor que esperavam.
O primeiro dos da frente a ir às boxes foi Lance Stroll, na volta 14, trocando médios para colocar duros, não parando se calhar até ao final. Sainz foi às boxes duas voltas depois, também saindo com duros. Ele regressa à pista na frente de Stroll, ou seja, a estratégia caiu bem no espanhol. Atrás, Max estava na traseira de Leclerc e aproximava-se quando o monegasco foi chamado às boxes, para trocar por duros, com ele a sair na frente de Stroll.
E no meio disto tudo, Max era quarto.
E inesperadamente, na volta 18, a primeira desistência: Lace Stroll parava na curva 13, numa posição perigosa, suficiente para a entrada do Safety Car. Os da frente entravam nas boxes, com Alonso a ter de cumprir a tal penalização que já tinha. Todos mudaram a duros, que iriam funcionar muito mais tarde que queriam, e ainda por cima, nesta situação de Safety Car, onde andariam muito mais lentos. Ninguém entre os da frente tinha perdido posições, mas Max agora estava bem mais perto.
Na relargada, na volta 21, Pérez foi-se embora de Alonso, com Russell agora a aguentar os ataques de Max. Para Hamilton, com médios, atacou Sainz Jr para conseguir o quinto posto e tentar aproveitar o tipo de pneus para tentar acompanhar Max. Mas isso não foi suficiente para isso, pois na volta 24, Max passou Russell, com o DRS ativado. E quase a seguir, foi a bex de Alonso, que sequer resistiu. Nesta altura, Pérez tinha uma vantagem de 6,7 segundos.
Atrás, para Alonso, o que lhe interessava era saber era se os Mercedes os poderiam apanhar. Contudo, Russell e Hamilton andavam mais a duelar entre eles, perdendo tempo, por causa dos pneus médios do carro 44, aparentemente melhores que os dele. Mas Russell aguentava-se, afinal de contas o quarto lugar era melhor que o quinto.
E claro, os Red Bull estavam numa outra galáxia. Lutavam entre si pela melhor volta, que daria um ponto extra e a liderança do campeonato. Pela volta 32, a hierarquia era esta: Red Bull na frente, com cerca de cinco segundos entre Checo e Max, Aston Martin a seguir, Mercedes, Ferrari, Alpine e um Alpha Tauri. E os energéticos duelam ao limite, à distância, pelo ponto que estava em jogo.
Até ao final, as pessoas ficaram de orelhas atentas por causa das queixas dos pilotos da Red Bull por causa dos travões ou do diferencial, a mesma que Max o deixou a pé no dia de ontem. Contudo, ambos andavam ao mesmo ritmo, e parecia mais "bluff" que outra coisa.
No final, Max esforçou-se e conseguiu um tempo de 1.31,906, que era a mais rápida da corrida, e o ponto extra era dele, suficiente para sair da península arábica com a liderança por um ponto. Mas o mais importante é que os energéticos tinham um carro que arrisca a ser dominador para esta temporada. Alonso era terceiro, na frente dos Mercedes, que se esforçaram para o apanhar, sem resultado. Contudo, na luta interna, Russell, mais uma vez, leva a melhor sobre Hamilton. E ambos ficaram na frente da Ferrari, que ainda sofre.
Na parte final, Kevin Magnussen ainda conseguiu ganhar um ponto a Yuki Tsunoda, que não ficou muito feliz por não ter conseguido defender o décimo posto. Ali, a Haas conseguiu o seu primeiro ponto na temporada.
Contudo, ainda antes do pódio, um golpe de teatro: os comissários consideraram que os mecânicos da Aston Martin tocaram no carro de Alonso nas boxes, enquanto ele cumpria a penalização. E pior: foram 10 segundos, suficientes para lhe tirar o terceiro lugar a favor de Russell.
De resto, Checo era um piloto feliz. Aproveitou bem a situação e ganhou, novamente numa pista urbana, e também mostrou à equipa que, se Max tiver problemas, ele está lá para ajudar a situação. Quanto a Alonso, continua a escrever mais umas páginas nos livros de história pessoais, da equipa e da Formula 1. Cem pódios não é para qualquer um, o segundo pódio pela Aston Martin significa que é o piloto com mais na equipa britânica e o terceiro lugar na geral dá um grande avanço aos seus adversários mais diretos: Mercedes e Renault.
Agora, rumo a Melbourne, e acordar de madrugada para os ver correr.